quinta-feira, setembro 29, 2005

P E R D Ã O




Regresso à minha terra; andei perdido...

Chamem-me réprobo, ignaro, o que quiserem...

Sou como o pássaro que, depois de ferido,

Que Deus lhe dê a campa que lhe derem...



Não olho altares, não rezo, não ajoelho,

Mas em minha alma a comoção dorida

De quem volta de longe, de bem longe...,

E encontra à sua espera toda a sua vida...



Ouço as primeiras falas que empreguei,

Vejo as primeiras luzes que enxerguei,

Amo as primeiras coisas que dei

O amor que Deus pôs em quanto amei...



E trago tudo junto, aqui, no peito

Neste albergue de vozes, gentes, passos,

Lúgubre às vezes, soalhento às vezes,

E tanto, tanto meu, que lhe criei o gosto



Verdadeiro de quem ama e já não chora

Porque o chorar passou... a despedida

Melhor que um poeta pode dar à Vida

É despedir-se dela num sorriso:



Talvez num beijo... Talvez numa criança

Que o mundo, ao largo mundo vem mandada

Por seus pais que a criaram, sua terra que a viu

Quando ela foi por Deus nada e criada...



Agora temos tempo de fartura

(Quer faça sol ou vento, ou entristeça

A minha mente, e a minha voz se esqueça...)

De ir cantando de novo, à aventura...



À aventura dos limos e das seivas,

Das secas e dos montes, dos moinhos,

Dos pais que não se fartam de sentir

A dor sublime de ver crescer os filhos...



Terra de alqueives, ou monda, ou de pousio,

Terra de largos trigueirais ao sol,

— Quem vos mandou contaminar-me,

E para sempre, do vosso resplendor?...



Poalha luminosa, mas agreste;

Folha de zinco em brasa; imensidão;

A toda a volta — Tanto em vós como em mim —

Implantou Deus a solidão.



Solidão! de hastes curvas no silêncio

Que dá a volta inteira à terra inteira,

Solidão que eu invoco como se

Vos conhecesse pela primeira vez!...



Subo os degraus a medo; páro e ouço...

O que ouço eu? a voz dos sinos? minha mãe?

É com palavras simples e em segredo

Que eu beijo a terra onde nasci também,



Bernardim, Florbela, meu louco e bom Fialho,

Meus irmãos de pobreza, e solidão, e amor preso,

Aqui vos trago o que hoje tenho: Um coração

Sofredor como o vosso, e como o vosso ileso!



Ó planície de alma! ó vento sem ser vento!

Ó ásperas vertentes ao nascente;

Ó fontes que estais secas, ó passeios

Da minha mágoa adolescente...



Como eu vos quero ainda! como eu sinto

Que tudo o mais é tédio e é traição...

Pode-se amar tudo na Vida, mas

Nunca se pode trair o coração.



Dele nos vem, mais tarde a confiança.

Do coração nos sobe, um certo dia,

Uma satisfação que já não pode

Sequer chamar-se-lhe alegria.



E todavia tanta... A de sabermos

Que ainda em nós se ergue e não distrai

A casa da esquina onde nascemos...

A torre que dá horas e não cai...



II



Peço perdão a Deus de ter voltado

Mais pobre e mais feliz: mais perdoado!



III



Voltei à minha terra; aqui faz sol!


.












Raúl de Carvalho / Poeta nascido em Alvito

domingo, setembro 18, 2005

ELA





À beleza tão pura do semblante,
à luz sublime que há nos olhos dela,
- pergunto-me a mim mesmo a todo instante,
como tão simples pode ser tão bela...

Diferente das outras, diferente
dos moldes tão comuns de uma mulher,
- ela me faz pensar num mundo ausente
deste que a gente sem querer já quer...

Bem que a quis esquecer - e noutro amor
procurei me enganar, acreditando
ser do meu pobre coração, senhor...

Em vão tentei... Em vão... Vendo-a naquela
doce e pura expressão - fico pensando
que é impossível não pensar mais nela!...




(JG de Araújo Jorge)


(Foto de Katia Franke)

sábado, setembro 17, 2005

Pensando em ti ...





AS LINHAS DO TEU SORRISO


Percorro de memória
as linhas do teu sorriso
de um traço sonhador
e um leve travo a saudade.
São como um convite
esses lábios que enfeitiçam
murmuram desejos
insinuam promessas
e incendeiam a vontade!
Percorro de memória
esses caminhos que foram meus
e que sei de cor ainda.
E por momentos fico assim,
perdida na lembrança
do delinear de um beijo...




(autora:MARIA JOSÉ CARVALHO)
(foto de Laurentiu Vasilescus - photosig)

sexta-feira, setembro 16, 2005

Negra era a noite ...



Negra era a noite, e a praia solitária,
E pesados os ares,
E tremendo o tufão, que Deus mandara
Varrer os largos mares

Nem astro, nem farol, nem luz, nem facho!
Nada. Rochas escuras,
A praia solitária, o mar imenso...
E Deus lá nas alturas!

Lívido o raio, atravessando as nuvens,
Veloz fendia o ar,
E com fita de fogo imensurável
Ao céu prendia o mar;

E a chama fugacíssima, rompendo
As trevas carregadas,
Mostrava as rochas nuas, quais se fossem
Gigantescas ossadas.

Enxofrados clarões, correndo ao largo,
Os campos inundavam;
E mil estranhas formas, despertando,
Incertas vacilavam.

Ruge, ruge, tormenta desvairada,
Ó filha do Deserto!
Na selva ruge, ruge nos rochedos,
Ao longe ruge, e ao perto!

Pálida e triste, a flor, medrada a custo
Na fenda de um rochedo,
Pendido o cálice, trémula vertia
Como um pranto, em segredo!

Do vendaval cortada, foi seu fado
Nascer, sorrir, findar!...
Teve por salva o estrondo da tormenta,
E por sepulcro o mar!

Na densa mata o secular carvalho,
Da força imagem fera,
Possante, contrastava até na morte
A flor da Primavera!

Não vergou, nem cedeu, curvando a fronte
Ao braço impetuoso
Do bulcão furibundo; o tronco duro
Lhe opôs, de si vaidoso!

Não vergou, mas, quebrado nas raízes,
Revolto, e destroncado,
Foi ludíbrio do vento, e do combate
Despojo malfadado!

E o rijo turbilhão corria ao largo,
Sem fim, sem rumo certo!...
Ruge, ruge, tormenta desvairada,
Ó filha do Deserto!




(José da Silva Mendes Leal)



(Foto de André Viegas - Olhares)

quinta-feira, setembro 15, 2005

Outono





Caravaggio - Rapaz com cesto de fruta - 1593/94




Antecipando a chegada do Outono ...


.



Num pálido desmaio a luz do dia afrouxa

E põe, na face triste, um véu de seda roxa...

Nuvens, a escorrer sangue, esvoaçam, no poente.

E num ermo, que o outono adora eternamente,

Vê-se velhinha casa, em ruínas de tristeza,

Onde o espectro do vento, às horas mortas, reza

E o luar se condensa em vultos de segredo...

Almas da solidão, sombras que fazem medo,

Vidas que o sol antigo, um outro sol, doirou,

Fumo ainda a subir dum lar que se apagou.




(Teixeira de Pascoaes)



terça-feira, setembro 13, 2005

Alentejo ai Alentejo ...




.............Foto e título de Lobo da Ponte.........


(Clique sobre a foto para ver esta maravilha em todo o seu pleno)

Gosto, Não Gosto ...Em Alvito

Ermida de S. Sebastião - Rossio in "Ensaio Fotográfico -Alvito Dourado"

Foto de Izhar Perlman

"Gosto de ter chegado a Alvito atrás de um sonho. Não gosto de sentir que, por vezes, a realidade é afinal distante. Gosto de pensar que ainda posso viver o tal sonho. Gosto de gostar de Alvito. Não gosto de, às vezes, ser obrigada a não gostar. Não gosto de não poder dizer o que penso. Gosto de lutar por aquilo em que acredito. Não gosto de não poder acreditar em certas pessoas. Gosto do céu muito azul das manhãs de primavera em Alvito. Gosto das cores das flores na primavera de Alvito. Gosto dos vizinhos da minha rua e também de outros de outras ruas que não a minha. Gosto de ver o Castelo da minha janela. Gosto de viver numa vila com Castelo. Não gosto de pensar que os Alvitenses vivem à sombra do Castelo. Gosto muito da lua cheia e intensa a espreitar no céu negro do meu quintal. Gosto das luzes da Matriz e de S. Sebastião. Não gosto da falta de luz de Sta. Luzia e Sto. António. Gosto de descer em passo de corrida a Rua do Salvador e atravessar o Rossio e as Alcaçarias ao ondular da brisa das manhãs. Gosto dos nomes das Ruas em Alvito. Não gosto de ver paredes com falta da cal branquinha. Gosto dos portais e janelas manuelinas. Gosto dos frescos das nossas igrejas e capelas. Não gosto que as pessoas não percebam a importância e o valor que eles têm. Não gosto de gente cheia de certezas. Gosto de gente que vê mais longe. Gosto da História de Alvito e de pessoas que fazem com que as memórias do concelho sejam revisitadas. Gosto dos velhinhos que se sentam ao pé da fonte. Não gosto quando alguém não responde aos meus bons dias. Gosto de ouvir pardais e rouxinóis a cantar e esvoaçar por cima da amoreira. Não gosto que tapem o Largo das Alcaçarias. Gosto de perceber que mesmo com o largo tapado, as pessoas nos descobrem. Gosto quando os viajantes saem de Alvito com o desejo de voltar. Não gosto das "vistas curtas" e da inércia de algumas pessoas. Gosto de muitas pessoas de cá. Não gosto que muitas se desliguem das coisas da sua terra. Gosto quando alguém me diz que se interessa. Gosto de "Água de Peixes". Não gosto de ter de dizer que a entrada é proibida. Gosto de me entusiasmar quando alguém percebe o meu gosto... por Alvito. Não gosto que não gostem de Alvito. Gosto de acreditar que Alvito vai seguir em frente. Gosto de ser uma forasteira que veio com os seus dois amores atrás do sonho... para Alvito.





Escrito em Agosto, 2002.
Revisto em Junho, 2003. (Curiosamente, quase um ano depois continuo a gostar e a não gostar das mesmas coisas... mas como se percebe pelos “gostos” o balanço é francamente positivo)!





Transformado em “Post” em Setembro, 2005. Quando tudo permanece na mesma…"


NOTA DO "BEJA":

Transcrevi este belo texto, com sua permissão, do blog GASTR'EAT

Só quem sente a realidade pode viver estas palavras. Como se fossem ditadas por mim elas surgiram muito melhor escritas por Ludinais que além dos amores que já transportavam para Alvito aqui criaram nova paixão por esta terra. Que Alvito os saiba acolher com a sua característica hospitalidade. Por certo encontrarão alguns escolhos mas passai ao largo. Há-os em todo o lado e só existem para perturbar a harmonia e o amor. Amor que nunca sentiram e nem sabem o que é.
Pela minha parte e como Alvitense de coração recebo-os de braços abertos num amplexo de amizade e reconhecimento.



segunda-feira, setembro 12, 2005

Dois Caminhos



Medir em tudo, do chão que se alarga,
o bosque e o muro, o quintal sem alarde,
a lembrança na boca, e tão amarga,
tão terrível, que dela o sol não guarde
rastro ou notícia. O negrume, a ária
de privações e ausências que me invade.
A paixão maior, e mais ordinária,
que arma em mim tamanha brutalidade.
Medir em tudo o verão que me enfada:
seus celeiros, seus moinhos, seus bois.
Uma história vivida e não contada.
Há dois caminhos, tão-somente dois.
Agora urge amar a vida, e mais nada.
Tudo o que desconheço vem depois.





(Iacyr Anderson de Freitas)


(Foto de Sónia.Fernandes.Fragoso - Olhares)

sábado, setembro 10, 2005

LUTA GLOBAL CONTRA A POBREZA

fome mais do que
fome
é
terror é
terrorismo
fome mais do que
nome
é
atentado é
crime
contra a
h u m a n i d a d e



(Moacy Cirne)






DIA DA FAIXA BRANCA


White Band Day -10 TH



Dia 10 DE Setembro, milhões de pessoas, em todo o mundo, tomarão parte em acontecimentos que marquem o DIA DA FAIXA BRANCA.


A FAIXA BRANCA é o símbolo para a luta global contra a pobreza. Podes confeccioná-la com qualquer tira de tecido ou fita branca e usá-la no vestuário ou no corpo.
Por muito que, cada vez mais, duvidemos da bondade das políticas e dos políticos, bem como da eficácia dos nossos apelos temos que os fazer até que eles os submerjam e não possam mais ser ignorados.


Junta-te a nós. Usa a tua FAIXA BRANCA e subscreve uma petição aqui:



www.whiteband.org/Actions/un/eng/takeaction

A Meia Hora de Sol




A Meia hora de sol

Eram casados, mas na verdade como se o não fossem, pois quatro anos volvidos sobre o registo legal, continuavam "amantes" quer na paixão com que se entredevoravam quer na disponibilidade que entendiam dever preservar. Escolhiam-se dia a dia um ao outro. Não tinham horário para o amor. E, como a vida de Mateus estava sempre ameaçada, muitos dos instantes em que se uniam tinham para eles um gosto atormentado e exaltante de primeira vez e de nunca mais. Mas eram alegres. Iam jantar fora com frequência e até passavam fins de semana muito íntimos, quase clandestinos, em pequenos hotéis retirados, de atmosfera civilizada e sorridente, governados por estrangeiros.

Na manhã em que o vieram buscar - dois homens à porta e outros dois na rua - ele cerrou os dentes com força, recusando-se à emoção em altura tal, e só lhe disse:
- Espera por mim, Júlia!

Mas beijou-a, primeiro na boca e depois nas mãos, com devoção, como a desfazer-se em água de alma, que nem ele jamais se apercebera de que lhe queria também assim.
No isolamento da cela reinventava-a, rememorava dia a dia, minuto a minuto, os quatro anos percorridos lado a lado; lamentava o tempo que não lhe dava por esta ou por aquela razão; tinha-a, com toda a gama dos seus olhares, queixumes, suspiros, gritos e êxtases, em todos os alaridos raivosos da sua continência forçada. De noite, ele que briosamente velava, em face dos estranhos e de si próprio, pela sequidão dos seus olhos e pela nudez dos seus lábios, acordava debulhado em lágrimas, assistindo à agonia de ausência que ela, sozinha em casa, conheceria.
Depois foram as visitas - de cada vez meia hora de sol, mesmo que o sol exterior não luzisse no firmamento. Um vidro a separá-los, as palmas das mãos esposando-se, uma de cada lado dessa delgada, mas intransponível fronteira que os dividia. E quase nada conseguiam dizer. Falavam sobretudo pelos olhos, pelo tremer da boca, pelo pasmo atroz do final na ocasião de se separarem. A tarde que se seguia era de todas a mais dolorosa, mas ainda quente do calor de vida que ela trouxera. E sucedia-se o deserto de uma nova, longa, tórrida semana, contando os dias que faltavam para a luz breve de outra visita. Durante meses, e na perspectiva de anos iguais. (...)

As visitas tornavam-se, por vezes, amargas, extenuantes. Júlia adivinhava-lhe nas sombras e nos vincos do rosto a escureza da suspeita e, ao mesmo tempo, uma adoração descabelada (porque tudo ele ia, com efeito, obsessivamente concentrando nela) adoração, de resto, também odienta, a raiar por essa mesma forma de amor possessivo e dependente que dantes ele considerava - com o seu sorriso mais racional - uma forma de alienação. (...)

- É melhor que nunca mais voltes. Não, não venhas. Só nos ferimos um ao outro. Saio daqui, por dentro, a escorrer sangue. E tu vais-te embora ainda em pior estado.

Mas, Mateus, meu querido...

E ele voltou-lhe as costas (só, aliás, para que ela não o visse chorar). O guarda veio, abriu a porta, do lado dela, com um pesado ruído de chaves ferrugentas. Mateus soube, pelo som leve, mas lento, dos passos, que Júlia partira.

E nunca mais, em manhãs de sol, a sombra dos varões da janela se tornou em flores na parte caiada da cela, no dia que fora o da visita.




(Urbano Tavares Rodrigues)


Contos da Solidão (1970)


(Foto de JNunes -Ziggy- Gritos -Olhares)

quinta-feira, setembro 08, 2005

Mariana


Mariana, minha sobrinha-neta, 17 de Agosto - 21H45 - 3,565 - 51 cms



Que as asas providentes
De anjo tutelar
Te abriguem sempre à sua sombra pura!
A mim basta-me só esta ventura
De ver que me consentes
Olhar de longe... olhar!

João de Deus

Meus Oito Anos



Oh! que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!





Como são belos os dias

Do despontar da existência!

— Respira a alma inocência

Como perfumes a flor;

O mar é — lago sereno,

O céu — um manto azulado,

O mundo — um sonho dourado,

A vida — um hino d'amor!





Que aurora, que sol, que vida,

Que noites de melodia

Naquela doce alegria,

Naquele ingênuo folgar!

O céu bordado d'estrelas,

A terra de aromas cheia

As ondas beijando a areia

E a lua beijando o mar!





Oh! dias da minha infância!

Oh! meu céu de primavera!

Que doce a vida não era

Nessa risonha manhã!

Em vez das mágoas de agora,

Eu tinha nessas delícias

De minha mãe as carícias

E beijos de minhã irmã!





Livre filho das montanhas,

Eu ia bem satisfeito,

Da camisa aberta o peito,

— Pés descalços, braços nus —

Correndo pelas campinas

A roda das cachoeiras,

Atrás das asas ligeiras

Das borboletas azuis!





Naqueles tempos ditosos

Ia colher as pitangas,

Trepava a tirar as mangas,

Brincava à beira do mar;

Rezava às Ave-Marias,

Achava o céu sempre lindo.

Adormecia sorrindo

E despertava a cantar!





................................





Oh! que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

— Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

A sombra das bananeiras

Debaixo dos laranjais!



Com toda a amizade dedico este poema de Casimiro de Abreu ao Batista Filho (Ilha dos Mutuns)


(Pintura de J.Lopes)

terça-feira, setembro 06, 2005

À Beleza








Não tens corpo, nem pátria, nem familia,

Não te curvas ao jugo dos tiranos.

Não tens preço na terra dos humanos,

Nem o tempo te rói.

És a essência dos anos,

O que vem e o que foi.



És a carne dos deuses,

O sorriso das pedras,

E a candura do instinto.

És aquele alimento

De quem, farto de pão, anda faminto.



És a graça da vida em toda a parte,

Ou em arte,

Ou em simples verdade.

És o cravo vermelho,

Ou a moça no espelho,

Que depois de te ver se persuade.



És um verso perfeito

Que traz consigo a força do que diz.

És o jeito

Que tem, antes de mestre, o aprendiz.



És a beleza, enfim. És o teu nome.

Um milagre, uma luz, uma harmonia,

Uma linha sem traço...

Mas sem corpo, sem pátria e sem família,

Tudo repousa em paz no teu regaço.



À Isabel Filipe que me ofereceu a imagem que abre o post de hoje retribuo com todo o carinho ofertando este poema de Miguel Torga.



segunda-feira, setembro 05, 2005

Quase




Um pouco mais de sol - eu era brasa,

Um pouco mais de azul - eu era além.

Para atingir, faltou-me um golpe de asa...

Se ao menos eu permanecesse aquém...



Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído

Num grande mar enganador de espuma;

E o grande sonho despertado em bruma,

O grande sonho - ó dor! - quase vivido...



Quase o amor, quase o triunfo e a chama,

Quase o princípio e o fim - quase a expansão...

Mas na minh'alma tudo se derrama...

Entanto nada foi só ilusão!



De tudo houve um começo ... e tudo errou...

- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...

Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,

Asa que se enlaçou mas não voou...



Momentos de alma que, desbaratei...

Templos aonde nunca pus um altar...

Rios que perdi sem os levar ao mar...

Ânsias que foram mas que não fixei...



Se me vagueio, encontro só indícios...

Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;

E mãos de herói, sem fé, acobardadas,

Puseram grades sobre os precipícios...



Num ímpeto difuso de quebranto,

Tudo encetei e nada possuí...

Hoje, de mim, só resta o desencanto

Das coisas que beijei mas não vivi...



Um pouco mais de sol - e fora brasa,

Um pouco mais de azul - e fora além.

Para atingir faltou-me um golpe de asa...

Se ao menos eu permanecesse aquém...







(Mário de Sá-Carneiro)


(Fotos de Paulo Cesar e Leonel Santos Lopes- Olhares)

domingo, setembro 04, 2005

Não Vou Por Aí...




“Vem por aqui – dizem-me alguns com olhos doces,


estendendo-me os braços, e seguros


De que seria bom que eu os ouvisse


Quando me dizem: “vem por aqui”!


Eu olho-os com olhos lassos,


(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)


E cruzo os braços,


E nunca vou por ali...


“Não, não vou por aí!


Só vou por onde


Me levam meus próprios passos...”



(José Régio)




(Foto de Fernando Correia-Movimentos-Fotografia na Net)

sábado, setembro 03, 2005

Meu Alentejo





(Clique sobre a foto para ver em tamanho maior)


(Foto de Zespinho - Alentejo United Color - Fotografia na Net)






"Amo a Liberdade, por isso... deixo as coisas que amo livres... Se elas voltarem é porque as conquistei... Se não voltarem é porque nunca as possuí."



(Jonh Lennon)



quinta-feira, setembro 01, 2005

ALVITO-OS ROSTOS DE UM PROJECTO






MOVIMENTO INDEPENDENTE


Autárquicas 2005 - ALVITO e VILA NOVA DA BARONIA




"Este Movimento Independente tem como uma das suas principais motivações, criar um novo espaço de cidadania e de intervenção cívica de todos aqueles que não se identificam, no contexto actual, com qualquer das outras candidaturas que se perfilam às próximas eleições autárquicas. Apresenta, desde logo, a característica de acabar com a dependência partidária dos candidatos. Tal não significa que seja um Movimento destituído de qualquer ideologia. A sua matriz ideológica, fortemente democrática, assenta nos conceitos do humanismo, do universalismo e da ecologia humana. Na sua essência, visa conciliar o desenvolvimento económico com a preservação do meio ambiente e com uma maior justiça social. Com vista à concretização destes princípios, pretendemos implementar uma nova forma de administração local, através duma verdadeira democracia participativa, onde toda a população possa intervir na discussão e resolução dos problemas. O exercício democrático dos cidadãos não se confina, nem tão pouco se poderá esgotar, no momento do voto.

A causa que abraçámos é uma causa nobre e os elementos que lhe dão corpo comungam de um conjunto de valores que fornece a indispensável sustentação ao Movimento. O que move este grupo de cidadãos são os interesses colectivos do Concelho de Alvito e não interesses pessoais, clientelistas e/ou de conveniência partidária. A nossa bandeira é o Concelho e é essa que pretendemos levantar bem alto. Para constituirmos e ordenarmos as listas aos vários órgãos não houve negociações para ocupação de lugares e muito menos promessas para candidatos ou familiares! Afirmamo-lo inequivocamente, sem margem para dúvidas! E assim agiremos no futuro! Porque não deixamos, nem deixaremos, hipotecar os valores que defendemos. Porque entendemos que a actividade política pode ser exercida com seriedade, imparcialidade e credibilidade.

Ser autarca não é uma profissão mas o exercício de um cargo, visando o interesse público. Entendemos que a prossecução deste objectivo não se coaduna com negociatas e golpes palacianos. A defesa do interesse público numa autarquia só será possível com isenção, igualdade e transparência nos procedimentos; com justiça e coragem nas decisões; com rigor na gestão dos dinheiros públicos; com uma eficiente gestão e organização dos recursos humanos, dos serviços e das respectivas estruturas funcionais. Com respeito pelos verdadeiros anseios e necessidades das populações a quem se presta um serviço! "

NOTA DO "BEJA": Retirámos o texto acima transcrito do documento publicado, pelo Movimento Independente, em 31 de Agosto de 2005 pelo que pedimos que nos relevem a ousadia.

Para a leitura total deste documento aconselhamos a visita ao site do referido Movimento



Um Sorriso




Um sorriso nesta vida
É sempre agradável ver,
Não custa a quem o dá
E é muito bom receber.

Um sorriso em qualquer boca
Dado ao princípio do dia,
Faz o dia mais brilhante,
Transparecendo de alegria.

Um sorriso verdadeiro
Com sentimento na alma,
Sereniza circunstâncias,
E inspira a paz e a calma.

Um sorriso pode dar-se
Mesmo às vezes sem vontade,
Mas seja lá como for,
Transmite graciosidade.

Um sorriso a qualquer hora
É sempre contagiante,
É uma imagem fagueira,
Que nos fica desse instante.

Um sorriso é saudável
E ao ser humano é preciso.
Ai, como é gratificante,
Ver à chegada um sorriso!…



( Euclides Cavaco)

PORQUE VOLTO

  PORQUE VOLTO . Volto, porque há dias antigos que ainda nos agarram com o cheiro da terra lavrada, onde em cada ano, enterrávamos os pés e ...