quinta-feira, outubro 20, 2005

Que fizeram dos nossos sonhos, Manuel ?





Que fizeram dos nossos sonhos, Manuel?





Estou no meu cantinho a escrever as minhas coisas, longe da ribalta. Mas agora tem que ser.

Meu nome é António Mesquita Brehm, tenho 78 anos, e escrevo este depoimento como simples cidadão português e não como Vitório Káli, escritor.



As traições não são apenas de agora e transformam sempre o destino dos homens.



Em 1962 encontrei-me, pela primeira vez, com Manuel Alegre em Luanda. Sacámos o santo e a senha da algibeira para nos identificarmos e, a partir daquele breve instante, metemo-nos numa das maiores aventuras das nossas vidas. Combinámos formar um único grupo com armas na mão e derrubar o regime de Salazar.



A guerra colonial havia começado tempo antes, centenas de colonos portugueses tinham sido cruelmente abatidos nas matas do norte de Angola e alguns milhares de negros sofriam agora perseguições e morte nos musseques de Luanda. A vergastada emocional paralisou os nervos da população. Mas toda a gente lúcida sabia que se tornara imperioso estancar aquele martírio inútil dos nossos povos.

Se tomássemos o poder em Luanda e controlássemos Angola, faríamos um ultimato a Salazar e encetaríamos negociações com os movimentos de libertação para discutirmos as condições da independência do território protegendo não só os direitos naturais dos angolanos como ainda de todos os portugueses que ali viviam.



Foi então, às vésperas do golpe militar, que um oficial nosso compatriota nos traiu (ele e alguns mais) e nos denunciou à PIDE acusando-nos de estarmos a vender Angola às forças de Satanás. Toda a cabeça do grupo revolucionário foi presa e encurralada na Prisão de São Paulo de Luanda. Nas celas pegadas às do Luandino Vieira, do António Jacinto e do António Cardoso, cujos nomes ficaram bem gravados na literatura angolana.



Hoje, na proximidade de grandes decisões para o nosso país, afinal também o mesmo acontece. A traição tem sempre um preço.



Estes factos foram determinantes para a evolução da guerra de Angola. E ela continuou por mais onze anos provocando milhares de mortos e estropiados ao exército português e genocídios aterradores de populações angolanas, a fuga em massa dos nossos colonos que lá deixaram os seus haveres, tudo aquilo que era afinal o resultado de muitos anos de trabalho e esperanças. E a destruição de toda uma economia regional que deveria sustentar o futuro de um dos países africanos mais poderosos, e possibilitando o assalto das elites angolanas e dos oportunistas desta lusa terra ao domínio dos grandes negócios e dos empregos milionários enquanto o povo humilhado sofria a fome, a doença, o estropiamento e o abandono.



Pois isto aconteceu muitos anos antes da revolução do 25 de Abril. E teria certamente apontado novo caminho ao futuro de Portugal e de todas as nossas antigas colónias africanas. Os poderes oficiais, e aquela cáfila que deles se aproveita, fizeram uma lavagem da História. Nunca falaram sobre o golpe militar de 1963 em Luanda. Mas o nosso processo policial está fechado a sete chaves, desde há muito, nos Arquivos da PIDE e um dia será detalhadamente revelado para espanto de muita gente. Também eu publicarei mais tarde meu livro de memórias sobre este período da nossa vida colectiva.



Neste momento da candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República, é meu dever recordar a nossa saga de Angola, a figura lendária do Silva Araújo com o seu esquadrão de 500 guerreiros africanos, o major José Ervedosa que, no comando dos aviões de bombardeamento das bases da Ota e do Montijo da Força Aérea Portuguesa lançou as bombas de napalm nos sítios desertos da região de Malange para desrespeitar as ordens de massacrar os milhares de trabalhadores em greve da Baixa do Cassange, o Felisberto Lemos, gerente da Livraria Lello de Luanda, onde se organizaram também muitos encontros clandestinos, o comandante Jeremias Tschiluango dos guerrilheiros do Norte que logo se dispôs a levantar esquemas logísticos para nos ajudar a ocupar Luanda, o chefe Matifoge que roubou armas e munições nos quartéis portugueses.

E aqueles homens como o Vítor Barros, deputado da nossa Assembleia Nacional, que no Huambo nos abriu as portas dos gabinetes dos chefes militares das tropas da cidade, e o engenheiro Fernando Falcão que no Lobito havia preparado o levantamento da sua população contra o regime de Salazar.

E tantos outros oficiais e praças do nosso exército colonial e incógnitos civis que, desde a primeira hora, se integraram no movimento para a defesa da Liberdade.



E também muitos poetas e intelectuais (que palavra horrível) como o Alexandre Dáskalos, o Cochat Osório, o Adolfo Maria, o Henrique Abranches, o Mário António, o Aires de Almeida Santos, o Neves e Sousa, e os nossos camaradas do 1º Encontro de Escritores de Angola realizado no Lubango em Janeiro de 1963. Porque as revoluções também se preparam com poetas, escritores e artistas.



Mas a hora chegara.

E o nosso Manuel Alegre, o nosso grande poeta da gesta portuguesa e da nossa Resistência, foi também então um dos grandes líderes desta revolta armada. E muito deverá contar aos portugueses sobre aquelas horas transcendentes.



Por fim desejo contar dois episódios acerca dele nesse período que nunca esqueci. O primeiro aconteceu no pátio da nossa prisão na hora do recreio quando, de repente, recebemos a visita de São José Lopes, Director Geral da PIDE, que vinha "inspeccionar" o nosso comportamento. Perguntou diversas futilidades sobre a prisão, estacou diante do meu companheiro e disparou: – "Diga lá, senhor Alferes, se esta situação estivesse invertida e você me tivesse preso, o que faria?". Manuel Alegre não vacilou um segundo e respondeu-lhe com firmeza: – "Olhe, senhor Director, mandava-o prender sem hesitações para ser julgado e depois condenado, sem dúvida". São José Lopes, o senhor todo-poderoso da polícia secreta em Angola, ficou perplexo. Não esperava por tal desafio, esteve algum tempo calado e depois sentenciou: – "O senhor Alferes é um homem de coragem". Qual seria o preso, naquelas condições, que o enfrentaria com tal dignidade?



O segundo passou-se em minha casa quando fomos libertados, muitos angolanos nos vieram saudar. Recordo que nessa noite de alegria os funcionários negros da Texaco (a estação de serviço ao lado) nos bateram à porta para nos entregar duas galinhas vivas e era essa a singela homenagem de agradecimento pela luta que sempre travámos junto deles. Foi um bonito ritual de que só, muitos anos depois, entendi no seu verdadeiro significado. Madalena, minha fiel lavadeira da Vila Alice, a pequena Lídia que se esgueirava pelos becos com nossas mensagens, Simão, o carpinteiro do Rangel, que dirigia o grupo dos batedores do bairro e alguns outros, lá estavam presentes à nossa espera, as bocas rasgadas no melhor sorriso que vi até hoje. Manuel Alegre ficou com as lágrimas a brilhar de emoção quando eles o abraçaram. – "Somos todos irmãos", lhes disse. "Um dia os nossos povos caminharão sempre juntos".



Então, senhores historiadores, que é feito dos vossos conhecimentos e da vossa memória?

A juventude portuguesa terá que saber da verdade histórica que, nos subterrâneos do tempo, fundamentou o nascimento das nações africanas que falam a nossa língua e nos deu então a liberdade. A liberdade que ainda temos.



Que fizeram dos nossos sonhos, Manuel?



Decorridos tantos anos, o que vemos?

A nossa revolta de 63 foi enterrada, o 25 de Abril morreu há muito, os velhos conceitos políticos transfiguraram-se do dia para a noite (não apenas simbolicamente), já não existem esquerda e direita mas uma nova linha ética que marca plenamente dois territórios, o mundo dos homens que defendem o povo, os humildes e os pobres, o imperativo categórico da verdade, a igualdade de oportunidades e, do outro lado, aqueles que se defendem a si próprios, as suas fortunas, os seus privilégios, as suas leis ultrapassadas na justiça, na educação, na saúde, na administração, provocando a miséria do pão-nosso de cada dia, a insegurança nas ruas, a destruição das nossas florestas e os incêndios programados, a corrupção nos serviços, os compadrios dos partidos políticos (em que todos se ajeitam), as incompetências dos serviços públicos, os discursos vazios de dirigentes partidários, o negocismo que manda construir estádios megalómanos em detrimento da construção de novos hospitais, o absurdo despesismo com os nossos soldados no estrangeiro, a aquisição de material de guerra que ninguém sabe contra quem, enfim, o crescente divórcio entre o povo e o Estado.

A lista não tem fim.



Compete ao futuro Presidente da República corrigir estes desmandos e vigiar o comportamento ético do Estado. Sim, Ético. E estamos em cima do fio da navalha:

Se o povo português não compreender que estas eleições são as mais importantes em Portugal depois do 25 de Abril e não souber votar com a consciência de que é o futuro da nossa juventude (o futuro do país) que está em causa, então jogará a pátria nos braços e nas garras de soberanias alheias.

Basta.

Que não se fale tanto em democracia a torto e a direito mas que a pratiquem de coração aberto.

Não são os partidos que elegem o Presidente.

O povo é que deve dar a sua Voz.



Esta é a mensagem que te deixo nesta hora dramática da vida dos portugueses. A nação procura um homem sério, corajoso, leal, abnegado, generoso e honrado. Com a dignidade das íntimas convicções.

Avança, Manuel.



Publicado em:

www.manuelalegre.com

53 comentários:

Mocho Falante disse...

Só posso mesmo dizer que gostei muito de receber a noticia da sua candidatura à presidência da república...

aDesenhar disse...

li e assino por baixo do Mocho Falante

tem passagens impressionantes...
também passei pela guerra do ultramar,
compreendo perfeitamente o sofrimento do povo Angolano, dos ex-colonos ou retornados das ex-colónias e neste momento conheço o real sofrimento do povo português...

até quando este povo irá aguentar?

abraço

Anónimo disse...

Manuel Alegre, uma grande autor português da actualidade. Beijinhos.

Menina Marota disse...

Tenho um filho com 16 anos e que hoje ao jantar, ouvindo a apresentação da candidatura de Cavaco e Silva, exclama esta frase:
- Se eu pudesse votar, votava no Poeta Manuel Alegre, para o ajudar a pagar o empréstimo que fez para a campanha dele!
Ele precisa de ser ajudado, vais votar nele, Mamã?...

- Claro que vou filho, não tenhas dúvidas!


"...Não são os partidos que elegem o Presidente.
O povo é que deve dar a sua Voz."

Eu sou do Povo e dou a minha voz...

Um abraço a todos ;)

wind disse...

A história também se faz neste blog. Já antes de ler isto, tinha pensado em votar no Manuel Alegre. bjs

Anónimo disse...

Abençoado o homem que escreveu este texto. Também conheço quem conheça o Manuel Alegre sem ser da poesia.

De "outros canavais", mas poucos sabem disso.

Um dos males desta revolução foi a quase complecta asusência da componente didáctica.

Ninguém sabe nada de nada sobre o que levou a ela. E quem de facto lutou por ela ou a ela aderiu oportunistamente após o 25.

Pensem bem ao votar.

Quanto ao Cavaco, já não oiço.

Obrigada pelo mail

Bjs.

João Fialho disse...

Acredito que esta candidatura vai trazer boas surpresas.

João Fialho disse...

Caro(a) lumife:
Preciso enviar-lhe um email, mas não sei o endereço.
Importa-se?

Carlos Araújo Alves disse...

Permita que me curve diante deste texto.

O voto é secreto, mas gostaria de o abraçar com comoção.

Páginas Soltas disse...

O texto é impresionante...bem haja
quem o escreveu!!
Antes de ter acesso ao blog...já há
muito tempo ( desde que tive conhecimento da candidatura do Manuel Alegre)...
soube de imediato a quem iria votar
para Presidente desta República...
Como Poeta...curvo-me a seus pés...
Como Homem que tem "lutado" pela
verdadeira democracia....faço uma vénia!!
..................maria

Anónimo disse...

Lumife, ao término da leitura meu coração estava apertado. O texto me tocou de forma indelével, até porque vivemos situação parecida aqui no Brasil: quando conseguimos eleger um presidente, companheiro de tantos anos na/da esquerda desse país, fomos miseravelmente traídos! Que se há de fazer? Continuar a lutar, é claro. # Não sei se conheces, mas tomo a liberdade de transcrever a letra de uma música que embalou os sonhos de povos latino-americanos nas lutas contras as ditaduras da região.

EU SÓ PEÇO A DEUS
(Solo le Pido a Dios)
Leon Gieco Raul Elwanger

Eu só peço a Deus
Que a dor não me seja indiferente
Que a morte não me encontre um dia
Solitário sem ter feito o que eu queria

Eu só peço a Deus
Que a injustiça não me seja indiferente
Pois não posso dar a outra face
Se já fui machucado brutalmente

Eu só peço a Deus
Que a guerra não me se seja indiferente
É um monstro grande e pisa forte
Toda pobre inocência desta gente

Eu só peço a Deus
Que a mentira não me se seja indiferente
Se um só traidor tem mais poder que um povo
Que este povo não esqueça facilmente

Eu só peço a Deus
Que o futuro não me se seja indiferente
Sem ter que fugir desenganado
Pra viver uma cultura diferente

Solo le pido a Dios
Que la guerra no me sea indiferente
Es un monstruo grande y pisa fuerte
Toda la pobre inocencia de la gente

Nilson Barcelli disse...

Depois de ver nas últimas semanas o Mário Soares no seu pior (estará senil?) e do discurso do Cavaco de ontem (até disse que nunca foi político, como que a sacudir a água do capote e a dizer que não tem culpa nenhuma do estado a que o país chegou), começo a acreditar que o Manuel Alegre poderá ser a melhor opção para o país.
Não pensava assim há um mês atrás, até pensei que ele não chegaria sequer a esta fase ainda como candidato, mas perante dois jarretas desta envergadura...
Algumas coisas que li na carta não eram conhecidas por mim. Fizeste bem publicá-la porque no site da candidatura ela está meio escondida.
Um abraço.

Anónimo disse...

Foi por tudo isso que assinei ontem o meu apoio à candidatura deste grande homem.
Bem haja pelas suas palavras.

Anónimo disse...

Que brilhante ideia!!!!!
...e se alguém estivesse ainda na dúvida........este texto escrito com toda a alma de quem o viveu....toca quem tem alma!
Obrigada pelo empurrão!

Sofia

Anónimo disse...

Identifico-me com o teu blog, embora o meu tivesse sido em "moldes" diferentes, SINTO tudo o que escreves....e admiro-o tanto que o classifiquei o MELHOR entre os MELHORES da minha preferencia. Parabéns! Bjs da DoceRebelde

I disse...

Grata por esta partilha. É História Oculta de Portugal. É obrigatório descobri-la. Tantos factos esquecidos! Como a memória é curta...

Anónimo disse...

apesar de considerar cavaco o candidato com melhor perfil para ser presidente da república (o prestígio lá fora fala por si e isso é condição importante para se ser um bom Presidente), o meu coração levanta asas e para em Águeda e votará em Manuel Alegre. Afinal de contas, é o melhor que o PS tem. e é dos meus, é poeta.

abraços
jorge vicente

Anónimo disse...

deixo aqui esta morada: http://jsdalvito.blogs.sapo.pt/

Isabel Filipe disse...

Lumife...

bom fim de semana para ti...

Bjs

Anónimo disse...

Prefiro mil vezes votar Manuel Alegre do que Mário Soares.
Um forte abraço a todos os alentejanos.

sónia disse...

Não pude deixar de emocionar-me ao ler esta carta: Luanda e a sua Vila Alice fazem parte do meu imaginário - o meu pai esteve lá e conta-nos com um misto de orgulho e mágoa episódios de uma guerra estúpida! Não há dúvida que tudo isso desapareceu misteriosamente dos manuais e é importante que pessoas como eu, que nasceram depois do 25 de Abril, tenham noção do que era a vida nessa altura - do quanto é importante a Liberdade e de quem a devolveu a este país! É importante para Portugal ter um presidente que nos dignifique em todos os sentidos. Eu voto Maunuel Alegre!

Anónimo disse...

Escrevi a propósito da candidatura de Manuel Alegre um editorial no jornal onde sou director.
Deixo o link:http://www.vozdasbeiras.com/index.asp?idedicao=103&idSeccao=865&Action=seccao
Boas leituras.
Naturalmente que votarei Alegre.

Anónimo disse...

O Quadrado

Não sei ao certo em que guerra estou. Todos os dias a esta hora, seis da tarde, começo a ser cercado por tropas que não vejo. Sinto-as perto de mim, sei que estão à minha volta, mas não vejo ninguém. Só os tiros, as rajadas, os “rockets”. Por vezes pegam no megafone e dão-me ordem de rendição:
- Estás sozinho, dizem. És um soldado sozinho numa guerra que há muito está perdida.

O problema é que não sei sequer que guerra é. Não sei quem me vestiu esta farda, nem quem me mandou para aqui e me pôs uma arma nas mãos. Munições não me faltam, nem rações de combate, nem água. Todos os dias sou reabastecido. Mas também não sei por quem. Não sei tão pouco quem são os meus, nem por que país ou causa estou a combater, se é que combato pelo que quer que seja. Defendo este reduto. É o meu quadrado. Talvez não tenha sentido estar aqui a defendê-lo, mas se o perdesse eu próprio me perderia. O único sentido, que talvez não tenha grande sentido, é defender este quadrado. Até à última gota de sangue, como há muito, na recruta, me ensinaram. Por isso não me rendo. Por mais que me intimem e me intimidem continuarei a resistir. Não propriamente por razões militares ou morais. Digamos que por razões estéticas. Um homem não se rende. Talvez seja por isso que estou aqui, não sei ao certo onde nem desde quando, talvez desde sempre, no meio de um quadrado, cercado e sozinho, mas não vencido.

Algures alguém me reabastece. Algures sabe que não me rendo.
Todos os dias, pelas seis da tarde, aperta-se o cerco. Todos os dias, à mesma hora, me coloco em posição. É estranho que não me acertem, verdade seja que também não sei se alguma vez atingi o inimigo, se assim lhe posso chamar. Chego a perguntar-me se não é um sonho, se tudo não é apenas um pesadelo e se de repente não vou acordar.

Seja como for, a guerra continua. Em sonhos ou não, continua. São quase seis da tarde e sinto que eles se aproximam. Todos os dias é assim, todos os dias defendo o meu quadrado.
- És um homem sozinho e a tua guerra está perdida, gritam eles. Sei muito bem que estou sozinho. Mas enquanto me bater a guerra não está perdida, ainda que se me perguntassem que guerra é eu não soubesse ao certo responder. Diria talvez que é a guerra de um homem no meio do seu quadrado. Um homem que se bate, talvez em sonho, porque tudo se calhar é sonho. Sonho de um sonho, lembro-me de ter lido algures. Que importa? Sonho ou não, eles aí estão, tenho de defender o meu quadrado. Não há outro sentido senão este, lutar até ao fim, um homem não se rende, não seria bonito, seria, aliás, se me permitem, uma falta de educação, uma grande falta de educação.


(Manuel Alegre - “Expresso” - 30-07-2005)

Anónimo disse...

Manuel alegre è um bom homem, sem dúvida, sempre integro e ciente das suas responsabilidades/ deveres. desejo-lhe boa sorte nas eleições.

Anónimo disse...

Voto em Manuel Alegre por convicção.

Identifico-me por inteiro com a sua postura e a sua verticalidade ao longo de toda uma vida.

Anónimo disse...

Excelente texto!! Adorei o ler!

E o Manuel Alegre é um bom homem, sempre foi. Um poeta, homem sensível por natureza.

Cumprimentos e parabêns pelo Blog no geral, é mt bem concebido. Tinha-te perdido um bocado o "rasto" mas agora vou voltar mt mais vezes! :-)

A Sulista

Anónimo disse...

Quando as palavras tem a força que tem vindas de viveres feitos....

Poemas de amor e dor disse...

Amigo
Ainda bem que recebi o e-mail.
Este brilhante texto, escrito na primeira pessoa, deveria passar a ser considerado um documento histórico. Tenho 56 anos, diferença pouca, mas suficiente, para não me ter apercebido do ruído desta situação.
Em 1962, ano dos factos, tinha então 13 anos de idade e começava a dar os meus primeiros passos na poesia e as minhas primeiras aventuras na rua.
Em Lisboa, concretamente em casa de meus pais, fervilhava de familiares e amigos, que deixavam as suas aldeias, na Beira-Baixa, em busca de uma vida melhor. Meu pai e minha mãe recebiam-nos cedendo aos outros, até, a sua própria cama. E foi assim…
Dormia-se por tudo que era canto - por turnos - pouca sorte partir; pouca sorte chegar…
À noite - mesa cheia - naquela mais humilde casa - escutava histórias de fantasia?, de encantar e a poesia declamado por meu pai que todos com prazer escutavam. Às vezes, reparava que se falava em surdina pela calada da noite não viesse por aí algum “bufo” escutar, pois, tudo era proibido.
Certo dia, contaram-me, que nas paredes do Aljube estava escrito com “tinta vermelha de sangue” a palavra LIBERDADE. A partir daí comecei a soletrar as letras do Zeca Afonso, do Adriano Correia de Oliveira, do Luís Cília do José Mário Branco e outros como o Sérgio Godinho, e passei a militar na JOC (Juventude Operária Católica) tendo participado em todas as manifestações promovidas pela JOC e alguns anos mais tarde nas manifestações estudantis.
Aprendi que a poesia, escrita com a alma e com amor, tinha de ser disfarçada como se faz no contrabando….como neste meu poema, sem qualquer valor literário, escrito em 1968
HOMEM

A idade chegou,
Dizem…
Já não sou adolescente
Agora dependo de mim
Sou consciente.

Homem
Pela força da idade
Um homem quase livre…
Debaixo das garras…
Subjugado…
Condenado à prisão
Livre…
Só o meu coração.

Sou homem
Atirado para a vida
Só e só vou decidir
Ficar ou fugir…
Liberdade ou Prisão.

Mas sou um homem
Sou um preso condenado
Sou um degredado
Obrigado
Mas não livre.

Rogério Simões
19/11/1968
Tudo isto para dizer: amo a liberdade.
Tudo isto para dizer que tenho em quem votar.
Tudo para dizer que pela segunda vez irei votar em Manuel Alegre só que desta vez será para ganhar.
Tudo para dizer não é por ser poeta (um humilde poeta) que voto no poeta maior Manuel Alegre
– Manuel Alegre –
Reconquista os nossos sonhos
Rogério Simões
Ps Irei linkar

Monteiro disse...

Estamos com o poeta, estamos com a liberdade.
Viva para sempre o amor e a felicidade.

Esta foi do LU, quando se inspirou no DI.

Anónimo disse...

Venho ao teu blog com frequencia.
Nunca imaginei que pusesse ter tal identidade.
Fiquei muito contente com o que li sobre o Manel e ainda mais sobre os comentários que foram surgindo a este post.
Agrada-me saber que não fui o único a referir-me a Manuel Alegre no dia em que Cavaco se revela.
Obrigado!
Se te apetecer vai a: paxjulia.blogs.sapo.pt

FlashGordon disse...

Muito da nossa história ainda está por se contar, e são relatos como este que nos vão levantando um pouco o véu. Confesso que à muito não voto por já não acreditar nesta democracia enquinada. Estou farto de ver os políticos fazerem letra morta do que prometem e na realidade souberam foi baterem-se pelas próprias regalias. Por este motivo deixei à uma boa dezena de anos deixar de votar para não contribuir com o meu voto neste sistema cínico. Para mim já basta de apoiar partidos com o meu voto.
Quanto às presidênciais, enquanto os candidatos forem pela continuação do sistema, não contem comigo. No caso de Manuel Alegre, surge uma réstia de esperança. Não vai com apoios partidários e tem-se mostrado com coragem para romper com o sistema. Ao fim de uma dezena de anos volto a ter alguma esperança de que vale a pena ir votar. Que Manuel Alegre seja a voz no País, de todos aqueles que estão desiludidos, abandonados e desfavorecidos.
Força Manuel Alegre, e que seja uma supresa para todos!

Poemas de amor e dor disse...

Amigo
Maior honra a sua grata presença no livro deste humilde poeta.
A minha doce companheira, Elisabete Maria Sombreireiro Palma, nasceu em Beja e assistiu em 1954 aos acontecimentos trágicos com Catarina.
Foi em homenagem ao povo do Alentejo que este humilde poeta escreveu este soneto com uma pequena introdução poética. Penso que ele diz bem a garra do povo alentejano. Perdoe-me a ousadia mas aqui vai.
Regressaram as papoilas vermelhas
Ao chão seco do pastorejo
Num tapete debruado, a Arraiolos,
Manto, ondulado, como ovelhas
, Do Alto, ao Baixo Alentejo,

Rogério Simões
19-04-2005 18:34

ALENTEJO, DEBRUADO A ARRAIOLOS

Na dourada planície alentejana
Onde o sol penetra e tudo queima
A falta de água mísera e insana
Quebra a vontade abate a alma

Nessa imensa e dourada pradaria
O vento de suão seca a cortiça
Leva consigo, numa lenta agonia,
O suor a que chamam de preguiça

Mas o Alentejo é belo e majestoso
Quem o ama chama-lhe de formoso
Quem parte volta, nunca diz adeus

Por isso há sempre vozes em coro
Cântico alentejano em vez de choro
A alma alentejana tem a força de Deus
Rogério M. Simões

Ps, agradeço que tenha linkado os poemas de amor e os blog de Parkinson. Já concertei o link para o Beja (tenho de mudar as lentes). Sabe, sou funcionário público. Nunca fui comprado. Não tenho preço! Estou farto de promessas de falsos democratas que só querem os direitos adquiridos para eles. Sabe a vida está difícil para a maioria do povo português e nós, os mais velhos, vamos valendo aos nossos filhos homens que ganham uma miséria ou não ganham nada. Fomos habituados a compartilhar as nossas misérias…Queremos continuar a saborear a riqueza da nossa liberdade. Mas para isso urge concretizar o sonho: de uma sociedade mais justa, mais humana, menos corrupta, menos egoísta e com mais valores.
Um abraço,
Rogério Simões

Poesia Portuguesa disse...

Brilhante este texto! Já por aqui tinha passado e lido...acabei por imprimir o texto e entregá-lo ao meu filho para ler.

Ele ainda não vota, mas vai dando uns pequenos passos na tentativa da compreensão da Política Portuguesa..

Eu digo também... O que fizeram dos nossos sonhos?

Não sou do PS.

Vou votar Manuel Alegre, por uma questão de ética comigo própria.

Um abraço e grata por esta partilha

segurademim disse...

Li em qualquer lado que não consigo identificar, mas que neste momento vem a propósito citar:

quando me cortam os sonhos, crescem-me as asas

Bom post, Lumife!!

Bom fim-de-semana

Anónimo disse...

Obrigada pelo convite...fica sabendo k Manuel Alegre já tinha o meu apoio, agora mto mais.
Ana

isa xana disse...

li e tal como o mocho tenho a dizer que gostei de saber da sua canddatura.

é verdade já nao vou a alvito, nao me verás por lá

beijito

Anónimo disse...

Olá!
Ficou satisfeita de saber da candidatura,Cavaco silva não me lembra nada de bom,a não ser estradas!
O povo é que vai ditar,espero que não se repita sempre o mesmo,pois precisamos de esperança e não só alguem que pare de falar e faça!
comprimentos
fatima-29anos

Páginas Soltas disse...

De volta ao blog...com enorme emoção pedi ao meu marido para vir ver ( sabendo eu, que ele é um fâ
do Manuel Alegre)...notei que ao ler o texto...ele tinha os olhos marejados de lágrimas...e uma palavra só..."Notável"!
Não quero ser maçadora...mas vou escrever algo sobre o Alentejo:

AI ALENTEJO

Ai Alentejo...Alentejo,
Vou percorrer-te de lés a lés,
Num deslumbramento de revelação,
Quero consolar os meus sentidos,
Perder-me nessa deliciosa
embriaguês
Lá para os lados de Moura,
Entre os perfumes de flor de
laranjeira
Palmilharei...
Aqueles montados desmedidos,
Adormecerei...
Á sombra de uma qualquer azinheira
E por breves instantes...
Planarei os meus sentidos,
Ao percorrer-te, não me fadigo.
Do cimo de uma atalaia,
Avistarei,
A mais rasa das planícies,
Onde se ergue uma flor de pedra e
de luz,
Recordo o que algém me disse,
É como contemplar, rosto de Jesus.
A meus pés, desdobra-se o palco do
meu destino,
Infindável planície,
Que entre os teus rios e ribeiras,
Fazem transbordar de suor,
Os verdes montados,
Não há limite no espaço ou no
tempo,
Em pousio para qualquer sementeira
E...qualquer esgar de lamento!

( maria Valadas)


Amo a liberdade!!!
Não deixar que o nosso povo recue
no tempo!
Mais uma vénia ao autor do texto.
Imprimi e entreguei ás minhas
filhas, para que saibam o que é
sentir " A Llberdade".

Anónimo disse...

Conta comigo “Manel”, estou a teu lado, na defesa do “teu quadrado”.

És a minha referência política.

Madalena disse...

Exactamente porque já não basta ficar perdida nos meus contos entre lobos, reabri outra estrada e vim dizer-te.

BFS

:

Anónimo disse...

...Para ManuelAlegre éuma sorte não ter José Socrates a "apoiar"...
criemosum slogan: Eu não voto em Soares nem em Cavaco!...FORÇ'AÍ!
js de http://politicatsf.blogs.sapo.pt http://mprcoiso.blogs.sapo.pt (Movimento PR'ó Coiso)

bomdebola disse...

Só fará sentido este artigo se nos propusermos dar sequência a este movimento alargado de opinião.

Em defesa do “Quadrado”, unamo-nos à volta desta candidatura.

Isabel Filipe disse...

Lumife...
Boa Noite...

Só hoje li o teu Post...
o que aqui contas... pura e simplesmente desconhecia...nunca tinha ouvido falar....
tb nos anos 60 e picos eu era ainda uma menininha....

por coincidência... a musica que aqui tens... é a mesma que eu coloquei no meu Post de hoje...

Bjs

O Turista disse...

Devo dizer que simpatizo com ele!
Abraços!

O turista - http://turistar.blogspot.com/

Mónica disse...

Ainda bem que em Portugal ainda existem homens que não têm medo de enfrentar eleições sem apoio de partidos.

Apesar de ser Cavaquista, pois criei a minha identidade política na sua altura e digamos que entre Cavaco e Mario Soares a escolha não era díficil.

O país está a basear-se em traições e mentiras, não sou a favor do Santana, mas não achei o comportamento do Sampaio correcto.

A mim pareceu-me mais uma atitude partidária e os três meses de Santanas, serviram apenas como camuflagem à reorganização que o PS necessitava de fazer.

Mas agora as promessas não se concretizam e o pais continua mal, cada vez pior.

O pais não pode ser governado ou acompanhado por poesia, mas a integridade moral de Manuel Alegre é transparente mas bem vísivel.

Que esta luta seja feita por candidatos honesto que é disso que o nosso país precisa, ganhe quem ganhar, o importante é que seja para bem do nosso país.

:)

Caracolinha disse...

Absolutamente fantástico ... é o que eu sempre digo, o teu blog é um verdadeiro blog de serviço público ... fiquei emocionada.

Uma nerecida homenagem a um Homem que me veio tirar de um enorme impasse nestas eleições ;)

Beijoquinha encaracolada

Anónimo disse...

É para mim líquido que o Senhor Cavaco Silva vai ganhar isto porque a chamada esquerda não sabe gerir as suas prioridades.

O Manuel alegre não é uma figura tão conhecida do grande público por ter exercido poucos cargos que faça com que o povo vote nele e Mário Soares tal como fez com o apoio à candidatura do filho só prova que não sabe sair de palco a tempo.

Uma pena para ele, para mim e para quem como eu não gosta de Cavaco.

Bjs, Lumife.

Anónimo disse...
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IC disse...

Também sou da geração que pergunta "Que fizeram dos nossos sonhos?"
Vim parar aqui por acaso e com isso ganhei o dia... virem lágrimas de comoção aos olhos às vezes faz-nos bem.

Maria Lisboa disse...

Tantos sonhos esquecidos
perdidos no pó da estrada
tantos dias
à espera da madrugada

o que foi feito de nós
companheiros de viagem
que é da nossa liberdade
feita de fé e coragem

vai-se o tempo e nós aqui
adormecidos no cais
entretidos com o medo
de já ser tarde demais

teimosamente morrendo
por detrás desta janela
a fingir que somos livres
com um cravo na lapela.
(Vieira da Silva)

Também pergunto:
- que é feito dos nossos sonhos?
- que é feito dos "nossos cravos"?
- que é feito da história que construímos a dada altura da história deste país (deste episódio e de outros que nos foi dado viver)?
- QUE É FEITO DO FUTURO DESTE PAÍS?

Anónimo disse...

"Que fizeram dos nossos sonhos, Manuel?"
Enfim, uma lúcida análise e um percurso a um passado longínquo que
pode ajudar Portugal a observar toda a profundidade política (alguns têm vergonha da palavra porque lhes soa a falso...) de Manuel Alegre. No passado esteve ao lado do futuro, no presente está ao nosso lado, para construírmos o futuro.
Quem tem um passado destes, quem se devotou à política como que a um sacerdócio - no sentido correcto do termo -, merece ser o Presidente da República de todos os portugueses. Merece ser o Presidente da Lusofonia (esse amplexo linguístico que une multilateralmente todas as comunidades que falam a língua de Camões) por isso eu voto Manuel Alegre.
Horácio Fernandes Pereira

fotArte disse...

Os meus sinceros parabéns por ter «postado» este documento deveras importante!

Anónimo disse...

É curiosa esta declaração do Sr. Mesquita Brehm na passagem em que faz referência ao chamado «1º Econtro de Escritores de Angola» e que passo a transcrever: «... e os nossos camaradas do 1º Encontro de Escritores de Angola realizado no Lubango em Janeiro de 1963. Porque as revoluções também se preparam com poetas, escritores e artistas»!!!
Acontece que eu tenho a cópia de um artigo dirigido ao Jornal ABC de Angola e assinada por Mesquita Brehm e que tem este título «Porque recusei integrar-me no I Encontro dos Escritores de Angola» !!! Será que o Sr. Mesquita Brehm participou mesmo no dito encontro depois de ter escrito este artigo??É que corria à boca cheia que o tal conclave estava repleto de toda a gente menos de escritores de Angola!Curioso ou misterioso episódio recordado tantos anos depois!

PORQUE VOLTO

  PORQUE VOLTO . Volto, porque há dias antigos que ainda nos agarram com o cheiro da terra lavrada, onde em cada ano, enterrávamos os pés e ...