quarta-feira, novembro 30, 2005

"Ainda Refulge ..."





Ainda refulge a chama

que perturbou um dia meus sentidos?



Não se apaga jamais

a luz de certo olhar que em segredo amei?



Chora, em meu coração,

a nostalgia do bem com que sonhei?



Da noite, abismo imenso,

oiço indistinta voz chamar por mim?



O que me falta e inquieta

serás tu, de quem não sei o nome?



Ou todo o sonho erguido é cinza ao vento,

estrela fria, cada vez mais longe

do puro silêncio em que se esvai a vida?



(Luís Amaro)

terça-feira, novembro 29, 2005

Triste Outono




Que triste o fim da tarde vai ficando
com árvores a chorar ramos despidos,
e as folhas amarelas esvoaçando…
São pássaros perdidos!
Com o rosto colado na vidraça
mergulho neste céu meio pardacento,
manto dum tempo, insípido e sem graça…
Nostálgico e cinzento!
Murmúrios sem calor, soltos no ar
povoam um crepúsculo de Outono
e as vozes das gaivotas sobre o mar…
São gritos de abandono!
Pudesse eu agarrar a fé perdida,
gritando ao triste Outono: quem me dera,
que minha alma, que no mundo anda perdida…
Encontre a Primavera!
Quem sabe, se na contra luz do espaço,
dum igual fim de dia tão agreste,
não nascerá espontâneo o teu abraço…
Como uma flor silvestre!
A noite vem caindo, mansamente,
um odor a chão molhado anda no ar,
sereno, cerro meus olhos docemente…
E deixo-me embalar!




(Orlando Fernandes in Alentejo ... e Outros Poemas)

sexta-feira, novembro 25, 2005

MANUEL ALEGRE o Nosso CANDIDATO



Manuel Alegre em entrevista ao Público

Esta candidatura é um facto novo que desarruma os hábitos e o sistema

Por Maria José Oliveira e José Manuel Fernandes
24.11.2005


Manuel Alegre assume que o seu "contrato presidencial" apresenta propostas concretizáveis e defende que realizar um pacto económico e social não é uma aproximação ao "bloco central". Para além da estabilidade política, é necessário dar prioridade
ao combate a tensões sociais que possam surgir com a crise económica. Por isso, o candidato entende que o Presidente da República deve ter um papel mais interventivo, tentando restabelecer a confiança dos portugueses no sistema político-partidário. Alegre advoga ainda que o magistério não deve ser apenas de influência, mas também de "essência"




A alternativa Manuel Alegre
O passado de luta de Manuel Alegre, a sua postura política e o prestígio de que goza como poeta e escritor permitem-lhe ambicionar um resultado positivo e eventualmente a passagem a uma segunda volta nas eleições. E, se isso acontecer, pode até vir a vencê-las. De resto, para surpresa de muitos, esse cenário aparece como perfeitamente plausível, segundo as sondagens até agora efectuadas.
[Elísio Estanque, Professor Universitário, Militante do PS, 24.11.2005]







Debaixo das Oliveiras


Este foi o mês em que cantei
dentro de minha casa
debaixo
das oliveiras.

O mês em que a brisa me pôs nas mãos
uma harpa de folhas
e a terra me emprestou
sua flauta e sua lua.
Maré viva. Meu sangue atravessado
por um cometa visível a olho nu
tangido por satélites e aves de arribação
navegado por peixes desconhecidos.

Este foi o mês em que cantei
como quem morre e ressuscita
no terceiro dia
de cada sílaba.

O mês em que subi a uma colina
dentro de minha casa
olhei a terra e o mar
depois cantei
como quem faz com duas pedras
o primeiro lume. Palavras
e pedras. Palavras e lume
de uma vida.

Este foi o mês em que fui a um lugar santo
dentro de minha casa.
O mês em que saí dos campos
e me banhei no rio como quem se baptiza
e cantei debaixo das oliveiras
as mãos cheias de terra. Palavras
e terra
de uma vida.

Este foi o mês em que cantei
como quem espelha ao vento suas cinzas
e cresce de seu próprio adubo
carregado de folhas. Palavras
e folhas
de uma vida.

O mês em que a mulher
tocou meus ombros com sua graça
e me deu a beber
a água pura do seu poço.
Este foi o mês em que o filho
derramou dentro de mim
o orvalho e o sol
de sua manhã.

O mês em que cantei
como quem de si se perde e reencontra
nas coisas novamente nomeadas.

Este foi o mês em que atravessei montanhas
e cheguei a um lugar onde as palavras
escorriam leite e mel.
MILAGRE MILAGRE gritaram dentro de mim
as aves todas da floresta.

Então reparei que era o lugar do poema
o lugar santo onde cantei
entre mulher e o filho
como quem dá graças.

Este foi o mês em que cantei
dentro de minha casa
debaixo
das oliveiras.


(Manuel Alegre)





Nota do "Beja": Se estiver interessado em conhecer mais notícias e pormenores da Candidatura à Presidência da República clique em MANUEL ALEGRE

quarta-feira, novembro 23, 2005

Grande Edgar

Ilustração de Artur de Carvalho




Já deve ter acontecido com você.

— Não está se lembrando de mim?

Você não está se lembrando dele. Procura, freneticamente, em todas as fichas armazenadas na memória o rosto dele e o nome correspondente, e não encontra. E não há tempo para procurar no arquivo desativado. Ele esta ali, na sua frente, sorrindo, os olhos iluminados, antecipando sua resposta. Lembra ou não lembra?

Neste ponto, você tem uma escolha. Há três caminhos a seguir.

Um, curto, grosso e sincero.

— Não.

Você não está se lembrando dele e não tem por que esconder isso. O "Não" seco pode até insinuar uma reprimenda à pergunta. Não se faz uma pergunta assim, potencialmente embaraçosa, a ninguém, meu caro. Pelo menos entre pessoas educadas. Você deveria ter vergonha. Passe bem. Não me lembro de você e mesmo que lembrasse não diria. Passe bem. Outro caminho, menos honesto mas igualmente razoável, é o da dissimulação.

— Não me diga. Você é o... o...

"Não me diga", no caso, quer dizer "Me diga, me diga". Você conta com a piedade dele e sabe que cedo ou tarde ele se identificará, para acabar com sua agonia. Ou você pode dizer algo como:

— Desculpe, deve ser a velhice, mas...

Este também é um apelo à piedade. Significa "não tortura um pobre desmemoriado, diga logo quem você é!". É uma maneira simpática de você dizer que não tem a menor idéia de quem ele é, mas que isso não se deve a insignificância dele e sim a uma deficiência de neurônios sua.

E há um terceiro caminho. O menos racional e recomendável. O que leva à tragédia e à ruína. E o que, naturalmente, você escolhe.

— Claro que estou me lembrando de você!

Você não quer magoá-lo, é isso! Há provas estatísticas de que o desejo de não magoar os outros está na origem da maioria dos desastres sociais, mas você não quer que ele pense que passou pela sua vida sem deixar um vestígio sequer. E, mesmo, depois de dizer a frase não há como recuar. Você pulou no abismo. Seja o que Deus quiser. Você ainda arremata:

— Há quanto tempo!

Agora tudo dependerá da reação dele. Se for um calhorda, ele o desafiará.

— Então me diga quem sou.

Neste caso você não tem outra saída senão simular um ataque cardíaco e esperar, e falsamente desacordado, que a ambulância venha salvá-lo. Mas ele pode ser misericordioso e dizer apenas:

— Pois é.

Ou:

— Bota tempo nisso.

Você ganhou tempo para pesquisar melhor a memória. Quem será esse cara meu Deus? Enquanto resgata caixotes com fichas antigas no meio da poeira e das teias de aranha do fundo do cérebro, o mantém à distância com frases neutras como jabs verbais.

— Como cê tem passado?

— Bem, bem.

— Parece mentira.

— Puxa.

(Um colega da escola. Do serviço militar. Será um parente? Quem é esse cara, meu Deus?)

Ele esta falando:

—Pensei que você não fosse me reconhecer...

—O que é isso?!

—Não, porque a gente às vezes se decepciona com as pessoas.

—E eu ia esquecer de você? Logo você?

—As pessoas mudam. Sei lá.

— Que idéia. (é o Ademar! Não, o Ademar já morreu. Você foi ao enterro dele. O... o... como era o nome dele? Tinha uma perna mecânica. Rezende! Mas como saber se ele tem uma perna mecânica? Você pode chutá-lo amigavelmente. E se chutar a perna boa? Chuta as duas. "Que bom encontrar você!" e paf, chuta uma perna. "Que saudade!" e paf, chuta a outra. Quem é esse cara?)

— É incrível como a gente perde contato.

— É mesmo.

Uma tentativa. É um lance arriscado, mas nesses momentos deve-se ser audacioso.

— Cê tem visto alguém da velha turma?

— Só o Pontes.

— Velho Pontes! (Pontes. Você conhece algum Pontes? Pelo menos agora tem um nome com o qual trabalhar. Uma segunda ficha para localizar no sótão. Pontes, Pontes...)

— Lembra do Croarê?

— Claro!

— Esse eu também encontro, às vezes, no tiro ao alvo.

— Velho Croarê. (Croarê. Tiro ao alvo. Você não conhece nenhum Croarê e nunca fez tiro ao alvo. É inútil. As pistas não estão ajudando. Você decide esquecer toda cautela e partir para um lance decisivo. Um lance de desespero. O último, antes de apelar para o enfarte.)

— Rezende...

— Quem?

Não é ele. Pelo menos isto esta esclarecido.

— Não tinha um Rezende na turma?

— Não me lembro.

— Devo esta confundindo.

Silêncio. Você sente que esta prestes a ser desmascarado.

Ele fala:

— Sabe que a Ritinha casou?

— Não!

— Casou.

— Com quem?

— Acho que você não conheceu. O Bituca. (Você abandonou todos os escrúpulos. Ao diabo com a cautela. Já que o vexame é inevitável, que ele seja total, arrasador . Você esta tomado por uma espécie de euforia terminal. De delírio do abismo. Como que não conhece o Bituca?)

— Claro que conheci! Velho Bituca...

— Pois casaram.

É a sua chance. É a saída. Você passou ao ataque.

— E não avisou nada?

— Bem...

— Não. Espera um pouquinho. Todas essas acontecendo, a Ritinha casando com o Bituca, O Croarê dando tiro, e ninguém me avisa nada?

— É que a gente perdeu contato e...

— Mas meu nome tá na lista meu querido. Era só dar um telefonema. Mandar um convite.

— É...

— E você acha que eu ainda não vou reconhecer você. Vocês é que se esqueceram de mim.

— Desculpe, Edgar. É que...

— Não desculpo não. Você tem razão. As pessoas mudam. ( Edgar. Ele chamou você de Edgar. Você não se chama Edgar. Ele confundiu você com outro. Ele também não tem a mínima idéia de quem você é. O melhor é acabar logo com isso. Aproveitar que ele esta na defensiva. Olhar o relógio e fazer cara de "Já?!".)

— Tenho que ir. Olha, foi bom ver você, viu?

— Certo, Edgar. E desculpe, hein?

— O que é isso? Precisamos nos ver mais seguido.

— Isso.

— Reunir a velha turma.

— Certo.

— E olha, quando falar com a Ritinha e o Manuca...

— Bituca.

— E o Bituca, diz que eu mandei um beijo. Tchau, hein?

— Tchau, Edgar!

Ao se afastar, você ainda ouve, satisfeito, ele dizer "Grande Edgar". Mas jura que é a última vez que fará isso. Na próxima vez que alguém lhe perguntar "Você está me reconhecendo?" não dirá nem não. Sairá correndo.


(Luís Fernando Veríssimo)


Texto extraído do livro "As Mentiras que os Homens Contam", Editora Objetiva - Rio de Janeiro, 2001, pág. 13.

terça-feira, novembro 22, 2005

Traz Outro Amigo Também




Amigo
Maior que o pensamento
Por essa estrada amigo vem
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também

Em terras
Em todas as fronteiras
Seja benvindo quem vier por bem
Se alguém houver que não queira
Trá-lo contigo também


Aqueles
Aqueles que ficaram
(Em toda a parte todo o mundo tem)
Em sonhos me visitaram
Traz outro amigo também

(Zeca Afonso)

sexta-feira, novembro 18, 2005

Porque Volto

Foto aérea de ALVITO retirada do livro O CASTELO DE ALVITO com texto de Fialho de Almeida - Edição da Fundação da Casa de Bragança - 1946




Volto,
porque há dias antigos
que ainda nos agarram
com o cheiro da terra lavrada,
onde em cada ano,
enterrávamos os pés e os sonhos.


Volto,
porque os olhos dos pastores,
continuam chorando
estios sem pastagens,
onde na terra gretada
o rosmaninho já secou.


Volto,
porque me doem as recordações
dos lugares perdidos,
onde há nomes de gentes,
que me deixaram marcas,
sulcadas na pele e na alma.


Volto,
porque ainda quero correr,
atrás das cotovias
que cantavam nas eiras,
quando o pão de trigo,
nascia nas mãos dos homens.


Volto,
porque em tardes de sol,
há espaços na planície quente,
onde velas de moinhos decadentes,
ainda gritam o teu nome ao vento,
enquanto moem saudades velhas.


Volto,
porque ouço canções tristes,
que os últimos cantadores,
penduram nas oliveiras abandonadas,
e que se arrastam comigo,
embalando nostalgias
fechadas dentro de mim.


Volto,
porque o verde dos trigais
é da cor da esperança em colheitas,
que possam merecer a pena,
e porque as derradeiras cegonhas,
ainda moram nas torres das igrejas.


Volto,
porque irremediavelmente,
luto por agarrar o tempo,
como outrora tentava
apanhar as rãs assustadas,
que se esgueiravam nos charcos.


Volto,
porque o meu Alentejo,
é o último dos redutos,
onde consigo esconder os sonhos
que ainda trago fechados,
nas minhas mãos desesperadas!



(Orlando Fernandes in Alentejo…e Outros Poemas)





Amigos:

- Como já devem ter reparado tenho postado no "Beja" vários trabalhos de Orlando Fernandes. A razão é simples. Os seus poemas traduzem indubitavelmente o nosso grito de alma de alentejanos obrigados ao exilio. Cada palavra sua é o retrato fiel duma imagem que nos acompanha em todos os momentos. Cada composição é um acontecimento que todos já vivemos. Lendo este Poeta Alentejano custa menos a saudade que nos consome. Obrigado Orlando Fernandes pela partilha do teu talento. Podes crer que muitas vezes os teus poemas são interrompidos na leitura porque os olhos, respondendo ao apelo da saudade, o não permitem.


---Desejo a todos os Amigos um bom fim de semana e prometo visitá-los em seus blogs nos próximos dias. Continuo a recomendar uma visita ao SABIA QUE...? e ao POÉTICUS

quinta-feira, novembro 17, 2005

Manuel Alegre no Porto

Foto de Dias dos Reis




Liberdade



Aqui nesta praia onde

Não há nenhum vestígio de impureza,

Aqui onde há somente

Ondas tombando ininterruptamente,

Puro espaço e lúcida unidade,

Aqui o tempo apaixonadamente

Encontra a própria liberdade.



(Sophia de Mello Breyner Andresen)






Alegre quer sacudir o País como Humberto Delgado
Para evocar 'general sem medo', candidato até foi à varanda da sede saudar apoiantes
[david mandim / DN, 17.11.2005]


Manuel Alegre apressou-se a confessar uma "certa emoção" por estar na cidade do Porto. Mais ainda, por inaugurar a sua sede de campanha num segundo andar de um edifício da Praça Carlos Alberto, muito perto da varanda, onde, em 1958, o general Humberto Delgado "deu uma grande sacudidela no medo e abalou o regime" salazarista.
Na abertura da sede portuense, Alegre teve ao lado figuras como Jorge Costa e Pedro Abrunhosa.

Volvidos 47 anos, Alegre propõe também uma "sacudidela", agora "no marasmo, no seguidismo" e "renovar os ideais do 25 de Abril". E não resistiu, qual candidato sem medo, a ir à varanda saudar a meia centena de apoiantes que estavam na praça portuense.

Com uma candidatura que "é um acto de liberdade", Manuel Alegre seguiu a evocação de Humberto Delgado para criticar aqueles que estão na política "menos por convicção que por carreirismo e não por fidelidade à democracia". "Não me candidato contra ninguém. Tenho uma causa e um projecto", assegurou, ladeado pelo futebolista Jorge Costa - "se fosse treinador seria sempre primeira escolha" -, pelo músico Pedro Abrunhosa -a quem, por engano, chamou Rui - e pelo arquitecto Manuel Correia Vicen- te, seu mandatário distrital. Também o escritor Mário Cláudio enviou uma mensagem de apoio.

"Cumprir e fazer cumprir a constituição" é o objectivo do candidato que recusa ser menorizado. "Estou a lutar para ser eleito. Não sou um candidato marginal. Quero evitar a eleição de Cavaco Silva na primeira volta, para na segunda volta, com toda a esquerda e com todos os portugueses" ser eleito presidente, disse o deputado socialista, consciente que o "combate é difícil, porventura desigual, mas vale a pena".

"Mas não há vencedores antecipados", afirmou. "Quiseram coroar o candidato Cavaco Silva, mas ele vai ter que ir à luta, aos debates, disputar a eleição com outros candidatos", acrescentou, para logo completar "Mas não é apenas para travar um candidato, é ter um projecto." E neste projecto encaixa "um presidente da República que deve ter um papel activo, que seja um provedor da democracia".

Por isso, se chegar a Belém, Alegre promete "não falar das forças do bloqueio" e questionar logo a Assembleia da República se "candidatos pronunciados pela Justiça poderão ser eleitos para cargos públicos". Alegre considera que é mau "Não creio que seja um acto prestigiante para a democracia."

Na sua intervenção, insistiu que é o único a correr sem o "apoio de nenhum partido" e sem "nenhuns interesses por detrás". Isto para dizer que a candidatura tem poucos meios mas é apoiada por gente sincera e com causas. "Comovo-me muito quando chegam cheques de cinco ou dez euros", disse.

Caso seja eleito, pretende lutar por tornar "os direitos políticos inseparáveis dos direitos sociais". É tempo de mudar, porque "há trinta anos se pedem sacrifícios ao povo". Agora, Alegre deseja que "os custos das mudanças sejam repartidos por todos".

Foi o final de um dia totalmente passado no Porto. De manhã, Alegre visitou a delegação do Instituto Português de Sangue, onde criticou o aumento das taxas moderadoras, anunciado pelo ministro Correia de Campos. "Temos de ter consciência que temos um País com dois milhões de cidadãos em estado de pobreza, mais meio milhão de desempregados e muita gente a viver de um salário mínimo que é dos mais baixos da Europa", justificou.

No dia temático da inovação, o candidato defendeu uma aposta no conhecimento tecnológico e científico, patente na actividade do instituto. À tarde, e depois de um almoço com dirigentes da Federação de Associações Juvenis, visitou uma empresa de informática em Perafita, Matosinhos, que definiu como um bom exemplo de empreendedorismo.
(...)

quarta-feira, novembro 16, 2005

Alentejo




A luz que te ilumina,
Terra da cor dos olhos de quem olha!
A paz que se adivinha
Na tua solidão
Que nenhuma mesquinha
Condição
Pode compreender e povoar!
O mistério da tua imensidão
Onde o tempo caminha
Sem chegar!...


(Miguel Torga)


Castro Verde





VII Aniversário do Lumière


Além da habitual programação cinematográfica e, à semelhança de anos anteriores, voltamos a ter entre nós personalidades do panorama cinematográfico português. A convite do Lumière, o actor Nicolau Breyner vai partilhar connosco pormenores desse magnifico mundo que é o cinema e falar-nos dos seus mais recentes projectos. A presença do actor está agendada para dia 22 de Novembro, pelas 21h30, no Fórum Municipal. A propósito da presença do actor, volta a ser exibido o filme os “Imortais” de António Pedro Vasconcelos, dia 18 de Novembro, na Antiga Fábrica Prazeres & Irmão.

No dia 25 de Novembro, o Cine-Teatro Municipal (21h30) recebe o espectáculo Melodias da Disney, uma proposta musical para toda a família que reúne as mais belas canções das histórias de animação e convida a revisitar personagens como “Robin Hood”, “Aladino”, “A Pequena Sereia”, “Tarzan”, “O Rei Leão” e “Shrek”, entre tantos outros. Lilia Matos, que recentemente integrou o elenco do musical “Kiss Kiss”, dá voz a este espectáculo que se apresenta como uma simbiose entre música, multimédia, teatro e improviso.





Presenças

Exposição de Ana Martins


Abertura da exposição Presenças, de Ana Martins, agendada para dia 18 de Novembro, no átrio do Cine-Teatro, pelas 18h00. Foi no âmbito do Projecto FÁBRICA, que Ana Martins concebeu "Presenças", uma exposição que reúne obras de pintura e que vai estar patente até 31 de Dezembro.

Ana Martins nasceu em Lisboa, em 1986 e reside em Castro Verde. Apaixonada desde muito nova pelas artes plásticas, dá os primeiros passos com a temática pictórica figurativa, onde se destacam o pastel, o óleo e mais tarde o acrílico.

As suas obras, são caracterizadas pela diversidade temática e técnica, sempre influenciadas por aquilo que a rodeia, esforçando-se pelo equilíbrio visual e por despertar emoções no observador.





O Mistério da Camioneta Fantasma

Companhia de Teatro A'Barraca


A peça de teatro “O Mistério da Camioneta Fantasma”, realiza-se no Cine-Teatro Municipal de Castro Verde, dia 20 de Novembro, pelas 21h30.

“O Mistério da Camioneta Fantasma” encena um episódio sangrento da nossa história recente. No dia 19 de Outubro de 1921, onze anos após a implantação da República, uma «camioneta fantasma» percorreu a cidade de Lisboa e a coberto de um golpe revolucionário raptou e assassinou importantes figuras da República, como o primeiro-ministro António Granjo, Machado Santos, Carlos da Maia e o Almirante Botelho de Vasconcelos. Presos e condenados os autores destes crimes, ficaram para sempre imunes os autores morais. Pouco depois, registava-se o golpe de 28 de Maio e decretava-se silêncio absoluto sobre os acontecimentos da noite sangrenta levada a cabo pela camioneta fantasma.



Companhia de Teatro A'Barraca
Texto e Encenação: Hélder Costa
Cenografia: José Manuel Castanheira
Figurinos: Maria do Céu Guerra
Elenco: André Nunes, Bruno Cochat, João D’Ávila, Luís Thomar, Patrícia Adão Marques, Pedro Borges, Rita Fernandes, Ruben Garcia, Sérgio Moras, Susana Costa.

segunda-feira, novembro 14, 2005

Contrato Presidencial




Contrato Presidencial

Candidatura à Presidência da República
de Manuel Alegre de Melo Duarte

Lisboa, 4 de Novembro de 2005


Razões da candidatura

A leitura do texto integral pode ser feita aqui no site do Candidato



******


Abaixo el-rei Sebastião

É preciso enterrar el-rei Sebastião
é preciso dizer a toda a gente
que o Desejado já não pode vir.
É preciso quebrar na ideia e na canção
a guitarra fantástica e doente
que alguém trouxe de Alcácer Quibir.

Eu digo que está morto.
Deixai em paz el-rei Sebastião
deixai-o no desastre e na loucura.
Sem precisarmos de sair o porto
temos aqui à mão
a terra da aventura.

Vós que trazeis por dentro
de cada gesto
uma cansada humilhação
deixai falar na vossa voz a voz do vento
cantai em tom de grito e de protesto
matai dentro de vós el-rei Sebastião.

Quem vai tocar a rebate
os sinos de Portugal?
Poeta: é tempo de um punhal
por dentro da canção.
Que é preciso bater em quem nos bate
é preciso enterrar el-rei Sebastião.

Manuel Alegre







Da Weasel triunfa no Olympia em Paris

A mítica sala por onde passou Amália Rodrigues encheu-se de portugueses, luso-descendentes e franceses para ouvir o sexteto da margem sul, num concerto que acabou por ser uma grande festa.

No final, o vocalista do grupo, Pacman, confessou aos jornalistas que se sentiu "em casa".
O feito dos Da Weasel é tanto maís extraordinário quanto o seu sucesso em Paris ocorre num momento de grande tensão social em França, abalada por eclosões de violência urbana de grupos de jovens em revolta.

sexta-feira, novembro 11, 2005


Desejo-vos um bom dia de S. Martinho e um óptimo fim de semana, com muitas castanhas e alguma "água-pé". Cuidado com a estrada.



Lembro que o SABIA QUE ...? continua a editar temas importantes. Não deixe de o visitar.





Também e a pedido de um grande amigo convido-vos a visitarem POÉTICUS o blog que lembra os nossos Poetas.

Porque



Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.



(Sophia de Mello Breyner Andresen)

terça-feira, novembro 08, 2005

Manuel Alegre - O Nosso Candidato






«Trova do Vento que Passa»


Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

(Manuel Alegre)





****
Perguntas que não podem deixar de ser feitas
[A candidatura de Manuel Alegre 31.10.2005]



A nossa candidatura não ataca ninguém. Define-se por um projecto próprio e considera todas as outras candidaturas em pé de igualdade.
Mas têm sido proferidas afirmações às quais, pela sua surpreendente agressividade, não podemos deixar de reagir.
Com todo o respeito e consideração, há perguntas que não podem deixar de ser feitas a Jerónimo de Sousa: contra quem está ele a combater? Contra Cavaco Silva ou contra Manuel Alegre? Por quem está ele a fazer campanha? Pela sua candidatura ou pela de outro candidato, apoiado por outro partido?



***
Mais cidadania, melhor democracia
[Manuel Alegre 24.10.2005]



Como deputado constituinte, fui co-fundador do actual regime pluripartidário em Portugal. O facto de a minha candidatura ser a única que não depende de nenhum partido político não significa que seja contra os partidos. Como muitas vezes tenho dito, os partidos políticos, de acordo, aliás, com a Constituição, são essenciais à formação democrática da vontade colectiva. Mas não esgotam a democracia. O excessivo peso dos aparelhos partidários afunila, não só os partidos, como toda a vida cívica.
É por isso que é preciso alargar o espaço da cidadania. É esse um dos objectivos centrais da minha candidatura: mais cidadania, melhor democracia.



***
Uma perversão inadmissível
[A candidatura de Manuel Alegre 22.10.2005]



Depois do que se passou na Comissão Nacional do Partido Socialista, a mobilização deste fim de semana em vários plenários distritais torna evidente que o que está em causa para alguns dirigentes não é derrotar Cavaco Silva, mas sim combater Manuel Alegre. De facto, não se ouviu uma palavra do Secretário Geral do PS a criticar a apresentação da candidatura do ex-primeiro ministro e a sua total ausência de propostas para a saída da crise nacional. Pelo contrário, parece que o principal objectivo é condicionar os militantes socialistas que apoiam Manuel Alegre. O que é uma perversão inadmissível da natureza da eleição presidencial e uma forma de limitar a liberdade de escolha de cidadãos eleitores que, pelo facto de militarem num partido político, não podem ver-se privados dos seus direitos constitucionais.

sexta-feira, novembro 04, 2005

Naquele Tempo





Naquele tempo,
ainda haviam amoras nos silvados
à beira de ribeiras transparentes.

Naquele tempo,
ainda haviam papoilas nos trigais
para enfeitar os cabelos das ceifeiras.

Naquele tempo,
mergulhávamos nos pegos das herdades,
onde em paz nadavam as pardelhas.

Naquele tempo,
os morangos cheiravam na boca
e as maçãs amadureciam nos ramos.

Naquele tempo,
os primeiros versos envergonhados
eram escondidos nos cadernos da escola.

Naquele tempo,
éramos inocentes, generosos e simples,
como as aves que cruzavam o azul do céu.


Mas isso… era naquele tempo,
porque as nossas almas ainda estavam brancas!


Orlando Fernandes in Alentejo...e Outros Poemas

quarta-feira, novembro 02, 2005

Os Montes





Vieram de longe
montados em “jeeps
novinhos de ver.

Com ares de cidade
e dinheiro batido,
compraram-te os montes
velhos de cem anos …

Pintaram de cores,
o branco caiado.

Nem poiais de pedra,
nem barras azuis.

Mármores, cantaria,
madeiras pau-santo.

Bancos de baloiço,
mesas em forjado.

Há vinhos franceses,
charutos cubanos,
e amigos de longe,
nos fins-de-semana.

Alentejo, meu país,
não chores as tuas mágoas
atráz dos chaparros velhos …
que essa gente não é tua !

Compram-te as casas,
arruinadas pela pobreza,
e mudam-te as terras de pão,
em jardins …

Moram-te os espaços,
mas não te habitam a alma,
nem sabem cantar como nós …
o lírio roxo do campo !




In POIESIS – Antologia de Poesia e Prosa Poética Portuguesa Contemporânea. Ed. Minerva, Out./1999
ORLANDO FERNANDES - in Alentejo ... e Outros Poemas



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Feira dos Santos em Alvito





Que bom fim de semana prolongado passei em Alvito para assistir à Feira dos Santos. Nem a chuva que copiosamente caiu nos dias anteriores e que já é uma tradição impediu uma multidão de visitantes de ir até esta feira.
Evento que ocupa todas as ruas e praças principais da vila impedindo a circulação normal do trânsito automóvel mas que nos lembra tempos medievais com seu vetusto castelo assistindo a tudo mudo e quedo.
Os frutos secos imperam aqui e todos regressam aos seus lares com um ou mais sacos de nozes, figos, castanhas, amêndoas, avelãs, batata doce eu sei lá que mais.




Tendas onde se vendem presuntos, chouriços, entremeadas, linguiças, de porco branco e do muito apreciado porco preto. Mobiliário decorativo de madeira e de verga.




Mantas, conjuntos de cama, almofadas decorativas, todo o género de quinquilharia, casacos, blusões, camisas e outras peças de vestuário. Carrousséis e pistas de automóveis. Mais comes e bebes por todo o lado. Chineses, ciganos, indianos, africanos, algarvios, beirões e alentejanos, todos mostram e tentam vender os seus produtos.
Uma autêntica grande superfície comercial de levante.
À parte a zona comercial diversas manifestações culturais: Bandas de Música, Ranchos folclóricos,
Chocalheiros, Grupos Corais de Cante Alentejano, Exposição de Antiguidades e Velharias para leiloar, Exposição de cerâmica e pintura “O Cante e o Alentejo” de António Duro, etc. etc. Muito para se ver e apreciar.
Havia de tudo para todos os gostos.

PORQUE VOLTO

  PORQUE VOLTO . Volto, porque há dias antigos que ainda nos agarram com o cheiro da terra lavrada, onde em cada ano, enterrávamos os pés e ...