terça-feira, agosto 02, 2005

Projecto I


O longo muro alentejano e branco

O desejo de limpo e de lisura

Aqui na casa térrea a arquitectura

Tem a clareza nua de um projecto




(Sophia Andresen

Retratos Cativos

Campo de girassóis - Acrílico sobre tela - Maria Teresa Almeida Bielinski - Foto Wilson Lima





Mesmo com a treva sobre os olhos,

vejo ainda nos longes ondulantes o girassol.

No silêncio outonal dos campos de mérida

ou numa xácara do alentejo, aflante ave

que o ocaso não desdoira



– se anoitece de repente e o barro muito antigo

se transforma em silente névoa, são seus esses

revérberos que ainda me conduzem pelo labirinto

dessas tardes em que esvoaçaramos

enoivecidos ao tiro das usinas.



Se alguém me perguntar por um astro

de raiz em terra, sem ademanes, responderei

o girassol – atento guardião das manhãs

da infância vigiando, em seu modo cabeceante,

o lado alvoroçado pela luz.



Quero-o agora, a esse girassol antigo

voltejando no talhão defronte à eira;

juro foi meu pai que o semeou,

ele próprio coisa semeada

num janeiro de aguaceiros.



Fronde gloriosa aberta à iniciação

de estio, vê-lo é chama que infunde

à vista a majestade desses dias subtraídos

à usura. Inda, de ao longe passarem

bandos iluminados pela cegueira,

se apenumbrem campos e horizontes.





(José Luis Tavares -Cidade da Praia - Ilha de Santiago - Cabo Verde - 1967

"Retratos Cativos" in Paraíso Apagado por um Trovão.)

PORQUE VOLTO

  PORQUE VOLTO . Volto, porque há dias antigos que ainda nos agarram com o cheiro da terra lavrada, onde em cada ano, enterrávamos os pés e ...