quarta-feira, abril 05, 2006

AO PÉ DE TI, NÃO AMO ...


foto de Benita Heldmann




Ao pé de ti, não amo: Choro e rio
de puro contentamento sem motivo.


E, neste triste intervalo em que interrompo
a serena contemplação do teu rosto,
pelo coração me lembro
que tu, se existes, se realmente existes,
tarde demais existes.


Já longe estão as vides na videira,
já longe estão os barcos sobre o mar,
longe de mim as nódoas da violência,
longe de mim a célere
circulação das águas:
Esse imenso e desperto rio sem margens,
que corre e prenuncia o grande mar
em que o teu corpo de alga, nu ainda,
se despe e se revela transparente.


Por isso, quando voltas, eu não ouço
o frémito ondulado e impetuoso
que te escorre da pele azul marítima,
esse cântico de ventos e aventura
que se ergue do teu corpo em puro júbilo.


Quando nos despedimos, digo que
continuo a amar-te,
a querer-te,
a desejar-te…


Quando nos despedimos, digo que
guardo de ti sòmente esta lembrança:
A de que foste tu que me ensinaste
a ter saudades dos meus tempos de criança.



Raul de Carvalho

(Poesia)

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