sexta-feira, setembro 01, 2006

Caronte, o barqueiro do Hades - Gravura de Gustavo Doré



ARCO – ÍRIS


No longe mais longe dos longes do mar
Andava um barqueiro a remar… a remar…

Não via mais nada: só águas e céu
E nuvens e astros que Deus acendeu.

Sozinho consigo, sonhava… sonhava…
Nos fundos mistérios que o fundo guardava.

Passavam as ondas, e, uma por uma,
Beijavam-lhe os remos com lábios de espuma.

Os ventos pintavam, com nuvens e sol,
mil quadros a tintas de fresco arrebol.

À noite, não quadros que o vento arrebata,
Mas lua beijando cardumes de prata.

E o poeta barqueiro remava a sonhar
Nos fundos mistérios do fundo do mar.

Que tempos passaram!! Já nem se lembrava
De quando partira! Remava… remava…

Às ondas suaves: - «Mais longe, mais longe,
(Pediam as nuvens) levai este monge!»

E o monge poeta, com mais energia,
Remava nas ondas da luz que acendia,

Que a luz era o sonho que o monge habitava,
Bebendo os silêncios que a alma cantava.

E as horas passaram felizes… velozes!
Cantaram os galos, ouviram-se vozes,

O sol levantou-se, rompeu a manhã
Mais linda e alegre que fresca romã,

E o monge, acordando, sentiu-se mesquinho,
Ao ver-se num catre de tábuas de pinho.

Saltou para o chão, os joelhos dobrou,
Três vezes no peito bateu… e chorou!


António Celso – Asas cinzentas

PORQUE VOLTO

  PORQUE VOLTO . Volto, porque há dias antigos que ainda nos agarram com o cheiro da terra lavrada, onde em cada ano, enterrávamos os pés e ...