domingo, setembro 16, 2007

Seus olhos tão negros...

Foto de Alex Krivtsov



Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
De vivo luzir,
Estrelas incertas, que as águas dormentes
Do mar vão ferir;

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Têm meiga expressão,
Mais doce que a brisa, — mais doce que o nauta
De noite cantando, — mais doce que a frauta
Quebrando a solidão,

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
De vivo luzir,
São meigos infantes, gentis, engraçados
Brincando a sorrir.

São meigos infantes, brincando, saltando
Em jogo infantil,
Inquietos, travessos; — causando tormento,
Com beijos nos pagam a dor de um momento,
Com modo gentil.

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Assim é que são;
Às vezes luzindo, serenos, tranquilos,
Às vezes vulcão!

Às vezes, oh! sim, derramam tão fraco,
Tão frouxo brilhar,
Que a mim me parece que o ar lhes falece,
E os olhos tão meigos, que o pranto humedece
Me fazem chorar.

Assim lindo infante, que dorme tranquilo,
Desperta a chorar;
E mudo e sisudo, cismando mil coisas,
Não pensa — a pensar.

Nas almas tão puras da virgem, do infante,
Às vezes do céu
Cai doce harmonia duma Harpa celeste,
Um vago desejo; e a mente se veste
De pranto co'um véu.

Quer sejam saudades, quer sejam desejos
Da pátria melhor;
Eu amo seus olhos que choram em causa
Um pranto sem dor.

Eu amo seus olhos tão negros, tão puros,
De vivo fulgor;
Seus olhos que exprimem tão doce harmonia,
Que falam de amores com tanta poesia,
Com tanto pudor.

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Assim é que são;
Eu amo esses olhos que falam de amores
Com tanta paixão.


Gonçalves Dias

7 comentários:

MARIA disse...

Olá Lumife,
Neste momento preciso não estou no meu PC, não tenho som. Ainda assim não resisti a espreitar o BEJA. É um espaço onde também me perco na beleza das palavras sempre colocadas em moldura de céu azul, raiado de infinito, iluminado e cintilante , aonda me transporto para sonhar.
Adorei o poema. É lindo.
Gostava de ouvir-to dizer. Calharia bem. Sabes porquê : é um segredo, não contes a ninguém - tenho olhos negros, ba ... aproximadamente...
E tu Lumife ? Lembraste-te de uma canção sobre a cor dos olhos que o Francisco José cantava de forma muito potente a este respeito ?
Bem, amigo, boa semana para ti que isto são muitos olhos e pouca barriga e eu ainda tenho que ali fechar uma luz...
Obrigada, é belíssimo!
Beijinhos da tua amiga
Maria

Anónimo disse...

Passei, e encantada fiquei, aqui dentro esqueci o tempo!

Obrigada, prometo voltar

Lúcia Laborda disse...

Adoro esse poema! Aliás gosto imensamente de Gonçalves Dias! Obrigada pela oportunidade de reler.
Uma boa semana!
Beijos

BF disse...

Gostei do poema mas, vou fazer birra! Só fazem poemas, cantigas aos olhos negros! e os Verdes? e os Azuis?

Beijos
BF

De Amor e de Terra disse...

Muito belo este poema que não conhecia; muito belo mesmo.

Abraço


Maria Mamede

Anónimo disse...

Amigo-irmão:
há pouco vi um comentário teu, mais que um comentário, uma demonstração de Amizade.
Sou-te grato, de coração.
Um abraço fraterno,

batista filho

Anónimo disse...

Como sempre o inultrapassável bom gosto em todos os posts que coloca.
A boa poesia escolhida com critério e qualidade. É bom vir a este blogue e partilhar consigo o que lhe mexe por dentro e embalar-se na esteira da sua sensibilidade.
Uma boa semana...e que bons olhos belos e profundos o vejam. ;)

Carlos

PORQUE VOLTO

  PORQUE VOLTO . Volto, porque há dias antigos que ainda nos agarram com o cheiro da terra lavrada, onde em cada ano, enterrávamos os pés e ...