segunda-feira, outubro 01, 2007

AMEMOS

Foto de Alex Krivtsov



DAMA NEGRA
POR QUE TARDAS, meu anjo! oh! vem comigo.
Serei teu, serás minha... É um doce abrigo
A tenda dos amores!
Longe a tormenta agita as penedias...
Aqui, ao som de errantes harmonias,
Se adormece entre flores.

Quando a chuva atravessa o peregrino,
Quando a rajada a galopar sem tino
Açoita-lhe na face,
E em meio à noite, em cima dos rochedos,
Rasga-se o coração, ferem-se os dedos,
E a dor cresce e renasce...

A porta dos amores entreaberta
É a cabana erguida em plaga incerta,
Que ampara do tufão...
O lábio apaixonado é um lar em chamas
E os cabelos, rolando em espadanas,
São mantos de paixão.

Oh! amar é viver... Deste amor santo
— Taça de risos, beijos e de prantos
Longos sorvos beber...
No mesmo leito adormecer cantando...
Num longo beijo despertar sonhando...
Num abraço morrer.

Oh! amar é ser Deus!... Olhar ufano
O céu azul, os astros, o oceano
E dizer-lhes: "Sois meus!"
Fazer que o mundo se transforme em lira,
Dizer ao tempo: "Não... Tu és mentira,
Espera que eu sou Deus!"

Amemos! pois. Se sofres terei prantos,
Que hão de rolar por terra tantos, tantos,
Como chora um irmão.
Hei de enxugar teus olhos com meus beijos,
Escutarás os doces rumorejes
D'ave do coração.

Depois... hei de encostar-te no meu peito,
Velar por ti — dormida sobre o leito —
Bem como a luz no altar.

Te embalarei com uma canção sentida,
Que minha mãe cantava enternecida
Quando ia me embalar.

Amemos, pois! P'ra ti eu tenho n´alma
Beijos, prantos, sorrisos, cantos, palmas...
Um abismo de amor...
Sorriso de uma irmã, prantos maternos,
Beijos de amante, cânticos eternos,
E as palmas do cantor!

Ah! fora belo unidos em segredo,
Juntos, bem juntos... trêmulos de medo,
De quem entra no céu,
Desmanchar teus cabelos delirante,
Beijar teu colo!... Oh! vamos minha amante,
Abre-me o seio teu.

Eu quero teu olhar de áureos fulgores,
Ver desmaiar na febre dos amores,
Fitos fitos... em mim.
Eu quero ver teu peito intumescido,
Ao sopro da volúpia arfar erguido
O oceano de cetim

Não tardes tanto assim... Esquece tudo...
Amemos, porque amar é um santo escudo,
Amar é não sofrer.
Eu não posso ser de outra... Tu és minha,
Almas que Deus uniu na balsa e ténue
Hão de unidas viver.

Meu Deus!... Só eu compreendo as harmonias,
De tua alma sublime as melodias
Que tens no coração.
Vem! Serei teu poeta, teu amante...
Vamos sonhar no leito delirante
No templo da paixão.


Castro Alves

9 comentários:

MARIA disse...

LUMIFE :
Não consegui conter as lágrimas.
Tanto sentimento, tantas emoções nestas palavras trabalhadas com a arte que só um verdadeiro encantador da palavra, um verdadeiro poeta, pode alcançar!
Hoje que se celebra a música, necessariamente celebra-se o amor.
Este poema é o mais belo hino, o mais belo cântico à vida.
Obrigada meu amigo, por o trazeres hoje e por seres, como sempre és, EXTRAORDINÁRIO...
Um beijinho.
Maria

Sol da meia noite disse...

Aqui cheguei e gostei do poema que postaste.
Em cada palavra, o sentimento é enaltecido... sublime!

Deixo beijos!

Anónimo disse...

Sublime!
O amor, as emoções...são estes sentires que dão sentido à nossa existência.
Muito bom mesmo.
Amei.
jokitas e boa semana
Ah....se não te importas troca o meu link. Troquei o sapo pela simplesnet

Paula Raposo disse...

Um tão lindo poema!! Amemos...

Anónimo disse...

Olá amigo.
Tenho andado ausente e por agora assim será.
Deixo um beijo com carinho e saudade e até sempre*

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Lumife, grata por voltares ao meu cantinho.
Gosto muito do teu blogue, já sou fã.
Cá voltarei amigo!
muitos beijinhos,
Fernandinha

peciscas disse...

O amor, é e será sempre um tema inesgotável para os poetas.
Porque tem tantas cambiantes e é capaz de provocar tantas emoções que jamais será definitivamente cantado.

*Um Momento* disse...

Uau...
Poema belissimo...
Sentido...
Beijo muito agradecido pelas palavras a mim dirigidas
Estou bem e de volta
Abraço sentido com o desejo de uma linda noite:)))

(*)

De Amor e de Terra disse...

BELÍSSIMO!!!
É tão maravilhoso saber dizer o AMOR, como Castro Alves neste Poema!

Parabéns Lumife e um beijo enorme de agradecimento pela partilha.

Maria Mamede

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