quinta-feira, maio 03, 2007

2º ENCONTRO DE BLOGS EM ALVITO






Conforme prometido aqui apresentamos o trabalho que a Drª Paula Silva nos enviou para ser lido no 2º Encontro de Blogs em Alvito. Na altura não foi possível ser transmitido aos Participantes mas aqui o deixamos para leitura e análise e para ser comentado.

"Cara organização, caros colegas, cara assistência,
Compromissos laborais impedem-me de estar presente neste segundo encontro na histórica vila de Alvito. No entanto, tenho o enorme prazer de partilhar convosco uma reflexão acerca dos resultados da minha tese de mestrado sobre a blogosfera portuguesa.

Prometendo ser breve, porque não há maior aborrecimento do que não estar presente e mesmo assim ser abusiva, vou directa ao assunto.



O último século viu os media impressos, a rádio e a televisão tornarem-se objectos de consumo massificados e hoje, a cada minuto que passa, há novos computadores a interligarem-se, novas pessoas a entrarem na Rede e novas informações a serem aí colocadas, ao alcance de “todos”.
Algo de profundo está a acontecer. Se a web 1.0 estava centrada nos negócios, a web 2.0 está organizada em torno de pessoas anónimas, do cibernauta. E o que quer isto dizer? A consolidação da autonomia individual, palavras de ordem que indicam o rumo da nova “web social” baseada numa Rede global, cujo substrato está assente na partilha de sons, textos, vídeos…
Pela primeira vez na história humana, a opinião pode tornar-se pública. Pública como consideramos a opinião de alguém que utilizou meios de comunicação como veículos, mas também pelo facto de poder dizer respeito a todos e que todos podem fundamentar ou rebater.
Neste sentido, os blogues são uma ferramenta imprescindível de promoção da racionalidade e de fomento da discussão. Abolidos os intermediários, amplia-se uma oferta de informação que até há pouco tempo estava confinada aos jornalistas e opinion makers.
É neste contexto que as “notícias” estão a ser produzidas pelo antigo público, por pessoas comuns, e não apenas por quem tradicionalmente costumava produzir a primeira versão da história.

Os media deixaram de ter o monopólio da informação, embora os blogues não procurem competir com os gigantes da comunicação. Até porque essa não é a sua intenção.

A blogosfera portuguesa não vive da informação original, o âmago do jornalismo, mas funda-se na opinião, a sua grande arma. Indivíduos privados discutem agora assuntos do interesse público e podem funcionar como vigilantes da acção dos media e dos que têm o poder.
Antes do surgimento da rede de comunicação de extensão planetária que é a Internet, a maioria dos seres humanos era invisível. Mas nas actuais circunstâncias é fácil ser-se ouvido, devido à facilidade de publicação de informação imediata. Os tão apregoados 15 minutos de fama de Andy Warhol transformaram-se em 15, 20, 30 ou muitos mais megas de notoriedade.
As massas chegaram à Rede, depois de terem tentado sem sucesso os meios impressos, apenas remetidos para as “Cartas dos Leitores”, e que tão bem se deram no formato mais popular de certos programas televisivos… não estimam a intimidade, divulgam-na a um público com os mesmos interesses e as mesmas angústias.

Opinativos por natureza, os blogues configuram-se antes como espaços de confirmação de identidades. São as idiossincrasias - a voz individual - que fazem um blogue.

Num jornal, rádio ou televisão seria impensável que se falassem de assuntos pessoais enquanto, por toda a parte e a todos os instantes, os acontecimentos se sucedem e o público deseja informação sobre eles. Em contrapartida, na Internet, falar sobre assuntos “intimistas” não tira espaço aos que desejam informação sobre o mundo.

Neste sentido, os blogues são também um ponto de inflexão na história dos meios de comunicação. Se os media apelam a um público mais vasto, os blogues, que abrangem toda uma gama de assuntos e estilos de escrita, são excelentes para gerarem descobertas fortuitas ou programadas, destinadas ao individual.

Autênticos best-sellers da Internet e verdadeiros êxitos de nichos informativos, os blogues vêm preencher o vazio criado pelos meios de comunicação tradicionais. São das melhores fontes para encontrar artigos menos conhecidos e sítios perdidos na web, com a oferta de fontes fidedignas a fazer muito pela conquista de seguidores dedicados.
Porém, com a entrada em cena do cibernauta como produtor de informação, é inegável o aumento de informação (desordenada mas substancial, sendo que a esmagadora maioria tem um interesse reduzido).
Por isso, os motores de busca terão, cada vez mais, um papel essencial de filtros, e os blogues uma palavra cada vez mais pujante a dizer acerca da fácil etiquetação por temas.
Sobretudo urge ainda reconhecer que mais do que meros produtos de lazer, os blogues são dos espaços onde se refaz a cadeia simbólica da comunidade. A Internet inaugura portanto um novo capítulo, quer no terreno da comunicação, quer no das relações pessoais.

Os blogues são, antes de mais, espaços comunicacionais, “lugares” de fronteiras simbólicas cujos editores se configuram à volta de comunidades de interesses e/ou práticas comuns produzidas ainda que por “desconhecidos”.

Experimentamos quotidianamente a comunicação que é um bem de primeira necessidade nas relações interpessoais e do homem consigo próprio. No entanto, recorremos cada vez mais a mediadores como os telefones e os computadores, que servem, também eles, de instrumentos de sociabilidade. As duas esferas (o encontro presencial e as conversas mediadas) tendem, cada vez mais, a combinar-se nas práticas diárias.

No mundo “pós-modem”, as amizades entre pessoas estão cada vez mais independentes da geografia. A crescente mobilidade das sociedades contemporâneas é caracterizada por uma sociabilidade que também se reclama mais autónoma.

Quem utiliza a Internet, não se limita a processar solitariamente a informação, interage também socialmente. A necessidade humana pela sociabilidade é tão indispensável quanto a necessidade de informação, pelo que existem tecnologias que permitem a satisfação de ambos os objectivos e os blogues parecem ser um desses casos. Encorajam o diálogo e são uma via para vozes que, na maioria das vezes, não têm como ser ouvidas.

Por outro lado, outro axioma básico para a minha investigação é que numa sociedade pós-moderna não se concebem produtos sem públicos, sendo notória a construção a priori de uma intencionalidade. Porque toda a comunicação tem como horizonte último um determinado efeito, é intencional, tem um objectivo.

Os seus editores preocupam-se com os números, estudam as estatísticas e não temem as críticas, sujeitando-se à avaliação de um público que pretendem conhecer.
A maioria colabora desinteressadamente para o crescimento do maior depósito de informação existente. Em última análise, esta mesma maioria quer a confiança do público, que será conquistado pela credibilidade do autor, e esta última será avaliada pelos leitores.
Novas promessas relacionadas com a interactividade aliadas ao facto da actualização poder ser contínua (várias vezes ao dia) faz com que se crie e se mantenha agarrada a audiência. Por detrás destas páginas pessoais está toda uma lógica que ultrapassa o simples lazer. Os blogues são apropriados de distintas formas porque distintos são também os objectivos de quem a eles acede.
Não é o meio que lhes dá a legitimidade, mas o discurso que no dia-a-dia apresentam. A coerência, o respeito e a argumentação fazem o resto. É por isso que se a confiança é difícil de se ganhar é também muito fácil de se perder.
Uma nova democracia participativa digital está a surgir. As novas ferramentas de edição criadas para a Internet vieram democratizar a Rede. Os novos desenvolvimentos tecnológicos estão ainda a fazer com que o anonimato se torne menos automático e mais uma escolha consciente dos internautas, isto apesar da Internet ter vindo potenciar (consciente ou inconscientemente) os danos respeitantes ao Direito de Autor, tendo em conta a livre circulação e a facilidade de copiar informação.

Num mundo fortemente dominado pelo paradigma da globalização e em constante mudança tecnológica, não se deve negligenciar também o potencial de capacidade das novas tecnologias de informação na renovação do debate e da comunicação pública. Tema este, aliás, que é o fio condutor desta tese.

Longe do tempo dos locais de sociabilidade onde se debatiam interesses comuns, o espaço público contemporâneo é um espaço mediatizado porque é funcionalmente dependente dos media.

Actualmente, uma parte importante da esfera pública está na Rede, contribuindo os blogues para a sua manutenção e crescimento constante. Espaço público esse que funciona como uma ágora universal cujo acesso é mais democrático que outrora e, por isso, promotor da cidadania, fazendo uso público da razão por pessoas privadas.

A informação aí disponibilizada, em consonância com um meio que não deixa de ser um fórum de debate, tem implicações para um ressurgimento da esfera pública, lugar da divergência e do heterogéneo.

Se, como afirma Françoise Zonabend, o silêncio só é de ouro para quem o excesso da palavra se tornou luxo sufocante, fica o desafio para os blogues, seus editores e seus mais fervorosos críticos, de rebaterem ou aceitarem a grande premissa que atravessa toda esta tese, a de que as palavras não estão gastas e ainda mantêm a sua força operativa."

PORQUE VOLTO

  PORQUE VOLTO . Volto, porque há dias antigos que ainda nos agarram com o cheiro da terra lavrada, onde em cada ano, enterrávamos os pés e ...