sexta-feira, dezembro 19, 2008

BOAS FESTAS

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Vou estar ausente até princípios de Janeiro de 2009.

Desejo a todos os Amigos/as, comentadores ou simples visitantes umas Boas Festas.

Para o ano cá nos encontraremos.

Aqui vos ofereço um óleo sobre tela de Bento Coelho da Silveira (1620 - 1708)Adoração dos Magos existente no Museu de S. Roque em Lisboa.


domingo, dezembro 14, 2008

ANTÓNIO REBORDÃO NAVARRO - CONVITE




Dia 17 de Dezembro pelas 21horas no Palacete dos Viscondes Balsemão.


Leitura de textos a cargo do actor António Reis.


Comparece e...divulga.


NOTA - CLICA NA IMAGEM E AMPLIA O CONVITE


SOBRE O AUTOR:


António Augusto Rebordão e Cunha Navarro nasceu no Porto em 1 de Agosto de 1933. Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, foi Delegado do Ministério Público em Vimioso e Amarante, Director da Biblioteca Pública Municipal do Porto e Director Editorial, tendo exercido a advocacia.

Secretariou e dirigiu a Revista Literária Bandarra, fundada por seu pai, o escritor Augusto Navarro.

Foi co-director e também co-autor de Notícias do Bloqueio e director-adjunto da revista literária Sol XXI.

Colaborou em diversas publicações e encontra-se representado em várias antologias.

Fez parte da direcção e foi Presidente da Assembleia-geral da Associação de Jornalistas e Homens das Letras do Porto e Vogal do Conselho Fiscal da Sociedade Portuguesa de Autores.

Alguns dos seus poemas estão traduzidos para castelhano, francês, checo, neerlandês e sueco. Em 2002 foi-lhe atribuído o “Prémio Seiva” (Literatura).
_______________






Natureza morta de Paul Cézanne





Poema quase triste

Os homens passam sem darem por nada
carregados assim como eles vão
com suas sombras a ganharem gibas,
com os seus olhos a ficarem baços,
cheios de presbitia e astigmáticos.
Não lhes importa que nos frutos estejam
confissões de poetas e de heróis.
Os homens passam e não vêem nada,
olham apenas para as suas vidas,
para a filha doente ou para os filhos mortos.
Não se apercebem das árvores e das rochas,
sangue e nervos da terra.
Seguem tristes e com os seus olhares
voltados para dentro,
para os seus crimes ou para os seus sonhos.
Não param a escutar o coração da terra
que bate, tranquilo, sob o chão.
Tristemente aguardam os eléctricos
que os hão-de levar a suas casas
de paredes forradas pelos retratos
dos fantasmas antigos e até próximos.
É sem amor que trincam os frutos
coloridos no sangue de todos os mortos
e nem pensam que a terra se abrirá
a seus corpos alheios, certo dia.
Procuram suas chaves
e, de cabeça baixa, penetram em casa,
sentam-se à mesa e choram
com suas mulheres, livros, diários íntimos,
mas não falam sequer à Natureza
que lhes oferece, em vão,
todos os seus segredos e mistérios.
Deitam-se sonolentos,
fecham a luz e dão-se aos pesadelos
ou aos sonhos de quando eram meninos. . .
Embriagam-se ou matam-se
e entregam-se aos vícios ou às lágrimas. . .
Tristes os homens passam
sem verem que a terra lhes oferece
juntamente com frutos e canções.



António Rebordão Navarro
A Condição Reflexa
Poemas (1952 - 1982)
Imprensa Nacional Casa da Moeda

quinta-feira, dezembro 11, 2008

APELO À POESIA




APELO À POESIA

Por que vieste? - Não chamei por ti!

Era tão natural o que eu pensava,

(Nem triste, nem alegre, de maneira

Que pudesse sentir a tua falta...)

E tu vieste,

Como se fosses necessária!



Poesia! nunca mais venhas assim:

Pé ante pé, covardemente oculta

Nas ideias mais simples,

Nos mais ingénuos sentimentos:

Um sorriso, um olhar, uma lembrança...

- Não sejas como o Amor!



É verdade que vens, como se fosses

Uma parte de mim que vive longe,

Presa ao meu coração

Por um elo invisível;

Mas não regresses mais sem que eu te chame,

- Não sejas como a Saudade!



De súbito, arrebatas-me, através

De zonas espectrais, de ignotos climas;

E, quando desço à vida, já não sei

Onde era o meu lugar...

Poesia! nunca mais venhas assim,

- Não sejas como a Loucura!



Embora a dor me fira, de tal modo

Que só as tuas mãos saibam curar-me,

Ou ninguém, se não tu, possa entender

O meu contentamento,

Não venhas nunca mais sem que eu te chame,

- Não sejas como a Morte!








UMA HISTÓRIA VULGAR


Ouvir a tua voz, outrora, era o bastante
Para sentir, enfim, justificada, a vida;
E supor que podia, a partir desse instante,
Abrir, impunemente, ao mundo, confiante,
Minh'alma enternecida.

Fitar o teu olhar, era um deslumbramento,.
Que me transfigurava e me fazia crer
Que depois de viver, na terra, esse momento,
-- Sereno, como após o extremo sacramento --,
Já podia morrer.

Premia as tuas mãos nas minhas e dizia,
Com profunda emoção: -- É só por ti que existo!
-- Como foi isto, amor? Do nosso olhar, um dia,
Caiu neve no fogo em que a minh'alma ardia...
Amor, como foi isto?!

Passas por mim, agora, e nada me insinua
Ser a tua presença o derradeiro elo
Que me prendia à vida. -- E a vida continua!
E tudo, como outrora, (o sol, o mar, a lua...)
Mesmo sem ti, é belo!

Como havemos de ter, nos outros, confiança?
Que humano sentimento a nossa fé merece?
De que servem, na vida, os ideais e a esperança,
Se o próprio Amor, -- como os brinquedos, em criança --,
Tão cedo, para nós, perde o encanto e esquece?!








DESAPARECIDO


Sempre que leio nos jornais:

«De casa de seus pais desapar’ceu...»

Embora sejam outros os sinais,

Suponho sempre que sou eu.



Eu, verdadeiramente jovem,

Que por caminhos meus e naturais,

Do meu veleiro, que ora os outros movem,

Pudesse ser o próprio arrais.



Eu, que tentasse errado norte;

Vencido, embora, por contrário vento,

Mas desprezasse, consciente e forte,

O porto do arrependimento.



Eu, que pudesse, enfim, ser eu!

- Livre o instinto, em vez de coagido.

«De casa de seus pais desapar’ceu...»

Eu, o feliz desaparecido!







O AMIGO



Era bom encontrar o amigo

No Café, onde estava a olhar

Com um gesto elegante e ambíguo

Para o fumo a sumir-se no ar.



A poesia era o tema dilecto

Da conversa que o tempo engolia.

O real, o preciso, o concreto

Nem sabiam que a gente existia.



Nada era para nós maculado,

Nem um só sentimento era fosco:

Porque havia outra luz, outro lado,

E o mistério morava connosco.



Tudo isto foi antes de Orfeu

Ter levado o encanto consigo.

Esse amigo está vivo - e morreu.

(E de mim, que dirá êsse amigo?)








Carlos Queirós

Nasceu em 1907, em Paris.


Poeta, ensaísta, crítico literário e de arte, estudou Direito na Universidade de Coimbra, tornando-se funcionário da Emissora Nacional, onde organizou programas culturais. Assíduo colaborador da Presença e de outras publicações literárias, foi considerado um elo de ligação entre a geração presencista e a de Orpheu.


Considerado um discípulo directo de Fernando Pessoa, a sua poesia caracteriza-se pela perfeição formal, pelo equilíbrio e sobriedade e pela sugestão musical. Denuncia alguma herança romântica e certa aproximação ao simbolismo.


Morreu em 1949, em Paris.








Algumas obras:



Poesia:

Desaparecido (1935)


Breve Tratado da Não-Versificação (1948)


Desaparecido e outros Poemas (1957)


Prosa:

Homenagem a Fernando Pessoa (1936)



Fonte:Instituto Camões


sexta-feira, dezembro 05, 2008

HELENA MONTEIRO




Correndo a net e espreitando pelas suas frinchas indo aqui e ali investigando nomes conhecidos ou não desta vez fui encontrar uns poemas de Helena Monteiro.É um sítio que desconhecia ainda que soubesse que a Autora em outros locais nos delicia com sua arte e suas escolhas das palavras da poesia ou da pintura.

Aqui vos deixo os endereços dos seus blogs que merecem vivamente ser conhecidos e apreciados:

ALICERCES

LINHA DE CABOTAGEM

TRAÇOS E CORES

Para além dos poemas de sua autoria que a seguir apresento Helena Monteiro tem muito para partilhar connosco.

Aproveitem este fim de semana mais comprido para conhecer alguma da sua obra.








ENCOSTANDO O OUVIDO À NOITE

Se tu soubesses da solidão das palavras
enrolarias o silêncio
na noite sem pirilampos

depois
como numa prece

ouvirias do mar o canto.





COMO UM CASTIGO

Quando as tuas mãos rolarem
as palavras como seixos
ouvirás a melodia
o som do mar
ou será do grito?

Só contam as palavras na tua mão
as que abarcares e rolares
despreza as que tombarem
a ganância não as engrandecerá
as mais pequenas permitir-te-ão
ampliá-las
com a leveza da brisa
ou a finura da bruma
e quando órfãos quase vazias
mudá-las-ás de lugar
num fervor só teu
isento de enredos ou de modas.

Descobrirás então as tuas palavras
e com elas escreverás uma canção
de amor
simples como o primeiro beijo
clara como a neve sobre as árvores
livre
porque saberás
como Sisífo
que a montanha é obstinadamente íngreme
e por ela rolarás cada palavra
na quotidiana emenda da harmonia.



PROPOSITADAMENTE SEM TÍTULO

não sei das sombras
das verdadeiras
conheço aquelas onde respiro
ou as outras por onde meço o sol
mas das sombras
das reais
não lhe conheço o contexto
é temente que as percorro
quando o azul as domina
e no insólito do instante me trazem
a projecção de um sonho ou de um assobio
vivo-as temerosa e incrédula
como, quando criança,
os pirilampos enchiam de fantasia e medos
as noites de maresia

não sei das sombras
quando para além de mim
o ruído instala as dúvidas
na frágil teia do dia-a-dia.




INTROSPECÇÃO

Convoco-te, dualidade
por entre os labirintos da noite
face a face
deslocaremos as peças
deste xadrez sem futuro
de balizas temporais

díptico de extremos exangues

Convoco-te, dualidade
na planura do tempo
a alba se cumprirá.



são de seda e de vento as tuas crinas
indomável o teu porte
quando ante todos e tudo
és a concisão da palavra
liberdade

só o incauto julga o poder pelas rédeas.




NOTA: Todas as aguarelas e esboços são de Helena Monteiro.


segunda-feira, dezembro 01, 2008

Blog Destak, de Novembro/2008




O blog ART & DESIGN DE ISABEL FILIPE decidiu atribuir a este sítio o seu prémio mensal "BLOG DESTAK".

Fiquei encantado com a distinção e agradeço penhorado o referido prémio.

Prometo continuar a manter no "Beja" a divulgação da Poesia e de tantos Poetas que não são do conhecimento geral.

Para a Isabel Filipe e seu blog ART & DESIGN DE ISABEL FILIPE votos de muitas felicidades.

Para todos os meus visitantes o convite para visitar o blog da Isabel onde encontrarão motivos bastantes de arte e beleza. Um trabalho já com anos de total dedicação.


sábado, novembro 29, 2008

CASTRO ALVES


Castro Alves, o condoreiro. Símbolo maior do romantismo brasileiro




"Castro Alves e outros poetas quase meninos"

"Eram quase meninos. Todos geniais, aqueles poetas românticos do século XIX. Rapazes de amores, desamores, amados e desamados, atormentados, inquietos, arrojados na vida e fiéis à escola literária que consagraram. Sem favor nenhum, formaram a mais fecunda e bela geração da poesia brasileira. Eis alguns deles: Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Castro Alves, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira Freire. Quase todos morreram no verdor da mocidade.
Castro Alves (1847-1871) foi o que voou mais alto nas asas da poesia. Tuberculoso no começo da juventude, viveu cada dia como se fosse o último."

Fonte: OVERMUNDO






Foto de Angelica - Olhares


Boa-noite

Boa noite, Maria! Eu vou-me embora.
A lua nas janelas bate em cheio...
Boa noite, Maria! É tarde... é tarde...
Não me apertes assim contra teu seio.

Boa noite!... E tu dizes – Boa noite.
Mas não digas assim por entre beijos...
Mas não me digas descobrindo o peito,
– Mar de amor onde vagam meus desejos.

Julieta do céu! Ouve.. a calhandra
já rumoreja o canto da matina.
Tu dizes que eu menti?... pois foi mentira...
...Quem cantou foi teu hálito, divina!

Se a estrela-dalva os derradeiros raios
Derrama nos jardins do Capuleto,
Eu direi, me esquecendo dalvorada:
"É noite ainda em teu cabelo preto..."

É noite ainda! Brilha na cambraia
– Desmanchado o roupão, a espádua nua –
o globo de teu peito entre os arminhos
Como entre as névoas se balouça a lua...

É noite, pois! Durmamos, Julieta!
Recende a alcova ao trescalar das flores,
Fechemos sobre nós estas cortinas...
– São as asas do arcanjo dos amores.

A frouxa luz da alabastrina lâmpada
Lambe voluptuosa os teus contornos...
Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos
Ao doudo afago de meus lábios mornos.

Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos
Treme tua alma, como a lira ao vento,
Das teclas de teu seio que harmonias,
Que escalas de suspiros, bebo atento!

Ai! Canta a cavatina do delírio,
Ri, suspira, soluça, anseia e chora...
Marion! Marion!... É noite ainda.
Que importa os raios de uma nova aurora?!...

Como um negro e sombrio firmamento,
Sobre mim desenrola teu cabelo...
E deixa-me dormir balbuciando:
– Boa noite! –, formosa Consuelo...



foto de Marco Niemi - Olhares

Beijo eterno

Quero um beijo sem fim,
Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo!
Ferve-me o sangue. Acalma-o com teu beijo,
Beija-me assim!
O ouvido fecha ao rumor
Do mundo, e beija-me, querida!
Vive só para mim, só para a minha vida,
Só para o meu amor!

Fora, repouse em paz
Dormindo em calmo sono a calma natureza,
Ou se debata, das tormentas presa,
Beija inda mais!
E, enquanto o brando calor
Sinto em meu peito de teu seio,
Nossas bocas febris se unam com o mesmo anseio,
Com o mesmo ardente amor!

...

Diz tua boca: "Vem!"
Inda mais! diz a minha, a soluçar... Exclama
Todo o meu corpo que o teu corpo chama:
"Morde também!"
Ai! morde! que doce é a dor
Que me entra as carnes, e as tortura!
Beija mais! morde mais! que eu morra de ventura,
Morto por teu amor!

Quero um beijo sem fim,
Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo!
Ferve-me o sangue: acalma-o com teu beijo!
Beija-me assim!
O ouvido fecha ao rumor
Do mundo, e beija-me, querida!
Vive só para mim, só para a minha vida,
Só para o meu amor!




Foto de J.P. Sousa - Olhares

“Oh! eu quero viver, beber perfumes
Na flor silvestre, que embalsama os ares;
Ver minh'alma adejar pelo infinito,
Qual branca vela n'amplidão dos mares.
No seio da mulher há tanto aroma...
Nos seus beijos de fogo há tanta vida...
- Árabe errante, vou dormir à tarde
À sombra fresca da palmeira erguida.

Mas uma voz responde-me sombria:
Terás o sono sob a lájea fria.

Morrer... quando este mundo é um paraíso,
E a alma um cisne de douradas plumas:
Não! o seio da amante é um lago virgem...
Quero boiar à tona das espumas.
Vem! formosa mulher - camélia pálida,
Que banharam de pranto as alvoradas,
Minh'alma é a borboleta, que espaneja
O pó das asas lúcidas, douradas ...
E a mesma voz repete-me terrível,
Com gargalhar sarcástico: - impossível!”

quinta-feira, novembro 20, 2008

ALDA GUERREIRO


Foto de JOÃO ESPINHO



ALDA GUERREIRO

Nasceu em Santiago do Cacém, a 6 de Janeiro de 1878.

Educada num ambiente de intensa sensibilidade artística, desde muito cedo se interessou pela poesia, e também, talvez por influência familiar, dado que, foi cunhada de António Manuel Freire de Andrade, um dos fundadores da comissão concelhia do Partido Republicano Português, por problemas sociais e pelas ideias republicanas..

Em 1909 escreveu:
"Fundemos escolas com todas as condições modernamente empregadas, onde as creanças se desenvolvam, se instruam, se eduquem".

Em 1 de Janeiro de 1910, fundou a Associação Liberal de Santiago do Cacém, que manteve, pelo menos até 1914, a Escola Liberal, instituição, onde esta poetisa-professora, desempenhou um papel notável, sobretudo na organização de actividades, que hoje chamaríamos de complemento curricular, como "festas da árvore", "visitas de estudo" e "sessões comemorativas do aniversário da escola".

A partir de 1909, dinamizou ainda uma outra escola particular, em sua casa, até praticamente ao final da sua vida: a "Escola Livre de S. Thiago do Cacém", por onde passaram gerações de jovens, algum dos quais ainda vivos.

Ainda em sua casa, criou uma outra "escola" de ensino artístico de bordados, aberta às jovens de Santiago .

Na década de 30 colaborou na revista "Portugal Feminino" .

Apoiou e colaborou um pequeno jornal de Sines, dedicado aos jovens "A Juventude".

Idealizou, fabricou e distribuiu um interessante jornal manuscrito, intitulado "O Jornal das Creanças".

Para Alda Guerreiro, a imprensa desempenhava um importante papel na educação popular, com vista à formação de uma consciência liberal e democrática.

Mais conhecida pela poesia, que viu publicada e dispersa por inúmeros jornais e revistas, foi incluída em duas importantes antologias, uma sobre Poetisas Portuguesas, em 1917, e outra sobre os Poetas Alentejanos do Século XX, em 1984.

As suas ideias e acção foram um marco no seu tempo. Militou pelo ensino popular, sob a bandeira republicana e bateu-se pela ideia generosa de formação integral dos jovens.O seu exemplo e a sua obra ignorada, marcaram a vida social e cultural do Alentejo Litoral.

Faleceu em 1943 (?)

Fonte: Centro Actividades Pedagógicas-Alda Guerreiro





Sementeira

Na encosta de uma serra havia um carrascal
Onde nascia o tojo, a esteva, um matagal.
Um dia entrou com êle a foice roçadoura;
Meteram a charrua e fez-se a lavoura.
Foi revolvida a terra e feita a sementeira.
Algum tempo depois, já parecia um mar
O vento sobre o trigo ao longe a ardear!
Foi crescendo, crescendo; a espiga bem dourada
Com o calor do estio em pouco foi ceifada.
E produziu bom pão o terreno maninho,
Onde apenas vencia a urze e o rosmaninho!


Agora quando eu olho essa encosta da serra,
Vejo que é uma lição que nos ensina a terra!


A sociedade é o monte. A escola é o arado.
Quando abrindo o sulco, olhai vá bem guiado...
Depois é semear. Será bela a colheita
Se a semente fôr bôa, e a lama fôr bem feita.


Também hão de dar pão essas searas novas
E darão muita luz à humanidade inteira...


Abri a terra, abri, fazei a sementeira...



Foto de JOÃO ESPINHO




A minha terra

No inverno a vida apraz-nos meditar.

Quando ao entardecer, aqui na Minha Terra
Se vê sumir o sol no longe azul do mar,
O pensamento vôa e vai de serra em serra
No campo do passado às vezes a sonhar.

O oceano lembra os feitos arrojados
Do velho Portugal!
Aquem, alvos casais, em fundo verdejante
De grande pinheiral,
Fala-nos de trabalho e vida, actividade,
Saúde e alegria, e sol, e liberdade...

No antigo castelo abrigo de tristezas
Muralhas, que ouviriam a mouros e princezas
Trocar frases de amor,
Unidas num abraço, agora enegrecidas
Rodeiam condoidas
Um circulo de dôr!

É como que em contraste ao campo sorridente
Que atesta mocidade,
À sombra do castelo erguido ao Oriente
Aqueles que eu perdi descançam docemente
Envoltos em saudade.

Horas de entardecer agrada meditar.
O pensamento vôa e vai de serra em serra...
O sol mergulha além na fita azul do mar
No dôce pôr do sol da minha linda Terra!



Foto de JOÂO ESPINHO






O ALENTEJO É LÁ


É lá onde o Sol desce a violar

a terra provocante de nudez,

que emprenha uma e outra e outra vez,

de Sonhos, que já cansa de abortar...



É lá onde a lonjura por lavrar

nem sombras a dividem lés-a-lés...

Só a noite a parcela e faz mercês

erguendo muros brancos de luar.



É lá onde se chora de cantiga

no embalar dolente a dor antiga

que desperta, se agita e faz ruim...

Onde há suor em bagas pela eira,

e esp'ranças crepitando na lareira,


- O ALENTEJO é lá ... e é EM MIM.

REPONDO A VERDADE: Até hoje supunha, por lapso, que o poema anterior e o seguinte eram de autoria de ALDA GUERREIRO mas acabo de receber a informação de que são de ADA TAVARES. Apresentei desculpas à verdadeira Autora através de sua Filha Elsa Vieira e aqui venho também dar o seu a seu dono.
10 de Março de 2010



Foto de MARIA MADALENA PERCHEIRO-OLHARES





HOJE HÁ PÃO ALENTEJANO?



Esta frase tão ouvida

neste tom interrogado

não é sentença perdida

nem um pregão inventado,

nem dito voando à toa ...

Oh senhores, mas quem diria

que eu ia ouvir isto um dia

aos balcões de Padaria

desta moderna Lisboa?!


"Hoje há pão alentejano?!"



E se o empregado diz:

-"Olhe, acabou de chegar."

ri a freguesa feliz

e estende o saco apressada

pois não vá ele acabar ...

e pede firme, sem graças,

que não pode haver engano:

"Ponha-me aí dez carcaças

e um pão alentejano".


Ai é vê-lo meus amigos,

este pão que era só nosso,

o nosso Bem de raiz,

sem pretensões, sem ganância,

como ganhou importância,

como ganhou um País.

Todos o querem agora,

por inteiro ... uma fatia ...

umas migalhas ... um naco

...Pão nosso de toda a hora

que é farinha doutro saco.


Venham vê-lo na Taberna

ou no fundo duma Adega

como alegra o camponês:

-ensopa o copo de três

-abafa raios e coriscos

-faz de cama prós petiscos

...e aconchegada a barriga

logo a voz se faz cantiga,

põe-se o Sol, vai-se a fadiga

que a noite mal começou,

e..."às quatro da madrugada

um passarinho cantou..."



Ó pão do meu Alentejo

que bela lição tu deste

na tua nobre humildade,

e como tu aprendeste

a usar fraternidade.?

E sem briga, e sem guerra,

sem essa confusão louca,

deste nome à nossa terra,

levaste-a de boca em boca...

Pois também vai a banquetes

e a solenes beberetes

nas salas bem afamadas,

posto assim em pedacinhos,

feito "tapas" e "entradas",

regado com os melhores vinhos.

É o mais requisitado, pedido

por encomenda,

e vai em naperons de renda

até à mão de ministros.

E deu no goto a estrangeiros

e a certos senhores bem vistos

que o acham uma riqueza

e o querem na sua mesa ...

Não se recusa a ninguém,dá-se a ricos,

pobrezinhos,a crianças e a velhinhos

e aos doentes também.


Pão de Paz ! Pão de Alegria !


Pão de Amor! Pão de Verdade!


É como nós neste dia,

uma mistura sadia

de renovo e de saudade.

quarta-feira, novembro 12, 2008

MANUEL ALEGRE




Eu pescador
Eu pescador que pesco por um instinto antigo
e procuro não sei se o peixe se o desconhecido
e lanço e recolho a linha e tantas vezes digo
sem o saber o nome proibido.

Eu de cana em punho escrevo o inesperado
e leio na corrente o poema de Heraclito
ou talvez o segredo irrevelado
que nunca em nenhum livro será escrito.

Eu pescador que tantas vezes faço
a mim mesmo a pergunta de Elsenor
e quais águas que passam sei que passo
sem saber resposta. Eu pescador.

Ou pecador que junto ao mar me purifico
lançando e recolhendo a linha e olhando alerta
o infinito e o finito e tantas vezes fico
como o último homem na praia deserta.

Eu pescador de cana e de caneta
que busco o peixe o verso o número revelador
e tantas vezes sou o último no planeta
de pé a perguntar. Eu pescador.

Eu pecador que nunca me confesso
senão pescando o que se vê e não se vê
e mais que o peixe quero aquele verso
que me responda ao quando ao quem ao quê.

Eu pescador que trago em mim as tábuas
da lua e das marés e o último rumor
de um nome que alguém escreve sobre as águas
e nunca se repete. Eu pescador.



Poema de Manuel Alegre



Imagem de Osvaldo Barreto (In Veneza dos Brasileiros)

terça-feira, outubro 21, 2008

ROGÉRIO MARTINS SIMÕES




ASA DE BORBOLETA


Queria dedicar-te um canto
Nesta terna e longa viagem
Através da poesia.
Queria dar-te uma flor
Que jamais seque algum dia.
Pois ser feliz é esquecer
A amargura do momento
E só assim a vida é sublime
Bonita, ao mesmo tempo
Como este mar
Que nos separa
Nesta noite amena e calma.

Silêncio! Que o meu luar
Vai beijar a tua alma.






TEUS OLHOS...

Teus olhos são dois ímanes
Que me agarram a ti
Tua boca é a miragem
A mais bela que já vi

Olho para ti em vertigem
Cubro-me com o teu ardor
Vivo na ânsia de te ter
Junto a mim meu amor

Será para ti, minha alma bela,
Meu coração revestido a oiro
Eu te ofereço a minha vida
Em troca de ti, tesoiro

Minha miragem serena
Criada em tempos de primavera
Escuta em palavra amena
A minha eterna quimera

Teus olhos são a imagem
Que me agarram a ti
Tua boca é a miragem
E a mais bela que perdi...





CAEM LÁGRIMAS

Rolam-me na face
Caem no chão
Secam com o vento
As lágrimas tristes
Do meu coração!

Continuo escrevendo,
Versando tua beleza,
Apenas interrompido
Por longos suspiros
Da grande tristeza
De meu coração!

E, se depois penso
Que jamais serás minha:
Rolam lágrimas
Pelo rosto molhado
Caem no chão!
Secam com o vento!
As lágrimas tristes
Do meu coração.






CEIFEIRA CAMPO DE TRIGO A CRESCER


Há terra lavrada
E vida nas ceifeiras.
Há trigo desejado
Em cada espiga cortada:
Nasceram os filhos
Às ceifeiras!
E ouvem-se pelos montes
Cantos da esperança
Por cada nova jornada:
Cantem!
Porque chora uma criança.

Há terra lavrada
E vida nas ceifeiras
Haja alegria
Pois a espiga doirada
Deu mais trigo à jornada.
Viva o trigo a crescer
O povo a viver
Pois em cada espiga cortada
Há uma força redobrada
Da natureza a parir.
Viva! A espiga doirada
De trigo a sorrir.





DARFUR - SUDÃO


Era uma noite, tão noite,
nem uma só luz existia,
as velas, acesas, não brilhavam.
Lá fora nem luar havia…

Metia medo!
Ninguém dizia!
Ninguém murmurava…
O silêncio era gélido!
Esperavam o dia,
e os corações sangravam…
Medrosa agonia,
Metia medo!
Ninguém diria…

Vieram os cavaleiros de negro…
Despedaçaram as portas!
Violaram! Mataram!
Derramaram o sangue!
Verteram-se as lágrimas!
Levaram os moços!
Incendiaram o chão!
Queimaram os corpos em pira!
Envenenaram os poços!
E partiram sedentos de ira!
Que tragédia é essa - Sudão?

Voltou o dia!
Fez-se noite!
Viram-se de novo as estrelas!
Que é do teu povo Sudão?





O "Beja-Dando Voz aos Poetas" tem imenso gosto em publicar hoje alguns poemas do Amigo ROGÉRIO MARTINS SIMÕES. Lutador em várias frentes, solidário com as boas causas, tem enfrentado com denodo e sacrifício a doença Parkinson que lhe foi diagnosticada. No seu blog POEMAS DE AMOR E DOR há um mundo de poesia que aconselho seja conhecido se bem que este blog com intensa projecção em Portugal e no Brasil já atingiu números record de visitantes.
Agradeço a disponibilidade e consentimento do ROGÉRIO SIMÕES para a sua entrada nesta galeria de Poetas no "BEJA".

As imagens que acompanham os poemas são pinturas de sua Esposa, ELISABETE SOMBREIREIRO PALMA, natural de Beja.Pinta a óleo desde 2003.Para melhor conhecerem esta Pintora coloquei na coluna da direita um vídeo com alguns dos seus trabalhos.

sábado, outubro 18, 2008

JOSÉ-AUGUSTO DE CARVALHO



CANTARES

Eu canto as horas amargas
das cargas e das descargas
das barcas de arrojo e pinho...

Eu canto os longes das rotas
abertas pelas gaivotas
com asas de níveo linho...

Eu canto as horas sombrias
de medos e de agonias
no mais além da tormenta...

Eu canto as horas de luto,
naufrágios, febre, escorbuto,
sabor de cravo e pimenta...

Eu canto no Cabo Não
o sim de passar ou não,
mas nunca o retroceder...

Eu canto os Cabos da Dor!
Gil Eanes -- Bojador,
tormentas de estarrecer...

Eu canto as Áfricas virgens,
feridas desde as origens
de mágoas e predadores...

Eu canto as Índias da História,
cobiças, dramas e glória
de incenso e de roxas cores...

Eu canto os áureos Brasis,
a cana em negro matiz
de açúcar de acres sabores...

Eu canto a nesga europeia
do Poeta e da Epopeia
do Fado das nossas dores...







A FLOR DA FANTASIA

Em terras do Alentejo, há muito emurcheceu,
no sonho de Aladim, a flor da fantasia.
Sem noites de luar, o canto emudeceu
e um manto de tristeza o nada silencia.

O sol é um incêndio, um caos de idolatria,
que o tempo-amar-e-ser há muito corrompeu...
Em terras do Alentejo, há muito emurcheceu,
no sonho de Aladim, a flor da fantasia.

Ai, que assombrada voz meu sono escureceu!
Que pesadelo em mim só me anoitece o dia...
O dia que eu queria e nunca amanheceu!
Saudade do que fui! A flor da fantasia,
em terras do Alentejo, há muito emurcheceu...






SONETO PARA SHERAZADE

O grito que ressoa acorda o sonho antigo
As crinas dos corcéis ondulam anelantes
Nas dunas do deserto em fogo onde me abrigo
Os teus apelos de alma e coração distantes

No tempo e no lugar, as sedes de outras fontes
Em ti o lago pleno, ocaso de afluentes
Depois de ti não pode haver mais horizontes
Que mais, além de ti, se tudo em ti consentes

Escondes sob o véu os lábios purpurinos
Sedentos de áurea lava em tragos de ambrosia
Prometes no teu ventre anseios levantinos
Gemidos de luar de cálida estesia

Teu grito no meu grito, o grito definido
Aurora recusando o tempo interrompido





José-Augusto de Carvalho é natural de Viana do Alentejo.

Aconselho uma visita ao seu blog TEMPOS DO VERBO


sábado, outubro 11, 2008

Luis de Camões

Pintor Adophe-William Bouguereau



Quem pudera julgar de vós, Senhora,

que com tal fé podia perder-vos,

e vir eu por amor a aborrecer-vos?

Que hei-de fazer sem vós somente uma hora?



Deixaste quem vos ama e vos adora;

tomastes quem quiçá não sabe ver-vos.

Eu fui o que não soube merecer-vos

e tudo entendo e choro, triste, agora.



Nunca soube entender vossa vontade

nem a minha mostrar-vos verdadeira,

ainda que está tão clara esta verdade.



Em mim viverá ela sempre inteira;

e, se para perder já a vida é tarde,

a morte não fará que vos não queira.



Transparências do Pintor Abreu Pessegueiro



Busque Amor novas artes, novo engenho

para matar-me, e novas esquivanças;

que não pode tirar-me as esperanças,

que mal me tirará o que eu não tenho.



Olhai de que esperanças me mantenho!

Vede que perigosas seguranças!

Que não temo contrastes nem mudanças,

andando em bravo mar, perdido o lenho.



Mas, conquanto não pode haver desgosto

onde esperança falta, lá me esconde

Amor um mal, que mata e não se vê.



Que dias há que na alma me tem posto

um não sei quê, que nasce não sei onde,

vem não sei como, e dói não sei porquê.



O beijo da pintora Maria Helena Pais de Abreu





Correm turvas as águas deste rio,

que as do Céu e as do monte as enturbaram;

os campos florecidos se secaram,

intratável se fez o vale, e frio.



Passou o verão, passou o ardente estio,

umas coisas por outras se trocaram;

os fementidos Fados já deixaram

do mundo o regimento, ou desvario.



Tem o tempo sua ordem já sabida;

o mundo, não; mas anda tão confuso,

que parece que dele Deus se esquece.



Casos, opiniões, natura e uso

fazem que nos pareça desta vida

que não há nela mais que o que parece.


terça-feira, outubro 07, 2008

BORBA - ENCONTRO DE BLOGS






PROGRAMA

Borba, 9 de Novembro de 2008

(até às) 10h30 – Recepção, na Festa da Vinha e do Vinho;

11h00 – Mesa Redonda, no Pavilhão de Espectáculos da Festa da Vinha e do Vinho;

13h00 – Almoço, na Festa da Vinha e do Vinho;

15h00 – Foto de Grupo, seguida de Visita à Festa da Vinha e do Vinho

Tarde Livre

Inscrições para o Encontro: AQUI, deve constar o nome do blog, o nome do seu administrador, número de acompanhantes. O inscrito deve fornecer igualmente outro meio de contacto que não o endereço electrónico (por exemplo nº de telemóvel ou telefone fixo), de forma a que se possa comprovar a veracidade da inscrição. Apenas será divulgado o nome do blog, os restantes dados fornecidos não serão divulgados.

Prazo limite de inscrições: dia 2 de Novembro (não serão aceites inscrições depois desta data).

A Mesa Redonda está aberta a todos os interessados, não carecendo de inscrição prévia. Esta conversa será moderada, e contará com bloggers convidados.

O Alto da Praça é o blog organizador deste Encontro em estreita colaboração com a Comissão Instaladora da Associação Nacional de Blogs e a Câmara Municipal de Borba.

Visite o ENCONTRO DE BLOGS - BORBA 2008

domingo, outubro 05, 2008

ATÉ SEMPRE PROFESSOR FERNANDO PEIXOTO




FERNANDO PEIXOTO Professor de História do Teatro na ESAP - Escola Superior Artística do Porto. Na Universidade do Porto investigador de História Contemporânea na área da Política Institucional .
Estava doente há poucos meses, mas era grave e não conseguiu ganhar esta batalha.





TEATRO

Para o Marcelo Romano, com a admiração do autor


Fazer teatro, não é
deixar a vida correr,
cruzar os braços, viver,
deixar correr o marfim;
e se às vezes se diz sim,
muitas vezes se diz não.
Embora custe ao actor
manter o direito ao pão,
não hesita em dizer NÃO
quando um NÃO é a verdade,
e mantém a liberdade
de dizer que não, que sim,
por questão de dignidade,
porque o Teatro é assim.
Porque o Teatro é a vida
e a verdade é o seu norte,
o actor desafia a sorte
e a mentira é vencida.

Mas na luta desigual
entre a verdade e a mentira,
se nuns despoleta a ira,
noutros reforça o Amor,
e nesta dicotomia
que é o Teatro, afinal,
vence o Bem, que é a Verdade,
cai a Mentira, que é o Mal.
E a máscara da ilusão
com que o homem se disfarça
fica prostrada no chão
ante o humor de uma farsa.

Sempre assim foi e será
(é essa a nossa certeza)
porque o Teatro é a manhã
que dá vida à natureza,
porque o Teatro é a alegria
de saber que vale a pena
transferir o dia-a-dia
para o âmago da Cena.
E repleto de esperança,
sereno, firme e seguro,
o actor é uma criança
que acredita no futuro.

E faz da crença um Amor
tão largo, grande e profundo,
que mesmo pobre, o Actor,
é o mais rico do mundo!


FERNANDO PEIXOTO

Portugal

quarta-feira, setembro 24, 2008

PETIÇÃO PELO RESGATE PARA PORTUGAL, DOS MILITARES MORTOS NA GUERRA DO ULTRAMAR / GUERRA COLONIAL.





Exmo. Sr. Presidente da Assembleia da República Portuguesa,

As cidadãs e cidadãos abaixo assinados pretendem que o Estado Português cumpra o dever patriótico de trasladar para Portugal – para as suas terras de origem, de onde partiram para a Guerra do Ultramar / Guerra Colonial - os restos mortais dos Combatentes que morreram ao serviço da Pátria e ficaram enterrados em campas espalhadas pelos antigos territórios ultramarinos.


Assim, e ao abrigo do Decreto-Lei nº. 43/90, de 10 de Agosto, com as alterações que lhe foram introduzidas pela Lei nº. 6/93, de 1 de Março, pela Lei nº 15/2003, de 4 de Junho e pela Lei nº. 45/2007 de 24 de Agosto, subscrevemos o requerimento, proposto pelo “Movimento Cívico de Antigos Combatentes”, a enviar à Assembleia da República para:

1 – Que seja decretada a trasladação para Portugal dos restos mortais dos militares mortos e abandonados em terras africanas, em cumprimento do mais elementar desígnio das nações civilizadas e para dignificar a memória dos que morreram ao serviço da Pátria.
2 – Que esses restos mortais sejam trasladados para Portugal, entregues às respectivas famílias e/ou depositados junto do Monumento Nacional aos Combatentes, em local apropriado e digno.

Até esta situação estar resolvida, as Comemorações do 10 de Junho – Dia de Portugal e das Comunidades - continuarão ensombradas pela ausência daqueles que, lutando sob a bandeira de Portugal, por ela deram o sacrifício máximo, a própria vida.

Apoiam esta Petição, além dos subscritores da mesma, muitas associações de Antigos Combatentes e outras Instituições.


Se estiveres de acordo com o assunto desta petição, por favor ajuda na sua divulgação, colocando no teu blog, site ... enviando para os teus contactos. Clica aqui para leres e assinar a PETIÇÃO
(N/nº 763)

terça-feira, setembro 23, 2008

APOPLEXIA DA IDEIA - LANÇAMENTO





lançamento do livro "Apoplexia da Ideia" de
Maria Quintans com ilustrações de João Concha
no próximo dia 26 de Setembro, na FNAC do Chiado, às 18.30h.
edição da Papiro Editora.

JORGE VICENTE - CONVITE









CONVITE DE JORGE VICENTE:

Meus queridos amigos,

como bem sabem, lancei o meu primeiro livro Ascensão do Fogo no dia 26 de Abril, em Vila Nova de Gaia. Agora, alguns meses depois, este será apresentado em Lisboa, na Livraria Trama, sita na Rua São Filipe Nery, nº 25B, bem junto ao Rato. A data de apresentação do livro será no próximo sábado, dia 27 de Setembro, pelas 21.30.

Conjuntamente comigo, será apresentado também o livro de poesia do actor, encenador e poeta José Gil, já um velho companheiro das escritas. O livro chama-se Fractura Possível.

Em princípio, o meu livro será apresentado pelo jovem poeta Rui Sousa, um dos principais contribuidores da fanzine Actéon, da qual também faço parte. A apresentação do livro do Gil estará a cargo do poeta José Félix.

O momento musical estará a cargo de Fernando Dinis, jovem compositor e, também, poeta. Foi editado em 2003 pela Hugin Editores (Dá-me-te) e já publicou em várias antologias de poesia. Tem um blog (http://www.ficoatetardenomundo.blogspot.com/) e um site no myspace (http://profile.myspace.com/index.cfm?fuseaction=user.viewprofile&friendID=123494151).

Serão declamadas poesias dos livros pelos autores, por outros poetas e por quem se ousar a desbravar as palavras através do som.

O meu muito obrigado
Jorge Vicente


quarta-feira, setembro 17, 2008

JORGE VICENTE





Hoje trago a esta galeria "Dando Voz Aos Poetas" o meu amigo JORGE VICENTE.

Gostaria de possuir um pouco da cultura que preenche este Amigo e o dom da palavra para o poder apresentar condignamente.
Na ausência dessas qualidades arrisco, no entanto, a apresentá-lo como um Poeta promissor já com obra publicada (Ascensão do Fogo), escritor, crítico de cinema e de música. Convido-vos a visitar o seu blog AMORALVA e a colher ali todo um manancial de conhecimentos e opiniões que JORGE VICENTE partilha connosco.

Também aproveito a ocasião para o felicitar pelo seu aniversário que festeja hoje desejando-lhe muitas felicidades.

Um grande abraço do amigo

Lumife




Algumas palavras de JORGE VICENTE retiradas do seu blog AMORALVA:


o meu corpo é da carne do alentejo:
a flor, sedenta, apenas dá fruto
quando o poema anoitece e o
descampado se revela
na sua ascese de séculos

jorge vicente


====*****====


gabriel. deixa-me escrever-te um poema. um poema que diga do meu nome, da sabedoria inerente a todas as coisas. dessas pequenas palavras que só os justos conhecem, como se fosse algo imanente ao mundo. e partisse dele. e o rebentasse.

deixa-me ser um rebento azul. anterior à terra e à sementeira das águas. nunca poderei ser mãe. nem pai. apenas um invólucro de giz envolto em mil pontos de luz.

deixa-me escrever-te um poema, como se fosse uma carta. ou um rol de pedidos dirigido às mais altas entidades. nunca perceberei o significado de ser pai ou mãe. ou uma terra aberta no desfloramento da alma.

anuncia o teu amor. anuncia-me. e cai. cai como se fosses único, como se a cor vermelha não te afligisse e visses o homem no lugar do anjo.

jorge vicente


==== **** ====


o casario estendia-se muito para além do silêncio das casas. era noite e a madrugada adormecia os homens, pequenos pontos vermelhos que iluminavam a grande noite alentejana. o vento carpia nuvens de fogo, alimentado por corpo de trovoada, que circundava os homens. e as suas paredes de cal, construídas quando o sol ainda era pleno e a grande estrela do oriente iluminava silves, a bem-amada.

o casario estendia-se e a queimada carpia no incêndio de deus, mais antigo que as casas, mas submisso ao amor e à memória.

Jorge Vicente


==== **** ====


na casa da minha avó, havia paredes e mobílias velhas, pequenos segredos guardados por dentro, cheios daquelas memórias simples que evocamos sempre que ouvimos trovoada.

na casa da minha avó, escondíamo-nos debaixo dos lençóis brancos, feitos de tecido antigo, da época da monarquia, numa era em que a pedra representava a montanha e o rio a memória.

na velha casa, a serra parecia parir fogo e a criança que era em mim pensou tratar-se de vulcão. eram apenas faíscas que se lançavam da cruz alta, com o fantasma d'el rei d.fernando olhando serenamente para o repouso silente dos homens.

no velho moinho e na velha casa, a minha avó dormia. e o rei guardava a serra, mirando o seu belo trabalho artístico e ajuntando os meus lábios ao rasto dos dedos que esculpiam a pedra.

Jorge Vicente


==== **** ====


na mais antiga noite do mundo,
silêncio haveria sempre,
silêncio de palavras,
como se a rocha ainda não esvaziasse
o sentido da pele,

da pele clara e seca da terra,
da terra simples e boa
que os antigos cultivavam ao raiar da treva.

na mais antiga noite do mundo,
só restaria a pedra e o mar
encapelado da palavra
encoberta.

Jorge Vicente



segunda-feira, setembro 08, 2008

SAGHER

Foto de Marco Niemi-Olhares



Escuta o murmúrio do tempo,
Ouve o sussurro do mar
Liberta teus sonhos no vento
Ama quem amas e deixa-me amar
Que a guia da minha pena
Não se chama inspiração
Ela guiada pelo sonho
É Alimento da paixão
Tanto tempo sem te ver
Faz-te viva no lembrar
Nego o poeta Francês ( Avec le temp........)
O tempo não deixa de amar
E se o mundo dos sentidos
Impõe a sua razão
Recordar lábios perdidos
É tocar a tua mão.

( sagher )


***** ... ***


Sonhei o passado.
Memória de ti.
Estava a teu lado;
Mas não estavas ali.

Sonhei o futuro.
Momento sem ti.
Não estava a teu lado;
Mas tu estavas ali.

Olhei o presente.
Vivido sem ti.
Não estás a meu lado;
Mas eu estou ai

(sagher)


**** ::::: *****


Eu quero enlaçar todo o teu corpo
Tocar-te o espírito, roubar-te a alma
Quero ter-te a ti como meu porto
Num entardecer em tarde calma.
Quero embriagar-me com teu perfume
Ficar insano, perder o nexo,
Beijar-te os seios e fazer lume
Incendiar-te o ventre, tomar-te o sexo.


Manuel F.C. Almeida



**** :::: ****


Quase que o tempo
Suprimia o odor
Adocicado do teu corpo
E a candura aveludada
Dos teus lábios.
Mas as mãos vieram
Resgatar-te na memória
Do corpo
E o tempo revelou-te
Num quadro
Que vive nos rios
Das nossas muralhas.

Manuel Filipe Carvalho de Almeida



Mergulhei no blog AVEC LE TEMPS percorrendo os quatro anos que Sagher leva a partilhar connosco o que lhe vai na alma e recolhi alguns poemas para vos despertar o desejo de visitar este sítio da blogosfera onde reina a poesia.


PORQUE VOLTO

  PORQUE VOLTO . Volto, porque há dias antigos que ainda nos agarram com o cheiro da terra lavrada, onde em cada ano, enterrávamos os pés e ...