sábado, fevereiro 28, 2009
terça-feira, fevereiro 24, 2009
RUI KNOPFLI
GRITARÁS O MEU NOME
Gritarás o meu nome em ruas
desertas e a tua voz será
como a do vento sobre a areia:
um som inútil de encontro ao silêncio.
Não responderei ao teu apelo,
embora ardentemente o deseje.
O lugar onde moro é um obscuro
lugar de pedra e mudez:
não há palavras que o alcancem.
gelam-lhe os gritos por fora.
Serei como as areias que escutam
o vento e apenas estremecem.
Gritarás o meu nome em ruas
desertas e a tua voz ouvirá
o próprio som sem entender,
como o vento, o beijo da areia.
Teu grito encontrará somente
a angústia do grito ampliado,
vento e areia. Gritarás o meu
nome em ruas desertas.
Rui Knopfli (1932 - 1998)
Rui Knopfli nasceu em Inhambane, em 1932 e viveu em Moçambique até 1975. Foi delegado de propaganda médica, poeta, crítico literário e de cinema. Opositor do regime colonialista, colaborou activamente na imprensa independente, casos de A Tribuna e A Voz de Moçambique. Lançou, com João Pedro Grabato Dias, os cadernos de poesia Caliban (1971-72), que reuniram colaboradores como Jorge de Sena, Herberto Helder, António Ramos Rosa, Fernando Assis Pacheco, José Craveirinha e Sebastião Alba. Dirigiu o caderno Letras & Artes (1972-75), da revista Tempo. Traduziu e publicou poetas como T. S. Eliot, Blake, Sylvia Plath, Kavafis, Dylan Thomas, Yeats, Robert Lowell, Pound, René Char, Apollinaire, Octavio Paz e Reverdy. Demite-se do jornal A Tribuna , por objecções de natureza ética, e deixa Moçambique em Março de 1975. Em Julho do mesmo ano radica-se em Londres onde exerceu o cargo de conselheiro de imprensa (1975-97) junto da Embaixada de Portugal na capital britânica. Em 1984 recebeu o prémio de poesia do PEN Clube. Em Portugal tem colaboração dispersa no JL e nas revistas Colóquio-Letras e Ler. Encontra-se representado em algumas antologias, designadamente em Contemporary Portuguese Poetry (Manchester, 1978) e no The Penguin Book of Southern African Verse (Londres, 1989).. Em Bruxelas foi publicado Le Pays des Autres (1995), volume que colige os três primeiros livros. A sua obra é fortemente influenciada pelas suas vivências europeias e africanas, revelando uma forte originalidade e um tom eminentemente coloquial. Morreu em Lisboa em 1998. Em 2003, a empresa nacional casa da moeda, publicou uma antologia dos seus poemas, intitulada “Obra Poética”.
Bibliografia: O País dos Outros (1959), Reino Submarino (1962), Máquina de Areia (1964), Mangas Verdes com Sal (1969), A Ilha de Próspero (1972), O Escriba Acocorado (1978), Memória Consentida (1982), O Corpo de Atena (1984) e O monhé da cobras (1997).
quinta-feira, fevereiro 19, 2009
CARLOS DE OLIVEIRA
Carta da Infância
Amigo Luar:
Estou fechado no quarto escuro
e tenho chorado muito.
Quando choro lá fora
ainda posso ver as lágrimas caírem na palma das
minhas mãos e brincar com elas ao orvalho
nas flores pela manhã.
Mas aqui é tudo por demais escuro
e eu nem sequer tenho duas estrelas nos meus olhos.
Lembro-me das noites em que me fazem deitar tão
cedo e te oiço bater, chamar e bater, na fresta
da minha janela.
Pelo muito que te tenho perdido enquanto durmo
vem agora,
no bico dos pés
para que eles te não sintam lá dentro,
brincar comigo aos presos no segredo
quando se abre a porta de ferro e a luz diz:
bons dias, amigo.
Carlos de Oliveira (1921 - 1981)
in Trabalho Poético
Carlos de Oliveira, nasceu a 10 de Agosto de 1921 em Belém do Pará, filho de emigrantes portugueses no Brasil. Passou a infância nos terrenos pantanosos e arenosos da região da Gândara. Este contacto precoce com o mundo rural e com a pobreza marcou profundamente a sua obra e influenciou a sua ligação ao neo-realismo. Formou-se em Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde estabeleceu amizade e solidariedade ideológica e política com Joaquim Namorado, João Cochofel e Fernando Namora, entre outros. Estreou-se com Turismo (1942), uma colectânea de poemas, e com o romance Casa na Duna (1943). Atingiu reconhecimento público na área da poesia e da ficção. Escreveu o célebre romance Uma abelha na Chuva em 1953. Morreu em Lisboa no dia 1 de Julho de 1981.
Obra poética: Turismo, “Novo Cancioneiro”, Coimbra, 1942; Mãe Pobre, Coimbra, 1945; Colheita Perdida, Coimbra, 1948; Descida aos Infernos, Porto, 1949; Terra de Harmonia, Lisboa, 1950; Cantata, Lisboa, 1960; Sobre o Lado Esquerdo, Lisboa, 1968; Micropaisagem, Lisboa, 1968; Entre Duas Memórias, 1971 (pelo qual lhe é atribuído no ano seguinte o Prémio de Imprensa) ; Trabalho Poético, poesia reunida, Lisboa, 1976 e 2003(Assírio & Alvim)
Foto de Xã - Olhares
sábado, fevereiro 14, 2009
ANGELA SANTOS
Foto de Paulo César
ÁGUAS MANSAS
Clareou à luz do teu olhar
o dia que passa nas asas de um pássaro
azul
e logo se abrem as portas para o inaudito
onde o sopro de um anjo
revela a condição de seguir
rumo ao que houver do outro lado,
avesso da noite, luz que se oculta
e revela o azul purpura
da secreta beleza que chega nas dobras da noite
É então que me aconchego
e perscruto os sinais que sobem do centro
da vida que guardas na cadencia do teu peito
no sopro tranquilo.
E como um navio rasgando a calmaria
adormeço à tona dos teus olhos de água.
terça-feira, fevereiro 10, 2009
LUÍS QUINTAIS
NO CORTEJO DAS SOMBRAS
No cortejo das sombras,
incapaz de te encontrar,
tão irreal que és,
como uma manhã de inverno
ou uma rua deserta,
no cortejo das sombras
distingo
o pavor de te desconhecer
40
A selva escura, vejo-a agora nítida aos 40.
Numa antecipação do caminho que não meço
e que se abre de tão denso à minha frente,
numa escuridão que é apenas ignorância,
despropósito, aventura ―
certeira morte em incerto tempo.
LUÍS QUINTAIS
Luís Quintais nasceu em 1968 em Angola. É antropólogo social e lecciona presentemente no Departamento de Antropologia da Universidade de Coimbra.Nesta qualidade, tem vindo a desenvolver investigação de arquivo e de terreno sobre o exercício e as implicações públicas e forenses da psiquiatria. Publicou o seu primeiro livro de poesia em 1995, A Imprecisa Melancolia (Teorema e Lumen). Em 1999 regressa à poesia, publicando Umbria (Pedra Formosa) e Lamento (Livros Cotovia). Posteriormente publicou Verso Antigo (2000), Angst (2003), Duelo (2004), Canto Onde (2006) e Mais espesso que a água (2008), todos pelos Livros Cotovia. Com Duelo venceu da oitava edição do Prémio de Poesia Luís Miguel Nava referente a 2005. Luís Quintais tem um página pessoal na NET, participou no blog casmurro e no Webqualia. Actualmente, anima Os livros ardem mal .
Fonte: Um Buraco na Sombra
Foto de Tim Noble e Sue Webster
sábado, fevereiro 07, 2009
TODO O AMOR DO MUNDO NÃO FOI SUFICIENTE...
todo o amor do mundo
não foi suficiente
porque o amor não serve de nada.
ficaram só os papéis e a tristeza,
ficou só a amargura
e a cinza dos cigarros e da morte.
os domingos e as noites
que passámos a fazer planos
não foram suficientes
e foram demasiados
porque hoje são como sangue no teu rosto,
são como lágrimas.
sei que nos amámos muito e um dia,
quando já não te encontrar em cada instante,
cada hora, não irei negar isso.
não irei negar nunca que te amei.
nem mesmo quando estiver deitado,
nu, sobre os lençóis de outra
e ela me obrigar a dizer
que a amo antes de a foder.
JOSÉ LUIS PEIXOTO
IN A CRIANÇA EM RUÍNAS
Foto:Fluffytek
segunda-feira, fevereiro 02, 2009
NOITE DE POESIA EM VERMOIM
Vem saborear uma febra de porco e um copo de tinto, no 4º Festival Gastronómico de Vermoim, nesta última Noite de Poesia no Lugar da Igreja (na Junta antiga) – será a despedida, rumo à Junta de Freguesia nova, a inaugurar dentro de dias!…
No próximo sábado, 7 de Fevereiro de 2009, pelas 21,30 horas, ainda – e pela última vez! – no Salão Nobre da Junta de Freguesia de Vermoim, vem participar com a tua poesia.
Teremos, na primeira parte, a presença do poeta e escritor ANTÓNIO REBORDÃO NAVARRO que nos falará dos seus livros, agora editados pela Edium – Editores.
Na segunda parte desta Noite de Poesia em Vermoim serão ditos poemas do tema MANHÃ.
À atenção dos habituais colaboradores da POESIA NA NET:
Os trabalhos deverão ser enviados até à próxima Sexta-feira, dia 6 de Fevereiro, para: saturnogomes@netcabo.pt/.
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