domingo, março 15, 2009
terça-feira, março 10, 2009
VIEIRA CALADO
Foto de Bruno Abreu - Olhares
NESTES DIAS DE TRANSPARÊNCIAS
Nestes dias de transparências violentadas
sonho a ardência duma árvore estóica
testemunhando os ludíbrios da paisagem,
um rio que simplesmente prossegue
e insiste em devaneios de águas claras,
no rigor dos invernos que conhece.
Subo do meu frio por escadas verticais,
um perfil amargurado de vozes interiores
que me trazem às margens da realidade,
ao alicerce da superfície das coisas
onde apenas vislumbro os excessos da luz
as cinzas, ou o fogo de vulcões extintos.
Contemplo, nas fronteiras do alvoroço,
os murmúrios de antigos violoncelos
sussurando o desígnio das águas leves
fustigando o granito das profundas fendas
da terra, num exercício demolidor.
Não sou comerciante de barros antigos
apenas reconheço o ar circundante
que prossegue dando frescura às vigílias,
na lassitude serena de entender a bruma
a descer sobre a superfície das origens.
Por isso, atento me atenho às evidências
do pólen esvoaçando ao sabor do vento,
a pura sedução das vertentes da luz
no mecanismo rigoroso dum grão de trigo.
Vieira Calado
O autor tem variada colaboração em jornais e revistas, páginas literárias, prefácios e antologias. Coordena uma página de Poesia e outra de Astronomia no "Jornal de Lagos"
sexta-feira, março 06, 2009
PARABÉNS PARA TI - POEMAS DE ALBINO SANTOS
Foto de Bruno Abreu - Olhares
O Mar expande-me a um infinito horizontal. A Montanha esmaga-me o seu peso na vertical. Perco a essência de mim com primeiro e sinto-me comprimido com a segunda. A pequenez em mim é a mesma por dissolução ou compressão. O êxtase e a humildade, a constante agitação e a imobilidade eterna.
Como o contraste me arrebata!...
I
Não sei se Mar ou se Montanha,
tenho os meus afectos repartidos
por duas paixões que mal sustento,
duas ânsias opostas nos sentidos
dois pólos de atracção no pensamento
II
Mar!
Feito de sal e azul liquefeito
de céu, de gaivotas, vendavais
de abismos profundos e mortais
que o sol escolheu para seu leito,
onde o céu se debruça a ver corais
Onde habitam lendas e sereias,
ninfas nuas e de longas tranças
que alimentam sonhos de crianças,
namorados que se amam nas areias
da imensa praia de águas mansas
Onde posso beber sol e liberdade
longe de angústias e de medos,
sentar-me no colo dos rochedos
perder-me no azul que me invade
e contar ao mar os meus segredos
III
Montanha!
Hino supremo à imortalidade,
arrasadora e telúrica erecção,
feita da substância da eternidade,
onde as pedras parecem ter vontade
de fecundar o seu próprio chão
Imponente e austera grandeza
convertida em arte e formosura,
poesia esculpida em fraga dura
que a força e o poder da natureza
com o passar do tempo mais apura
TU, que acordas o sol na hora de nascer
entre a bruma e o cheiro de jasmim,
no teu perfil agreste, sem ter fim,
repousas a grandeza do teu ser
como eu próprio repouso sobre mim!...
ALBINO SANTOS
Foto de Marta Ferreira - Olhares
Quando a luz amadurece
chegas como quem esquece
os lençóis incandescentes
onde sempre eu anoiteço…
Mas trazes sempre as sementes
da flor com que adormeço…
Assim me vem a noite,
em pequenas chamas
florescendo entre os lábios
e os dedos dóceis…
um a um, suaves,
teus gestos me poisam no peito
como faminto bando de aves…
Línguas de sal na escuridão acesa!
ALBINO SANTOS
Foto de Bela-Olhares
Um poema deve ser silencioso
como uma carícia...
Macio
como o toque dos dedos sobre a pele...
Doce
como um olhar de amor,
abrindo caminho através dos teus olhos...
Imprevisto
como o voo dos pássaros...
Imóvel
como a sombra no tempo...
Suave
como prelúdio de belas melodias...
Tranquilo
como quando tua mão descansa sobre a minha...
Ousado
como as últimas borboletas que adormecem
na erva já ressequida depois do último beijo...
ALBINO SANTOS
Foto de Nuno Manuel Baptista - Olhares
Caminho sobre um murmúrio
de vozes transparentes.
Sou a síntese de todos os ecos
que se projectam
através de mim,
os gritos que calei
para que outros irrompessem!
Na minha memória
vestida de saudade,
respiro o teu corpo
pelo fôlego das palavras
com que faço este poema.
Elas nascem límpidas
e partem depois,
húmidas de desejo...
Molham-se os meus versos,
chove-me a saudade,
inundam-me as noites,
silenciosas,
deliciosamente lascivas
como asas de pássaro
escorrendo o teu orvalho.
Um pingo mais
desse liquido ardor,
e o poema transborda
de amor…
ALBINO SANTOS
Foto de António Carreteiro - Olhares
Se de amor me falasses!
Um dia… abstractamente,
como um leve rumor
ao som de uma serenata!
Mas fala-me somente
palavras de amor,
quando a noite deixar ver
claramente
o sítio onde o teu corpo
se refracta
Se de amor me falasses!
De amor ardente
sem a alma fria
em ti tão abstracta!
Na carícia fugidia
e tão surpreendente,
que trazes nessa boca
irreverente
onde a paixão é sempre mais exacta!
Se de amor me falasses!
Nesta noite incandescente
e tão ingrata!
Do amor que se sente
e tantas vezes se mata!
Da loucura de um beijo
no teu corpo cor de prata,
onde o amor e o desejo
tantas vezes se retrata…
ALBINO SANTOS
terça-feira, março 03, 2009
JOSÉ-AUGUSTO DE CARVALHO
Foto de Zuleva-Olhares (clique na imagem para a ver em tamanho maior)
CAMINHOS
Ai, caminhos de nada e ninguém,
de fantasmas em louco vaivém!
Não encontro nem perco,
nem procuro,
para além deste cerco...
Só o longe futuro,
hoje verde, amanhã amarelo maduro
Ai caminhos de névoa, rasgados
p'los meus pés obstinados!
Na pureza das asas da infância,
a vertigem do espaço cruzei...
Desvendei
a distância
e uma física nova inventei!
Ai, caminhos de oculto segredo,
de ansiedade, fracassos e medo!
Do composto que sou não separo
qualquer parte do todo
da matéria... de argila? de lodo?
Donde venho? Onde vou? Quando paro?
José-Augusto de Carvalho
O Poeta nasceu em Viana do Alentejo, a 20 de Julho de 1937.
domingo, março 01, 2009
CONCEIÇÃO PAULINO
Foto de Ghgomas.Olhares
No meio da dor
penso em ti. Sei.
Qualquer que ela seja,
penso sempre em ti.
Se eu souber que sabes
da minha dor
invento forças
para te dizer que
a dor não dói,
ou dói pouco
para que a dor que sentes
por mim, possa
ser aliviada.Assim
invento forças
para dizer
que a dor não dói
ou dói pouco. E
sorrio-te.
Nunca o silêncio.
foto de Zé Luis - Olhares
Doem os olhos a quem, de fora,
vê. Brotam lágrimas.
Imparáveis.
Incontroláveis... mas
não apagam, nem sequer
acalmam a braseira
esfouguedada, que arde.
Assim a alma da criatura.
A criatura que tropeça nas palavras
que esbarra nos sentimentos
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