Enquanto houver um homem caído de bruços no passeio E um sargento que lhe volta o corpo com a ponta do pé Para ver quem é, Enquanto o sangue gorgolejar das artérias abertas E correr pelos interstícios das pedras, pressuroso e vivo como vermelhas minhocas Despertas; Enquanto as crianças de olhos lívidos e redondos como luas, Órfãos de pais e mães, Andarem acossados pelas ruas Como matilhas de cães; Enquanto as aves tiverem de interromper o seu canto Com o coraçãozinho débil a saltar-lhes do peito fremente, Num silêncio de espanto Rasgado pelo grito da sereia estridente; Enquanto o grande pássaro de fogo e alumínio Cobrir o mundo com a sombra escaldante das suas asas Amassando na mesma lama de extermínio Os ossos dos homens e as traves das suas casas; Enquanto tudo isso acontecer, e o mais que se não diz por ser verdade, Enquanto for precido lutar até ao desespero da agonia, O poeta escreverá com alcatrão nos muros da cidade:
1 comentário:
abaixo aquela poesia que não diz nada, que é só técnica, sem alma, sem chama, sem ardor de paixão, sem mistério!
e viva este poema que diz dos homens e da verdadeira palavra!
grande abraço para ti
jorge
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