sexta-feira, agosto 27, 2010

A ÚNICA RESPOSTA





Jantáramos os dois pela primeira vez:
amizade ou amor, pouco interessava
desde que ali estivesses. O meu mundo
ia mudando à medida do teu,
a cada gesto vão da vã conversa
antes que fôssemos plo Bairro Alto
e enfim o Lumiar, a tua casa.

Eu podia contar uma história, dizer
como aquele rosto atravessava o meu -mas não,
«nada de narrativas, nunca mais».
Apenas a certeza de estar morto
há tanto tempo, que já não me lembro
de cor nenhuma dos teus olhos. Não,
já não existe o dia nem a noite
e este silêncio deve ser talvez
a única resposta. É bem melhor
ficar à espera de que não regresses.

Fernando Pinto do Amaral

(De A Escada de Jacob - Assírio & Alvim)

Foto de Volga Borytsch

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