sábado, abril 23, 2011

ADEUS





Como se houvesse uma tempestade
escurecendo os teus cabelos,
ou, se preferes, minha boca nos teus olhos
carregada de flor e dos teus dedos;

como se houvesse uma criança cega
aos tropeções dentro de ti,
eu falei em neve - e tu calavas
a voz onde contigo me perdi.

Como se a noite se viesse e te levasse,
eu era só fome o que sentia;
Digo-te adeus, como se não voltasse
ao país onde teu corpo principia.

Como se houvesse nuvens sobre nuvens
e sobre as nuvens mar perfeito,
ou, se preferes, a tua boca clara
singrando largamente no meu peito.

EUGÉNIO DE ANDRADE

2 comentários:

Isamar disse...

Não conhecia este poema de Eugénio de Andrade apesar de o admirar profundamene e de o ler muitas vezes. Adeus é uma palavra muito forte, carregada de simbolismo que condiz na perfeição com a imagem.

Bem-hajas!

Beijinhos

Branca disse...

Querido amigo,

Para mim reler Eugénio, é como lê-lo sempre pela primeira vez. Foi um dos primeiros poetas por quem me interessei desde muito jovem, até hoje.
A sua poesia é sempre inebriante e inspiradora.
Obrigada. Beijos.

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