sábado, setembro 03, 2011

QUANDO EU MORRER...





Quando eu morrer - e hei-de morrer primeiro

do que tu - não deixes fechar-me os olhos,

meu Amor. Continua a espelhar-te nos meus olhos

e ver-te-ás de corpo inteiro

como quando sorrias no meu colo.


E, ao veres que tenho toda a tua imagem

dentro de mim, se então tiveres coragem,

fecha-me os olhos com um beijo.


Eu, Marco Pólo,


farei a nebulosa travessia,

e o rastro da minha barca

segui-lo-ás em pensamento. Abarca



nele o mar inteiro, o porto, a ria...

E, se me vires chegar ao cais dos céus,

ver-me-ás, debruçado sobre as ondas, para dizer-te adeus.







Não um adeus distante

ou um adeus de quem não torna cá

nem espera tornar. Um adeus de até já,

como a alguém que se espera a cada instante.



Que eu voltarei. Eu sei que hei-de voltar

de novo para ti, no mesmo barco

sem remos e sem velas, pelo charco

azul, do céu, cansado de lá estar.



E viverei em ti como um eflúvio, uma recordação

E não quero que chores para fora,

Amor, que tu bem sabes que quem chora



assim, mente. E se quiseres partir e o coração

to peça, diz-mo. A travessia é longa... Não atino

talvez na rota. Que nos importa, aos dois, ir sem destino!




(Alvaro Feijó)



Álvaro de Castro e Sousa Correia Feijó (1916-1941)

Poeta, nascido a 5 de Julho de 1916, em Viana do Castelo, morreu, a 9 de Março de 1941, quando ainda não completara os vinte e cinco anos de idade. A sua obra poética, imbuída de um erotismo juvenil e de simbologias viradas para antigas vivências assume características revolucionárias, tendo sido publicada em revistas como: Sol Nascente, O Diabo, Altitude e Seara Nova e, postumamente, no Novo Cancioneiro.

Foto de Sonja Hunecken

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