quarta-feira, dezembro 01, 2010

TUDO ME LEVA A TI; ASSIM, ESTA TARDE...





Tudo me leva a ti; assim, esta tarde

aberta ao céu azul que sucedeu

ao irado negrume da tormenta,

sob esta luz que, mais do que vespertina,

me parece ofuscante e matinal,

quando atravesso o vale

e volto a Jerte, sem conhecer a razão,

seguindo não sei bem que raro impulso,

curva a curva, bem sabes, leito acima,

até às mesmas nascentes da vida.

É tudo igual, porém também diferente,

e me remete para ti. E as cascatas,

e os talhões e o rio e as cerejeiras

parecem ser olhados pelos teus olhos

e através deles ainda me falas

e voltas a explicar-me o importante:

sentir-se aqui feliz e rodeado

de quanto qualquer homem necessita:

a luz, o campo, a árvore, a montanha,

coisas, talvez, vulgares ou anacrónicas

mas que nos confortam e nos salvam;

os seres e as forças desse mundo

solar onde vivias;

onde, para meu bem, comigo vives.


Álvaro Valverde (Plasencia, Espanha, 1959)

Tradução de Ruy Ventura (Portalegre,1973)


Foto de Vladimir Kulichenko



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