domingo, maio 21, 2017

RAZÕES DE AMOR



Razões de amor...

I

Gosto desse teu ar tristonho,
desse olhar de melancolia,
mesmo nos momentos de prazer e de sonho,
ou nos instantes de amor e de alegria...

Gosto dessa tua expressão de ternura
tão suave e feminina,
desse olhar de ventura
com um brilho úmido a luzir num profundo langor...
Desse teu olhar de meiguice que me cativa e domina,
tu que dás sempre a impressão de quem precisa
de proteção e amor...

Desse teu ar de menina, desse teu ar
que te faz mais mulher
ao meu olhar...

Gosto de tua voz, tranquila, do tom manso
com que falas, como se acariciasses
até as palavras que dizes;
de tua presença, que é assim como um quieto remanso,
um pedaço de sombra onde me abrigo
quando somos felizes...

Gosto desse teu jeito calmo, sossegado,
com que te encostas em meu peito
e te deixas ficar
entre ternuras e embaraços,
como se tudo ficasse, de repente, parado,
e teu mundo pudesse ser delimitado
pelos meus braços...

Gosto de ti assim, pequenina, macia,
quando te aperto contra mim e te sinto
minha
(inteiramente nua)
e tens um ar abandonado, como quem caminha
sonâmbula, por um estranho caminho
feito de céu e de lua...

II

Gosto de ti
desesperadamente:
dos teus cabelos de tarde
onde mergulho o rosto,
dos teus olhos de remanso
onde me morro e descanso;
dos teus seios de ambrósias,
brancos manjares trementes
com dois vermelhos morangos
para as minhas alegrias;
de teu ventre – uma enseada
– porto sem cais e sem mar –
branca areia à espera da onda
que em vaivém vai se espraiar;
de teus quadris, instrumento
de tantas curvas, convexo,
de tuas coxas que lembram
as brancas asas do sexo;
– do teu corpo só de alvuras
– das infinitas ternuras
de tuas mãos, que são ninhos
de aconchegos e carinhos,
mãos angorás, que parecem
que só de carícias tecem
esses desejos da gente...
Gosto de ti
desesperadamente;
gosto de ti, toda, inteira
nua, nua, bela, bela,
dos teus cabelos de tarde
aos teus pés de Cinderela,
(há dois pássaros inquietos
em teus pequeninos pés)
– gosto de ti, feiticeira,
tal como tu és...
(J.G. de Araújo Jorge)

Foto de Sergey Ryzhkov
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quarta-feira, maio 10, 2017

DIA E NOITE ...


Foto de Luis Milhano.


Dia
E noite
Corri pela cidade
Percorri ruas e avenidas
Becos, largos, vielas e jardins
Cambaleando, por fim sentei-me num banco
Pensativo, nervoso, indignado, pesaroso, arreliado, arrependido, teimoso
Recomecei a caminhada na tua direcção
Não queria perder-te outra vez
Corri mais esforço final
O nevoeiro cerrado
Escondeu-te bem
Perdi-te

L.M.

terça-feira, maio 09, 2017

A NEGRA



A NEGRA
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Negra gentil, carvão mimoso e lindo
Donde o diamante sai,
Filha do sol, estrela requeimada,
Pelo calor do Pai,
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Encosta o rosto, cândido e formoso,
Aqui no peito meu,
Dorme, donzela, rola abandonada,
Porque te velo eu.
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Não chores mais, criança, enxuga o pranto,
Sorri-te para mim,
Deixa-me ver as pérolas brilhantes,
Os dentes de marfim.
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No teu divino seio existe oculta
Mal sabes quanta luz,
Que absorve a tua escurecida pele,
Que tanto me seduz.
.
Eu gosto de te ver a negra e meiga
E acetinada cor,
Porque me lembro, ó Pomba, que és queimada
Pelas chamas do amor;
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Que outrora foste neve e amaste um lírio,
Pálida flor do vale,
Fugiu-te o lírio: um triste amor queimou-te
O seio virginal.
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Não chores mais, criança, a quem eu amo,
Ó lindo querubim,
O amor é como a rosa, porque vive
No campo, ou no jardim.
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Tu tens o meu amor ardente, e basta
Para seres feliz;
Ama a violeta que a violeta adora-te
Esquece a flor-de-lis.
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CAETANO DE COSTA ALEGRE
(26 de Abril de 1864 - 18 de Abril de 1890)
Poeta narural de S. Tomé e Príncipe.
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Negra, by Marie-Guillemine Benoist (1768-1826)
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sexta-feira, maio 05, 2017

"AMO-TE ! "




"Amo-te !" Cinco
letras pequeninas,
Um poema de amor e felicidade !
Não queres mandar-me esta palavra apenas ?
Olha, manda então... brandas... serenas...
Cinco pétalas roxas de saudade ...

Florbela Espanca

quarta-feira, maio 03, 2017

O AMOR




O AMOR
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Não há para mim outro amor nem tardes limpas
A minha própria vida a desertei
Só existe o teu rosto geometria...
Clara que sem descanso esculpirei.

E noite onde sem fim me afundarei.

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

Foto de Cat Free

PORQUE VOLTO

  PORQUE VOLTO . Volto, porque há dias antigos que ainda nos agarram com o cheiro da terra lavrada, onde em cada ano, enterrávamos os pés e ...