Saudosamente, ao luar das minhas mágoas, Vens para mim na tua graça de ave: O teu andar, de longe, é brando e suave Como um cisne vogando à flor das águas.
Vens para mim, ao luar que me entristece, Em tua alada e mística figura: Nos teus olhos se abisma a noite escura E é a luz do luar que neles resplandece.
Há qualquer coisa em ti que me comove E dá motivo ao meu desassossego: Minhas falas por ti são as de um cego, Tenho por ti o olhar de quem não ouve.
Quisera erguer em teu louvor um canto De divina, quimérica harmonia: Assim na primavera a cotovia Festeja o sol que nasce e o seu encanto.
Digo o teu nome aos ventos, no martírio Da ansiedade febril que me consome: E logo os ecos rezam o teu nome, Num êxtase que é irmão do meu delírio.
Grito por ti quando me encontro a sós, Mentindo à dor de te saber ausente: Mas vens ao meu amor, saudosamente, E logo morre o alvor da minha voz.
Saudosamente, ao luar que me deslumbra, Vens através a noite silenciosa: E a tua graça, etérea e misteriosa, É um outro luar surgindo na penumbra.