sábado, dezembro 09, 2006

André Gonçalves (1686-1762)-Adoração dos Magos s/ data, óleo sobre tela - Museu Nacional de Machado de Castro - Coimbra



NATAL ALENTEJANO

O Natal também se celebra em Portugal sem a Missa do Galo. Apesar desta ser o centro de todo o ciclo comemorativo e comandar as demais manifestações, a tradição – muito viva no Alentejo – de representar os chamados “presépios vivos” pode assumir o seu lugar, como acontece na paróquia da Trindade, Beja.

A iniciativa partiu dos próprios fiéis e mesmo as gentes que há muito saíram da aldeia para ganharem a vida acabam por se deslocar propositadamente aos ensaios. O que se faz é contar a história toda do nascimento em verso.

Os autos de Natal inserem-se na tradição do teatro popular e representavam-se primariamente ao ar livre, na noite de Natal, das 21h às 06h00. Hoje o auto de Natal continua a demorar horas, mas já é feito no salão paroquial.

A Missa do Galo continua, ainda assim, a ser a principal protagonista da noite cristã no Alentejo. O tributo ao Deus menino "em palhas deitado” é conhecido de todo o país:

Eu hei-de dar ao Menino
Uma fitinha p'ró chapéu
E Ele também me há-de dar
Um lugarzinho no Céu...

Olhei para a céu
Estava estrelado
Vi o Deus Menino
Em palhas deitado.

Em palhas deitado
Em palhas esquecido
Filho de uma rosa
Dum cravo nascido

Estas palavras disse a Virgem
Ai quando nasceu o Menino
Ai vinde cá meu anjo loiro
Meu sacramento divino

Outro contributo incontornável do Natal Alentejano para a vivência da quadra em todo o Portugal é o “Natal de Évora”:

O Menino está dormindo
Nas palhinhas despidinho
Os anjos lhe estão cantando:
Por amor, tão pobrezinho.

O Menino está dormindo
Nos braços de S. José
Os anjos lhe estão cantando:
Gloria tibi, Domine.

O Menino está dormindo
Nos braços da Virgem pura
Os anjos lhe estão cantando:
Glória a Deus lá nas alturas.

O Menino está dormindo
Um sono de amor profundo
Os anjos lhe estão cantando:
Viva o Salvador do mundo


O madeiro de Natal

O madeiro é aceso na chaminé de todas as casas, onde o Menino Jesus coloca os brinquedos no sapatinho. Nos largos das vilas, aldeias ou cidades, e nos adros das igrejas são queimadas quase árvores inteiras na fogueira que aquece a noite de natal.

Diz quem vive este Natal que o lume da chaminé é para o menino se aquecer quando vier pela noite dentro recompensar as crianças por se terem portado bem e terem ajudado a fazer o presépio. Vai-se buscar a lenha onde a houver sem necessidade de qualquer autorização: diz-se que é para “aquecer o Menino Jesus” e basta. A notável propensão do povo alentejano para a música fixou estas tradições em quadras:

O Menino vai à lenha
Espetô-le um pico no pé
Chamou Nossa Senhora
Respondê-le Sã José.

Ó mê Menino Jesus
Encostado ó madêro
Ê vos dô a minh'alma
Fazei dela o travessêro


Presépios e Roncas

Os bonecos de Estremoz, em barro cozido e polícromo, dão vida a um dos presépios mais conhecidos do país, com várias figurinhas profano-religiosas. Ainda hoje prestigiados artesãos ceramistas e barristas continuam a concebê-los num estilo muito próprio, numa diversidade de modelos, dimensões e cores.
Os presépios caseiros davam origem a visitas às casa na vizinhança. Em Elvas era habitual entoarem-se cânticos natalícios acompanhados pela “Ronca”, um instrumento semelhante à zabomba espanhola.

Este instrumento pode ser feito de uma panela de barro, cântaro de lata ou de um pote.A ronca leva uma pele a tapar a boca do recipiente, no centro da qual há uma cana.
A qualidade da pele é muito importante por causa do som. Por isso se usam peles de cabra ou borrego, e ainda de bexiga de porco.


A Missadura

Da preparação da mesa para a véspera de Natal fala-nos longamente o livro “Etnologia do Natal Alentejano”, (PESTANA, M. Inácio, Portalegre 1978).

Em algumas terras do distrito de Évora, tanto quanto é possível, faz-se a matança do porco antes do Natal, para se assegurar o abastecimento da “missadura”. Esta missadura (Consoada) ocorre em cada lar logo a seguir à missa do galo e na sua ementa inclui-se toda a variedade de carne de porco.

A Consoada é a seguir à Missa de Natal porque até lá o que se come propriamente ao jantar do dia 24 de Dezembro nas casas alentejanas é a sopa de cação, pescada frita, bacalhau, ou outro peixe, acompanhado com batatas, couve-flor ou grelos. Esta regra tem a ver com o antigo preceito da abstinência, que embora já exista na liturgia ainda é respeitada por muitos.

“Quem não jejua dos Santos ao Natal, ou é besta ou animal”, dizia um velho ditado popular.


(Projecto Évora Distrito Digital)









CONCERTOS DE NATAL - ALVITO E VILA NOVA DA BARONIA

A Câmara Municipal de Alvito promove um concerto de Natal, em cada uma das freguesias do concelho- Alvito e Vila Nova da Baronia. Esta é uma das formas de desejar as Boas Festas a todos os munícipes.

No dia 16 de Dezembro (Sábado) realiza-se na Igreja Matriz de Alvito, pelas 18 horas um concerto pelo Coral Polifónico de Alter do Chão e no dia 23 de Dezembro será na Igreja Matriz de Vila Nova da Baronia, também pelas 18 horas que o Coral de S. Domingos, de Montemor-O-Novo realizará a sua actuação.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

ALVITO - NOTÍCIAS





ALVITO NA SÉRIE " A ALMA E A GENTE

No passado dia 9 de Novembro, o Prof. José Hermano Saraiva esteve no Concelho de Alvito com o objectivo de gravar um dos programas da Série “A alma e a gente”.


O programa sobre Alvito passa no próximo dia 3 de Dezembro, na RTP2, pelas 21:30h.











TERRAS SEM SOMBRA

3º Festival de Música Sacra do Baixo Alentejo
O 3º Festival de Música Sacra do Baixo Alentejo- Terras Sem Sombra, está a decorrer desde o passado dia 15 de Novembro e prolonga-se até ao dia 24 de Março de 2007.
Este evento financiado pelo Instituto das Artes/ Ministério da Cultura, com o patrocínio da Delta, conta com os seguintes apoios: Câmaras Municipais de Almodôvar, Alvito, Beja, Castro Verde, Santiago do Cacém e Sines; Fundação Caloute Gulbenkian; Fundação das Casas de Fronteira e Alorna; Institut Franco Portugais; Governo Civil do Distrito de Setúbal e Região de Turismo da Planície Dourada.
“O Festival(...) propõe desde 2003 uma programação de qualidade internacional de concertos de música erudita, juntamente com conferências temáticas. O Festival é itinerante, apresentando concertos em concelhos do Baixo Alentejo Litoral ao Interior. Apresenta-se contextualizado por um projecto de animação e valorização do património do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, parceiro fundamental deste projecto e já visitou os concelhos de Almodôvar, Beja, Castro Verde, Cuba, Moura, Odemira, Santiago do Cacém, Sines e Vidigueira. Em 2006/2007 a Arte das Musas conta, para a 3.ª edição do Festival, com a presença de músicos nacionais e internacionais de primeiro plano juntamente com uma nova visita do Coro Gulbenkian, referência da cultura nacional, na temporada em que a Fundação Gulbenkian comemora o seu 50º aniversário. (...) O Festival Terras sem Sombra foi o único projecto, na área da música, apoiado pelo Instituto das Artes/Ministério da Cultura (MC) em todo o Alentejo e foi novamente declarado pelo MC como de Superior Interesse Cultural.(...)”


Programa

2 de Dezembro 2006- 21H30
Sines, Igreja Matriz de São Salvador
Marions Les Roses
O Encontro Oriente-Ocidente na Bacia do Mediterrâneo
Ensemble Les Fin´Amoureuse (Avignon, França)

20 de Janeiro 2007- 21H30
Beja, Igreja Nª Senhora dos Prazeres
Imagens da Música de Tecla Ibérica do Maneirismo ao Pós- barroco
Recital de Cravo e Clavicórdio
João Paulo Janeiro

3 de Fevereiro 2007- 16H00
Santa Cruz(Almodôvar) Igreja Matriz de Santa Cruz
O Consort Português Mal Temperado
Música do Manuscrito 964 da Biblioteca Pública de Braga
A imagem da melancolia, Consort de Flautas

3 de Fevereiro 2007- 16H00
Santa Cruz(Almodôvar) Igreja Matriz de Santa Cruz
O Consort Português Mal Temperado
Música do Manuscrito 964 da Biblioteca Pública de Braga
A imagem da melancolia, Consort de Flautas

3 de Março 2007- 21H30
Alvito, Igreja Matriz de Nª Senhora da Assunção
Canções Sacras e Seculares dos Séc.s XVII e XVIII
Recital de Alaúde Barroco
Miguel Serdoura

24 de Março 2007- 21H30
Santiago do Cacém, Igreja Matriz de Santiago Maior
As Vozes e as Lágrimas Humanas
Música de Marais, Schutz, Corelli, Martini e Couperin
Sete Lágrimas Consort




Natal Social- 2006

O Gabinete de Apoio ao Munícipe, da Câmara Municipal de Alvito está a promover uma campanha de angariação de brinquedos, géneros alimentícios, livros e outro material escolar, com o objectivo de realizar cabazes de Natal para entregar a famílias carenciadas do concelho de Alvito, durante a época natalícia.
Todos os contributos podem ser entregues até ao dia 18 de Dezembro nos seguintes locais:
- Gabinete de Apoio ao Munícipe
-Biblioteca Municipal de Alvito
-Junta de Freguesia de Vila Nova da Baronia


Ajude-nos a ajudar. Contamos consigo.




Dia Internacional dos Voluntários para o Desenvolvimento Económico e Social

A Câmara Municipal de Alvito irá realizar, no dia 5 de Dezembro, pelas 21 horas, no Centro Cultural de Alvito uma cerimónia de atribuição de certificados de Mérito a todas aquelas pessoas e instituições do concelho, que se têm distinguido pela prática do voluntariado nas várias áreas.
Esta iniciativa que se realiza em Alvito, pela 1ª vez visa homenagear e reconhecer o trabalho desenvolvido em prol da comunidade e dos mais carenciados e incentivar as novas gerações para a importância do voluntariado como um dos motores do desenvolvimento económico e social.





Projecto - Circuito Hidráulico de Adução à Barragem de Odivelas

Consulta Pública

O projecto acima mencionado localiza-se nas freguesias de Alvito e Vila Nova da Baronia (concelho de Alvito) e Odivelas (concelho de Ferreira do Alentejo) e está sujeito a um procedimento de Avaliação de Impacte Ambiental.
Nos termos e para efeitos do preceituado no nº2 do artº 14º e nos artºs 24º, 25º e 26º do Decreto-Lei nº 69/2000, de 3 de Maio, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei nº 197/2005, de 8 de Novembro, o Instituto do Ambiente, enquanto Autoridade de Avaliação de Impacte Ambiental, informa que o Estudo de Impacte Ambiental, incluindo o Resumo Não Técnico, encontra-se disponível para Consulta Pública, durante 26 dias úteis, de 23 de Novembro de 2006 a 3 de Janeiro de 2007, nos seguintes locais:
-Instituto do Ambiente- Rua do Século, nº 63 1200-433 Lisboa
-Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo- Estrada das Piscinas, 193 7000-758 Évora
-Câmaras Municipais de Alvito e de Ferreira do Alentejo

O Resumo Não Técnico pode ser consultado nas Juntas de Freguesia de Alvito e de Vila Nova da Baronia (concelho de Alvito) e Odivelas (concelho de Ferreira do Alentejo), encontrando-se também disponível em www.iambiente.pt
No âmbito do processo de Consulta Pública serão consideradas e apreciadas todas as opiniões e sugestões apresentadas por escrito, desde que relacionadas especificamente com o projecto em avaliação. Essas exposições deverão ser dirigidas ao Presidente do Instituto do Ambiente até à data do termo da Consulta Pública.

Participe a sua opinião é importante e conta




Biblioteca Escolar instalada na EB1/ JI
de Vila Nova da Baronia

O concelho de Alvito no ano de 2005 foi integrado no Programa Rede de Bibliotecas Escolares, do Ministério da Educação, tendo sido efectuada uma candidatura pela Câmara Municipal em parceria com o Agrupamento de Escolas do Concelho de Alvito com o objectivo de instalar uma biblioteca na EB1/JI de Vila Nova da Baronia.
Durante o ano de 2006 a Câmara procedeu às obras necessárias na sala onde já funciona a Biblioteca Escolar, comprou mobiliário e outro equipamento, informatizou o espaço e adquiriu e tratou o fundo documental, que neste momento é composto por cerca de 500 documentos.
Esta Biblioteca que integra uma Rede de Bibliotecas Escolares pode desempenhar um papel fundamental nos domínios da leitura e da literacia e na formação global dos alunos, no favorecimento do sucesso escolar e no aprofundamento da cultura literária, científica, tecnológica e artística.



Jardim de Infância de Vila Nova da Baronia com selo de qualidade eTwinning

Em Maio de 2005 o Jardim de Infância de Vila Nova da Baronia entrou para a
lista das escolas da Europa que querem trabalhar em eTwinning.
eTwinning faz parte do programa eLearning da Comissão Europeia e visa a
cooperação de escolas dos diversos países da Europa ligadas pela internet
desenvolvendo projectos comuns. Cada país, através do seu Ministério da
Educação tem um grupo de supervisão para as escolas com projectos etwinning e
através de um concurso Nacional um júri escolhe alguns dos projectos
considerados com qualidade, aos quais é dado um certificado.

Este ano foram atribuídos 10 certificados de qualidade. Dos 479 projectos
inscritos, dois decorreram no Jardim de Infância de Vila Nova da
Baronia com a Educadora Luisa Fadista e as crianças com quem trabalhou e obtiveram Certificado de Qualidade.

Os projectos foram: Litle hands make great things--Portugal, Grécia, Malta e Itália e Entorno Natural en Países Diferentes--Portugal, Espanha e Polónia.

A Educadora foi convidada pelos serviços nacionais para ser embaixadora
eTwinning no Workshop eTwinning internaciomnal que decorreu nos dias 17, 18 e
19 de Novembro em Copenhagen (Dinamarca) e em Malmo (Suécia).

Este ano lectivo estão a ser desenvolvidos 4 projectos eTwinnig no Jardim de Infância de Vila Nova da Baronia:
Toys from the Past, Games from the Future;
Reciclar a Brincar;
Entorno Natural en Países Diferentes e Let The Music Live


terça-feira, novembro 28, 2006

Foto de Robert Socha




NOSTALGIA




Quantos sóis e luas passaram
Anos e anos feneceram,
Quantas marés teve o mar
Quantos amores se perderam?

Se a Lua pudesse contar
As noites de abandono,
Contava ondas do mar
Que nunca têm retorno.

Mesmo o sol iluminando
O mais azul dos céus,
Um amor e desenganos
Escurecem um lindo véu.

Anos e anos passados
Presente em pensamento,
Estiveste a meu lado
Mesmo estando ausente.

As marés que teve o mar
Nunca ninguém as contou,
Os beijos que te quis dar
Foi o vento que os levou.

Quando a lua tapa o sol
O dia fica em escuridão,
O amor que não vivi
Tornou a vida em solidão.


(Olinda Bonito 05/06)

sábado, novembro 25, 2006

Retrato de um Amor

Autor da foto Curtis Forrester







Iluminas
a sombra dos meus dias
neste mundo que abrimos devagar
entre o corpo e a alma, sempre mais
secretos no abismo que os devora.

Maior do que este amor nada haverá
até ao fim dos tempos: os teus olhos
respondem ao destino, à sua eterna
graça que paira sobre as nossas vidas
agora a transbordarem numa única
razão feita de luz. a tua boca
inunda a minha língua com o sabor
de todos os sentidos que mergulham
a noite numa água sem retorno.

Para ti absorvo o hálito de um verão
em cada beijo cego, surdo e mudo
respirando de súbito em uníssono:
enigma revelado num só frémito,
insónia submersa que , em silêncio,
regressa pouco a pouco aos nossos braços
afogados na espuma do seu mar.

Perto do teu sorriso há uma fonte
embriagada e pura- meu amor,
dá-me esse coração, essa primeira
raiz de todo o fogo, esse relâmpago
onde cresce para nós a flor de um grito;
segreda-me às escuras mais um sonho
antes de adormeceres sobre o meu ombro.


Fernando Pinto do Amaral

sábado, novembro 18, 2006

foto de Brigitte Carnochan




na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu, depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva, cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho, mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.


(José Luís Peixoto – A Criança em Ruínas)

sábado, novembro 11, 2006

Foto de João Espinho




Eh, como está triste o mar!
Faz lembrar um animal
Muito manso
E doente.

As ondas mal se mexem.
Parece mesmo
Que tiveram uma avaria.

Dá-me a impressão que o mar
teve algum desgosto
para assim estar…

Ou será a minha solidão que o contagia?

*************

Retrospectiva

Debruço-me para a infância.
Demoro.
Lá faz bom tempo. Há sempre um dia
Novo que começa.

A realidade zanga-se
E ordena-me que recolha.

… o sonho é um carro de bois
que nunca tem pressa

*******************


Antigamente os velhos caiaram a vila,
os velhos mondaram o trigo,
antigamente carregaram o trigo,
amassaram o pão.

Os velhos hoje deixam
cair uma lágrima,
como o suor antigamente
nas terras do patrão.

Chora a lágrima dos velhos
suas pernas seus braços rijos dantes,
seu único bem que já não torna.

Hoje os velhos vão pedindo pelos montes,
hoje os velhos vão metendo no alforge
o pão e o toucinho da reforma

***************

A minha vida é um poema aos bocados
e quando ela terminar
o dobrar dos meus finados
é que o há-de recitar




(Sebastião Penedo - Poeta natural de Alvito)

terça-feira, novembro 07, 2006





AMIGOS


Amigos,
Companheiros do amor e da alegria,
repartindo entre si a ansiedade
e às vezes frustrações dum dia a dia.
Amigos, amigos de verdade…
cavalgam juntos o corcel das ilusões,
dividem entre si, sonhos, prazer,
estudando em conjunto soluções,
rindo felizes nas horas de lazer.


Amigos,
Morrendo um pouco quando um deles morre.
Sofrendo silêncios quando um deles cai.
Seguindo-lhe os passos se algum deles corre
atrás de qualquer sonho que se esvai.
Amigos, amigos de verdade…
não traiem, não falam desabonos,
não quebram um só elo da amizade,
enfrentando juntos, da vida, o frio Outono…


Amigos,
ninguém desfaz as suas ambições!
Ninguém parte a corrente estabelecida!
Nem o tempo. Só a morte ou os turbilhões
sempre imponderáveis que há na vida!
Amigos, amigos de verdade…
Caminham lado a lado pelos anos,
fazendo do convívio o grande abraço;
esquecendo as diferenças, desenganos,
sem ódios, sem mentiras… sem cansaço.



(Orlando Fernandes – Fronteiras do Sonho)

domingo, outubro 29, 2006

Falls embrace de Lauri Blank





AMORES DE VERÃO


A areia era branca,
Plumas de gaivota
Leves e fugidias
Adornavam a praia.

Uma praia de sonho.

O nosso amor ali,
Puro como a areia
Que o mar lança nas ondas,
Incandescente e forte
Como o vermelho do céu
No pôr-do-sol à noitinha.

E,quando a noite chegava
E brisa ligeira surgia,
A adrenalina da felicidade
Fazia voar os pensamentos,
E juntos sonhávamos no tempo.

O Inverno aproximou-se.

Com ele a tristeza dos dias,
A brisa tornou-se forte
Afastou as plumas das gaivotas,
As ondas em turbilhão
Levaram a areia e os sonhos.

O Sol arrefeceu.

Não havia pôr-de-sóis rubros,
E destruídos pelo vento gélido
Foram-se os sonhos ardentes
E o amor veemente,
Que nos deixaram na alma
A melancolia da desilusão,
Dum amor enterrado na areia
Numa praia de sonho
Adornada de plumas de gaivota.


(Olinda Bonito -08/06)

quarta-feira, outubro 11, 2006



Problemas no campo informático não me têm permitido manter as visitas regulares aos amigos.
Espero que em breve sejam sanados estes contratempos.

Beijos e abraços

Até breve

quinta-feira, outubro 05, 2006





FEIRA DOS SANTOS 2006

11ª MOSTRA DE PRODUTOS E SERVIÇOS LOCAIS E REGIONAIS



A Câmara Municipal de Alvito organiza, entre os dias 28 de Outubro e 01 de Novembro de 2006, a 11ª Mostra de Produtos e Serviços Locais e Regionais / Feira dos Frutos Secos. Esta mostra, que decorre no Largo das Alcaçarias é já um importante certame económico que anualmente acolhe mais de 60 expositores, constituindo uma óptima oportunidade de negócio e promoção para todas as empresas e entidades que nela participam.

A tradicional Feira dos Santos, acontece entre os dias 31 de Outubro a 02 de Novembro, em toda a envolvente do Castelo de Alvito e tem associado um programa de actividades culturais, que inclui exposições temáticas, animação de rua, espectáculos nocturnos, e o II Encontro – ROTA DO FRESCO, em que será abordado o património arquitectónico como recurso do desenvolvimento sustentável em zonas do interior de Portugal.

Mais informações, poderão ser obtidas através do e-mail nuno.pereira@cm-alvito.pt

PROGRAMA CULTURAL

28 Outubro (Sábado)

10H00 – Encontro de Jogos Tradicionais. Campo de Futebol
14h45 – 1ªMarcha dos Santos (inscrições e informações nas Juntas de Freguesia até 27/10/2006)
15h00 – Exposição dos trabalhos concorrentes à V Edição dos Jogos Florais do Concelho de Alvito. Centro Cultural de Alvito
15h30 – Lançamento do Livro “À mesa com Fialho de Almeida. Auditório do Centro Cultural de Alvito
17h00 – Abertura da XI Mostra de Produtos e Serviços Locais e Regionais
17h30 - Inicio do 2º Festival Etnográfico dos Santos com:
17h30 – Inicio do Desfile Etnográfico. Recinto da Feira
21h00 – Actuação em palco dos Ranchos Folclóricos
24h00 – Fecho da XI Mostra de Produtos e Serviços Locais e Regionais
02h00 – Fecho dos Bares da Feira

29 Outubro (Domingo)

10h00 – 3º Passeio Equestre “Feira dos Santos
14h00 - Reabertura da XI Mostra de Produtos e Serviços Locais e Regionais
15h00 – Cavalhada (jogos, torneios, etc.). Picadeiro junto ao Pavilhão Gimnodesportivo
21h00 – Fadistas Escondidos (interior da tenda)
24h00 – Fecho da XI Mostra de Produtos e Serviços Locais e Regionais e Fecho dos Bares da Feira

30 Outubro (2ª Feira)

9h00 – Abertura do II Encontro “Rota do Fesco” (ver programa próprio)- Centro Cultural de Alvito
17h00 - Reabertura da XI Mostra de Produtos e Serviços Locais e Regionais
24h00 – Fecho da XI Mostra de Produtos e Serviços Locais e Regionais e Fecho dos Bares da Feira

31 Outubro (3ª Feira)

17h00 - Reabertura da XI Mostra de Produtos e Serviços Locais e Regionais
19h00 – Espectáculo musical com Malteses. Palco da Feira
21h00 - Espectáculo musical com Terras de Rayo no Palco da Feira
24h00 – Fecho da XI Mostra de Produtos e Serviços Locais e Regionais
02h00 – Fecho dos Bares da Feira

01 Novembro (4ª Feira)

9h00 – Reabertura da XI Mostra de Produtos e Serviços Locais e Regionais
10h00 – Abertura de exposição de Antiguidades e Velharias para leiloar na Galeria de Arte (Largo das Alcaçarias, 3A)
10h00 – Arruada pela Banda Filarmónica dos Bombeiros Voluntários de Alvito
14h00 – Inicio da demonstração do Jogo do Pau (pela Feira)
15h00 – Actuação da Associação de Cante Coral Alentejano do Concelho de Alvito e dos “Amigos do Cante de Alvito”, no Palco da Feira
16h00 – Leilão de Antiguidades e Velharias na Galeria de Arte (Largo das Alcaçarias, 3A)
17h00 - Actuação dos Campos do Alentejo, no Palco da Feira
20h00 – Encerramento da XI Mostra de Produtos e Serviços Locais e Regionais












II ENCONTRO ROTA DO FRESCO
“Património e desenvolvimento sustentável”

30-31 de Outubro e 1 de Novembro de 2006
Centro Cultural, Alvito


Tema:
O património arquitectónico como recurso do desenvolvimento sustentável em zonas do interior de Portugal.

Problemática:
O Alentejo detém um conjunto assinalável de património edificado, na sua grande parte com graves problemas de conservação e, principalmente no caso do património arquitectónico religioso, desprovido de uso. Assim, tendo em conta o número, a importância artística e o valor cultural deste legado, bem como, por outro lado, as actuais oportunidades de desenvolvimento para esta região, coloca-se a questão da potencialidade económica, através da ferramenta turística, deste recurso específico. Consequentemente, importa reflectir de que forma o património se pode transformar num veículo de promoção do desenvolvimento local e, preferencialmente, de um desenvolvimento sustentável.

Para a discussão desta problemática, consideramos alguns ângulos de análise específicos:
a) A situação da gestão patrimonial em Portugal
b) A caracterização do património de regiões do interior do país
c) As potencialidades turísticas do interior do país
d) Requisitos para o desenvolvimento sustentável
e) Casos de estudo portugueses
f) A estrutura de funcionamento adequada a projectos de revitalização patrimonial do interior




O Projecto Rota do Fresco
A AMCAL – Associação de Municípios do Alentejo Central, constituída pelos Municípios de Alvito, Cuba, Portel, Vidigueira e Viana do Alentejo – promove uma iniciativa inovadora de natureza turístico-cultural denominada Rota do Fresco.

A Rota do Fresco consiste na criação de um sistema de visitas a uma selecção de exemplares de pintura mural das capelas, ermidas e igrejas dos cinco concelhos, com o intuito de divulgar, preservar e revitalizar esse património integrado.

A Rota do Fresco tem por base a extensão cronológica e espacial deste tipo de revestimento arquitectónico no conjunto destes cinco concelhos, que constitui um excelente exemplo da variedade e da qualidade desta forma de decoração e de catequização religiosa no nosso país, bem como do papel particular da região alentejana na difusão deste género artístico, desde o século XV até aos inícios do XIX.

Outro ponto comum a estes cinco concelhos ao nível da pintura mural é a necessidade, em quase todos os exemplares remanescentes, de uma intervenção de conservação e restauro, bem como de uma intervenção estrutural ao nível dos próprios edifícios que albergam as pinturas.

Esta Rota procura assim transformar-se num instrumento de salvaguarda dos exemplares remanescentes; de melhor conhecimento deste género artístico no nosso país e, em particular, na região alentejana; de dinamização da região com a criação de um novo produto turístico adaptado às exigências do património arquitectónico.




PROGRAMA

Segunda-feira, 30
09H00: Abertura pelo Presidente da AMCAL

Painel I > A gestão patrimonial (moderação Catarina Vilaça de Sousa, AMCAL)
09H30: A situação da gestão patrimonial em Portugal
A perspectiva do Estado (Elísio Summavielle, Presidente do IPPAR)
A perspectiva das autarquias (Alexandra Gesta, C. M. de Guimarães*)
10H45: Pausa para café
11H15: O património de regiões do interior de Portugal
O caso do Alentejo (Rui Mateus, C. M. de Beja)
A perspectiva da Igreja Católica (Cónego Fernando Marques, Arquidiocese de Évora*)
12H15: Debate
13H00: Almoço livre

Painel II > A valorização turística (moderação Paula Faísco, C. M. de Vidigueira)
15H00: As potencialidades turístico-culturais do interior do país (José Manuel Simões, CEDRU)
15H30: O turismo cultural no Alentejo (Francisco Ramos, Universidade de Évora)
16H00: A valorização turística do património (João Carlos Brigola, Universidade de Évora)
16H30: Pausa para café

Painel III > O desenvolvimento sustentável (moderação Eugénia Alhinho, C. M. de Portel)
17H00: O contributo do património para o desenvolvimento sustentável (João Carlos Caninas, GEOTA)
17H30: Vias para o desenvolvimento sustentável no Alentejo (Margarida Cancela de Abreu, CCDR-A)
18H00: Debate






Terça-feira, 31
Painel IV > Casos de estudo portugueses (Manuela Fialho, Associação Terras Dentro)
10H00-12H30: comunicações livres
12H30: Debate
13H00: Almoço livre

Painel V > Estruturas de funcionamento e modelos de gestão (moderação Dina Monteiro, C. M. de Alvito)
15H00: Estruturas de promoção do turismo cultural (Ana Isabel Rodrigues, ESTIG)
15H30: A longa experiência de Mértola (Jorge Revez, ADPM)
16H00: O caso Projecto Rota do Fresco (Catarina Vilaça de Sousa, AMCAL)
16H30: Debate
17H15: Conclusões (João Carlos Brigola, Universidade de Évora)
(*) a confirmar

Quarta-feira, 1
10H00-13H00: Visita de estudo às intervenções de conservação e restauro na Igreja Matriz de Alvito e na Capela de S. Brás de Portel.
13H00: Almoço regional em Portel



EVENTOS PARALELOS
(entrada livre)

Segunda-feira, 30
19H00: Apresentação do Roteiro Turístico Terras do Fresco e Lançamento das Actas do Encontro (em cd-rom) na Pousada de Alvito, com actuação de grupo de cante alentejano e oferta de Alentejo de Honra.

Quarta-feira, 1
16H00: Visita à Feira dos Santos no Largo das Alcaçarias de Alvito



COMUNICAÇÕES LIVRES

Requisitos de aceitação das propostas de comunicação:
• Ligação ao campo de estudos da gestão patrimonial, do turismo cultural e do desenvolvimento sustentável;
• Carácter inédito do trabalho a apresentar;
• Os resumos a submeter até 30 de Setembro de 2006 não poderão exceder as 2 (duas) páginas A4 e deverão conter o título do trabalho, autor(es), qualificação académica e profissional do(s) mesmo(s), instituição onde exercem actividade e endereço para correspondência (e-mail);
• A Organização do Encontro informará os candidatos por e-mail da aceitação da comunicação proposta.











Organização: AMCAL - Associação de Municípios do Alentejo Central


Apoios:
Pousada Castelo de Alvito
Escola Profissional de Alvito
Restaurante “O Buraco da Zorra” de Alvito
Restaurante “O S. Pedro” de Portel

quarta-feira, setembro 27, 2006





Sobre os cadernos da escola
Sobre a carteira e as árvores
Sobre a areia sobre a neve
Escrevo o teu nome

Sobre as páginas já lidas
Sobre as páginas em branco
Pedra papel sangue ou cinza
Escrevo o teu nome

Sobre as imagens douradas
Sobre as armas dos guerreiros
Sobre a coroa dos reis
Escrevo o teu nome

Sobre a floresta e o deserto
Sobre os ninhos e as giestas
Sobre o meu eco da infância
Escrevo o teu nome

Sobre os encantos das noites
Sobre o pão branco dos dias
Sobre as estações mescladas
Escrevo o teu nome

Sobre os meus trapos de azul
Sobre o tanque sol melado
Sobre o lago lua viva
Escrevo o teu nome

Sobre os campos e o horizonte
E sobre as asas dos pássaros
Sobre o moinho das sombras
Escrevo o teu nome

Sobre a sopro duma aurora
Sobre o mar e sobre os barcos
Sobre a montanha demente
Escrevo o teu nome

Sobre as espumas de nuvens
Sobre o suor da tormenta
Sobre a chuva espessa e vã
Escrevo o teu nome

Sobre as formas cintilantes
E sobre os sinos das cores
Sobre a verdade palpável
Escrevo o teu nome

Sobre as veredas traçadas
Sobre as estradas desertas
Sobre as praças trasbordantes
Escrevo o teu nome

Sobre a lâmpada que acende
Sobre a lâmpada apagada
Sobre as minhas casas juntas
Escrevo o teu nome

Sobre o fruto dividido
Entre o meu espelho e o meu quarto
Na concha aberta do leito
Escrevo o teu nome

Sobre o cão terno e guloso
Nas suas orelhas tensas
Na sua pata sem tino
Escrevo o teu nome

Sobre o meu degrau da porta
Sobre os objectos da casa
Sobre as labaredas vivas
Escrevo o teu nome

Sobre a carne concedida
Sobre a fronte dos amigos
Sobre cada mão estendida
Escrevo o teu nome

Sobre o vitral das surpresas
Sobre os lábios expectantes
Muito acima do silêncio
Escrevo o teu nome

Sobre os meus refúgios gastos
E os faróis desmoronados
Nas paredes que me enfadam
Escrevo o teu nome

Sobre a ausência sem desejo
Sobre a solidão despida
E sobre os degraus da morte
Escrevo o teu nome

Sobre a saúde que volta
E o perigo que já passou
Sobre a esperança esquecida
Escrevo o teu nome

Com o poder duma palavra
Eis que recomeço a vida
Eu nasci para te aprender
Para te invocar

Liberdade


* * *
(Tradução feita por Carlos Domingos na Cadeia
do Forte de Peniche, em
Setembro de 1973)





Eugéne Grindel ( PAUL ELUARD) nasceu em 1895 em Saint Denis (França). Em 1952 morre em Paris.
Quando se dá a Segunda Guerra Mundial uniu-se à Resistência com as armas que tinha, a poesia sendo por isso perseguido pela gestapo.

LIBERTÉ foi escrito em 1942 durante a ocupação da França pelos nazis.

quarta-feira, setembro 20, 2006


Foto de José Luis Mendes - Pontos de Vista




ALENTEJO REVISITADO


Ele queria ser sinónimo de Alentejo velho


foi-lhe dito que a urze quando nasce
é o lápis que risca a roxo a linha do montado
e divide em horizonte o Céu e o resto do mundo;
foi-lhe dito que a geografia duma azinheira
termina em cabelos de fogo e que seus braços
espreguiçados ao calor são o descanso da terra


falaram-lhe que as ribeiras soltas tinham vida
e que cada gota cheirava a suor e lágrimas
presas à lâmina pujante duma enxada na semente;
alguém lhe disse que os riachos eram de sabão
e que emanavam cânticos de mulheres selvagens
protegendo os filhos debaixo dos aventais lavados


contaram-lhe que as tardes eram só os dias longos
enrolados no vento maestro das searas espigadas
só à espera do ouro para alimentarem os alforges;
disseram-lhe que os açudes do rio eram o sisal
que cingia o trigo secado e embalado nos braços
de uma ceifeira quase morta pelo cansaço


foi-lhe dito que os espinhos da esteva são aves
e deles brotam flores alvas formando as paredes
das moradas plantadas no meio do caminho;
foi-lhe dito que à planície menstruada de papoilas
se chamava sangue quente no barro ao lume
misturado com pobreza e cheiro a poejo pisado


falaram-lhe que nos montados se corre descalço
e que dos pés brotam os beijos quentes da lavra
debulhando a canção analfabeta das planícies;
contaram-lhe que do entendimento das estações
se acalentam as monções da eira e do vento sul
com a esperança de uma meia sardinha no pão


disseram-lhe das mãos que se entrelaçam no frio
e que das palavras entreabertas no postigo
sobra o odor a infusas de chuva e pés de hortelã;
foi-lhe dito que a fortuna das gentes é o canto dorido
e das gargantas dos frutos nascidos vive o quebranto
tragado no cucharro que partilha a lavoura de cem


alguém lhe disse que as camisas de preto eram véus
e os chapéus o respeito pela cara caiada de Deus
que das feridas da terra protegia a fome do povo;
foi-lhe dito que o passado não retorna nos calos das mãos
que o velho se tornou saudade na charneca do sonho
e que de Alentejo só a memória de quem já viveu tudo.



Rita Beja (Antologia de Escritas nº 3)

segunda-feira, setembro 11, 2006

Outono - Pintura de José Malhoa (1919)



SETEMBRO

Na poeira dourada
Que o tempo criou,
As vidas, sem vida
Voam procurando
As folhas do passado,
Que em nossas vidas
Como folhas de Outono
Douradas p`lo Sol
E quentes de saudade,
Recordam o tempo
Dos amores presentes,
Que por leves brisas
Na ironia da vida
Tornámos ausentes.

Ao chegar Setembro
Na doce calma
Dum Outono ardente,
Nossos olhos fitos
Em recordações,
São beijos trocados
Por namorados,
Que em folhas douradas
Voaram no tempo.



(Olinda Bonito - 08/06)

sexta-feira, setembro 08, 2006

Foto de Brigitte Holz








ALENTEJO

A região do Alentejo está situada numa extensa área dominada por planícies a sudeste de Portugal abrangendo as cidades de Évora e Beja. A economia se baseia em criação de gado, agricultura e a indústria da madeira. Os produtos típicos desta região são o trigo, os girassóis, frutos, vegetais, azeitonas, vinhos, cortiça, eucaliptos, cordeiro, porco, cabrito, minerais, granito, xisto e mármore.
Topograficamente a região possui importantes variações, do Sul do Alentejo até às elevadas zonas do nordeste, que fazem fronteira com a Espanha. Na maioria de origem vulcânica cujo solo é composto de granito, quartzo e xisto vermelho.

São os horizontes largos que caracterizam a paisagem alentejana. Os relevos são brandos, os campos abertos e os trigais a perder de vista. A planície, na sua esplendorosa imensidão, marca decisivamente toda esta magnífica região do Alentejo. Pouca chuva, clima seco e quente, especialmente nos meses de verão, transformam esta zona do interior do Alentejo num dos recantos mais poéticos de Portugal.











O ALENTEJO, por Miguel Torga

Em Portugal, há duas coisas grandes, pela força e pelo tamanho: Trás-os-Montes e o Alentejo. Trás-os-Montes é o ímpeto, a convulsão; o Alentejo, o fôlego, a extensão do alento. Províncias irmãs pela semelhança de certos traços humanos e telúricos, a transtagana, se não é mais bela, tem uma serenidade mais criadora. Os espasmos irreprimíveis da outra, demasiado instintivos e afirmativos, não lhe permitem uma meditação construtiva e harmoniosa. E compreende-se que fosse do seio da imensa planura alentejana que nascesse a fé e a esperança num destino nacional do tamanho do mundo. Só daquelas ondas de barro, que se sucedem sem naufrágios e sem abismos, se poderia partir com confiança para as verdadeiras. Enquanto a nação andava esquiva pelas serras, ninguém se atreveu a visionar horizontes para lá da primeira encosta. Mas, passado o Tejo, a grei foi afeiçoando os olhos à grande luz das distâncias, e D. Manuel pôde receber ali a notícia da chegada de Vasco da Gama à Índia.

Terra da nossa promissão, da exígua promissão de sete sementes, o Alentejo é na verdade o máximo e o mínimo a que podemos aspirar: o descampado dum sonho infinito, e a realidade dum solo exausto.

Há quem se canse de percorrer as estradas intermináveis e lisas desse latifúndio sem relevos. Há quem adormeça de tédio a olhar a uniformidade da sua paisagem, que no inverno se veste dum pelico castanho, e no verão duma croça madura. Que é parda mesmo quando o trigo desponta, e loura mesmo quando o ceifaram. Queixam-se da melancolia dos estevais negros e peganhosos, que meditam a sua corola branca um ano inteiro, da semelhança aflitiva das azinheiras, que parecem medidas pelo mesmo estalão, e não distinguem nos rebanhos que encontram, quer de ovelhas, quer de porcos, as particularidades que individualizam todo o ser vivo. Afeitos à variedade do Norte, que até aos bichos domésticos consente cara própria e personalidade, aflige-os a constante do Sul, que obriga todo o circunstancial a ocupar o seu lugar de zero diante do infinito. Perdidos e sós no grande descampado, sentem-se desamparados e vulneráveis como crianças. Amedronta-os a solidão de uma natureza que não se esconde por detrás de nenhum acidente, corajosa da sua nudez limpa e total.

Eu, porém, não navego nas águas desses desiludidos. A percorrer o Alentejo, nem me fatigo, nem cabeceio de sono, nem me torno hipocondríaco. Cruzo a região de lés a lés, num deslumbramento de revelação. Tenho sempre onde consolar os sentidos, mesmo sem recorrer aos lugares selectos dos guias. Sem necessitar de ir ver o tempo aprisionado nos muros de Monsaraz, de subir a Marvão, que me lembra um mastro de prendas erguido num terreiro festivo, de passar por Água de Peixes, que é um albergue de frescura e de beleza na torreira dum caminho, ou de visitar a Sempre-Noiva, onde há perpètuamente um perfume de flores de laranjeira a sair do rendilhado das janelas manuelinas. Embriago-me na pura charneca rasa, encontrando encantos particulares nessa pseudo-monotonia rica de segredos. Nada me emociona tanto como um oceano de terra estreme, austero e viril. A palmilhar aqueles montados desmedidos, sinto-me mais perto de Portugal do que no castelo de Guimarães. Tenho a sensação de conquistar a pátria de novo, e de a merecer. O chão das outras províncias já se não vê, ou porque vive coberto pela verdura doméstica de oito séculos, ou porque a erosão levou toda a carne do corpo e deixou apenas os ossos. Mas a terra alentejana pode contemplar-se ainda no estado original, virgem, exposta e aberta. E é nela que encho a alma e afundo os pés, num encontro da raiz com o húmus da origem. Abraço numa ternura primária as léguas e léguas duma argila que permanece disponível mesmo quando tudo parece semeado. O corpo, ali, pode ainda tocar o barro de que Deus o criou.

Mais do que fruir a directa emoção dum lúdico passeio, quem percorre o Alentejo tem de meditar. E ir explicando aos olhos a significação profunda do que vê. Porque cada propriedade se mede por hectares, são em redil os aglomerados, respeitosos da extensão imensa que os circunda, e um suíno, ou relegado à sua malhada, ou a comer bolota no montado, não faz parte da família, – é que o alentejano pôde guardar a sua personalidade. E talvez nada haja de mais expressivo do que esse limite nítido entre a intimidade do homem e a integridade do ambiente. Assegura-se dessa maneira a conservação duma dignidade que o bípede não deve alienar, nem a paisagem perder. Se há marca que enobreça o semelhante, é essa intangibilidade que o alentejano conserva e que deve em grande parte ao enquadramento. O meio defendeu-o duma promiscuidade que o atingiria no cerne. Manteve-o vertical e sozinho, para que pudesse ver com nitidez o tamanho da sua sombra no chão. Modelou-o de forma a que nenhuma força, por mais hostil, fosse capaz de lhe roubar a coragem, de lhe perverter o instinto, de lhe enfraquecer a razão. E é das coisas consoladoras que existem contemplar na feira de qualquer cidade alentejana a compostura natural dum abegão, ou vê-lo passar ao entardecer, numa estrada, com o perfil projectado no horizonte, dentro do seu carro de canudo. É preciso ter uma grande dignidade humana, uma certeza em si muito profunda, para usar uma casaca de pele de ovelha com o garbo dum embaixador.

Foi a terra alentejana que fez o homem alentejano, e eu quero-lhe por isso. Porque o não degradou, proibindo-o de falar com alguém de chapéu na mão.

Mas não são apenas essas subtis razões éticas e geográficas que me fazem gostar do Alentejo. Amo também nele os frutos palpáveis duma harmonia feliz entre o barro e o oleiro. Amo igualmente o que o homem fez e a terra deixou fazer. Diante de um tapete de Arraiolos, ou a ouvir uma canção a um rancho de Serpa, implico o habitante e o habitado no mesmo processo criador, e louvo-os no mesmíssimo entusiasmo. Não há arte onde o homem não é livre e a natureza não quer. Dando às mãos ágeis e fantasistas materiais nobres e moldáveis – o mármore, o cobre, a lã, o coiro, e o barro –, a terra alentejana quis que a vida no seu corpo tivesse beleza. E de Norte a Sul, desde as campanhas da Idanha, que já lhe pertencem, às figueiras algarvias, os seus montes, as suas aldeias, as suas vilas e as suas cidades são marcados por um selo de imaginação e de graça. Aqui uma varanda onde um ferreiro fez renda, acolá um pátio onde um pedreiro inventou uma nova geometria, além uma oficina onde um caldeireiro fabrica ânforas esbeltas e vermelhas como cachopas afogueadas. Aproveitando os incentivos do meio e os recursos do seu génio, o alentejano faz milagres. A própria paisagem sem relevo o estimula. Faltava ali o desenho e a arquitectura, que nas outras províncias existem na própria natureza. Pois bem: concebeu ele o desenho e a arquitectura. E, na mais rasa das planícies, ergueu essa flor de pedra e de luz que é Évora!

Beja tem a sua torre de mármore, com uma tribuna para ver meio Portugal; Portalegre os seus palácios barrocos, para encher de solidão; Elvas o seu aqueduto de sede arqueada e a sua feiura para meter medo aos Espanhóis; Estremoz a sua praça do tamanho de uma herdade. Mas Évora olha os horizontes do alto do seu zimbório espelhado, povoa as casas de lembranças vivas e gloriosas, e, sequiosa apenas do eterno, risonha e aconchegada, enfrenta as agressões do transitório com a força da beleza e a amplidão do espírito.

Será talvez alucinação de poeta. Mas porque nela se documenta inteiramente a génese do que somos, o que temos de lusitanos, de latinos, de árabes e de cristãos, e se encontra registado dentro dos seus muros o caminho saibroso da nossa cultura, – se estivesse nas minhas mãos, obrigava todo o português a fazer uma quarentena ali. Uma lei pública devia forçá-lo a entrar na cidade a desoras, numa noite de luar. E, sem guia, manda-lo deambular ao acaso. Seria um filme maravilhoso da história pátria que se lhe faria ver, com grandes planos, ângulos imprevistos, sombras e sobreposições. Uma retrospectiva completa do que fizemos de melhor e mais puro no intelectual, no político e no artístico. Só de manhã seria dado ao peregrino confirmar com a luz do sol a luz do écran. E se ao cabo da prova não tivesse sentido que num templo de colunas coríntias se pode acreditar em Diana, numa Sé românica se pode acreditar em Cristo, e num varandim de mármore se pode acreditar no amor, seria desterrado.

Compreender não é procurar no que nos é estranho a nossa projecção ou a projecção dos nossos desejos. É explicar o que se nos opõe, valorizar o que até aí não tinha valor dentro de nós. O diverso, o inesperado, o antagónico, é que são a pedra de toque dum acto de entendimento. Ora o Alentejo é esse diverso, esse inesperado, esse antagónico. Tudo nele é novo e bizarro para quem o visita. Os arcos, as silharias, as abóbadas e os coruchéus das suas casas; a açorda de coentro e o gaspacho de alho e vinagre das suas refeições; as insofridas parelhas de mulas guisalheiras a martelar as calçadas ao amanhecer; as pavanas cinegéticas que oferece aos convidados; os magustos de bolota; os safões dos homens e o chapéu braguês das mulheres – são ferroadas no nosso cotidiano. Mas o que tem interesse é precisamente revelar aos olhos, ao paladar e aos ouvidos a novidade dessas descobertas. Mostrar-lhes a originalidade de uma vida que se passa ao nosso lado, e tem o inesperado de uma aventura. E mostrar-lho carinhosamente! Sem espírito de simpatia, tudo se amesquinha e diminui. E coisas grandes, como uma semeada ou uma ceifa no Redondo, podem ser reduzidas à pequenez duma vessada ou duma segada beiroa.

Quem vai ao mar, prepara-se em terra – diz o ditado. Aplicando a fórmula ao Alentejo, teremos de nos preparar para entrar dentro dele. Será preciso quebrar primeiro a nossa luneta de horizontes pequenos, e alargar, depois, o compasso com que habitualmente medimos o tamanho do que nos circunda. Agora as distâncias são intermináveis, e as estrelas, no alto, brilham com fulgor tropical. Teremos, portanto, de mudar de ritmo e de visor.

O Alentejo, visitado por alguém que leve consigo a capacidade emotiva e compreensiva de um verdadeiro curioso, é um Sésamo que se abre. As suas fainas, os seus costumes, as mutações impressionantes do seu rosto quando tem frio ou quando tem calor, os seus trajes e a sua própria fala – são outros tantos motivos de meditação e admiração. Mas o que nele é sobretudo extraordinário e a sua inflexível determinação de conservar uma fisionomia inconfundível, haja o que houver. Pode-se preferir uma região mais maneira ou mais angustiada, e uma gente menos soberba, mais autênticamente humana, e mais sinceramente generosa. Herdades mais à medida dos pés, cultivadas por semelhantes sem o ar de fidalgos a gozar férias rurais. Mas não se pode negar a evidência duma terra que merece como nenhuma este nome maternal e austero, e muito menos a dos filhos altivos e afirmativos que dá, imaginários como poetas e duros como azinhos. Cepa e rebentos de tal modo unidos e conjugados, que formam como que um só corpo e um só espírito. Um corpo hipertrofiado, que hipertrofia o espírito por indução.

O alentejano que sobe ao alto do castelo de Évora-Monte, erguido ali ao lado da térrea casinha da Convenção onde a concórdia da família portuguesa foi assinada, ele que tem o sangue de Giraldo-sem-Pavor a correr-lhe nas veias, que assistiu às façanhas e às hesitações do Condestável, e que fez parte da insurreição do Manuelinho, sente naturalmente dentro de si o irreprimível orgulho dum homem predestinado. A seus pés desdobra-se o extenso palco do seu destino: a infindável planície a que dá vida e movimento. São os rios e os ribeiros secos que faz transbordar de suor, os negros montados que alegra de vez em quando pintando de vermelho cada sobreiro, a sua casinha escarolada e erma com uma mimosa na botoeira, e as searas que ondulam e reverberam num aceno de abundância. Um mundo livre, sem muros, que deixou passar todas as invasões e permaneceu inviolado, alheio às mutações da história e fiel ao esforço que o granjeia. Nenhum limite no espaço e no tempo. Seja qual for o ponto cardial que escolha a inquietação, terá sempre o infinito diante de si, em pousio para qualquer sementeira. E essa eterna pureza e disponibilidade do solo exaltam o ânimo do possuidor.

Sim, pobre ganhão que seja, ele é um rei nos seus domínios. Não há outro português mais rico de pão, agasalhado por tão quente manta de céu e dono de tantos palmos de sepultura. Que minhoto ou estremenho se pode gabar de ver sempre o vulto dum seu irmão, que não tem medo da imensidade, a abrir um risco de fogo e de esperança com a ponta da charrua?



Miguel Torga, «Portugal». Coimbra, Ed. Autor, 1950; 4.ª ed. revista 1980.



(Transcrito do site de Joaquim Teodósio)

quarta-feira, setembro 06, 2006

foto de Sergey Ryztkov




RECORDAÇÃO


Lembro Setembro. Um dia a que foste.
Era domingo. Era tua alma casta.
As uvas doces, lembro, de teu corpo inteiro
Onde o rosto as põe, onde o rosto basta.


Lembro tão bem, como se fosse hoje,
tua fala ingénua, tuas mãos sadias.
E era em teus lábios puros que eu escutava
a música do ar com que sorrias.



Sebastião Penedo - Poesia

sexta-feira, setembro 01, 2006

Caronte, o barqueiro do Hades - Gravura de Gustavo Doré



ARCO – ÍRIS


No longe mais longe dos longes do mar
Andava um barqueiro a remar… a remar…

Não via mais nada: só águas e céu
E nuvens e astros que Deus acendeu.

Sozinho consigo, sonhava… sonhava…
Nos fundos mistérios que o fundo guardava.

Passavam as ondas, e, uma por uma,
Beijavam-lhe os remos com lábios de espuma.

Os ventos pintavam, com nuvens e sol,
mil quadros a tintas de fresco arrebol.

À noite, não quadros que o vento arrebata,
Mas lua beijando cardumes de prata.

E o poeta barqueiro remava a sonhar
Nos fundos mistérios do fundo do mar.

Que tempos passaram!! Já nem se lembrava
De quando partira! Remava… remava…

Às ondas suaves: - «Mais longe, mais longe,
(Pediam as nuvens) levai este monge!»

E o monge poeta, com mais energia,
Remava nas ondas da luz que acendia,

Que a luz era o sonho que o monge habitava,
Bebendo os silêncios que a alma cantava.

E as horas passaram felizes… velozes!
Cantaram os galos, ouviram-se vozes,

O sol levantou-se, rompeu a manhã
Mais linda e alegre que fresca romã,

E o monge, acordando, sentiu-se mesquinho,
Ao ver-se num catre de tábuas de pinho.

Saltou para o chão, os joelhos dobrou,
Três vezes no peito bateu… e chorou!


António Celso – Asas cinzentas

terça-feira, agosto 29, 2006






Pensamento


Além longe ,onde o sol se põe,
Não se vislumbra o firmamento,
Em nossa ilusão,o pensamento
Abala, acaba , não se repõe.

Quando a luz enfim desaparece,
Além longe ,atrás daqueles montes,
Chega até nós , o barulho das fontes,
As palavras doces do entardecer.

Hora dos amantes que com agruras,
Misturam seu amor e amarguras,
Sentem noite em seus pensamentos.

Beijam-se sequiosos de prazer,
E não sentindo a alma sofrer,
Esquecem a noite e o sofrimento.


(Olinda Bonito -Agosto 05)

sexta-feira, agosto 25, 2006





A L V I T O

FESTAS POPULARES EM HONRA DE NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO


Vão-se realizar, nos dias 25, 26 e 27 de Agosto, as já tradicionais Festas da Vila de Alvito. Sendo este ano, a organização da responsabilidade da Associação Juvenil Nova Geração. As principais atracções, das Festas Populares em Honra de Nossa Senhora da Assunção, serão as Garraiadas, o Grupo de música tradicional “Adiafa”, os tradicionais bailaricos e uma sessão de autógrafos com os actores “Bia” e “Lourenço” da série Morangos com Açúcar .

quarta-feira, agosto 23, 2006

Tu eras também...

Foto de Katrin Tarpke




Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.


(Pablo Neruda)

quinta-feira, agosto 17, 2006

ESTA MANHÃ ENCONTREI O TEU NOME NOS MEUS SONHOS...

Foto de Paulo Cesar-Olhares




Esta manhã encontrei o teu nome nos meus sonhos
e o teu perfume a transpirar na minha pele. E o corpo
doeu-me onde antes os teus dedos foram aves
de verão e a tua boca deixou um rasto de canções.

No abrigo da noite, soubeste ser o vento na minha
camisola; e eu despi-a para ti, a dar-te um coração
que era o resto da vida - como um peixe respira
na rede mais exausta. Nem mesmo à despedida

foram os gestos contundentes: tudo o que vem de ti
é um poema. Contudo, ao acordar, a solidão sulcara
um vale nos cobertores e o meu corpo era de novo
um trilho abandonado na paisagem. Sentei-me na cama

e repeti devagar o teu nome, o nome dos meus sonhos,
mas as sílabas caíam no fim das palavras, a dor esgota
as forças, são frios os batentes nas portas da manhã.



Maria do Rosário Pedreira

segunda-feira, agosto 14, 2006

Foto de Stefan Haffner





TARDE



É tarde?...não sei…

Muitos ocasos passaram,
Mas madrugadas claras
Renovam-se todos os dias,
E dentro de nós a paixão
Que tu ou eu não quisemos,
E que julgámos passado
É uma dor latente
Que nos torna em ausentes
Do mundo que agora nosso
Sentimos não nos pertence.

A madrugada clara,
Que deixámos abalar,
Tornou-se escuridão
Que não queremos aceitar.

Embora com luz difusa
Os dias vão-se passando,
O teu olhar, esse não,
Não me sai do pensamento,
E os beijos que nesse tempo
Procurávamos ansiosos,
São hoje a recordação
Que sentimos bem presente
Do tempo que radioso
Tornámos escuridão.



OLINDA-05/06

sexta-feira, agosto 11, 2006









AGUARELA


Quando, a esta hora, o dia abala lentamente
pelo Tejo fora, num barco distraído,
a tarde deixa no crepúsculo penas de vermelho
do sol que voou, pousando do céu para o mar.


E lá no horizonte, as velas das nuvens,
que demoram, ainda agora, acesas na claridade,
dão tempo às luzes dos candeeiros das avenidas
e aos pássaros boémios das árvores da cidade.



(Sebastião Penedo – Poesia)

segunda-feira, agosto 07, 2006

PENÉLOPE


foto de Dave Levingston




Penélope

mais do que um sonho: comoção!
sinto-me tonto, enternecido,
quando, de noite, as minhas mãos
são o teu único vestido.

e recompões com essa veste,
que eu, sem saber, tinha tecido,
todo o pudor que desfizeste
como uma teia sem sentido;
todo o pudor que desfizeste
a meu pedido.

mas nesse manto que desfias,
e que depois voltas a pôr,
eu reconheço os melhores dias
do nosso amor.



David Mourão Ferreira

quinta-feira, agosto 03, 2006

Foto de A. M. Catarino - 1000 Imagens




À Beira-Mar Plantada


A casa até parece não ter dono!
Sem portas, sem janelas e sem telhas,
Já nem é casa, são paredes velhas
Nas insensíveis mãos do abandono.


Não satisfeito com a pouca sorte
Daquilo que foi casa e são ruínas,
Atira-lhe palavras assassinas
Durante toda a noite o vento norte.


Os mochos, e outras aves agoirentas,
Vêm ferir, nas horas sonolentas,
O sono que era bem que fosse um grito…


E entre palhuço, terra e velhos cacos,
As ratazanas criam nos buracos
Das míseras paredes que eu habito.



António Celso

terça-feira, agosto 01, 2006

Foto de João Carlos Espinho





ALENTEJO

No meio da planura
De céu azul e carmim
Cresci eu, a desventura
E uma réstea de esperança,
Que as Primaveras vividas
Felizes e bem sentidas,
Fossem auroras claras
Dum Verão ardente
Num Alentejo bem quente,
Que incendeia o coração
E a alma desta gente,
Que olha o Outono
Não, como um retorno,
Mas como a aventura
Duma nova viagem,
Tendo em si a miragem
Que do castanho do arado
Virá uma vida nova,
Que a todos lembrará
Que a vida, como o Alentejo
É esperança e amargura,
Coragem e renovação,
Como a força desta gente
Que está sempre presente
P`ra que o trigo dê pão.



(Olinda Bonito - 06/06)

domingo, julho 30, 2006

Foto Sensitivelight



AMAR

Amar é sentir,
Sentir o teu coração.

Amar é dar,
Oferecer o meu olhar.

Amar é perder,
Quando sentimos sofrer.

Amar é vaidade,
Na hora da mocidade.

Amar é dor,
Se não nos dão amor.

Amar é repartir,
O meu e o teu sentir.

Amar é beleza,
Se amamos sem tristeza.

Amar é perdão,
Se nos ferem o coração.

Amar é viver,
Dar e receber.

Amar é felicidade,
Juntos pela idade.

Amar é doação.
Entrega total
E muita dedicação.



(Olinda Bonito 03/06)

quarta-feira, julho 26, 2006

Suão


Foto de Joâo Espinho








A terra sequiosa, gretada de sede,
deitada num mar amarelo de restolho,
queda-se adormecida até ao por do sol
nos silêncios da planície.


Os sobreiros angustiados,
ardendo na febre do suão,
erguem aos céus os ramos secos
feitos mãos em súplica.


As aves, esvoaçando inquietas,
choram gritos de sede
nas margens desalentadas
de ribeiras sem água.


Um Alentejo queimado,
de entranhas em fogo,
mastiga em desespero,
a poeira quente, das últimas eiras.


Na charneca, prisioneira do suão,
calando amarguras,…ainda cantam
as cigarras, os grilos, os moscardos…
e os homens alentejanos!



(Orlando Fernandes – Alentejo … e outros poemas)






sábado, julho 22, 2006

Foto de Katrin Taepke - (enjoy the silence)





VAZIO



Olho,
Não te vejo.

Falo,
Não te ouço.

Quero-te?
Não sei.

Existes?
Só em sonho.

E é para ti
Este poema…
Sem voz,
Mas com amor.

Sem olhar,
Mas com ternura.

Com tristeza.
Sem rancor.

Com saudade
Do teu calor.

Sei…
Sei que te quis.

Sei que és
A ilusão
Duma ternura
Doce e pura,
Que não terá amanhã.

06/07



(Olinda Bonito)

sexta-feira, julho 21, 2006



Manif: Trabalhadores do Grupo Pestana (Pousada de São Francisco, em Beja).




Trabalhadores do Grupo Pestana manifestam-se esta sexta-feira (21 de Julho), frente às unidades hoteleiras. Em Beja a concentração é junto à Pousada de São Francisco.


Os trabalhadores do Grupo Pestana, que inclui as Pousadas de Portugal, manifestam-se nesta sexta-feira (21 de Julho), frente às unidades hoteleiras, no caso de Beja a concentração tem como cenário a Pousada de São Francisco, desde as 8 horas.

Segundo a Federação dos Sindicatos da Agricultura, Alimentação Bebidas, Hotelaria e Turismo de Portugal (FESAHT), os trabalhadores do Grupo Pestana são dos mais mal pagos, com salários na ordem dos 470 euros mensais, a que se junta o facto de não serem aumentados hà mais de 18 meses.

Os sindicalistas acusam a administração da empresa de piorar as condições de trabalho, recusando-se a negociar a revisão do Acordo de Empresa.

Num documento que está a distribuir aos clientes do Grupo Pestana, a FESAHT, explica as razões porque os trabalhadores estão em luta, e descreve, na óptica dos sindicatos, quais os erros a que a privatização das pousadas, conduziu: “Despedimento de cerca de 300 trabalhadores, degradação na qualidade dos serviços prestados, ao encerramento e venda de pousadas, que deverão continuar até ao final do ano e ao aumento dos ritmos de trabalho”, face a tudo isto a estrutura sindical termina afirmando que não há quem aguente isto”.

quinta-feira, julho 20, 2006


Foto de Nuno M. Batista - Olhares






Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.


(Alexandre O'Neill)

quarta-feira, julho 19, 2006

ALVITO - CONCERTO


SONIC KITCHEN
Concerto

Jardim dos Livros, Biblioteca Municipal do Alvito
22 DE JULHO
21H 30M


Numa cozinha instalada ao ar livre prepara-se uma refeição destinada ao público. Verifica-se o gume das facas, batem-se ovos e massa, voam farinhas, repetem-se gestos tantas vezes iguais, usam-se garfos e facas, varinhas e batedeiras, ligam-se lumes e luzes.
Desta cozinha saem continuadamente sons, amplificados, transformados, trabalhados, projectam-se imagens em redor. É assim o concerto que os Sonic Kitchen trazem a Portugal. Uma cozinha com sons num espectáculo divertido e generoso. A encerrar o espectáculo, os espectadores transformam-se em convidados de um jantar que viram e ouviram preparar. E, depois de ver este espectáculo, cozinhar não voltará a ser o que era!




mais informações, em http://www.escritanapaisagem.net/2006/geral.html; tel.: 284 285 440(Posto de Turismo de Alvito)

segunda-feira, junho 19, 2006








Sei agora como nasceu a alegria,
como nasce o vento entre barcos de papel,
como nasce a água ou o amor
quando a juventude não é uma lágrima.

É primeiro só um rumor de espuma
à roda do corpo que desperta,
sílaba espessa, beijo acumulado,
amanhecer de pássaros no sangue.

É subitamente um grito,
um grito apertado nos dentes,
galope de cavalos num horizonte
onde o mar é diurno e sem palavras.

Falei de tudo quanto amei.
De coisas que te dou para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias.






Obra de Eugénio de Andrade /2, in «Até Amanhã» , Fundação Eugénio de Andrade

sexta-feira, junho 16, 2006

foto de Anke M.-Fotocommunity





Na solidão na penumbra do amanhecer

Via você na noite, nas estrelas, nos planetas,
Nos mares, no brilho do sol e no anoitecer
Via você no ontem, no hoje, no amanhã...
Mas não via você no momento

Que saudade...





(Mário Quintana)





foto de Suzana Ferreira - 1000 Imagens

PORQUE VOLTO

  PORQUE VOLTO . Volto, porque há dias antigos que ainda nos agarram com o cheiro da terra lavrada, onde em cada ano, enterrávamos os pés e ...