Foto de JOÃO ESPINHO
ALDA GUERREIRO
Nasceu em Santiago do Cacém, a 6 de Janeiro de 1878.
Educada num ambiente de intensa sensibilidade artística, desde muito cedo se interessou pela poesia, e também, talvez por influência familiar, dado que, foi cunhada de António Manuel Freire de Andrade, um dos fundadores da comissão concelhia do Partido Republicano Português, por problemas sociais e pelas ideias republicanas..
Em 1909 escreveu:
"Fundemos escolas com todas as condições modernamente empregadas, onde as creanças se desenvolvam, se instruam, se eduquem".
Em 1 de Janeiro de 1910, fundou a Associação Liberal de Santiago do Cacém, que manteve, pelo menos até 1914, a Escola Liberal, instituição, onde esta poetisa-professora, desempenhou um papel notável, sobretudo na organização de actividades, que hoje chamaríamos de complemento curricular, como "festas da árvore", "visitas de estudo" e "sessões comemorativas do aniversário da escola".
A partir de 1909, dinamizou ainda uma outra escola particular, em sua casa, até praticamente ao final da sua vida: a "Escola Livre de S. Thiago do Cacém", por onde passaram gerações de jovens, algum dos quais ainda vivos.
Ainda em sua casa, criou uma outra "escola" de ensino artístico de bordados, aberta às jovens de Santiago .
Na década de 30 colaborou na revista "Portugal Feminino" .
Apoiou e colaborou um pequeno jornal de Sines, dedicado aos jovens "A Juventude".
Idealizou, fabricou e distribuiu um interessante jornal manuscrito, intitulado "O Jornal das Creanças".
Para Alda Guerreiro, a imprensa desempenhava um importante papel na educação popular, com vista à formação de uma consciência liberal e democrática.
Mais conhecida pela poesia, que viu publicada e dispersa por inúmeros jornais e revistas, foi incluída em duas importantes antologias, uma sobre Poetisas Portuguesas, em 1917, e outra sobre os Poetas Alentejanos do Século XX, em 1984.
As suas ideias e acção foram um marco no seu tempo. Militou pelo ensino popular, sob a bandeira republicana e bateu-se pela ideia generosa de formação integral dos jovens.O seu exemplo e a sua obra ignorada, marcaram a vida social e cultural do Alentejo Litoral.
Faleceu em 1943 (?)
Fonte: Centro Actividades Pedagógicas-Alda Guerreiro
Sementeira
Na encosta de uma serra havia um carrascal
Onde nascia o tojo, a esteva, um matagal.
Um dia entrou com êle a foice roçadoura;
Meteram a charrua e fez-se a lavoura.
Foi revolvida a terra e feita a sementeira.
Algum tempo depois, já parecia um mar
O vento sobre o trigo ao longe a ardear!
Foi crescendo, crescendo; a espiga bem dourada
Com o calor do estio em pouco foi ceifada.
E produziu bom pão o terreno maninho,
Onde apenas vencia a urze e o rosmaninho!
Agora quando eu olho essa encosta da serra,
Vejo que é uma lição que nos ensina a terra!
A sociedade é o monte. A escola é o arado.
Quando abrindo o sulco, olhai vá bem guiado...
Depois é semear. Será bela a colheita
Se a semente fôr bôa, e a lama fôr bem feita.
Também hão de dar pão essas searas novas
E darão muita luz à humanidade inteira...
Abri a terra, abri, fazei a sementeira...
Foto de JOÃO ESPINHO
A minha terra
No inverno a vida apraz-nos meditar.
Quando ao entardecer, aqui na Minha Terra
Se vê sumir o sol no longe azul do mar,
O pensamento vôa e vai de serra em serra
No campo do passado às vezes a sonhar.
O oceano lembra os feitos arrojados
Do velho Portugal!
Aquem, alvos casais, em fundo verdejante
De grande pinheiral,
Fala-nos de trabalho e vida, actividade,
Saúde e alegria, e sol, e liberdade...
No antigo castelo abrigo de tristezas
Muralhas, que ouviriam a mouros e princezas
Trocar frases de amor,
Unidas num abraço, agora enegrecidas
Rodeiam condoidas
Um circulo de dôr!
É como que em contraste ao campo sorridente
Que atesta mocidade,
À sombra do castelo erguido ao Oriente
Aqueles que eu perdi descançam docemente
Envoltos em saudade.
Horas de entardecer agrada meditar.
O pensamento vôa e vai de serra em serra...
O sol mergulha além na fita azul do mar
No dôce pôr do sol da minha linda Terra!
Foto de JOÂO ESPINHO
O ALENTEJO É LÁ
É lá onde o Sol desce a violar
a terra provocante de nudez,
que emprenha uma e outra e outra vez,
de Sonhos, que já cansa de abortar...
É lá onde a lonjura por lavrar
nem sombras a dividem lés-a-lés...
Só a noite a parcela e faz mercês
erguendo muros brancos de luar.
É lá onde se chora de cantiga
no embalar dolente a dor antiga
que desperta, se agita e faz ruim...
Onde há suor em bagas pela eira,
e esp'ranças crepitando na lareira,
- O ALENTEJO é lá ... e é EM MIM.
REPONDO A VERDADE: Até hoje supunha, por lapso, que o poema anterior e o seguinte eram de autoria de ALDA GUERREIRO mas acabo de receber a informação de que são de ADA TAVARES. Apresentei desculpas à verdadeira Autora através de sua Filha Elsa Vieira e aqui venho também dar o seu a seu dono.
10 de Março de 2010
Foto de MARIA MADALENA PERCHEIRO-OLHARES