sexta-feira, julho 29, 2005

Ceifeira Campo de Trigo a Crescer


Dórdio Gomes




Há terra lavrada
E vida nas ceifeiras.
Há trigo desejado
Em cada espiga cortada:
Nasceram os filhos
Às ceifeiras!
E ouvem-se pelos montes
Cantos da esperança
Por cada nova jornada:
Cantem!
Porque chora uma criança.

Há terra lavrada
E vida nas ceifeiras
Haja alegria
Pois a espiga doirada
Deu mais trigo à jornada.
Viva o trigo a crescer
O povo a viver
Pois em cada espiga cortada
Há uma força redobrada
Da natureza a parir.

Que viva a espiga doirada
De trigo e centeio a sorrir.



Rogério Simões - 1976


Poemas de Amor e Dor

Rota do Fresco


CLIQUE NESTE ENDEREÇO PARA CONHECER MELHOR A ROTA DO FRESCO


http://www.amcal.pt/cgi-bin/rotadofresco.php

Visite e conheça a Rota do Fresco.


Aproveite as férias para melhor se inteirar deste género artístico no nosso País, em particular, na região alentejana.

Amo-te

Foto de Bob Camargo





Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio

ou seta de cravos que propagam o fogo:

amo-te como se amam certas coisas obscuras,

secretamente, entre a sombra e a alma.

Amo-te como a planta que não floriu e tem

dentro de si, escondida, a luz das flores

e, graças ao teu amor, vive obscuro em meu corpo

o denso aroma que subiu da terra.

Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde,

amo-te directamente sem problemas nem orgulho:

amo-te assim porque não sei amar de outra maneira,

a não ser deste modo em que nem eu sou nem tu és,

tão perto que a tua mão no meu peito é minha,

tão perto que os teus olhos se fecham com meu sono.




(Pablo Neruda)

quinta-feira, julho 28, 2005

Viagem


Moliceiro- Ria de Aveiro- Óleo de Paiva Carvalho





Aparelhei o barco da ilusão

E reforcei a fé de marinheiro.

Era longe o meu sonho, e traiçoeiro

O mar...

(Só nos é concedida

Esta vida

Que temos;

E é nela que é preciso

Procurar

O velho paraíso

Que perdemos).

Prestes, larguei a vela

E disse adeus ao cais, à paz tolhida.

Desmedida,

A revolta imensidão

Transforma dia a dia a embarcação

Numa errante e alada sepultura...

Mas corto as ondas sem desanimar.

Em qualquer aventura,

O que importa é partir, não é chegar.

(Miguel Torga)

quarta-feira, julho 27, 2005

O Soneto de Orfeu


Foto de Petter Hegre



São demais os perigos desta vida

Para quem tem paixão, principalmente

Quando uma lua surge de repente

E se deixa no céu, como esquecida.



E se ao luar que atua desvairado

Vem se unir uma música qualquer

Aí então é preciso ter cuidado

Porque deve andar perto uma mulher.



Deve andar perto uma mulher que é feita

De música, luar e sentimento

E que a vida não quer, de tão perfeita.



Uma mulher que é como a própria Lua:

Tão linda que só espalha sofrimento

Tão cheia de pudor que vive nua.




(Vinícius de Moraes)




Alentejano

"Verão" ou a "Ceifa" aguarela-1927 de Simão Cesar DORDIO GOMES 1890-1976 Natural de Arraiolos (Alto Alentejo)




À Buja




Deu agora meio-dia; o sol é quente

Beijando a urze triste dos outeiros.

Nas ravinas do monte andam ceifeiros

Na faina, alegres, desde o sol nascente.



Cantam as raparigas, brandamente,

Brilham os olhos negros, feiticeiros;

E há perfis delicados e trigueiros

Entre as altas espigas de oiro ardente.



A terra prende aos dedos sensuais

A cabeleira loira dos trigais

Sob a benção dulcíssima dos Céus.



Há gritos arrastados de cantigas...

E eu sou uma daquelas raparigas...

E tu passas e dizes: "Salve-os Deus!"





(Florbela Espanca - 1894-1930 - Natural de Vila Viçosa - Alto Alentejo)

terça-feira, julho 26, 2005

A Árvore da Serra


— As árvores, meu filho, não têm alma!

E esta árvore me serve de empecilho...

É preciso cortá-la, pois, meu filho,

Para que eu tenha uma velhice calma!



— Meu pai, por que sua ira não se acalma?!

Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!

Deus pôs almas nos cedros... no junquilho...

Esta árvore, meu pai, possui minh’alma! ...




— Disse — e ajoelhou-se, numa rogativa:

«Não mate a árvore, pai, para que eu viva!»

E quando a árvore, olhando a pátria serra,



Caiu aos golpes do machado bronco,

O moço triste se abraçou com o tronco

E nunca mais se levantou da terra!



(Augusto dos Anjos)

segunda-feira, julho 25, 2005

Alvito - Ermida de S. Bartolomeu

Foto de António Cunha - Edição da Câmara Municipal de Alvito




A pouco mais de 2 km, à parte ocidental de Alvito, nas imediações da estrada do Galaz, levanta-se a ermida de S. Bartolomeu, na herdade do mesmo nome.


Remonta a 1575 a mais antiga referência documental a este local de culto, desconhecendo-se quem tivessem sido os seus fundadores. O edifício, de planta rectangular e frontaria voltada a Oriente, compreende o presbitério e a nave. O presbitério abre-se para a nave por arco mestre redondo de alvenaria. Primitivamente, alçados e coberturas ostentavam revestimento fresquista. Deste subsistem as pinturas das abóbadas. Na da ousia representam-se anjos músicos e nas outras Santos do hagiológio cristão e o Tetramórfico.


Abril de Sim Abril de Não


Foto de João Carlos Espinho



Eu vi Abril por fora e Abril por dentro

vi o Abril que foi e Abril de agora

eu vi Abril em festa e Abril lamento

Abril como quem ri como quem chora.



Eu vi chorar Abril e Abril partir

vi o Abril de sim e Abril de não

Abril que já não é Abril por vir

e como tudo o mais contradição.



Vi o Abril que ganha e Abril que perde

Abril que foi Abril e o que não foi

eu vi Abril de ser e de não ser.



Abril de Abril vestido (Abril tão verde)

Abril de Abril despido (Abril que dói)

Abril já feito. E ainda por fazer.




(Manuel Alegre


30 Anos de Poesia


Publicações Dom Quixote)

sábado, julho 23, 2005

Carlos Paredes - 1925 -2004




Recordando Carlos Paredes no 1º Aniversário de sua morte.



Oiça dois excertos: Escadas do Quebra Costas e Canções para Titi. CLIQUE AQUI

Autárquicas 2005 - ALVITO - Movimento Independente


MOVIMENTO INDEPENDENTE (clique aqui)




Por acreditar na Juventude e por desejar que esse sangue novo possa dar outro alento à minha Terra.

Por esperar que essas Mulheres e Homens estejam totalmente de coração nas mãos e sem quaisquer outras motivações que não sejam as de contribuir para o bem comum de todo o Concelho querendo participar assim numa importante tarefa para tornar Alvito um lugar onde se possa continuar a viver e a atrair os filhos dessa Terra que as condições de vida de então não permitiram aí manter.


Por esses motivos acredito no Movimento Independente.



Mantenho toda a esperança em melhores dias para o Concelho de Alvito.



Modesta colaboração posso oferecer, dado que não vivo no Concelho, mas coloco desde já à disposição do Movimento Independente as páginas deste blog.



Bem hajam!

Guio-me ...



Guio-me

Por teus olhos abertos

Sobre a trêmula e ardente

Superfície das lágrimas.



De tantas coisas

É feito o Mundo!



Entre escombros, espigas, dias e noites

Procuram os homens ansiosamente

O ramo de louro.



Quando, fatigados,

Próximos estão do limiar, do pórtico,

Os homens deixam, à entrada,

Suas mais queridas coisas.



E ei-los que apenas se incomodam,

E se interrogam,

Sobre o modo mais simples

De se despir e adormecer.



Raúl de Carvalho - Poeta português, nascido a 04 de Setembro de 1920 em Alvito.

Faleceu no Porto a 03 de Setembro de 1984.
Foi colaborador das revistas Távola Redonda e Árvore e Cadernos de Poesia, que, na década de 50, conglomeravam de forma irregular, mas activa, poetas de várias sensibilidades. A obra deste poeta, onde se encontram evocações da sua infância alentejana, revela a sua ligação ao neo-realismo. A fidelidade ao humano e o estilo enumerativo e anafórico são marcas da sua poesia. Os seus títulos englobam As Sombras e as Vozes (1949), Poesia, (1955), Mesa de Solidão (1955), Parágrafos (1956), Versos - Poesia II (1958), A Aliança (1958), Talvez Infância (1968), Realidade Branca (1968), Tautologias (1968), Poemas Inactuais (1971), Duplo Olhar (1978), Um e o Mesmo Livro (1984) e Obras de Raul de Carvalho — I — Obra Publicada em Livro (editada postumamente em 1993).

Recebeu, em 1956, o Prémio Simón Bolívar, do concurso internacional de poesia realizado em Siena, Itália.



Foto: Ewa Brzozowska

sexta-feira, julho 22, 2005

Aldeia





Nove casas,

duas ruas,

ao meio das ruas

um largo,

ao meio do largo

um poço de água fria.

Tudo isto tão parado

e o céu tão baixo

que quando alguém grita para longe

um nome familiar

se assustam pombos bravos

e acordam ecos no descampado

(Manuel da Fonseca in Planície)

quinta-feira, julho 21, 2005

Alentejo



"«Terra» por excelência, nem rocha, nem hortejo, nem pinhal, terra vasta, grave, sortílega, fecunda, envolvente, terra chã – do áspero montado, dos sobreirais sangrentos, charnecas e olivais, e das searas com que os olhos comungam o infinito – o Alentejo é das províncias de Portugal aquela que na nossa literatura aparece como figura sobressalente e decisiva mesmo quando devera ser cenário.

É a sua grandeza, no quadro geográfico português, grandeza não só feita de extensão mas sobretudo de feitio, que a sua gente reflecte, gente do espaço vazio, que nada ou quase nada possui, materialmente, e, por isso mesmo, em certos momentos, como que possui tudo. Nos planaltos e nas planícies medram as searas humanas destinadas aos maiores cometimentos, essas que em longas apatias incubam o sonho e depois, de chofre, à sua imagem, o esfolham no vento. Nas ondas das messes alentejanas viu Miguel Torga o prenúncio dos mares das Descobertas. Outros mares interiores cachoam silenciosamente, grandes heroísmos secretos, sonâmbulos e perdidos, na calma luminosa dos montados. Caracteres afeiçoados pela paisagem, que tem a nobreza da serenidade, temperados pela solidão e pela pobreza, por uma lisa pobreza vertical – tais, como uma emanação da terra alentejana, seu fruto e seu sangue, os místicos alentejanos (místicos com ou sem Deus), tímidos e orgulhosos, os mais fraternos dos portugueses, homens, através dos tempos, de chapéu na cabeça, de mãos vazias, o ar severo e triste, prestes a colherem o amor ou o ódio, a medirem-se, instintivamente, pelo seu espaço."



(Excerto de O Alentejo - Urbano Tavares Rodrigues)

quarta-feira, julho 20, 2005

Saudade imensa

Recebi da Olinda, amiga de longa data e companheira de muitos bons momentos, vividos na terra que trago no coração, este poema que não resisti em publicar.


Lembras-te ?

Eras criança grande …

Tinhas sonhos, ilusões,

Que tu acalentavas,

Dentro dos livros que usavas.

Tinhas amores reprimidos,

Que te faziam sonhar,

Tinhas momentos vividos,

Que não podias contar.




Anos passados...

Depois...

De tudo podes falar.




Da amizade que nos unia ,

Das «partidas» que fazíamos,

Dos pontos que copiávamos,

Dos amores que escondíamos,

Pelos colegas que amávamos.




Anos passados...

Depois...




Neste dia encontrámos,

Os jovens que então fomos,

E,lembrando o passado,

Recordámos lado a lado,

Numa saudade imensa,

Sem mágoa e em presença.

Os jovens que foram passado.

(Olinda B.)

terça-feira, julho 19, 2005

À Maneira de Horácio

Feliz aquele que disse o poema ao som da lira

À mesa do banquete entre os amigos

E coroado estava de rosas e de mirto



Seu canto nascia da solar memória dos seus dias

E da pausa mágica da noite -

Seu canto celebrava

Consciente da areia fina que escorria

Enquanto o mar as rochas desgastava



(1994-Sophia de Mello Breyner Andresen)

Castelo de Alvito - Pousada

PORQUE VOLTO

  PORQUE VOLTO . Volto, porque há dias antigos que ainda nos agarram com o cheiro da terra lavrada, onde em cada ano, enterrávamos os pés e ...