terça-feira, outubro 21, 2008
sábado, outubro 18, 2008
JOSÉ-AUGUSTO DE CARVALHO
CANTARES
Eu canto as horas amargas
das cargas e das descargas
das barcas de arrojo e pinho...
Eu canto os longes das rotas
abertas pelas gaivotas
com asas de níveo linho...
Eu canto as horas sombrias
de medos e de agonias
no mais além da tormenta...
Eu canto as horas de luto,
naufrágios, febre, escorbuto,
sabor de cravo e pimenta...
Eu canto no Cabo Não
o sim de passar ou não,
mas nunca o retroceder...
Eu canto os Cabos da Dor!
Gil Eanes -- Bojador,
tormentas de estarrecer...
Eu canto as Áfricas virgens,
feridas desde as origens
de mágoas e predadores...
Eu canto as Índias da História,
cobiças, dramas e glória
de incenso e de roxas cores...
Eu canto os áureos Brasis,
a cana em negro matiz
de açúcar de acres sabores...
Eu canto a nesga europeia
do Poeta e da Epopeia
do Fado das nossas dores...
A FLOR DA FANTASIA
Em terras do Alentejo, há muito emurcheceu,
no sonho de Aladim, a flor da fantasia.
Sem noites de luar, o canto emudeceu
e um manto de tristeza o nada silencia.
O sol é um incêndio, um caos de idolatria,
que o tempo-amar-e-ser há muito corrompeu...
Em terras do Alentejo, há muito emurcheceu,
no sonho de Aladim, a flor da fantasia.
Ai, que assombrada voz meu sono escureceu!
Que pesadelo em mim só me anoitece o dia...
O dia que eu queria e nunca amanheceu!
Saudade do que fui! A flor da fantasia,
em terras do Alentejo, há muito emurcheceu...
SONETO PARA SHERAZADE
O grito que ressoa acorda o sonho antigo
As crinas dos corcéis ondulam anelantes
Nas dunas do deserto em fogo onde me abrigo
Os teus apelos de alma e coração distantes
No tempo e no lugar, as sedes de outras fontes
Em ti o lago pleno, ocaso de afluentes
Depois de ti não pode haver mais horizontes
Que mais, além de ti, se tudo em ti consentes
Escondes sob o véu os lábios purpurinos
Sedentos de áurea lava em tragos de ambrosia
Prometes no teu ventre anseios levantinos
Gemidos de luar de cálida estesia
Teu grito no meu grito, o grito definido
Aurora recusando o tempo interrompido
José-Augusto de Carvalho é natural de Viana do Alentejo.
Aconselho uma visita ao seu blog TEMPOS DO VERBO
sábado, outubro 11, 2008
Luis de Camões
Pintor Adophe-William Bouguereau
Transparências do Pintor Abreu Pessegueiro
O beijo da pintora Maria Helena Pais de Abreu
Quem pudera julgar de vós, Senhora,
que com tal fé podia perder-vos,
e vir eu por amor a aborrecer-vos?
Que hei-de fazer sem vós somente uma hora?
Deixaste quem vos ama e vos adora;
tomastes quem quiçá não sabe ver-vos.
Eu fui o que não soube merecer-vos
e tudo entendo e choro, triste, agora.
Nunca soube entender vossa vontade
nem a minha mostrar-vos verdadeira,
ainda que está tão clara esta verdade.
Em mim viverá ela sempre inteira;
e, se para perder já a vida é tarde,
a morte não fará que vos não queira.
Transparências do Pintor Abreu Pessegueiro
Busque Amor novas artes, novo engenho
para matar-me, e novas esquivanças;
que não pode tirar-me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.
Que dias há que na alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e dói não sei porquê.
O beijo da pintora Maria Helena Pais de Abreu
Correm turvas as águas deste rio,
que as do Céu e as do monte as enturbaram;
os campos florecidos se secaram,
intratável se fez o vale, e frio.
Passou o verão, passou o ardente estio,
umas coisas por outras se trocaram;
os fementidos Fados já deixaram
do mundo o regimento, ou desvario.
Tem o tempo sua ordem já sabida;
o mundo, não; mas anda tão confuso,
que parece que dele Deus se esquece.
Casos, opiniões, natura e uso
fazem que nos pareça desta vida
que não há nela mais que o que parece.
terça-feira, outubro 07, 2008
BORBA - ENCONTRO DE BLOGS
PROGRAMA
Borba, 9 de Novembro de 2008
(até às) 10h30 – Recepção, na Festa da Vinha e do Vinho;
11h00 – Mesa Redonda, no Pavilhão de Espectáculos da Festa da Vinha e do Vinho;
13h00 – Almoço, na Festa da Vinha e do Vinho;
15h00 – Foto de Grupo, seguida de Visita à Festa da Vinha e do Vinho
Tarde Livre
Inscrições para o Encontro: AQUI, deve constar o nome do blog, o nome do seu administrador, número de acompanhantes. O inscrito deve fornecer igualmente outro meio de contacto que não o endereço electrónico (por exemplo nº de telemóvel ou telefone fixo), de forma a que se possa comprovar a veracidade da inscrição. Apenas será divulgado o nome do blog, os restantes dados fornecidos não serão divulgados.
Prazo limite de inscrições: dia 2 de Novembro (não serão aceites inscrições depois desta data).
A Mesa Redonda está aberta a todos os interessados, não carecendo de inscrição prévia. Esta conversa será moderada, e contará com bloggers convidados.
O Alto da Praça é o blog organizador deste Encontro em estreita colaboração com a Comissão Instaladora da Associação Nacional de Blogs e a Câmara Municipal de Borba.
Visite o ENCONTRO DE BLOGS - BORBA 2008
domingo, outubro 05, 2008
ATÉ SEMPRE PROFESSOR FERNANDO PEIXOTO
FERNANDO PEIXOTO Professor de História do Teatro na ESAP - Escola Superior Artística do Porto. Na Universidade do Porto investigador de História Contemporânea na área da Política Institucional .
Estava doente há poucos meses, mas era grave e não conseguiu ganhar esta batalha.
TEATRO
Para o Marcelo Romano, com a admiração do autor
Fazer teatro, não é
deixar a vida correr,
cruzar os braços, viver,
deixar correr o marfim;
e se às vezes se diz sim,
muitas vezes se diz não.
Embora custe ao actor
manter o direito ao pão,
não hesita em dizer NÃO
quando um NÃO é a verdade,
e mantém a liberdade
de dizer que não, que sim,
por questão de dignidade,
porque o Teatro é assim.
Porque o Teatro é a vida
e a verdade é o seu norte,
o actor desafia a sorte
e a mentira é vencida.
Mas na luta desigual
entre a verdade e a mentira,
se nuns despoleta a ira,
noutros reforça o Amor,
e nesta dicotomia
que é o Teatro, afinal,
vence o Bem, que é a Verdade,
cai a Mentira, que é o Mal.
E a máscara da ilusão
com que o homem se disfarça
fica prostrada no chão
ante o humor de uma farsa.
Sempre assim foi e será
(é essa a nossa certeza)
porque o Teatro é a manhã
que dá vida à natureza,
porque o Teatro é a alegria
de saber que vale a pena
transferir o dia-a-dia
para o âmago da Cena.
E repleto de esperança,
sereno, firme e seguro,
o actor é uma criança
que acredita no futuro.
E faz da crença um Amor
tão largo, grande e profundo,
que mesmo pobre, o Actor,
é o mais rico do mundo!
FERNANDO PEIXOTO
Portugal
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