terça-feira, outubro 21, 2008

ROGÉRIO MARTINS SIMÕES




ASA DE BORBOLETA


Queria dedicar-te um canto
Nesta terna e longa viagem
Através da poesia.
Queria dar-te uma flor
Que jamais seque algum dia.
Pois ser feliz é esquecer
A amargura do momento
E só assim a vida é sublime
Bonita, ao mesmo tempo
Como este mar
Que nos separa
Nesta noite amena e calma.

Silêncio! Que o meu luar
Vai beijar a tua alma.






TEUS OLHOS...

Teus olhos são dois ímanes
Que me agarram a ti
Tua boca é a miragem
A mais bela que já vi

Olho para ti em vertigem
Cubro-me com o teu ardor
Vivo na ânsia de te ter
Junto a mim meu amor

Será para ti, minha alma bela,
Meu coração revestido a oiro
Eu te ofereço a minha vida
Em troca de ti, tesoiro

Minha miragem serena
Criada em tempos de primavera
Escuta em palavra amena
A minha eterna quimera

Teus olhos são a imagem
Que me agarram a ti
Tua boca é a miragem
E a mais bela que perdi...





CAEM LÁGRIMAS

Rolam-me na face
Caem no chão
Secam com o vento
As lágrimas tristes
Do meu coração!

Continuo escrevendo,
Versando tua beleza,
Apenas interrompido
Por longos suspiros
Da grande tristeza
De meu coração!

E, se depois penso
Que jamais serás minha:
Rolam lágrimas
Pelo rosto molhado
Caem no chão!
Secam com o vento!
As lágrimas tristes
Do meu coração.






CEIFEIRA CAMPO DE TRIGO A CRESCER


Há terra lavrada
E vida nas ceifeiras.
Há trigo desejado
Em cada espiga cortada:
Nasceram os filhos
Às ceifeiras!
E ouvem-se pelos montes
Cantos da esperança
Por cada nova jornada:
Cantem!
Porque chora uma criança.

Há terra lavrada
E vida nas ceifeiras
Haja alegria
Pois a espiga doirada
Deu mais trigo à jornada.
Viva o trigo a crescer
O povo a viver
Pois em cada espiga cortada
Há uma força redobrada
Da natureza a parir.
Viva! A espiga doirada
De trigo a sorrir.





DARFUR - SUDÃO


Era uma noite, tão noite,
nem uma só luz existia,
as velas, acesas, não brilhavam.
Lá fora nem luar havia…

Metia medo!
Ninguém dizia!
Ninguém murmurava…
O silêncio era gélido!
Esperavam o dia,
e os corações sangravam…
Medrosa agonia,
Metia medo!
Ninguém diria…

Vieram os cavaleiros de negro…
Despedaçaram as portas!
Violaram! Mataram!
Derramaram o sangue!
Verteram-se as lágrimas!
Levaram os moços!
Incendiaram o chão!
Queimaram os corpos em pira!
Envenenaram os poços!
E partiram sedentos de ira!
Que tragédia é essa - Sudão?

Voltou o dia!
Fez-se noite!
Viram-se de novo as estrelas!
Que é do teu povo Sudão?





O "Beja-Dando Voz aos Poetas" tem imenso gosto em publicar hoje alguns poemas do Amigo ROGÉRIO MARTINS SIMÕES. Lutador em várias frentes, solidário com as boas causas, tem enfrentado com denodo e sacrifício a doença Parkinson que lhe foi diagnosticada. No seu blog POEMAS DE AMOR E DOR há um mundo de poesia que aconselho seja conhecido se bem que este blog com intensa projecção em Portugal e no Brasil já atingiu números record de visitantes.
Agradeço a disponibilidade e consentimento do ROGÉRIO SIMÕES para a sua entrada nesta galeria de Poetas no "BEJA".

As imagens que acompanham os poemas são pinturas de sua Esposa, ELISABETE SOMBREIREIRO PALMA, natural de Beja.Pinta a óleo desde 2003.Para melhor conhecerem esta Pintora coloquei na coluna da direita um vídeo com alguns dos seus trabalhos.

sábado, outubro 18, 2008

JOSÉ-AUGUSTO DE CARVALHO



CANTARES

Eu canto as horas amargas
das cargas e das descargas
das barcas de arrojo e pinho...

Eu canto os longes das rotas
abertas pelas gaivotas
com asas de níveo linho...

Eu canto as horas sombrias
de medos e de agonias
no mais além da tormenta...

Eu canto as horas de luto,
naufrágios, febre, escorbuto,
sabor de cravo e pimenta...

Eu canto no Cabo Não
o sim de passar ou não,
mas nunca o retroceder...

Eu canto os Cabos da Dor!
Gil Eanes -- Bojador,
tormentas de estarrecer...

Eu canto as Áfricas virgens,
feridas desde as origens
de mágoas e predadores...

Eu canto as Índias da História,
cobiças, dramas e glória
de incenso e de roxas cores...

Eu canto os áureos Brasis,
a cana em negro matiz
de açúcar de acres sabores...

Eu canto a nesga europeia
do Poeta e da Epopeia
do Fado das nossas dores...







A FLOR DA FANTASIA

Em terras do Alentejo, há muito emurcheceu,
no sonho de Aladim, a flor da fantasia.
Sem noites de luar, o canto emudeceu
e um manto de tristeza o nada silencia.

O sol é um incêndio, um caos de idolatria,
que o tempo-amar-e-ser há muito corrompeu...
Em terras do Alentejo, há muito emurcheceu,
no sonho de Aladim, a flor da fantasia.

Ai, que assombrada voz meu sono escureceu!
Que pesadelo em mim só me anoitece o dia...
O dia que eu queria e nunca amanheceu!
Saudade do que fui! A flor da fantasia,
em terras do Alentejo, há muito emurcheceu...






SONETO PARA SHERAZADE

O grito que ressoa acorda o sonho antigo
As crinas dos corcéis ondulam anelantes
Nas dunas do deserto em fogo onde me abrigo
Os teus apelos de alma e coração distantes

No tempo e no lugar, as sedes de outras fontes
Em ti o lago pleno, ocaso de afluentes
Depois de ti não pode haver mais horizontes
Que mais, além de ti, se tudo em ti consentes

Escondes sob o véu os lábios purpurinos
Sedentos de áurea lava em tragos de ambrosia
Prometes no teu ventre anseios levantinos
Gemidos de luar de cálida estesia

Teu grito no meu grito, o grito definido
Aurora recusando o tempo interrompido





José-Augusto de Carvalho é natural de Viana do Alentejo.

Aconselho uma visita ao seu blog TEMPOS DO VERBO


sábado, outubro 11, 2008

Luis de Camões

Pintor Adophe-William Bouguereau



Quem pudera julgar de vós, Senhora,

que com tal fé podia perder-vos,

e vir eu por amor a aborrecer-vos?

Que hei-de fazer sem vós somente uma hora?



Deixaste quem vos ama e vos adora;

tomastes quem quiçá não sabe ver-vos.

Eu fui o que não soube merecer-vos

e tudo entendo e choro, triste, agora.



Nunca soube entender vossa vontade

nem a minha mostrar-vos verdadeira,

ainda que está tão clara esta verdade.



Em mim viverá ela sempre inteira;

e, se para perder já a vida é tarde,

a morte não fará que vos não queira.



Transparências do Pintor Abreu Pessegueiro



Busque Amor novas artes, novo engenho

para matar-me, e novas esquivanças;

que não pode tirar-me as esperanças,

que mal me tirará o que eu não tenho.



Olhai de que esperanças me mantenho!

Vede que perigosas seguranças!

Que não temo contrastes nem mudanças,

andando em bravo mar, perdido o lenho.



Mas, conquanto não pode haver desgosto

onde esperança falta, lá me esconde

Amor um mal, que mata e não se vê.



Que dias há que na alma me tem posto

um não sei quê, que nasce não sei onde,

vem não sei como, e dói não sei porquê.



O beijo da pintora Maria Helena Pais de Abreu





Correm turvas as águas deste rio,

que as do Céu e as do monte as enturbaram;

os campos florecidos se secaram,

intratável se fez o vale, e frio.



Passou o verão, passou o ardente estio,

umas coisas por outras se trocaram;

os fementidos Fados já deixaram

do mundo o regimento, ou desvario.



Tem o tempo sua ordem já sabida;

o mundo, não; mas anda tão confuso,

que parece que dele Deus se esquece.



Casos, opiniões, natura e uso

fazem que nos pareça desta vida

que não há nela mais que o que parece.


terça-feira, outubro 07, 2008

BORBA - ENCONTRO DE BLOGS






PROGRAMA

Borba, 9 de Novembro de 2008

(até às) 10h30 – Recepção, na Festa da Vinha e do Vinho;

11h00 – Mesa Redonda, no Pavilhão de Espectáculos da Festa da Vinha e do Vinho;

13h00 – Almoço, na Festa da Vinha e do Vinho;

15h00 – Foto de Grupo, seguida de Visita à Festa da Vinha e do Vinho

Tarde Livre

Inscrições para o Encontro: AQUI, deve constar o nome do blog, o nome do seu administrador, número de acompanhantes. O inscrito deve fornecer igualmente outro meio de contacto que não o endereço electrónico (por exemplo nº de telemóvel ou telefone fixo), de forma a que se possa comprovar a veracidade da inscrição. Apenas será divulgado o nome do blog, os restantes dados fornecidos não serão divulgados.

Prazo limite de inscrições: dia 2 de Novembro (não serão aceites inscrições depois desta data).

A Mesa Redonda está aberta a todos os interessados, não carecendo de inscrição prévia. Esta conversa será moderada, e contará com bloggers convidados.

O Alto da Praça é o blog organizador deste Encontro em estreita colaboração com a Comissão Instaladora da Associação Nacional de Blogs e a Câmara Municipal de Borba.

Visite o ENCONTRO DE BLOGS - BORBA 2008

domingo, outubro 05, 2008

ATÉ SEMPRE PROFESSOR FERNANDO PEIXOTO




FERNANDO PEIXOTO Professor de História do Teatro na ESAP - Escola Superior Artística do Porto. Na Universidade do Porto investigador de História Contemporânea na área da Política Institucional .
Estava doente há poucos meses, mas era grave e não conseguiu ganhar esta batalha.





TEATRO

Para o Marcelo Romano, com a admiração do autor


Fazer teatro, não é
deixar a vida correr,
cruzar os braços, viver,
deixar correr o marfim;
e se às vezes se diz sim,
muitas vezes se diz não.
Embora custe ao actor
manter o direito ao pão,
não hesita em dizer NÃO
quando um NÃO é a verdade,
e mantém a liberdade
de dizer que não, que sim,
por questão de dignidade,
porque o Teatro é assim.
Porque o Teatro é a vida
e a verdade é o seu norte,
o actor desafia a sorte
e a mentira é vencida.

Mas na luta desigual
entre a verdade e a mentira,
se nuns despoleta a ira,
noutros reforça o Amor,
e nesta dicotomia
que é o Teatro, afinal,
vence o Bem, que é a Verdade,
cai a Mentira, que é o Mal.
E a máscara da ilusão
com que o homem se disfarça
fica prostrada no chão
ante o humor de uma farsa.

Sempre assim foi e será
(é essa a nossa certeza)
porque o Teatro é a manhã
que dá vida à natureza,
porque o Teatro é a alegria
de saber que vale a pena
transferir o dia-a-dia
para o âmago da Cena.
E repleto de esperança,
sereno, firme e seguro,
o actor é uma criança
que acredita no futuro.

E faz da crença um Amor
tão largo, grande e profundo,
que mesmo pobre, o Actor,
é o mais rico do mundo!


FERNANDO PEIXOTO

Portugal

PORQUE VOLTO

  PORQUE VOLTO . Volto, porque há dias antigos que ainda nos agarram com o cheiro da terra lavrada, onde em cada ano, enterrávamos os pés e ...