quarta-feira, setembro 04, 2019

A VERDADE É QUE FOMOS




A VERDADE É QUE FOMOS de RAUL DE CARVALHO 
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A verdade é que fomos 
feitos do mesmo sangue 
violento e humilde 
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A verdade é que temos 
ambos a graça de compreender 
todos os homens e todas as estrelas 
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A verdade é que Deus 
nos ensinou 
que este é o tempo da razão ardente. 
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Deus hoje deu-me um pouco 
do que toda a vida lhe pedi 
foi esta calma e simples aceitação 
de que é preciso que estejas 
longe de mim 
para que amando eu possa conservar 
o meu coração puro. 
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As ruas hoje pareciam mais largas 
e mais claras 
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As casas e as pessoas 
pareciam diferentes 
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Foi só o tempo de pedir a Deus 
que prolongasse o generoso engano. 
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Tu ensinaste-me as palavras simples 
as palavras belas 
as palavras justas 
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E fizeste com que eu já não saiba 
falar de outra maneira. 
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O amor substitui 
o Sol — que tudo ilumina. 
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Sonhar contigo é quase como 
saber que existo para além de mim. 
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Se basta que de mim te lembres 
para que o sono facilmente venha 
porque não hás-de dar-me amor a paz 
com que o meu coração de há tanto tempo sonha 
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Vês como é tão simples 
ter o coração 
tão perto da terra 
e os olhos nos olhos 
e a alma tão perto 
da tua alma 
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Por que será 
que quanto mais repartimos 
o coração 
maior e mais nosso ele fica? 
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Raul Maria de Carvalho (Alvito, 4 de Setembro de 1920 — Porto, 3 de Setembro de 1984), foi um poeta português.

Foi incluído no lote dos 100 melhores poetas do século XX português, por Jorge de Sena e Eduardo Lourenço considerou-o herdeiro de Álvaro de Campos.
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Em 1997, a Câmara Municipal de Alvito instituiu o "Prémio de poesia Raul de Carvalho". Para além de homenagear o poeta local, este prémio pretende ainda apoiar e divulgar de novos talentos.
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