terça-feira, agosto 09, 2005

A Rosa de Hiroshima




De novo é publicado este poema de Vinícius de Moraes


Que o Homem o decore de vez para impedir que se repita tal gesto de desumanidade,
de desamor, de indiferença pela vida humana.



.


Pensem nas crianças

Mudas telepáticas

Pensem nas meninas

Cegas inexatas

Pensem nas mulheres

Rotas alteradas

Pensem nas feridas

Como rosas cálidas

Mas oh não se esqueçam

Da rosa da rosa

Da rosa de Hiroshima

A rosa hereditária

A rosa radioativa

Estúpida e inválida

A rosa com cirrose

A anti-rosa atômica

Sem cor sem perfume

Sem rosa sem nada




(Vinícius de Moraes)
(Foto-Joaquim Chitas - Fotografia na Net)

Bicicleta de Recados





Na minha bicicleta de recados

eu vou pelos caminhos.

Pedalo nas palavras atravesso as cidades

bato às portas das casas e vêm homens espantados

ouvir o meu recado ouvir minha canção.

.

Na minha bicicleta de recados

eu vou pelos caminhos.

Vem gente para a rua a ver a novidade

como se fosse a chegada

do João que foi à Índia

e era o moço mais galante

que havia nas redondezas.

Eu não sou o João que foi à Índia

mas trago todos os soldados que partiram

e as cartas que não escreveram

e as saudades que tiveram

na minha bicicleta de recados

atravessando a madrugada dos poemas.

.

Desde o Minho ao Algarve

eu vou pelos caminhos.

E vêm homens perguntar se houve milagre

perguntam pela chuva que já tarda

perguntam pelos filhos que foram à guerra

perguntam pelo sol perguntam pela vida

e vêm homens espantados às janelas

ouvir o meu recado ouvir minha canção.

.

Porque eu trago notícias de todos os filhos

eu trago a chuva e o sol e a promessa dos trigos

e um cesto carregado de vindima

eu trago a vida

na minha bicicleta de recados

atravessando a madrugada dos poemas.

(Manuel Alegre)

Foto Fotografia na net - mealha

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