sábado, julho 10, 2021

AS ESTRELAS

AS ESTRELAS. 

 Boas amigas, imortais estrelas,
 Eu vos comparo, oh níveas criaturas, 
 Ao ver-vos caminhar n'essas Alturas,
 A um rebanho de lúcidas gazelas.
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 Bem se assemelha o vosso olhar ao delas, 
 Ninho de amor e ternas amarguras,
 Mas sois mais puras que as gazelas puras, 
 Boas amigas, imortais estrelas! 
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 As vezes, levo as noites, fielmente, 
 A vos seguir aí nas nebulosas 
 Planícies como um cão triste e dormente...
 . 
 Mas vós fugis de mim!—silenciosas 
 Mergulhais no Infinito, de repente, 
 Como um bando de letras luminosas.
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 Luís Guimarães Junior

 Foto de ALLOXA

domingo, julho 04, 2021

MAS QUE SEI EU

 


MAS QUE SEI EU
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Mas que sei eu das folhas no outono
ao vento vorazmente arremessadas
quando eu passo pelas madrugadas
tal como passaria qualquer dono?
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Eu sei que é vão o vento e lento o sono
e acabam coisas mal principiadas
no ínvio precipício das geadas
que pressinto no meu fundo abandono
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Nenhum súbito súbdito lamenta
a dor de assim passar que me atormenta
e me ergue no ar como outra folha
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qualquer. Mas eu que sei destas manhãs?
As coisas vêm vão e são tão vãs
como este olhar que ignoro que me olha
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RUY BELO

Nasceu a 27 Fevereiro 1933
(Rio Maior, Portugal)
Morreu em 08 Agosto 1978
(Queluz, Portugal)

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Rui de Moura Belo foi um poeta e ensaísta português.
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Foto de Irina Z. 

sábado, julho 03, 2021

ANSEIOS

 



Anseios

Meu doido coração aonde vais,
No teu imenso anseio de liberdade?
Toma cautela com a realidade;
Meu pobre coração olha que cais!

Deixa-te estar quietinho! Não amais
A doce quietação da soledade?
Tuas lindas quimeras irreais
Não valem o prazer duma saudade!

Tu chamas ao meu seio, negra prisão!...
Ai, vê lá bem, ó doido coração,
Não te deslumbre o brilho do luar!

Não estendas tuas asas para o longe...
Deixa-te estar quietinho, triste monge,
Na paz da tua cela, a soluçar!...

Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"

PORQUE VOLTO

  PORQUE VOLTO . Volto, porque há dias antigos que ainda nos agarram com o cheiro da terra lavrada, onde em cada ano, enterrávamos os pés e ...