quinta-feira, agosto 20, 2009

A NOITE NA ILHA




Dormi contigo toda a noite

junto ao mar, na ilha.

Eras doce e selvagem entre o prazer e o sono,

entre o fogo e a água.



Os nossos sonos uniram-se

talvez muito tarde

no alto ou no fundo,

em cima como ramos que um mesmo vento agita,

em baixo como vermelhas raízes que se tocam.



O teu sono separou-se

talvez do meu

e andava à minha procura

pelo mar escuro

como dantes,

quando ainda não existias,

quando sem te avistar

naveguei a teu lado

e os teus olhos buscavam

o que agora

-pão, vinho, amor e cólera -

te dou às mãos cheias,

porque tu és a taça

que esperava os dons da minha vida.



Dormi contigo

toda a noite enquanto

a terra escura gira

com os vivos e os mortos,

e ao acordar de repente

no meio da sombra

o meu braço cingia a tua cintura.

Nem a noite nem o sono

puderam separar-nos.



Dormi contigo

e, ao acordar, tua boca,

saída do teu sono,

trouxe-me o sabor da terra,

da água do mar, das algas,

do âmago da tua vida,

e recebi teu beijo,

molhado pela aurora,

como se me viesse

do mar que nos cerca.



Pablo Neruda - Os Versos do Capitão

Tradução de Albano Martins

Foto da net


PORQUE VOLTO

  PORQUE VOLTO . Volto, porque há dias antigos que ainda nos agarram com o cheiro da terra lavrada, onde em cada ano, enterrávamos os pés e ...