quinta-feira, fevereiro 23, 2012
quarta-feira, fevereiro 22, 2012
EU ONTEM VI -TE ...
Eu ontem vi-te...
Andava a luz
do teu olhar,
que me seduz,
a divagar
em torno de mim.
E então pedi-te,
não que me olhasses,
mas que afastasses,
um poucochinho,
do meu caminho,
um tal fulgor.
De medo, amor,
que me cegasse,
me deslumbrasse
fulgor assim.
ANGELO DE LIMA
Poeta natural do Porto
1872-1921
Foto de Olga Filatoff
sábado, fevereiro 18, 2012
FRÉMITO DO MEU CORPO A PROCURAR-TE
Frémito do meu corpo a procurar-te,
Febre das minhas mãos na tua pele
Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel,
Doido anseio dos meus braços a abraçar-te,
Olhos buscando os teus por toda a parte,
Sede de beijos, amargor de fel,
Estonteante fome, áspera e cruel,
Que nada existe que a mitigue e a farte!
E vejo-te tão longe! Sinto a tua alma
Junto da minha, uma lagoa calma,
A dizer-me, a cantar que me não amas ...
E o meu coração que tu não sentes,
Vai boiando ao acaso das correntes,
Esquife negro sobre um mar de chamas ...
FLORBELA ESPANCA
Foto de Sergey Ryzhkov
domingo, fevereiro 12, 2012
ETERNIDADE
Será a tua cama
a minha cama
aquela onde revolvo
um sono acidentado?
Onde dormes de lado
ou vigias
o modo alheio que a madrugada
abre
Será tua a proposta
deste encontro
ou será meu este amor
que arde?
Uma flor de fogo
que incendeia
a nossa cama antes do fim
da tarde
Se é tua a dúvida
e minha esta certeza
daquilo que despimos
e na cama tarda?
O vestido descendo pelas ancas
sendo
da sede o que segura
e na seda aguarda
Será tua a vitória
e minha esta derrota
de não poder segurar-te
a vida inteira?
Por mais que queira
a eternidade guarda
o tempo que por ela
já se esgueira
MARIA TERESA HORTA
Foto de Nataly Ugolnikova
quinta-feira, fevereiro 09, 2012
LEMBRANÇA
Flor tão pura da madrugada,
Tive-a nas mãos!
Deixei-a ir
No vendaval…
Eu ia cego
Na ínvia estrada,
Envolto em sombras
E pesadelos…
Eu ia pálido
E já vencido.
Ela passou
E pôs as mãos
Na minha alma,
E descerrou
Ao meu olhar
- Ó luz tão bela -
O sol da vida.
Grácil flor
Nasceu um dia
Na minha estrada.
Cingi-a ao peito:
E as minhas chagas
Ela beijou!
Foi um instante.
Deixei-a ir…
E fiquei só.
LUIS AMARO
Foto de Ricardo Labastier
quinta-feira, fevereiro 02, 2012
SONETO DE DEVOÇÃO
Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.
Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria.
Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.
Essa mulher é um mundo! - uma cadela
Talvez... _ mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!
VINICIUS DE MORAES
Foto de Tani Shepitko
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