quarta-feira, agosto 31, 2005

B L O G D A Y




.......................................Foto de João Espinho-Terra de Sol

Por ter aderido à iniciativa- BLOGDAY - o "Beja" tem de

recomendar cinco blogs.

Na impossibilidade de apresentar todos os que representam

os meus dedicados amigos vi-me na obrigação de escolher o

número exigido.

Assim indico:

1 - Rain-Maker

-onde cada palavra aliada à respectiva imagem traduz

todo um sentimento onde se adivinha um coração sensível.

2 - Praça

da República em Beja -Fotografia e Sociedade

preocupações irmanadas no mesmo sentir.

3 - Gastr'eat -

Um mundo de informações no campo turístico.

4 - Ilha dos

Mutuns - A vida, a memória, a sensibilidade, todo um

encantamento em cada palavra.

5 - O Micróbio

- Os mais variados temas sempre tratados com

conhecimento, sobriedade e responsabilidade



terça-feira, agosto 30, 2005

O(s) Baile(s)


Naquele tempo era no castelo que se faziam as festas.

Do que mais gostávamos era dos bailes.

Eram dois bailes acompanhados pela mesma música.

Eram dois bailes no mesmo local - o castelo.

No terreiro, de terra batida, sob o mastro colorido de

festões, balões e lanternas de papel, era o mais

concorrido.


Todos aprimorados em seus fatos domingueiros, eles,

com suas jaquetas de dia de festa, alguns com uma flor

na lapela, elas, lindas, em suas blusas floridas de cores

garridas, fazendo sobressair esbeltos bustos.


Aqui no terreiro, ao som da música sempre igual, os

corpos, enlaçados e frementes, rodopiavam, olhos nos

olhos, sempre sob o olhar desconfiado das mães que,

sentadas, vigiavam as moças.


Aqui se fizeram e desfizeram muitos namoricos.


Também por vezes saíam alguns com a cara

avermelhada dalguma chapada que travara uns

avanços mais atrevidos...


Mas se aqui no terreiro, num mar de gente se dançava

assim, o outro baile era na esplanada do castelo.

Piso superior ao terreiro era local indicado para a

gente "bem" da terra.

Funcionários públicos, comerciantes e lavradores que

mantinham assim a distância com o povo do campo.


Elas com seus vaporosos vestidos, alguns

encomendados, em tempo, na cidade.

Eles, perfumados, brilhantina a luzir naqueles cabelos

bem penteados, engravatados em seus melhores fatos.


Deslizavam, dançando, mantendo uma distância

respeitosa a que não era alheia a vigilância materna.


Os do terreiro olhavam com desdém os que dançavam

na esplanada e sorrindo cochichavam com as parceiras.


Na esplanada os olhos dos pares também se

dirigiam para o que se passava em baixo, no

terreiro, e seguiam com ar superior o jeito

da dança.

Aqueles corpos juntinhos no terreiro,

rodopiando como se de um só se tratasse, os

seus sorrisos ingénuos, as suas bocas

aproximando-se a cada passo, as mãos

grossas e calejadas apertando as

companheiras, criavam-lhes um misto de

inveja e desejo.


O terreiro era para os trabalhadores, a esplanada

era para os "finos"



Por vezes o filho dum lavrador, mais afoito, descia a

escadaria e ia dançar para o terreiro. Mil olhos se lhe

cravavam nas costas e a moça que aceitara a dança era

mal vista durante algum tempo...


A noite ia alta quando todos regressavam a casa para

descansar um pouco, pois breve ia começar nova

labuta, manhã cedo, nos campos.


Rostos cansados mas felizes dos que tinham tido nos

braços, por momentos, as mulheres amadas a quem

finalmente tinham declarado e prometido amor eterno.


L.M.



Ausência






Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces

Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.

No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida

E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.

Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.

Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados

Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada

Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.

Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.

Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.

Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.

Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.

Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.

E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.

Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.

Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.

E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.

Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.




(Vinícius de Moraes)



(Foto de Nuno Belo-Solidão-Fotografia na net)

segunda-feira, agosto 29, 2005

BLOGDAY




BLOGDAY


É no próximo dia 31.Como funciona?Durante o dia 31 de Agosto, bloggers de todo o mundo farão um post a recomendar a visita a novos blogs, de preferência, blogs de cultura, pontos de vista ou atitude diferentes do seu próprio blog. Nesse dia, os leitores de blogs poderão navegar e descobrir blogs desconhecidos, celebrando a descoberta de novas pessoas e novos bloggers.Leia aqui.



(Notícia retirada da Praça da República de Beja)

sábado, agosto 20, 2005

ALVITO - FESTAS DA VILA




A L V I T O



Festas da Vila de Alvito



26 de Agosto – Sexta Feira



15h00 – Abertura de exposição de pintura “O Mercado da

Roupa” de Maria Santos

Local: Centro Cultural de Alvito




15h30 - Abertura de exposição de pintura das utentes do

Atelier Sénior da Junta de Freguesia de Alvito

Local: Biblioteca Luís de Camões




22h00 – Actuação do Grupo de Baile “Chave D’ouro”

Local: PULA


No final da noite, “After Hours” no bar das Piscinas Municipais com DJ’s




27 de Agosto - Sábado


22h00 – Actuação do grupo de Baile “Deká”


24h00 – Actuação de Tayti


01h00 – Espectáculo Piromusical


01h30 – Continuação do baile

Local: PULA

3h00 – Garraiada à Alentejana

Local: Junto ao depósito da água


No final da noite, “After Hours” no bar das Piscinas Municipais com DJ’s




28 de Agosto - Domingo


12h00 - Missa em honra de Nossa Srª da Assunção

Local: Igreja Matriz



14h00 – Actividades Desportivas

Local: Piscinas Municipais



18h00 – Procissão em honra de Nª Senhora da Assunção,

acompanhada pela Banda Filarmónica dos Bombeiros

Voluntários de Alvito



22h00 – Festa de Aniversário dos “Campos do Alentejo”, com

a actuação dos Campos do Alentejo de Alvito e Terras

do Regadio de Odivelas

Local: PULA



No final da noite, “After Hours” no bar das Piscinas Municipais com DJ’s






Água de Alvito salva campanha agrícola


A transferência de 18 milhões de metros cúbicos de água da albufeira de Alvito para Odivelas salvou campanha agrícola no perímetro de rega da barragem, no concelho de Ferreira do Alentejo.

A operação foi concluída esta semana. Manuel Reis, presidente da Associação de Beneficiários da Obra de Rega de Odivelas, afirmou à Radio Pax que, "sem esta transferência a campanha agrícola neste perímetro de rega estava comprometida". A barragem de Odivelas rega actualmente 3 mil hectares de culturas. "Os agricultores têm água para regar na campanha em curso", afirmou o dirigente agrícola à radio de Beja. "No próximo ano, contudo, poderão surgir alguns problemas se a seca se mantiver", alertou Manuel Reis .
Sexta, 12 de Agosto de 2005 - 02:24
Fonte: Rádio Pax - Jornalista : N.A.

sexta-feira, agosto 19, 2005

"Ainda Refulge..."



Ainda refulge a chama

que perturbou um dia meus sentidos?


Não se apaga jamais

a luz de certo olhar que em segredo amei?


Chora, em meu coração,

a nostalgia do bem com que sonhei?


Da noite, abismo imenso,

oiço indistinta voz chamar por mim?


O que me falta e inquieta

serás tu, de quem não sei o nome?


Ou todo o sonho erguido é cinza ao vento,

estrela fria, cada vez mais longe

do puro silêncio em que se esvai a vida?


(Luis Amaro - Natural de Aljustrel)
Foto da Net


quinta-feira, agosto 18, 2005

As Mãos



Com mãos se faz a paz se faz a guerra.

Com mãos tudo se faz e se desfaz.

Com mãos se faz o poema – e são de terra.

Com mãos se faz a guerra – e são a paz.



Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.

Não são de pedras estas casas mas

de mãos. E estão no fruto e na palavra

as mãos que são o canto e são as armas.



E cravam-se no Tempo como farpas

as mãos que vês nas coisas transformadas.

Folhas que vão no vento: verdes harpas.



De mãos é cada flor cada cidade.

Ninguém pode vencer estas espadas:

nas tuas mãos começa a liberdade.





Manuel Alegre, O Canto e as Armas, 1967


Foto de Pedro P.Palma - Fotografia na Net

quarta-feira, agosto 17, 2005

Maria Campaniça




Debaixo do lenço azul com sua barra amarela

os lindos olhos que tem!

Mas o rosto macerado

de andar na ceifa e na monda

desde manhã ao sol posto,

mas o jeito das mãos

torcendo o xaile nos dedos

é de mágoa e abandono...

Ai, Maria Campaniça,

levanta os olhos do chão

que eu quero ver nascer o Sol!



(Manuel da Fonseca)



Maria Campaniça, camponesa, campaniça, da aldeia de Salvada, militante do P.C.P desde que se lembrava, trazia pregado na roupa, todo o ano, o emblema do partido em que acreditava.


Aguardava reformas, concretizações.


Morreu nova quando ainda tinha coisas importantes em que pensar, maiores lutas para travar, galeras para subir, manifestações onde erguer o punho, as paredes da sua aldeia para caiar, 4 homens em casa para cuidar, modas alentejanas para cantar.






(Adaptação do texto do blog "Pelos olhos de Caterina")

terça-feira, agosto 16, 2005






Tive amigos que morriam, amigos que partiam


Outros quebravam o seu rosto contra o tempo.


Odiei o que era fácil


Procurei-te na luz, no mar, no vento




(Sophia de Mello Breyner Andersen)




"E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente.

Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros.

Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram

todos os dias felizes que se apagaram.

Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."




(Miguel Sousa Tavares, a propósito da perda de sua Mãe, Sophia Andersen)



(Foto de Pedro P. Palma-Fotografia na Net)

segunda-feira, agosto 15, 2005

O Meu Alentejo


(Clique na imagem para ver em tamanho grande e no endereço de origem)




Meio-dia. O sol a prumo cai ardente,

Doirando tudo...Ondeiam nos trigais

D’oiro fulvo, de leve...docemente...

As papoilas sangrentas, sensuais...



Andam asas no ar; as raparigas,

Flores desabrochadas em canteiros,

Mostram, por entre o oiro das espigas,

Os perfis delicados e trigueiros...



Tudo é tranqüilo, e casto, e sonhador...

Olhando esta paisagem que é uma tela

De Deus, eu penso então: Onde há pintor,



Onde há artista de saber profundo,

Que possa imaginar coisa mais bela,

Mais delicada e linda neste mundo?!





(Florbela Espanca)


(Foto - Alvito de Ricardo Encarnação Ferreira. Fotografia na Net

quinta-feira, agosto 11, 2005

O ALENTEJO





Em Portugal, há duas coisas grandes, pela força e pelo tamanho: Trás-os-Montes e o Alentejo. Trás-os-Montes é o ímpeto, a convulsão; o Alentejo, o fôlego, a extensão do alento. Províncias irmãs pela semelhança de certos traços humanos e telúricos, a transtagana, se não é mais bela, tem uma serenidade mais criadora. Os espasmos irreprimíveis da outra, demasiado instintivos e afirmativos, não lhe permitem uma meditação construtiva e harmoniosa. E compreende-se que fosse do seio da imensa planura alentejana que nascesse a fé e a esperança num destino nacional do tamanho do mundo. Só daquelas ondas de barro, que se sucedem sem naufrágios e sem abismos, se poderia partir com confiança para as verdadeiras. Enquanto a nação andava esquiva pelas serras, ninguém se atreveu a visionar horizontes para lá da primeira encosta. Mas, passado o Tejo, a grei foi afeiçoando os olhos à grande luz das distâncias, e D. Manuel pôde receber ali a notícia da chegada de Vasco da Gama à Índia.


Terra da nossa promissão, da exígua promissão de sete sementes, o Alentejo é na verdade o máximo e o mínimo a que podemos aspirar: o descampado dum sonho infinito, e a realidade dum solo exausto.


Há quem se canse de percorrer as estradas intermináveis e lisas desse latifúndio sem relevos. Há quem adormeça de tédio a olhar a uniformidade da sua paisagem, que no inverno se veste dum pelico castanho, e no verão duma croça madura. Que é parda mesmo quando o trigo desponta, e loura mesmo quando o ceifaram. Queixam-se da melancolia dos estevais negros e peganhosos, que meditam a sua corola branca um ano inteiro, da semelhança aflitiva das azinheiras, que parecem medidas pelo mesmo estalão, e não distinguem nos rebanhos que encontram, quer de ovelhas, quer de porcos, as particularidades que individualizam todo o ser vivo. Afeitos à variedade do Norte, que até aos bichos domésticos consente cara própria e personalidade, aflige-os a constante do Sul, que obriga todo o circunstancial a ocupar o seu lugar de zero diante do infinito. Perdidos e sós no grande descampado, sentem-se desamparados e vulneráveis como crianças. Amedronta-os a solidão de uma natureza que não se esconde por detrás de nenhum acidente, corajosa da sua nudez limpa e total.


Eu, porém, não navego nas águas desses desiludidos. A percorrer o Alentejo, nem me fatigo, nem cabeceio de sono, nem me torno hipocondríaco. Cruzo a região de lés a lés, num deslumbramento de revelação. Tenho sempre onde consolar os sentidos, mesmo sem recorrer aos lugares selectos dos guias. Sem necessitar de ir ver o tempo aprisionado nos muros de Monsaraz, de subir a Marvão, que me lembra um mastro de prendas erguido num terreiro festivo, de passar por Água de Peixes, que é um albergue de frescura e de beleza na torreira dum caminho, ou de visitar a Sempre-Noiva, onde há perpètuamente um perfume de flores de laranjeira a sair do rendilhado das janelas manuelinas. Embriago-me na pura charneca rasa, encontrando encantos particulares nessa pseudo-monotonia rica de segredos. Nada me emociona tanto como um oceano de terra estreme, austero e viril. A palmilhar aqueles montados desmedidos, sinto-me mais perto de Portugal do que no castelo de Guimarães. Tenho a sensação de conquistar a pátria de novo, e de a merecer. O chão das outras províncias já se não vê, ou porque vive coberto pela verdura doméstica de oito séculos, ou porque a erosão levou toda a carne do corpo e deixou apenas os ossos. Mas a terra alentejana pode contemplar-se ainda no estado original, virgem, exposta e aberta. E é nela que encho a alma e afundo os pés, num encontro da raiz com o húmus da origem. Abraço numa ternura primária as léguas e léguas duma argila que permanece disponível mesmo quando tudo parece semeado. O corpo, ali, pode ainda tocar o barro de que Deus o criou.


Mais do que fruir a directa emoção dum lúdico passeio, quem percorre o Alentejo tem de meditar. E ir explicando aos olhos a significação profunda do que vê. Porque cada propriedade se mede por hectares, são em redil os aglomerados, respeitosos da extensão imensa que os circunda, e um suíno, ou relegado à sua malhada, ou a comer bolota no montado, não faz parte da família, – é que o alentejano pôde guardar a sua personalidade. E talvez nada haja de mais expressivo do que esse limite nítido entre a intimidade do homem e a integridade do ambiente. Assegura-se dessa maneira a conservação duma dignidade que o bípede não deve alienar, nem a paisagem perder. Se há marca que enobreça o semelhante, é essa intangibilidade que o alentejano conserva e que deve em grande parte ao enquadramento. O meio defendeu-o duma promiscuidade que o atingiria no cerne. Manteve-o vertical e sozinho, para que pudesse ver com nitidez o tamanho da sua sombra no chão. Modelou-o de forma a que nenhuma força, por mais hostil, fosse capaz de lhe roubar a coragem, de lhe perverter o instinto, de lhe enfraquecer a razão. E é das coisas consoladoras que existem contemplar na feira de qualquer cidade alentejana a compostura natural dum abegão, ou vê-lo passar ao entardecer, numa estrada, com o perfil projectado no horizonte, dentro do seu carro de canudo. É preciso ter uma grande dignidade humana, uma certeza em si muito profunda, para usar uma casaca de pele de ovelha com o garbo dum embaixador.


Foi a terra alentejana que fez o homem alentejano, e eu quero-lhe por isso. Porque o não degradou, proibindo-o de falar com alguém de chapéu na mão.


Mas não são apenas essas subtis razões éticas e geográficas que me fazem gostar do Alentejo. Amo também nele os frutos palpáveis duma harmonia feliz entre o barro e o oleiro. Amo igualmente o que o homem fez e a terra deixou fazer. Diante de um tapete de Arraiolos, ou a ouvir uma canção a um rancho de Serpa, implico o habitante e o habitado no mesmo processo criador, e louvo-os no mesmíssimo entusiasmo. Não há arte onde o homem não é livre e a natureza não quer. Dando às mãos ágeis e fantasistas materiais nobres e moldáveis – o mármore, o cobre, a lã, o coiro, e o barro –, a terra alentejana quis que a vida no seu corpo tivesse beleza. E de Norte a Sul, desde as campanhas da Idanha, que já lhe pertencem, às figueiras algarvias, os seus montes, as suas aldeias, as suas vilas e as suas cidades são marcados por um selo de imaginação e de graça. Aqui uma varanda onde um ferreiro fez renda, acolá um pátio onde um pedreiro inventou uma nova geometria, além uma oficina onde um caldeireiro fabrica ânforas esbeltas e vermelhas como cachopas afogueadas. Aproveitando os incentivos do meio e os recursos do seu génio, o alentejano faz milagres. A própria paisagem sem relevo o estimula. Faltava ali o desenho e a arquitectura, que nas outras províncias existem na própria natureza. Pois bem: concebeu ele o desenho e a arquitectura. E, na mais rasa das planícies, ergueu essa flor de pedra e de luz que é Évora!


Beja tem a sua torre de mármore, com uma tribuna para ver meio Portugal; Portalegre os seus palácios barrocos, para encher de solidão; Elvas o seu aqueduto de sede arqueada e a sua feiura para meter medo aos Espanhóis; Estremoz a sua praça do tamanho de uma herdade. Mas Évora olha os horizontes do alto do seu zimbório espelhado, povoa as casas de lembranças vivas e gloriosas, e, sequiosa apenas do eterno, risonha e aconchegada, enfrenta as agressões do transitório com a força da beleza e a amplidão do espírito.


Será talvez alucinação de poeta. Mas porque nela se documenta inteiramente a génese do que somos, o que temos de lusitanos, de latinos, de árabes e de cristãos, e se encontra registado dentro dos seus muros o caminho saibroso da nossa cultura, – se estivesse nas minhas mãos, obrigava todo o português a fazer uma quarentena ali. Uma lei pública devia forçá-lo a entrar na cidade a desoras, numa noite de luar. E, sem guia, manda-lo deambular ao acaso. Seria um filme maravilhoso da história pátria que se lhe faria ver, com grandes planos, ângulos imprevistos, sombras e sobreposições. Uma retrospectiva completa do que fizemos de melhor e mais puro no intelectual, no político e no artístico. Só de manhã seria dado ao peregrino confirmar com a luz do sol a luz do écran. E se ao cabo da prova não tivesse sentido que num templo de colunas coríntias se pode acreditar em Diana, numa Sé românica se pode acreditar em Cristo, e num varandim de mármore se pode acreditar no amor, seria desterrado.


Compreender não é procurar no que nos é estranho a nossa projecção ou a projecção dos nossos desejos. É explicar o que se nos opõe, valorizar o que até aí não tinha valor dentro de nós. O diverso, o inesperado, o antagónico, é que são a pedra de toque dum acto de entendimento. Ora o Alentejo é esse diverso, esse inesperado, esse antagónico. Tudo nele é novo e bizarro para quem o visita. Os arcos, as silharias, as abóbadas e os coruchéus das suas casas; a açorda de coentro e o gaspacho de alho e vinagre das suas refeições; as insofridas parelhas de mulas guisalheiras a martelar as calçadas ao amanhecer; as pavanas cinegéticas que oferece aos convidados; os magustos de bolota; os safões dos homens e o chapéu braguês das mulheres – são ferroadas no nosso cotidiano. Mas o que tem interesse é precisamente revelar aos olhos, ao paladar e aos ouvidos a novidade dessas descobertas. Mostrar-lhes a originalidade de uma vida que se passa ao nosso lado, e tem o inesperado de uma aventura. E mostrar-lho carinhosamente! Sem espírito de simpatia, tudo se amesquinha e diminui. E coisas grandes, como uma semeada ou uma ceifa no Redondo, podem ser reduzidas à pequenez duma vessada ou duma segada beiroa.


Quem vai ao mar, prepara-se em terra – diz o ditado. Aplicando a fórmula ao Alentejo, teremos de nos preparar para entrar dentro dele. Será preciso quebrar primeiro a nossa luneta de horizontes pequenos, e alargar, depois, o compasso com que habitualmente medimos o tamanho do que nos circunda. Agora as distâncias são intermináveis, e as estrelas, no alto, brilham com fulgor tropical. Teremos, portanto, de mudar de ritmo e de visor.


O Alentejo, visitado por alguém que leve consigo a capacidade emotiva e compreensiva de um verdadeiro curioso, é um Sésamo que se abre. As suas fainas, os seus costumes, as mutações impressionantes do seu rosto quando tem frio ou quando tem calor, os seus trajes e a sua própria fala – são outros tantos motivos de meditação e admiração. Mas o que nele é sobretudo extraordinário e a sua inflexível determinação de conservar uma fisionomia inconfundível, haja o que houver. Pode-se preferir uma região mais maneira ou mais angustiada, e uma gente menos soberba, mais autênticamente humana, e mais sinceramente generosa. Herdades mais à medida dos pés, cultivadas por semelhantes sem o ar de fidalgos a gozar férias rurais. Mas não se pode negar a evidência duma terra que merece como nenhuma este nome maternal e austero, e muito menos a dos filhos altivos e afirmativos que dá, imaginários como poetas e duros como azinhos. Cepa e rebentos de tal modo unidos e conjugados, que formam como que um só corpo e um só espírito. Um corpo hipertrofiado, que hipertrofia o espírito por indução.


O alentejano que sobe ao alto do castelo de Évora-Monte, erguido ali ao lado da térrea casinha da Convenção onde a concórdia da família portuguesa foi assinada, ele que tem o sangue de Giraldo-sem-Pavor a correr-lhe nas veias, que assistiu às façanhas e às hesitações do Condestável, e que fez parte da insurreição do Manuelinho, sente naturalmente dentro de si o irreprimível orgulho dum homem predestinado. A seus pés desdobra-se o extenso palco do seu destino: a infindável planície a que dá vida e movimento. São os rios e os ribeiros secos que faz transbordar de suor, os negros montados que alegra de vez em quando pintando de vermelho cada sobreiro, a sua casinha escarolada e erma com uma mimosa na botoeira, e as searas que ondulam e reverberam num aceno de abundância. Um mundo livre, sem muros, que deixou passar todas as invasões e permaneceu inviolado, alheio às mutações da história e fiel ao esforço que o granjeia. Nenhum limite no espaço e no tempo. Seja qual for o ponto cardial que escolha a inquietação, terá sempre o infinito diante de si, em pousio para qualquer sementeira. E essa eterna pureza e disponibilidade do solo exaltam o ânimo do possuidor.


Sim, pobre ganhão que seja, ele é um rei nos seus domínios. Não há outro português mais rico de pão, agasalhado por tão quente manta de céu e dono de tantos palmos de sepultura. Que minhoto ou estremenho se pode gabar de ver sempre o vulto dum seu irmão, que não tem medo da imensidade, a abrir um risco de fogo e de esperança com a ponta da charrua?



(Miguel Torga)


quarta-feira, agosto 10, 2005

Senhor Vento




Senhor Vento, ó Senhor Vento,

já não me posso conter,

veio a seca, tanto sol,

que anda por aqui a fazer?



Vá-se embora Senhor Vento,

não são horas daqui estar,

não há trevo nem há água

para o gado apascentar.



Tudo seco, Senhor Vento,

ai que morte, que morrer,

não há suco nem há seiva,

cinco meses sem chover...



Se cá ficar, Senhor Vento,

não tempera, só destapa

os horizontes de nuvens,

não há chuva neste mapa.



Tape a chaga, Senhor Vento,

siga siga para o mar,

já lhe disse, vá-se embora,

não são horas daqui estar!



Dou-lhe um tiro, Senhor Vento,

se andar aqui mais um dia,

gira gira, fora fora,

mande a chuva, não se ria.



Obrigado, Senhor Vento,

Empurre as nuvens, agora,

isso mesmo, traga as águas!

De contente, a terra chora.




(Antunes da Silva - Nasceu e faleceu em Évora - 1921-1997)


(Foto Adriana Oliveira - Alentejo - 1000Images)

terça-feira, agosto 09, 2005

A Rosa de Hiroshima




De novo é publicado este poema de Vinícius de Moraes


Que o Homem o decore de vez para impedir que se repita tal gesto de desumanidade,
de desamor, de indiferença pela vida humana.



.


Pensem nas crianças

Mudas telepáticas

Pensem nas meninas

Cegas inexatas

Pensem nas mulheres

Rotas alteradas

Pensem nas feridas

Como rosas cálidas

Mas oh não se esqueçam

Da rosa da rosa

Da rosa de Hiroshima

A rosa hereditária

A rosa radioativa

Estúpida e inválida

A rosa com cirrose

A anti-rosa atômica

Sem cor sem perfume

Sem rosa sem nada




(Vinícius de Moraes)
(Foto-Joaquim Chitas - Fotografia na Net)

Bicicleta de Recados





Na minha bicicleta de recados

eu vou pelos caminhos.

Pedalo nas palavras atravesso as cidades

bato às portas das casas e vêm homens espantados

ouvir o meu recado ouvir minha canção.

.

Na minha bicicleta de recados

eu vou pelos caminhos.

Vem gente para a rua a ver a novidade

como se fosse a chegada

do João que foi à Índia

e era o moço mais galante

que havia nas redondezas.

Eu não sou o João que foi à Índia

mas trago todos os soldados que partiram

e as cartas que não escreveram

e as saudades que tiveram

na minha bicicleta de recados

atravessando a madrugada dos poemas.

.

Desde o Minho ao Algarve

eu vou pelos caminhos.

E vêm homens perguntar se houve milagre

perguntam pela chuva que já tarda

perguntam pelos filhos que foram à guerra

perguntam pelo sol perguntam pela vida

e vêm homens espantados às janelas

ouvir o meu recado ouvir minha canção.

.

Porque eu trago notícias de todos os filhos

eu trago a chuva e o sol e a promessa dos trigos

e um cesto carregado de vindima

eu trago a vida

na minha bicicleta de recados

atravessando a madrugada dos poemas.

(Manuel Alegre)

Foto Fotografia na net - mealha

segunda-feira, agosto 08, 2005

Poema Para A Mulher Que Passou




Quando ela passou por mim, indiferente

e distraída,

surpreendi-me a pensar, sem querer, de repente

em minha vida ...



Fiquei a imaginar que se lhe acompanhasse

os passos,

num lindo dia como o de hoje,

cheio de sugestões para os nossos desejos,

- talvez ela acabasse por me olhar, sorrindo,

e mais tarde talvez me desse as suas mãos,

e algum dia ficasse abrigada em meus braços

e quisesse os meus beijos...



Se eu a seguisse, ela que nunca me viu,

[e passou distraída

como se eu nem a visse,

se eu a seguisse

pela rua

em meio a tanta gente,

- talvez se transformasse toda a minha vida,

e ao encontro da sua,

minha estrada tomasse um rumo diferente...



No entanto ela se foi... E enquanto eu me deixava

a pensar,

quem sabe se não levou a metade dessa alma

que seria talvez a única metade

capaz de me completar?



Naquele segundo, - pressentimento estranho,

intuição fugaz,

- quis correr, ir buscá-la...

Corri! ... Fui procurá-la

e era tarde demais...



Acaso já pensaste, na grandeza trágica desse segundo

irremediavelmente perdido?

Quem há de nos dizer se ele encerrava um mundo,

esse mundo por nós sonhado há tanto tempo

e há tanto tempo esperado

e querido?



Quem há de nos dizer algum dia, se ele era

a única oportunidade,

que o Destino avarento e impiedoso nos dera

para a felicidade?



Ninguém! ... E ele passou!... Pensa um momento na

[grandeza

desse segundo atroz,

e terás a intuição dolorosa, a certeza

de que é precisamente num segundo desses

que a felicidade

passa por nós!



Queres correr, é em vão !

Hoje estou certo

que nessa angústia eterna ficarás talvez,

- porque a felicidade que passou tão perto

da tua mão

só passa uma vez !





(Poema de J.G.de Araújo Jorge)


Foto Galeria Von Marco WS - Markus Arns)

sábado, agosto 06, 2005

Alvito - Movimento Independente - Autárquicas

Diário do Alentejo edição nº 1212 De 15 a 21 de Julho de 2005


Candidatura independente nas autárquicas em Alvito


João Paulo Trindade, antigo presidente da Estig de Beja, é o candidato do movimento à presidência da Câmara Municipal de Alvito.


O concelho de Alvito protagoniza a primeira candidatura de independentes apresentada formalmente no distrito de Beja, com João Paulo Trindade, professor do Ensino Superior, como cabeça de lista à presidência da Câmara Municipal. De acordo com João Paulo Trindade, este é "um projecto colectivo que não se assume contra os partidos nem sequer contra as candidaturas concorrentes. Foi esta a fórmula encontrada para reunir um conjunto de pessoas interessadas e disponíveis para reflectir em conjunto sobre o rumo a seguir pelas nossas freguesias. É claramente uma alternativa pela positiva".Quanto às expectativas da candidatura do Movimento Independente, garante, o percurso iniciado não terminará no dia da eleições. "Pretendemos manter uma atitude continuada de auscultação e de debate com vista à melhoria das vilas de Alvito e de Vila Nova da Baronia". "Chegou a hora de agir em vez de reagir", defende João Paulo Trindade que aposta na implementação de "um novo estilo na administração da autarquia – uma gestão participada e virada para os utentes. Queremos a mudança de uma abordagem apática e inconsequente face aos problemas existentes, para uma visão coerente, integrada, credível e mobilizadora do nosso futuro comum". Segundo o candidato pelo Movimento Independente é necessária uma gestão "rigorosa, criteriosa, competente e transparente. Estamos seguros que esta é a única forma de conseguirmos "dar a volta" e orientar este concelho no caminho do desenvolvimento. É fundamental que se definam estratégias capazes de garantir, de forma sustentada, o seu desenvolvimento". O Movimento Independente concorre a todos os órgãos autárquicos do município de Alvito. José Manuel Sousa Carvalho, advogado, é o cabeça de lista à Assembleia Municipal; António Charrua, técnico de desporto, encabeça a lista à Junta de Freguesia de Alvito; e Virgínia dos Santos, enfermeira, é a candidata a Vila Nova da Baronia.




Rádio Pax 13 de Julho de 2005 (9:46:19)


Movimento Independente candidata-se a Alvito



Movimento Independente apresenta-se como alternativa em Alvito. João Paulo Trindade é o candidato deste Movimento à presidência da Câmara Municipal daquela vila, nas próximas autárquicas. O docente do Ensino Superior apresenta-se como uma alternativa pela positiva. Este é um movimento que nãose assume contra os partidos, afirma João Paulo Trindade.
Neste momento, o Movimento está a recolher opiniões para depois anunciar o programa eleitoral.
O candidato do Movimento Independente à Assembleia Municipal é José Sousa Carvalho. O cabeça de lista à Junta de Freguesia de Alvito é António Charrua e à Junta de Freguesia de Vila Nova da Baronia, Virgínia dos Santos. Este é o único movimento independente que se candidata às eleições autárquicas no Baixo Alentejo.

sexta-feira, agosto 05, 2005

Poema Mestiço



escrevo mediterrâneo

na serena voz do índico

sangro norte

em coração do sul



na praia do oriente

sou areia náufraga

de nenhum mundo



hei-de

começar mais tarde



por ora

sou a pegada

do passo por acontecer




Mia Couto




Não podia deixar de colocar aqui o comentário do Charlie. Agradeço as suas palavras e

insisto para que crie o seu próprio blog.

.

E no passo por acontecer, nesse lapso de tempo

sem medida,

acontece sempre o nada

Coisa que está no inicio de tudo.

Avanças!

Pensas que fazes Historia.

Pé ao fundo esmagando a areia que lhe toma a

forma e que o vento depois cantará no eterno

exercicio da criação desfazendo a eternidade dum

passo criando a tela para os passos seguintes.

Das gentes que hão de vir.

De passos tão eternos quanto o horizonte infinito,

mas que acaba mesmo ali.

Onde os nossos sonhos começam e acabam.

Levados pelos ventos.

.

Charlie

Alentejo, debruado a Arraiolos



Na dourada planície alentejana
Onde o sol penetra e tudo queima
A falta de água mísera e insana
Quebra a vontade abate a alma

Nessa imensa e dourada pradaria
O vento de suão seca a cortiça
Leva consigo, numa lenta agonia,
O suor a que chamam de preguiça

Mas o Alentejo é belo e majestoso
Quem o ama chama-lhe de formoso
Quem parte volta, nunca diz adeus

Por isso há sempre vozes em coro
Cântico alentejano em vez de choro
A alma alentejana tem a força de Deus



Poemas de Amor e Dor


Rogério M. Simões


19-04-2005

Foto feita perto de Vila Nova da Baronia

A.C.Vera Cruz -(Montra Digital)

quinta-feira, agosto 04, 2005

Soneto




vejo-te debruçada sobre a cama

tão serena e perpétua nos lençóis

que o brilho e a brancura de mil sóis

transformam em velasquez inclinada.



e na serena idade reclinada

jónia, vestal caída, leve e nua

com os meus dedos toco a carne tua

que a minha própria carne tão reclama.



inicio as viagens corporais

que soltas pela mente dão sinais

de incontidos prazeres e paixões.



meço os gestos contidos mas audazes

porque tu me dás, dou-te em intenções;

é assim que nos tornamos mais capazes



de amar, por puro amar, sem condições.




(josé félix)


(Foto de Piotr Kowalski)

quarta-feira, agosto 03, 2005

Ternura

Foto de Paulo Ferreira




Desvio dos teus ombros o lençol

que é feito de ternura amarrotada,

da frescura que vem depois do Sol,

quando depois do Sol não vem mais nada...



Olho a roupa no chão: que tempestade!


há restos de ternura pelo meio,

como vultos perdidos na cidade

em que uma tempestade sobreveio...



Começas a vestir-te, lentamente,

e é ternura também que vou vestindo,

para enfrentar lá fora aquela gente

que da nossa ternura anda sorrindo...



Mas ninguém sonha a pressa com que nós


a despimos assim que estamos sós!




(David Mourão Ferreira)

terça-feira, agosto 02, 2005

Projecto I


O longo muro alentejano e branco

O desejo de limpo e de lisura

Aqui na casa térrea a arquitectura

Tem a clareza nua de um projecto




(Sophia Andresen

Retratos Cativos

Campo de girassóis - Acrílico sobre tela - Maria Teresa Almeida Bielinski - Foto Wilson Lima





Mesmo com a treva sobre os olhos,

vejo ainda nos longes ondulantes o girassol.

No silêncio outonal dos campos de mérida

ou numa xácara do alentejo, aflante ave

que o ocaso não desdoira



– se anoitece de repente e o barro muito antigo

se transforma em silente névoa, são seus esses

revérberos que ainda me conduzem pelo labirinto

dessas tardes em que esvoaçaramos

enoivecidos ao tiro das usinas.



Se alguém me perguntar por um astro

de raiz em terra, sem ademanes, responderei

o girassol – atento guardião das manhãs

da infância vigiando, em seu modo cabeceante,

o lado alvoroçado pela luz.



Quero-o agora, a esse girassol antigo

voltejando no talhão defronte à eira;

juro foi meu pai que o semeou,

ele próprio coisa semeada

num janeiro de aguaceiros.



Fronde gloriosa aberta à iniciação

de estio, vê-lo é chama que infunde

à vista a majestade desses dias subtraídos

à usura. Inda, de ao longe passarem

bandos iluminados pela cegueira,

se apenumbrem campos e horizontes.





(José Luis Tavares -Cidade da Praia - Ilha de Santiago - Cabo Verde - 1967

"Retratos Cativos" in Paraíso Apagado por um Trovão.)

segunda-feira, agosto 01, 2005

Hoje o tempo não me enganou...

(freeimages)




HOJE O TEMPO NÃO ME ENGANOU. Não se conhece uma aragem na tarde. O ar queima, como se fosse um bafo quente de lume, e não ar simples de respirar, como se a tarde não quisesse já morrer e começasse aqui a hora do calor. Não há nuvens, há riscos brancos, muito finos, desfados de nuvens. E o céu, daqui, parece fresco, parece a água limpa de um açude. Penso: talvez o céu seja um mar grande de água doce e talvez a gente não ande debaixo do céu mas sim em cima dele; talvez a gente veja as coisas ao contrário e a terra seja como um céu e quando a gente morre, quando a gente morre, talvez a gente caia e se afunde no céu.





(José Luis Peixoto in Nenhum Olhar (excerto)

Amor Feito Poesia


AMOR...
É um conceito divino,
É dimensão sem medida,
É viagem sem destino,
É melodia da vida.

AMOR...
É um caminho sem fim,
É não ter que perdoar,
É não querer e dizer sim,
É dar tudo o que há p'ra dar !…

AMOR...
É voz da razão que cala,
É ter dor e não sentir,
É o silêncio que fala,
É ver o mundo sorrir.

AMOR...
É sopro de nostalgia,
É canção leve e suave,
É das trevas fazer dia,
É saber de quem não sabe.

AMOR...
É bem mais que sentimento,
É sussurro de magia,
É da alma o alimento,
AMOR...
É hoje aqui…feito poesia!…

Autor: Euclides Cavaco




PORQUE VOLTO

  PORQUE VOLTO . Volto, porque há dias antigos que ainda nos agarram com o cheiro da terra lavrada, onde em cada ano, enterrávamos os pés e ...