quinta-feira, dezembro 22, 2005



CAROLINA



Participo a todos os meus amigos e a todas as minhas amigas o nascimento de Carolina, minha primeira neta, no dia 22 de Dezembro pelas 17H14, com 2,740Kgs. É muito linda. Foi a melhor prenda de Natal.

A Carolina envia um beijinho a todos os visitantes do "Beja" e deseja que todos tenham um Feliz Natal e um Bom Ano Novo.

sábado, dezembro 10, 2005




Desejo que neste Natal,
antes de perceber Jesus nas luzes que piscam pela cidade,
O encontre primeiramente em seu coração.
E, à frente de qualquer palavra que expresse seu desejo de um feliz Natal,
O encontre em suas acções.

Que O encontre não só na alegria que sente ao sair das lojas
com presentes para as pessoas que ama, mas também
na feição triste da criança abandonada nas ruas,
na qual muitas vezes esbarra apressadamente.

Que encontre Jesus no momento em que pegar nas mãozinhas
delicadas de seu filho, lembrando-se das mãozinhas pedintes,
quase sempre sujas de calçada, que só sabem o que significa rudeza.

Que O encontre no abraço de um amigo,
lembrando-se dos tantos que só têm a solidão como companheira.

Que O encontre na feição do idoso da sua família,
lembrando-se daqueles que tanto deram de si a alguém,
e hoje são esquecidos até pela sociedade.

Que O encontre na lembrança suave e sempre viva
daquela pessoa querida que já não está mais fisicamente ao seu lado,
lembrando-se daqueles que já nem se recordam mais quem foram,
enfraquecidos pelo vazio de suas vidas.

Que encontre Jesus na bênção de sua mesa farta
e no aconchego de sua família, lembrando-se daqueles
que mal se alimentam do pão e sequer têm um lar.

Que O encontre não apenas no presente que troca,
mas principalmente na vida que Ele lhe deu como presente.

Que se lembre, então, de agradecer por ser uma pessoa privilegiada
em meio a um mundo tão contraditório!

Que também encontre Jesus à meia- noite do dia 31
e sinta o mistério grandioso da vida, que renasce junto com cada ano.

Então festeje...festeje o ano que acabou não apenas como dias que se
passaram, e sim como mais um trecho percorrido na estrada da sua vida!

Festeje a alegria que lhe extasiou e a dor que lhe fez crescer!
Festeje pelo bem que foi capaz de fazer
e pelo mal que foi capaz de superar!

Festeje o prazer de cada conquista
e o aprendizado de cada derrota!
Festeje por estar aqui!
Festeje a esperança no ano que se inicia, no amanhã!
Festeje a vida!

Abra os braços do coração para receber
os sonhos e expectativas do ano novo.

Rodopie...jogue fora o medo, sinta a vida!...

Sonhe, busque, espere... ame e reame!

Deixe sua alma voar alto...pegar boleia com os fogos coloridos.
Mentalize seus desejos mais íntimos e acredite:
eles também chegarão ao céu.
Ir-se-ão misturar às estrelas, irão penetrar no Universo
e voltarão cheios de energia para se tornarem reais.

Basta querer de verdade, ter fé e nunca, NUNCA desistir deles!
E que seu ano seja, então, repleto de bênçãos e realizações.







Vamos fazer uma paragem. Meditar.
Agradeço aos amigos que, generosamente, me têm acompanhado e prometo voltar mais junto ao fim do ano.

Para todos e suas Famílias vão os votos de um Bom Natal e um Ano Novo pleno de prosperidades.

Abraços

sexta-feira, dezembro 09, 2005




Só mais uma vez...


Queria apenas por um momento,
Poder apagar o passado,
Poder estar ao teu lado,
Para dizer que te amo.

Queria apenas por um instante,
Poder tocar a tua face,
Poder ter o teu amor,
Poder sonhar um pouco mais.

Queria apenas por um minuto,
Poder ser um daqueles silêncios,
Que quando menos se espera,
Surpreende de forma irreverente.

Queria apenas por um segundo,
Poder ser parte do teu pensamento,
Poder ser a cada instante,
Uma lembrança constante,
Que não se apaga mais.

Enfim, queria apenas uma chance,
Para ter um momento do teu amor,
Um minuto do teu silêncio, e...
Todos os segundos do teu pensamento!




quarta-feira, dezembro 07, 2005

ALVITO-Concertos de Natal e Ano Novo




Concertos de Natal e Ano Novo em Alvito


Conforme já vem sendo hábito, em Alvito não há quadra natalícia sem música!

Este ano, celebra-se de novo a “época das Boas Festas” através de duas actuações, uma em Alvito e a outra em Vila Nova da Baronia.

No primeiro concerto, que acontecerá no dia 18, Domingo, na Igreja Matriz de Alvito, pelas 17h00, teremos a actuação do Grupo Coral Vocal DaCapo. Fundado em 1982, tem participado em inúmeros concertos no país e no estrangeiro, sob a direcção vocal do maestro Eduardo Paes Mamede. O grupo conta também com um trabalho em CD, editado em Julho de 2002, como forma de comemoração dos seus 20 anos de actividade.

No dia 6 de Janeiro, Sexta-Feira, pelas 21h00, a música acontecerá em Vila Nova da Baronia e terá lugar, igualmente, na Igreja Matriz daquela localidade. Neste concerto de Ano Novo, ouviremos as vozes do Coral Eborae Musica, precisamente em noite de Reis. O maestro Fernando Teixeira, com vasto e brilhante curriculum, irá conduzir o grupo (constituído há já 18 anos) através de um repertório que destacará belas composições apropriadas à quadra.
A actuação do Eborae Musica incidirá, particularmente, sobre temas compostos pelo prestigiado músico Fernando Lopes Graça, uma vez que se comemora em 2006 o centenário do nascimento deste compositor.


Porque em Alvito também se vive com música, eis uma razão acrescida para a sua visita!

Primeiro Beijo




Estavas ali,
à mercê dos beijos
que íamos partilhar.

Acendíamos nos olhos,
fogueiras de desejo
que disfarçávamos inquietos.


Duas luzes tímidas,
sorvendo ansiosos
as ingenuidades possíveis.


Acontecia numa tarde,
num qualquer Maio cúmplice,
testemunhando sonhos.


Reflectido na planície,
o nosso querer para sempre
que não resultou.


Os pássaros cinzentos,
recusam-se a cantar
como nesse dia.


Vencidos pelo tempo,
vencidos pela distância.
Foi há tanto, tanto tempo…





(Orlando Fernandes in Alentejo…e outros poemas)

terça-feira, dezembro 06, 2005

Para Ti...



"Não te amo mais.
Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como sempre quis.
Tenho certeza que
Nada foi em vão.
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada.
Não poderia dizer jamais que
Alimento um grande amor.
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
EU TE AMO!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais...


Agora lê de baixo para cima.





Clarice Lispector

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Todo dia é menos um dia







Todo dia é menos um dia;
menos um dia para ser feliz;
é menos um dia para dar e receber;
é menos um dia para amar e ser amado;
é menos um dia para ouvir e, principalmente, calar!

Sim, porque calando nem sempre quer dizer
que concordamos com o que ouvimos ou lemos,
mas estamos dando a outrem a chance de pensar,
refletir, saber o que falou ou escreveu.

Saber ouvir é um raro dom, reconheçamos.
Mas saber calar, mais raro ainda.
E como humanos estamos sujeitos a errar.
E nosso erro mais primário, é não saber
ouvir e calar!

Todo dia é menos um dia para dar um sorriso.
Muitas vezes alguém precisa, apenas de um sorriso
para sentir um pouco de felicidade!

Todo dia é menos um dia para dizer:
- Desculpe, eu errei!
Para dizer:
- Perdoe-me por favor, fui injusto!

Todo dia é menos um dia;
Para voltarmos sobre os nossos passos.
De repente descobrimos que estamos muito longe
E já não há mais como encontrar
onde pisamos quando íamos.
Já não conseguiremos distinguir nossos passos
de tantos outros que vieram depois dos nossos.

E se esse dia chega, por mais que voltemos,
estaremos seguindo um caminho, que jamais
nos trará ao ponto de partida.

Por isso use cada dia com sabedoria.
Ouça e cale se não se sentir bem.
Leia e deixe de lado, outra hora você vai conseguir
interpretar melhor e saber o que quis ser dito


(Carlos Drummond de Andrade)

domingo, dezembro 04, 2005

Sonho ou realidade ?...




Procurei-te,
Depois daquele dia aziago.

Imaginava que tudo de novo
seria possível,
que novamente fosses minha.
Nunca o tinhas
deixado de ser…

Não respondeste
ao apelo.
Eu,
Nem quis crer.
Tudo tinhas esquecido?
Tudo tinhas olvidado?

A núvem que
nesse momento
toldou meus olhos
tudo enegreceu.
A própria caminhada
do dia a dia.

Dias, meses, anos,
muitos anos ,
se passaram.

Quantas loucuras.
Quantas mais desilusões.

Num instante
tua imagem
deslisou a meu lado.

Sonho, realidade?

Não houve uma palavra
de lado a lado.
Nossos olhos enevoados
se entenderam.
Tristes somente
se beijaram
num sonho impossível.

O tempo passara.
Passara tanto tempo.

Éramos os mesmos
sorrindo um para o outro.

Tarde demais…

Seguimos nossos destinos,
corações apertados,
olhos tristes.


Continuo à tua procura…



LM Abril/2005

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Coração Vagabundo







Meu coração não se cansa

De ter esperança

De um dia ser tudo o que quer

Meu coração de criança

Não é só a lembrança

De um vulto feliz de mulher

Que passou por meus sonhos

Sem dizer adeus

E fez dos olhos meus

Um chorar mais sem fim

Meu coração vagabundo

Quer guardar o mundo

Em mim

(Letra e música de Caetano Veloso)









AUSÊNCIA


Deixa secar no meu rosto
Esse pranto de amor que a presença desatou
Deixa passar o desgosto
Esse gosto da ausência que me restou
Eu tinha feito da saudade
A minha amiga mais constante
E ela a cada instante
Me pedia pra esperar

E foi tudo o que eu fiz, te esperei tanto
Tão sozinho no meu canto
Tendo apenas o meu canto pra cantar
Por isso deixa que o meu pensamento
Ainda lembre um momento a saudade que eu vivi
A tua imagem fiel
Que hoje volta ao meu lado
E que eu sinto que perdi



(Vinícius de Moraes)

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Retrato




Um silêncio, um olhar, uma palavra:

Nasceste assim na minha vida,

Inesperada flor de aroma denso,

Tão casual e breve...





Já te visionara no meu sonho,

Imagem de segredo, esparsa ao vento

Da noite rubra, delicada, intacta.

E pressentira teu hálito na sombra

Que minhas mãos desenham, inquietas.





Existias em mim. O teu olhar

Onde cintila, pura, a madrugada,

Guardara-o no meu peito, ó invisível,

Flutuante apelo das raízes

Que teimam em prender-te, minha vida!




(Luis Amaro)

quarta-feira, novembro 30, 2005

"Ainda Refulge ..."





Ainda refulge a chama

que perturbou um dia meus sentidos?



Não se apaga jamais

a luz de certo olhar que em segredo amei?



Chora, em meu coração,

a nostalgia do bem com que sonhei?



Da noite, abismo imenso,

oiço indistinta voz chamar por mim?



O que me falta e inquieta

serás tu, de quem não sei o nome?



Ou todo o sonho erguido é cinza ao vento,

estrela fria, cada vez mais longe

do puro silêncio em que se esvai a vida?



(Luís Amaro)

terça-feira, novembro 29, 2005

Triste Outono




Que triste o fim da tarde vai ficando
com árvores a chorar ramos despidos,
e as folhas amarelas esvoaçando…
São pássaros perdidos!
Com o rosto colado na vidraça
mergulho neste céu meio pardacento,
manto dum tempo, insípido e sem graça…
Nostálgico e cinzento!
Murmúrios sem calor, soltos no ar
povoam um crepúsculo de Outono
e as vozes das gaivotas sobre o mar…
São gritos de abandono!
Pudesse eu agarrar a fé perdida,
gritando ao triste Outono: quem me dera,
que minha alma, que no mundo anda perdida…
Encontre a Primavera!
Quem sabe, se na contra luz do espaço,
dum igual fim de dia tão agreste,
não nascerá espontâneo o teu abraço…
Como uma flor silvestre!
A noite vem caindo, mansamente,
um odor a chão molhado anda no ar,
sereno, cerro meus olhos docemente…
E deixo-me embalar!




(Orlando Fernandes in Alentejo ... e Outros Poemas)

sexta-feira, novembro 25, 2005

MANUEL ALEGRE o Nosso CANDIDATO



Manuel Alegre em entrevista ao Público

Esta candidatura é um facto novo que desarruma os hábitos e o sistema

Por Maria José Oliveira e José Manuel Fernandes
24.11.2005


Manuel Alegre assume que o seu "contrato presidencial" apresenta propostas concretizáveis e defende que realizar um pacto económico e social não é uma aproximação ao "bloco central". Para além da estabilidade política, é necessário dar prioridade
ao combate a tensões sociais que possam surgir com a crise económica. Por isso, o candidato entende que o Presidente da República deve ter um papel mais interventivo, tentando restabelecer a confiança dos portugueses no sistema político-partidário. Alegre advoga ainda que o magistério não deve ser apenas de influência, mas também de "essência"




A alternativa Manuel Alegre
O passado de luta de Manuel Alegre, a sua postura política e o prestígio de que goza como poeta e escritor permitem-lhe ambicionar um resultado positivo e eventualmente a passagem a uma segunda volta nas eleições. E, se isso acontecer, pode até vir a vencê-las. De resto, para surpresa de muitos, esse cenário aparece como perfeitamente plausível, segundo as sondagens até agora efectuadas.
[Elísio Estanque, Professor Universitário, Militante do PS, 24.11.2005]







Debaixo das Oliveiras


Este foi o mês em que cantei
dentro de minha casa
debaixo
das oliveiras.

O mês em que a brisa me pôs nas mãos
uma harpa de folhas
e a terra me emprestou
sua flauta e sua lua.
Maré viva. Meu sangue atravessado
por um cometa visível a olho nu
tangido por satélites e aves de arribação
navegado por peixes desconhecidos.

Este foi o mês em que cantei
como quem morre e ressuscita
no terceiro dia
de cada sílaba.

O mês em que subi a uma colina
dentro de minha casa
olhei a terra e o mar
depois cantei
como quem faz com duas pedras
o primeiro lume. Palavras
e pedras. Palavras e lume
de uma vida.

Este foi o mês em que fui a um lugar santo
dentro de minha casa.
O mês em que saí dos campos
e me banhei no rio como quem se baptiza
e cantei debaixo das oliveiras
as mãos cheias de terra. Palavras
e terra
de uma vida.

Este foi o mês em que cantei
como quem espelha ao vento suas cinzas
e cresce de seu próprio adubo
carregado de folhas. Palavras
e folhas
de uma vida.

O mês em que a mulher
tocou meus ombros com sua graça
e me deu a beber
a água pura do seu poço.
Este foi o mês em que o filho
derramou dentro de mim
o orvalho e o sol
de sua manhã.

O mês em que cantei
como quem de si se perde e reencontra
nas coisas novamente nomeadas.

Este foi o mês em que atravessei montanhas
e cheguei a um lugar onde as palavras
escorriam leite e mel.
MILAGRE MILAGRE gritaram dentro de mim
as aves todas da floresta.

Então reparei que era o lugar do poema
o lugar santo onde cantei
entre mulher e o filho
como quem dá graças.

Este foi o mês em que cantei
dentro de minha casa
debaixo
das oliveiras.


(Manuel Alegre)





Nota do "Beja": Se estiver interessado em conhecer mais notícias e pormenores da Candidatura à Presidência da República clique em MANUEL ALEGRE

quarta-feira, novembro 23, 2005

Grande Edgar

Ilustração de Artur de Carvalho




Já deve ter acontecido com você.

— Não está se lembrando de mim?

Você não está se lembrando dele. Procura, freneticamente, em todas as fichas armazenadas na memória o rosto dele e o nome correspondente, e não encontra. E não há tempo para procurar no arquivo desativado. Ele esta ali, na sua frente, sorrindo, os olhos iluminados, antecipando sua resposta. Lembra ou não lembra?

Neste ponto, você tem uma escolha. Há três caminhos a seguir.

Um, curto, grosso e sincero.

— Não.

Você não está se lembrando dele e não tem por que esconder isso. O "Não" seco pode até insinuar uma reprimenda à pergunta. Não se faz uma pergunta assim, potencialmente embaraçosa, a ninguém, meu caro. Pelo menos entre pessoas educadas. Você deveria ter vergonha. Passe bem. Não me lembro de você e mesmo que lembrasse não diria. Passe bem. Outro caminho, menos honesto mas igualmente razoável, é o da dissimulação.

— Não me diga. Você é o... o...

"Não me diga", no caso, quer dizer "Me diga, me diga". Você conta com a piedade dele e sabe que cedo ou tarde ele se identificará, para acabar com sua agonia. Ou você pode dizer algo como:

— Desculpe, deve ser a velhice, mas...

Este também é um apelo à piedade. Significa "não tortura um pobre desmemoriado, diga logo quem você é!". É uma maneira simpática de você dizer que não tem a menor idéia de quem ele é, mas que isso não se deve a insignificância dele e sim a uma deficiência de neurônios sua.

E há um terceiro caminho. O menos racional e recomendável. O que leva à tragédia e à ruína. E o que, naturalmente, você escolhe.

— Claro que estou me lembrando de você!

Você não quer magoá-lo, é isso! Há provas estatísticas de que o desejo de não magoar os outros está na origem da maioria dos desastres sociais, mas você não quer que ele pense que passou pela sua vida sem deixar um vestígio sequer. E, mesmo, depois de dizer a frase não há como recuar. Você pulou no abismo. Seja o que Deus quiser. Você ainda arremata:

— Há quanto tempo!

Agora tudo dependerá da reação dele. Se for um calhorda, ele o desafiará.

— Então me diga quem sou.

Neste caso você não tem outra saída senão simular um ataque cardíaco e esperar, e falsamente desacordado, que a ambulância venha salvá-lo. Mas ele pode ser misericordioso e dizer apenas:

— Pois é.

Ou:

— Bota tempo nisso.

Você ganhou tempo para pesquisar melhor a memória. Quem será esse cara meu Deus? Enquanto resgata caixotes com fichas antigas no meio da poeira e das teias de aranha do fundo do cérebro, o mantém à distância com frases neutras como jabs verbais.

— Como cê tem passado?

— Bem, bem.

— Parece mentira.

— Puxa.

(Um colega da escola. Do serviço militar. Será um parente? Quem é esse cara, meu Deus?)

Ele esta falando:

—Pensei que você não fosse me reconhecer...

—O que é isso?!

—Não, porque a gente às vezes se decepciona com as pessoas.

—E eu ia esquecer de você? Logo você?

—As pessoas mudam. Sei lá.

— Que idéia. (é o Ademar! Não, o Ademar já morreu. Você foi ao enterro dele. O... o... como era o nome dele? Tinha uma perna mecânica. Rezende! Mas como saber se ele tem uma perna mecânica? Você pode chutá-lo amigavelmente. E se chutar a perna boa? Chuta as duas. "Que bom encontrar você!" e paf, chuta uma perna. "Que saudade!" e paf, chuta a outra. Quem é esse cara?)

— É incrível como a gente perde contato.

— É mesmo.

Uma tentativa. É um lance arriscado, mas nesses momentos deve-se ser audacioso.

— Cê tem visto alguém da velha turma?

— Só o Pontes.

— Velho Pontes! (Pontes. Você conhece algum Pontes? Pelo menos agora tem um nome com o qual trabalhar. Uma segunda ficha para localizar no sótão. Pontes, Pontes...)

— Lembra do Croarê?

— Claro!

— Esse eu também encontro, às vezes, no tiro ao alvo.

— Velho Croarê. (Croarê. Tiro ao alvo. Você não conhece nenhum Croarê e nunca fez tiro ao alvo. É inútil. As pistas não estão ajudando. Você decide esquecer toda cautela e partir para um lance decisivo. Um lance de desespero. O último, antes de apelar para o enfarte.)

— Rezende...

— Quem?

Não é ele. Pelo menos isto esta esclarecido.

— Não tinha um Rezende na turma?

— Não me lembro.

— Devo esta confundindo.

Silêncio. Você sente que esta prestes a ser desmascarado.

Ele fala:

— Sabe que a Ritinha casou?

— Não!

— Casou.

— Com quem?

— Acho que você não conheceu. O Bituca. (Você abandonou todos os escrúpulos. Ao diabo com a cautela. Já que o vexame é inevitável, que ele seja total, arrasador . Você esta tomado por uma espécie de euforia terminal. De delírio do abismo. Como que não conhece o Bituca?)

— Claro que conheci! Velho Bituca...

— Pois casaram.

É a sua chance. É a saída. Você passou ao ataque.

— E não avisou nada?

— Bem...

— Não. Espera um pouquinho. Todas essas acontecendo, a Ritinha casando com o Bituca, O Croarê dando tiro, e ninguém me avisa nada?

— É que a gente perdeu contato e...

— Mas meu nome tá na lista meu querido. Era só dar um telefonema. Mandar um convite.

— É...

— E você acha que eu ainda não vou reconhecer você. Vocês é que se esqueceram de mim.

— Desculpe, Edgar. É que...

— Não desculpo não. Você tem razão. As pessoas mudam. ( Edgar. Ele chamou você de Edgar. Você não se chama Edgar. Ele confundiu você com outro. Ele também não tem a mínima idéia de quem você é. O melhor é acabar logo com isso. Aproveitar que ele esta na defensiva. Olhar o relógio e fazer cara de "Já?!".)

— Tenho que ir. Olha, foi bom ver você, viu?

— Certo, Edgar. E desculpe, hein?

— O que é isso? Precisamos nos ver mais seguido.

— Isso.

— Reunir a velha turma.

— Certo.

— E olha, quando falar com a Ritinha e o Manuca...

— Bituca.

— E o Bituca, diz que eu mandei um beijo. Tchau, hein?

— Tchau, Edgar!

Ao se afastar, você ainda ouve, satisfeito, ele dizer "Grande Edgar". Mas jura que é a última vez que fará isso. Na próxima vez que alguém lhe perguntar "Você está me reconhecendo?" não dirá nem não. Sairá correndo.


(Luís Fernando Veríssimo)


Texto extraído do livro "As Mentiras que os Homens Contam", Editora Objetiva - Rio de Janeiro, 2001, pág. 13.

terça-feira, novembro 22, 2005

Traz Outro Amigo Também




Amigo
Maior que o pensamento
Por essa estrada amigo vem
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também

Em terras
Em todas as fronteiras
Seja benvindo quem vier por bem
Se alguém houver que não queira
Trá-lo contigo também


Aqueles
Aqueles que ficaram
(Em toda a parte todo o mundo tem)
Em sonhos me visitaram
Traz outro amigo também

(Zeca Afonso)

sexta-feira, novembro 18, 2005

Porque Volto

Foto aérea de ALVITO retirada do livro O CASTELO DE ALVITO com texto de Fialho de Almeida - Edição da Fundação da Casa de Bragança - 1946




Volto,
porque há dias antigos
que ainda nos agarram
com o cheiro da terra lavrada,
onde em cada ano,
enterrávamos os pés e os sonhos.


Volto,
porque os olhos dos pastores,
continuam chorando
estios sem pastagens,
onde na terra gretada
o rosmaninho já secou.


Volto,
porque me doem as recordações
dos lugares perdidos,
onde há nomes de gentes,
que me deixaram marcas,
sulcadas na pele e na alma.


Volto,
porque ainda quero correr,
atrás das cotovias
que cantavam nas eiras,
quando o pão de trigo,
nascia nas mãos dos homens.


Volto,
porque em tardes de sol,
há espaços na planície quente,
onde velas de moinhos decadentes,
ainda gritam o teu nome ao vento,
enquanto moem saudades velhas.


Volto,
porque ouço canções tristes,
que os últimos cantadores,
penduram nas oliveiras abandonadas,
e que se arrastam comigo,
embalando nostalgias
fechadas dentro de mim.


Volto,
porque o verde dos trigais
é da cor da esperança em colheitas,
que possam merecer a pena,
e porque as derradeiras cegonhas,
ainda moram nas torres das igrejas.


Volto,
porque irremediavelmente,
luto por agarrar o tempo,
como outrora tentava
apanhar as rãs assustadas,
que se esgueiravam nos charcos.


Volto,
porque o meu Alentejo,
é o último dos redutos,
onde consigo esconder os sonhos
que ainda trago fechados,
nas minhas mãos desesperadas!



(Orlando Fernandes in Alentejo…e Outros Poemas)





Amigos:

- Como já devem ter reparado tenho postado no "Beja" vários trabalhos de Orlando Fernandes. A razão é simples. Os seus poemas traduzem indubitavelmente o nosso grito de alma de alentejanos obrigados ao exilio. Cada palavra sua é o retrato fiel duma imagem que nos acompanha em todos os momentos. Cada composição é um acontecimento que todos já vivemos. Lendo este Poeta Alentejano custa menos a saudade que nos consome. Obrigado Orlando Fernandes pela partilha do teu talento. Podes crer que muitas vezes os teus poemas são interrompidos na leitura porque os olhos, respondendo ao apelo da saudade, o não permitem.


---Desejo a todos os Amigos um bom fim de semana e prometo visitá-los em seus blogs nos próximos dias. Continuo a recomendar uma visita ao SABIA QUE...? e ao POÉTICUS

quinta-feira, novembro 17, 2005

Manuel Alegre no Porto

Foto de Dias dos Reis




Liberdade



Aqui nesta praia onde

Não há nenhum vestígio de impureza,

Aqui onde há somente

Ondas tombando ininterruptamente,

Puro espaço e lúcida unidade,

Aqui o tempo apaixonadamente

Encontra a própria liberdade.



(Sophia de Mello Breyner Andresen)






Alegre quer sacudir o País como Humberto Delgado
Para evocar 'general sem medo', candidato até foi à varanda da sede saudar apoiantes
[david mandim / DN, 17.11.2005]


Manuel Alegre apressou-se a confessar uma "certa emoção" por estar na cidade do Porto. Mais ainda, por inaugurar a sua sede de campanha num segundo andar de um edifício da Praça Carlos Alberto, muito perto da varanda, onde, em 1958, o general Humberto Delgado "deu uma grande sacudidela no medo e abalou o regime" salazarista.
Na abertura da sede portuense, Alegre teve ao lado figuras como Jorge Costa e Pedro Abrunhosa.

Volvidos 47 anos, Alegre propõe também uma "sacudidela", agora "no marasmo, no seguidismo" e "renovar os ideais do 25 de Abril". E não resistiu, qual candidato sem medo, a ir à varanda saudar a meia centena de apoiantes que estavam na praça portuense.

Com uma candidatura que "é um acto de liberdade", Manuel Alegre seguiu a evocação de Humberto Delgado para criticar aqueles que estão na política "menos por convicção que por carreirismo e não por fidelidade à democracia". "Não me candidato contra ninguém. Tenho uma causa e um projecto", assegurou, ladeado pelo futebolista Jorge Costa - "se fosse treinador seria sempre primeira escolha" -, pelo músico Pedro Abrunhosa -a quem, por engano, chamou Rui - e pelo arquitecto Manuel Correia Vicen- te, seu mandatário distrital. Também o escritor Mário Cláudio enviou uma mensagem de apoio.

"Cumprir e fazer cumprir a constituição" é o objectivo do candidato que recusa ser menorizado. "Estou a lutar para ser eleito. Não sou um candidato marginal. Quero evitar a eleição de Cavaco Silva na primeira volta, para na segunda volta, com toda a esquerda e com todos os portugueses" ser eleito presidente, disse o deputado socialista, consciente que o "combate é difícil, porventura desigual, mas vale a pena".

"Mas não há vencedores antecipados", afirmou. "Quiseram coroar o candidato Cavaco Silva, mas ele vai ter que ir à luta, aos debates, disputar a eleição com outros candidatos", acrescentou, para logo completar "Mas não é apenas para travar um candidato, é ter um projecto." E neste projecto encaixa "um presidente da República que deve ter um papel activo, que seja um provedor da democracia".

Por isso, se chegar a Belém, Alegre promete "não falar das forças do bloqueio" e questionar logo a Assembleia da República se "candidatos pronunciados pela Justiça poderão ser eleitos para cargos públicos". Alegre considera que é mau "Não creio que seja um acto prestigiante para a democracia."

Na sua intervenção, insistiu que é o único a correr sem o "apoio de nenhum partido" e sem "nenhuns interesses por detrás". Isto para dizer que a candidatura tem poucos meios mas é apoiada por gente sincera e com causas. "Comovo-me muito quando chegam cheques de cinco ou dez euros", disse.

Caso seja eleito, pretende lutar por tornar "os direitos políticos inseparáveis dos direitos sociais". É tempo de mudar, porque "há trinta anos se pedem sacrifícios ao povo". Agora, Alegre deseja que "os custos das mudanças sejam repartidos por todos".

Foi o final de um dia totalmente passado no Porto. De manhã, Alegre visitou a delegação do Instituto Português de Sangue, onde criticou o aumento das taxas moderadoras, anunciado pelo ministro Correia de Campos. "Temos de ter consciência que temos um País com dois milhões de cidadãos em estado de pobreza, mais meio milhão de desempregados e muita gente a viver de um salário mínimo que é dos mais baixos da Europa", justificou.

No dia temático da inovação, o candidato defendeu uma aposta no conhecimento tecnológico e científico, patente na actividade do instituto. À tarde, e depois de um almoço com dirigentes da Federação de Associações Juvenis, visitou uma empresa de informática em Perafita, Matosinhos, que definiu como um bom exemplo de empreendedorismo.
(...)

quarta-feira, novembro 16, 2005

Alentejo




A luz que te ilumina,
Terra da cor dos olhos de quem olha!
A paz que se adivinha
Na tua solidão
Que nenhuma mesquinha
Condição
Pode compreender e povoar!
O mistério da tua imensidão
Onde o tempo caminha
Sem chegar!...


(Miguel Torga)


Castro Verde





VII Aniversário do Lumière


Além da habitual programação cinematográfica e, à semelhança de anos anteriores, voltamos a ter entre nós personalidades do panorama cinematográfico português. A convite do Lumière, o actor Nicolau Breyner vai partilhar connosco pormenores desse magnifico mundo que é o cinema e falar-nos dos seus mais recentes projectos. A presença do actor está agendada para dia 22 de Novembro, pelas 21h30, no Fórum Municipal. A propósito da presença do actor, volta a ser exibido o filme os “Imortais” de António Pedro Vasconcelos, dia 18 de Novembro, na Antiga Fábrica Prazeres & Irmão.

No dia 25 de Novembro, o Cine-Teatro Municipal (21h30) recebe o espectáculo Melodias da Disney, uma proposta musical para toda a família que reúne as mais belas canções das histórias de animação e convida a revisitar personagens como “Robin Hood”, “Aladino”, “A Pequena Sereia”, “Tarzan”, “O Rei Leão” e “Shrek”, entre tantos outros. Lilia Matos, que recentemente integrou o elenco do musical “Kiss Kiss”, dá voz a este espectáculo que se apresenta como uma simbiose entre música, multimédia, teatro e improviso.





Presenças

Exposição de Ana Martins


Abertura da exposição Presenças, de Ana Martins, agendada para dia 18 de Novembro, no átrio do Cine-Teatro, pelas 18h00. Foi no âmbito do Projecto FÁBRICA, que Ana Martins concebeu "Presenças", uma exposição que reúne obras de pintura e que vai estar patente até 31 de Dezembro.

Ana Martins nasceu em Lisboa, em 1986 e reside em Castro Verde. Apaixonada desde muito nova pelas artes plásticas, dá os primeiros passos com a temática pictórica figurativa, onde se destacam o pastel, o óleo e mais tarde o acrílico.

As suas obras, são caracterizadas pela diversidade temática e técnica, sempre influenciadas por aquilo que a rodeia, esforçando-se pelo equilíbrio visual e por despertar emoções no observador.





O Mistério da Camioneta Fantasma

Companhia de Teatro A'Barraca


A peça de teatro “O Mistério da Camioneta Fantasma”, realiza-se no Cine-Teatro Municipal de Castro Verde, dia 20 de Novembro, pelas 21h30.

“O Mistério da Camioneta Fantasma” encena um episódio sangrento da nossa história recente. No dia 19 de Outubro de 1921, onze anos após a implantação da República, uma «camioneta fantasma» percorreu a cidade de Lisboa e a coberto de um golpe revolucionário raptou e assassinou importantes figuras da República, como o primeiro-ministro António Granjo, Machado Santos, Carlos da Maia e o Almirante Botelho de Vasconcelos. Presos e condenados os autores destes crimes, ficaram para sempre imunes os autores morais. Pouco depois, registava-se o golpe de 28 de Maio e decretava-se silêncio absoluto sobre os acontecimentos da noite sangrenta levada a cabo pela camioneta fantasma.



Companhia de Teatro A'Barraca
Texto e Encenação: Hélder Costa
Cenografia: José Manuel Castanheira
Figurinos: Maria do Céu Guerra
Elenco: André Nunes, Bruno Cochat, João D’Ávila, Luís Thomar, Patrícia Adão Marques, Pedro Borges, Rita Fernandes, Ruben Garcia, Sérgio Moras, Susana Costa.

segunda-feira, novembro 14, 2005

Contrato Presidencial




Contrato Presidencial

Candidatura à Presidência da República
de Manuel Alegre de Melo Duarte

Lisboa, 4 de Novembro de 2005


Razões da candidatura

A leitura do texto integral pode ser feita aqui no site do Candidato



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Abaixo el-rei Sebastião

É preciso enterrar el-rei Sebastião
é preciso dizer a toda a gente
que o Desejado já não pode vir.
É preciso quebrar na ideia e na canção
a guitarra fantástica e doente
que alguém trouxe de Alcácer Quibir.

Eu digo que está morto.
Deixai em paz el-rei Sebastião
deixai-o no desastre e na loucura.
Sem precisarmos de sair o porto
temos aqui à mão
a terra da aventura.

Vós que trazeis por dentro
de cada gesto
uma cansada humilhação
deixai falar na vossa voz a voz do vento
cantai em tom de grito e de protesto
matai dentro de vós el-rei Sebastião.

Quem vai tocar a rebate
os sinos de Portugal?
Poeta: é tempo de um punhal
por dentro da canção.
Que é preciso bater em quem nos bate
é preciso enterrar el-rei Sebastião.

Manuel Alegre







Da Weasel triunfa no Olympia em Paris

A mítica sala por onde passou Amália Rodrigues encheu-se de portugueses, luso-descendentes e franceses para ouvir o sexteto da margem sul, num concerto que acabou por ser uma grande festa.

No final, o vocalista do grupo, Pacman, confessou aos jornalistas que se sentiu "em casa".
O feito dos Da Weasel é tanto maís extraordinário quanto o seu sucesso em Paris ocorre num momento de grande tensão social em França, abalada por eclosões de violência urbana de grupos de jovens em revolta.

sexta-feira, novembro 11, 2005


Desejo-vos um bom dia de S. Martinho e um óptimo fim de semana, com muitas castanhas e alguma "água-pé". Cuidado com a estrada.



Lembro que o SABIA QUE ...? continua a editar temas importantes. Não deixe de o visitar.





Também e a pedido de um grande amigo convido-vos a visitarem POÉTICUS o blog que lembra os nossos Poetas.

Porque



Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.



(Sophia de Mello Breyner Andresen)

terça-feira, novembro 08, 2005

Manuel Alegre - O Nosso Candidato






«Trova do Vento que Passa»


Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

(Manuel Alegre)





****
Perguntas que não podem deixar de ser feitas
[A candidatura de Manuel Alegre 31.10.2005]



A nossa candidatura não ataca ninguém. Define-se por um projecto próprio e considera todas as outras candidaturas em pé de igualdade.
Mas têm sido proferidas afirmações às quais, pela sua surpreendente agressividade, não podemos deixar de reagir.
Com todo o respeito e consideração, há perguntas que não podem deixar de ser feitas a Jerónimo de Sousa: contra quem está ele a combater? Contra Cavaco Silva ou contra Manuel Alegre? Por quem está ele a fazer campanha? Pela sua candidatura ou pela de outro candidato, apoiado por outro partido?



***
Mais cidadania, melhor democracia
[Manuel Alegre 24.10.2005]



Como deputado constituinte, fui co-fundador do actual regime pluripartidário em Portugal. O facto de a minha candidatura ser a única que não depende de nenhum partido político não significa que seja contra os partidos. Como muitas vezes tenho dito, os partidos políticos, de acordo, aliás, com a Constituição, são essenciais à formação democrática da vontade colectiva. Mas não esgotam a democracia. O excessivo peso dos aparelhos partidários afunila, não só os partidos, como toda a vida cívica.
É por isso que é preciso alargar o espaço da cidadania. É esse um dos objectivos centrais da minha candidatura: mais cidadania, melhor democracia.



***
Uma perversão inadmissível
[A candidatura de Manuel Alegre 22.10.2005]



Depois do que se passou na Comissão Nacional do Partido Socialista, a mobilização deste fim de semana em vários plenários distritais torna evidente que o que está em causa para alguns dirigentes não é derrotar Cavaco Silva, mas sim combater Manuel Alegre. De facto, não se ouviu uma palavra do Secretário Geral do PS a criticar a apresentação da candidatura do ex-primeiro ministro e a sua total ausência de propostas para a saída da crise nacional. Pelo contrário, parece que o principal objectivo é condicionar os militantes socialistas que apoiam Manuel Alegre. O que é uma perversão inadmissível da natureza da eleição presidencial e uma forma de limitar a liberdade de escolha de cidadãos eleitores que, pelo facto de militarem num partido político, não podem ver-se privados dos seus direitos constitucionais.

sexta-feira, novembro 04, 2005

Naquele Tempo





Naquele tempo,
ainda haviam amoras nos silvados
à beira de ribeiras transparentes.

Naquele tempo,
ainda haviam papoilas nos trigais
para enfeitar os cabelos das ceifeiras.

Naquele tempo,
mergulhávamos nos pegos das herdades,
onde em paz nadavam as pardelhas.

Naquele tempo,
os morangos cheiravam na boca
e as maçãs amadureciam nos ramos.

Naquele tempo,
os primeiros versos envergonhados
eram escondidos nos cadernos da escola.

Naquele tempo,
éramos inocentes, generosos e simples,
como as aves que cruzavam o azul do céu.


Mas isso… era naquele tempo,
porque as nossas almas ainda estavam brancas!


Orlando Fernandes in Alentejo...e Outros Poemas

quarta-feira, novembro 02, 2005

Os Montes





Vieram de longe
montados em “jeeps
novinhos de ver.

Com ares de cidade
e dinheiro batido,
compraram-te os montes
velhos de cem anos …

Pintaram de cores,
o branco caiado.

Nem poiais de pedra,
nem barras azuis.

Mármores, cantaria,
madeiras pau-santo.

Bancos de baloiço,
mesas em forjado.

Há vinhos franceses,
charutos cubanos,
e amigos de longe,
nos fins-de-semana.

Alentejo, meu país,
não chores as tuas mágoas
atráz dos chaparros velhos …
que essa gente não é tua !

Compram-te as casas,
arruinadas pela pobreza,
e mudam-te as terras de pão,
em jardins …

Moram-te os espaços,
mas não te habitam a alma,
nem sabem cantar como nós …
o lírio roxo do campo !




In POIESIS – Antologia de Poesia e Prosa Poética Portuguesa Contemporânea. Ed. Minerva, Out./1999
ORLANDO FERNANDES - in Alentejo ... e Outros Poemas



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Feira dos Santos em Alvito





Que bom fim de semana prolongado passei em Alvito para assistir à Feira dos Santos. Nem a chuva que copiosamente caiu nos dias anteriores e que já é uma tradição impediu uma multidão de visitantes de ir até esta feira.
Evento que ocupa todas as ruas e praças principais da vila impedindo a circulação normal do trânsito automóvel mas que nos lembra tempos medievais com seu vetusto castelo assistindo a tudo mudo e quedo.
Os frutos secos imperam aqui e todos regressam aos seus lares com um ou mais sacos de nozes, figos, castanhas, amêndoas, avelãs, batata doce eu sei lá que mais.




Tendas onde se vendem presuntos, chouriços, entremeadas, linguiças, de porco branco e do muito apreciado porco preto. Mobiliário decorativo de madeira e de verga.




Mantas, conjuntos de cama, almofadas decorativas, todo o género de quinquilharia, casacos, blusões, camisas e outras peças de vestuário. Carrousséis e pistas de automóveis. Mais comes e bebes por todo o lado. Chineses, ciganos, indianos, africanos, algarvios, beirões e alentejanos, todos mostram e tentam vender os seus produtos.
Uma autêntica grande superfície comercial de levante.
À parte a zona comercial diversas manifestações culturais: Bandas de Música, Ranchos folclóricos,
Chocalheiros, Grupos Corais de Cante Alentejano, Exposição de Antiguidades e Velharias para leiloar, Exposição de cerâmica e pintura “O Cante e o Alentejo” de António Duro, etc. etc. Muito para se ver e apreciar.
Havia de tudo para todos os gostos.

quarta-feira, outubro 26, 2005



Venha visitar a Feira dos Santos/Frutos Secos


Esta é a última feira que se realiza em cada ano na região alentejana. Tal facto, aliado à sua intensa actividade comercial, contribui para o enorme prestígio de que desfruta na região.

Numa altura em que a grande maioria das feiras se tem gradualmente transformado em mero local de diversão, a Feira dos Santos/Frutos Secos tem conciliado, a par desta característica, as vertentes de comércio tradicional e de local de encontro de amigos, particularidades reveladas ano após ano.

Frutos secos, vestuário, utensílios agrícolas, artigos domésticos, são exemplos do intenso comércio que caracteriza a Feira dos Santos, contribuindo para que nos dias de Feira afluam a Alvito milhares de pessoas vindas de todo o País.


Entretanto, tem também havido um grande empenho no sentido de dotar a Feira de actividades de carácter cultural e recreativo que estejam ao nível do seu prestígio.

Visitar a Feira dos Santos/Frutos Secos, é pois, uma “obrigação” e um óptimo pretexto para conhecer Alvito, a sua beleza e o seu património.









PROGRAMA


29 Outubro (Sábado)




Inicio da Semana Gastronómica da Caça (nos restaurantes aderentes do Concelho de Alvito)

9h30 – 2º Passeio Equestre “Feira dos Santos”

10h00 – Torneio de Ténis de Mesa e Corrida de Patins em Linha

10h00 – Abertura de exposição de Antiguidades e Velharias para leiloar na Galeria de Arte (Largo das Alcaçarias, 3A)

16h00 – Abertura da exposição de cerâmica e pintura “O Cante Alentejano”, de António Duro no Centro Cultural de Alvito

17h00 – Abertura oficial da X Mostra de Produtos e Serviços Locais e Regionais, com a presença da Banda Filarmónica dos Bombeiros Voluntários de Alvito, no Quintalão

21h30 – Espectáculo musical com SUDOESTE no Palco da Feira

24h00 – Fecho da X Mostra de Produtos e Serviços Locais e Regionais

02h00 – Fecho dos Bares da Feira



30 Outubro (Domingo)



9h00 - Reabertura da X Mostra de Produtos e Serviços Locais e Regionais

9H30 – Prova de Atletismo

10h00 – Abertura de exposição de Antiguidades e Velharias para leiloar na Galeria de Arte (Largo das Alcaçarias, 3A)

16h00 – Leilão de Antiguidades e Velharias na Galeria de Arte (Largo das Alcaçarias, 3A)

17h00 – Espectáculo musical com CAMPOS DO ALENTEJO no Palco da Feira

21h30 - Espectáculo musical com grupos de Música Popular Portuguesa

24h00 – Fecho da X Mostra de Produtos e Serviços Locais e Regionais

02h00 – Fecho dos Bares da Feira




31 Outubro (2ª Feira)




(Dia com actividades patrocinadas pelo INATEL)

9h00 - Reabertura da X Mostra de Produtos e Serviços Locais e Regionais

15h30 – 1º Festival Etnográfico dos Santos com:
· Chocalheiros de Vila Nova de S. Bento (pelo recinto)
· Bicicleta Gigante (70 ciclistas)
· Rancho Folclórico Verdes Campos (Palco da Feira)
· Grupo de Jogo do Pau (Palco da Feira)

21h30 - Espectáculo musical com Rastemenga (INATEL) no Palco da Feira

24h00 – Fecho da X Mostra de Produtos e Serviços Locais e Regionais

02h00 – Fecho dos Bares da Feira



01 Novembro (3ª Feira)



9h00 – Reabertura da X Mostra de Produtos e Serviços Locais e Regionais

10h00 – Arruada pela Banda Filarmónica dos Bombeiros Voluntários de Alvito

15h00 – Actuação de grupos corais, no Palco da Feira

17h00 - Actuação dos Ganhões de Castro Verde, no Palco da Feira

24h00 – Encerramento da X Mostra de Produtos e Serviços Locais e Regionais.

quinta-feira, outubro 20, 2005

Que fizeram dos nossos sonhos, Manuel ?





Que fizeram dos nossos sonhos, Manuel?





Estou no meu cantinho a escrever as minhas coisas, longe da ribalta. Mas agora tem que ser.

Meu nome é António Mesquita Brehm, tenho 78 anos, e escrevo este depoimento como simples cidadão português e não como Vitório Káli, escritor.



As traições não são apenas de agora e transformam sempre o destino dos homens.



Em 1962 encontrei-me, pela primeira vez, com Manuel Alegre em Luanda. Sacámos o santo e a senha da algibeira para nos identificarmos e, a partir daquele breve instante, metemo-nos numa das maiores aventuras das nossas vidas. Combinámos formar um único grupo com armas na mão e derrubar o regime de Salazar.



A guerra colonial havia começado tempo antes, centenas de colonos portugueses tinham sido cruelmente abatidos nas matas do norte de Angola e alguns milhares de negros sofriam agora perseguições e morte nos musseques de Luanda. A vergastada emocional paralisou os nervos da população. Mas toda a gente lúcida sabia que se tornara imperioso estancar aquele martírio inútil dos nossos povos.

Se tomássemos o poder em Luanda e controlássemos Angola, faríamos um ultimato a Salazar e encetaríamos negociações com os movimentos de libertação para discutirmos as condições da independência do território protegendo não só os direitos naturais dos angolanos como ainda de todos os portugueses que ali viviam.



Foi então, às vésperas do golpe militar, que um oficial nosso compatriota nos traiu (ele e alguns mais) e nos denunciou à PIDE acusando-nos de estarmos a vender Angola às forças de Satanás. Toda a cabeça do grupo revolucionário foi presa e encurralada na Prisão de São Paulo de Luanda. Nas celas pegadas às do Luandino Vieira, do António Jacinto e do António Cardoso, cujos nomes ficaram bem gravados na literatura angolana.



Hoje, na proximidade de grandes decisões para o nosso país, afinal também o mesmo acontece. A traição tem sempre um preço.



Estes factos foram determinantes para a evolução da guerra de Angola. E ela continuou por mais onze anos provocando milhares de mortos e estropiados ao exército português e genocídios aterradores de populações angolanas, a fuga em massa dos nossos colonos que lá deixaram os seus haveres, tudo aquilo que era afinal o resultado de muitos anos de trabalho e esperanças. E a destruição de toda uma economia regional que deveria sustentar o futuro de um dos países africanos mais poderosos, e possibilitando o assalto das elites angolanas e dos oportunistas desta lusa terra ao domínio dos grandes negócios e dos empregos milionários enquanto o povo humilhado sofria a fome, a doença, o estropiamento e o abandono.



Pois isto aconteceu muitos anos antes da revolução do 25 de Abril. E teria certamente apontado novo caminho ao futuro de Portugal e de todas as nossas antigas colónias africanas. Os poderes oficiais, e aquela cáfila que deles se aproveita, fizeram uma lavagem da História. Nunca falaram sobre o golpe militar de 1963 em Luanda. Mas o nosso processo policial está fechado a sete chaves, desde há muito, nos Arquivos da PIDE e um dia será detalhadamente revelado para espanto de muita gente. Também eu publicarei mais tarde meu livro de memórias sobre este período da nossa vida colectiva.



Neste momento da candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República, é meu dever recordar a nossa saga de Angola, a figura lendária do Silva Araújo com o seu esquadrão de 500 guerreiros africanos, o major José Ervedosa que, no comando dos aviões de bombardeamento das bases da Ota e do Montijo da Força Aérea Portuguesa lançou as bombas de napalm nos sítios desertos da região de Malange para desrespeitar as ordens de massacrar os milhares de trabalhadores em greve da Baixa do Cassange, o Felisberto Lemos, gerente da Livraria Lello de Luanda, onde se organizaram também muitos encontros clandestinos, o comandante Jeremias Tschiluango dos guerrilheiros do Norte que logo se dispôs a levantar esquemas logísticos para nos ajudar a ocupar Luanda, o chefe Matifoge que roubou armas e munições nos quartéis portugueses.

E aqueles homens como o Vítor Barros, deputado da nossa Assembleia Nacional, que no Huambo nos abriu as portas dos gabinetes dos chefes militares das tropas da cidade, e o engenheiro Fernando Falcão que no Lobito havia preparado o levantamento da sua população contra o regime de Salazar.

E tantos outros oficiais e praças do nosso exército colonial e incógnitos civis que, desde a primeira hora, se integraram no movimento para a defesa da Liberdade.



E também muitos poetas e intelectuais (que palavra horrível) como o Alexandre Dáskalos, o Cochat Osório, o Adolfo Maria, o Henrique Abranches, o Mário António, o Aires de Almeida Santos, o Neves e Sousa, e os nossos camaradas do 1º Encontro de Escritores de Angola realizado no Lubango em Janeiro de 1963. Porque as revoluções também se preparam com poetas, escritores e artistas.



Mas a hora chegara.

E o nosso Manuel Alegre, o nosso grande poeta da gesta portuguesa e da nossa Resistência, foi também então um dos grandes líderes desta revolta armada. E muito deverá contar aos portugueses sobre aquelas horas transcendentes.



Por fim desejo contar dois episódios acerca dele nesse período que nunca esqueci. O primeiro aconteceu no pátio da nossa prisão na hora do recreio quando, de repente, recebemos a visita de São José Lopes, Director Geral da PIDE, que vinha "inspeccionar" o nosso comportamento. Perguntou diversas futilidades sobre a prisão, estacou diante do meu companheiro e disparou: – "Diga lá, senhor Alferes, se esta situação estivesse invertida e você me tivesse preso, o que faria?". Manuel Alegre não vacilou um segundo e respondeu-lhe com firmeza: – "Olhe, senhor Director, mandava-o prender sem hesitações para ser julgado e depois condenado, sem dúvida". São José Lopes, o senhor todo-poderoso da polícia secreta em Angola, ficou perplexo. Não esperava por tal desafio, esteve algum tempo calado e depois sentenciou: – "O senhor Alferes é um homem de coragem". Qual seria o preso, naquelas condições, que o enfrentaria com tal dignidade?



O segundo passou-se em minha casa quando fomos libertados, muitos angolanos nos vieram saudar. Recordo que nessa noite de alegria os funcionários negros da Texaco (a estação de serviço ao lado) nos bateram à porta para nos entregar duas galinhas vivas e era essa a singela homenagem de agradecimento pela luta que sempre travámos junto deles. Foi um bonito ritual de que só, muitos anos depois, entendi no seu verdadeiro significado. Madalena, minha fiel lavadeira da Vila Alice, a pequena Lídia que se esgueirava pelos becos com nossas mensagens, Simão, o carpinteiro do Rangel, que dirigia o grupo dos batedores do bairro e alguns outros, lá estavam presentes à nossa espera, as bocas rasgadas no melhor sorriso que vi até hoje. Manuel Alegre ficou com as lágrimas a brilhar de emoção quando eles o abraçaram. – "Somos todos irmãos", lhes disse. "Um dia os nossos povos caminharão sempre juntos".



Então, senhores historiadores, que é feito dos vossos conhecimentos e da vossa memória?

A juventude portuguesa terá que saber da verdade histórica que, nos subterrâneos do tempo, fundamentou o nascimento das nações africanas que falam a nossa língua e nos deu então a liberdade. A liberdade que ainda temos.



Que fizeram dos nossos sonhos, Manuel?



Decorridos tantos anos, o que vemos?

A nossa revolta de 63 foi enterrada, o 25 de Abril morreu há muito, os velhos conceitos políticos transfiguraram-se do dia para a noite (não apenas simbolicamente), já não existem esquerda e direita mas uma nova linha ética que marca plenamente dois territórios, o mundo dos homens que defendem o povo, os humildes e os pobres, o imperativo categórico da verdade, a igualdade de oportunidades e, do outro lado, aqueles que se defendem a si próprios, as suas fortunas, os seus privilégios, as suas leis ultrapassadas na justiça, na educação, na saúde, na administração, provocando a miséria do pão-nosso de cada dia, a insegurança nas ruas, a destruição das nossas florestas e os incêndios programados, a corrupção nos serviços, os compadrios dos partidos políticos (em que todos se ajeitam), as incompetências dos serviços públicos, os discursos vazios de dirigentes partidários, o negocismo que manda construir estádios megalómanos em detrimento da construção de novos hospitais, o absurdo despesismo com os nossos soldados no estrangeiro, a aquisição de material de guerra que ninguém sabe contra quem, enfim, o crescente divórcio entre o povo e o Estado.

A lista não tem fim.



Compete ao futuro Presidente da República corrigir estes desmandos e vigiar o comportamento ético do Estado. Sim, Ético. E estamos em cima do fio da navalha:

Se o povo português não compreender que estas eleições são as mais importantes em Portugal depois do 25 de Abril e não souber votar com a consciência de que é o futuro da nossa juventude (o futuro do país) que está em causa, então jogará a pátria nos braços e nas garras de soberanias alheias.

Basta.

Que não se fale tanto em democracia a torto e a direito mas que a pratiquem de coração aberto.

Não são os partidos que elegem o Presidente.

O povo é que deve dar a sua Voz.



Esta é a mensagem que te deixo nesta hora dramática da vida dos portugueses. A nação procura um homem sério, corajoso, leal, abnegado, generoso e honrado. Com a dignidade das íntimas convicções.

Avança, Manuel.



Publicado em:

www.manuelalegre.com

quarta-feira, outubro 19, 2005

Agenda de Outubro - II

ALJUSTREL







FEIRA NOVA DE OUTUBRO





Os frutos secos da época voltam a ser reis e senhores na edição 2005 da Feira Nova em Aljustrel. Trata-se de uma tradição que se repete, entre os dias 21 e 24 deste mês de Outubro, no recinto exterior do Parque de Exposições e Feiras da Vila Mineira.

Este ano a Câmara Municipal de Aljustrel, a entidade promotora, volta a apostar neste certame que, a cada ano que passa, cresce em número de visitantes e de feirantes. Um crescimento positivo que não é de estranhar já que a autarquia tem apostado no entretenimento e na cultura.

No que toca ao certame principal as tradicionais barraquinhas dos feirantes vão, mais uma vez, marcar forte presença nesta feira de Outubro onde se podem adquirir os mais variados produtos desde roupa, sapatos, enchidos, queijos, produtos artesanais entre muitos outros artigos.

Os frutos da época são um dos principais atractivos desta feira que “convidam” todos os anos centenas de pessoas a visitar o certame. Tanto as nozes, como os figos secos, as amêndoas, os pinhões e as castanhas assadas quentinhas, anunciadas pelo cheiro e pelo pregão característico dos vendedores, fazem as delícias de todos.







IV FEIRA DO LIVRO E MULTIMÉDIA




Mais de meia centena de editoras marcam presença em Aljustrel



À semelhança do que tem sucedido nos últimos anos a Câmara Municipal de Aljustrel promove, em simultâneo com a Feira Nova de Outubro, a Feira do Livro e Multimédia. Uma mostra a visitar no Pavilhão do Parque de Exposições e Feiras de Aljustrel de 21 a 26 de Outubro.

Trata-se de uma iniciativa da Biblioteca Municipal de Aljustrel que reúne mais de meia centena de editoras que apresentam nesta mostra cerca de 5 mil livros. Neste universo imenso de géneros literários pode encontrar-se obras para todos os gostos dos mais variados autores portugueses e estrangeiros. Uma mostra com livros infantis, policiais, culinária, livros técnicos, jardinagem, filosofia, decoração, romance, poesia, prosa entre muitos outros.

Marcam também presença nesta feira editoras discográficas que trazem até à vila mineira as últimas novidades em CD, vídeos e DVD`S. Tudo a preços convidativos.

Para animar ainda mais este certame, do ponto de vista do entretenimento, actuam, sexta-feira à noite, o grupo de música tradicional “Serões do Alentejo” e grupos corais e etnográficos do concelho de Aljustrel.

Integrado na programação da Feira do Livro e Multimédia vai ainda estar patente ao público uma exposição de pintura do NAVA, Núcleo de Artes Visuais de Aljustrel.




ALVITO-FEIRA DOS SANTOS




BEJA





PAX JULIA - Teatro Municipal


Visite o site PAX JULIA que lhe dá todas
as informações sobre cinema, teatro, música, dança, multidisciplinares, exposições.

Insensatez




Ah, insensatez que você fez
Coração mais sem cuidado
Fez chorar de dor o seu amor
Um amor tão delicado
Ah, por que você foi tão fraco assim
Assim tão desalmado
Ah, meu coração, quem nunca amou
Não merece ser amado

Vai, meu coração, ouve a razão
Usa só sinceridade
Quem semeia vento, diz a razão
Colhe sempre tempestade
Vai, meu coração, pede perdão
Perdão apaixonado
Vai, porque quem não pede perdão
Não é nunca perdoado.



Vinícius de Moraes

terça-feira, outubro 18, 2005

Arrojos





Se a minha amada um longo olhar me desse
Dos seus olhos que ferem como espadas,
Eu domaria o mar que se enfurece
E escalaria as nuvens rendilhadas.



Se ela deixasse, extático e suspenso
Tomar-lhe as mãos "mignonnes" e aquecê-las,
Eu com um sopro enorme, um sopro imenso
Apagaria o lume das estrelas.



Se aquela que amo mais que a luz do dia,
Me aniquilasse os males taciturnos,
O brilho dos meus olhos venceria
O clarão dos relâmpagos nocturnos.



Se ela quisesse amar, no azul do espaço,
Casando as suas penas com as minhas,
Eu desfaria o Sol como desfaço
As bolas de sabão das criancinhas.



Se a Laura dos meus loucos desvarios
Fosse menos soberba e menos fria,
Eu pararia o curso aos grandes rios
E a terra sob os pés abalaria.



Se aquela por quem já não tenho risos
Me concedesse apenas dois abraços,
Eu subiria aos róseos paraísos
E a Lua afogaria nos meus braços.



Se ela ouvisse os meus cantos moribundos
E os lamentos das cítaras estranhas,
Eu ergueria os vales mais profundos
E abateria as sólidas montanhas.



E se aquela visão da fantasia
Me estreitasse ao peito alvo como arminho,
Eu nunca, nunca mais me sentaria
Às mesas espelhentas do Martinho



Cesário Verde

segunda-feira, outubro 17, 2005

Se minhas mãos pudessem desfolhar





Pronuncio teu nome
nas noites escuras,
quando vêm os astros
a beber na lua
e dormem as ramagens
dos arvoredos ocultos.
E sinto-me vazio
de paixão e música.
Louco relógio que canta
antigas horas mortas.

Pronuncio teu nome,
nesta noite escura,
e teu nome me soa
mais distante do que todas as estrelas
e mais dolente do que a mansa chuva.

Tornarei a te querer como então
alguma vez? Que culpa
tem meu coração?

Se a névoa se dissipa,
que outra paixão me espera?
Será tranqüila e pura?
Se meus dedos pudessem
desfolhar a lua!!



*


Para A Dizzie e Romero


*


Si mis manos pudieron deshojar


Yo pronuncio tu nombre
en las noches oscuras,
cuando vienen los astros
a beber en la luna
y duermen los ramajes
de las frondas ocultas.
Y yo me siento hueco
de pasión y de música.
Loco reloj que canta
muertas horas antiguas.

Yo pronuncio tu nombre,
en esta noche oscura,
y tu nombre me suena
más lejano que nunca.
Más lejano que todas las estrellas
y más doliente que la mansa lluvia.

Te querré como entonces
alguna vez? Que culpa
tiene mí corazón?

Si la niebla se esfuma,
qué otra pasión me espera?
Será tranquila y pura?
Si mis dedos pudieron
deshojar a la luna!!



Federico García Lorca

sexta-feira, outubro 14, 2005

Agenda de Outubro




Castro Verde





14 – 15 e 16 de Outubro – Feira de Castro


O ritual repete-se todos os anos. É a azáfama ensurdecedora, que num ambiente outonal, confere às ruas um colorido único. Um cheiro já característico invade as ruas. De um lado, o polvo assado, do outro o algodão doce e o torrão de alicante. Há ainda o vendedor de castanhas e os algarvios com os frutos secos.

No âmbito deste evento secular, em parceria com associações e colectividades do concelho, a Câmara Municipal de Castro Verde, preparou um conjunto de iniciativas culturais que procurarão enaltecer o valor deste momento histórico.







Ferreira do Alentejo





Até 16 de Outubro – “O CORPO” – Exposição de Pintura

e Escultura de Nazareth Moreira.


De 20 de Outubro a 20 de Novembro – Exposição de

trabalhos do Centro de Convívio de Aldeia

de Rouquenho


29 de Outubro – 21h30 – No Auditório da Biblioteca

Municipal – Espectáculo do Grupo de Teatro Arte

Pública:

“CAMÕES é um poeta RAP”


VII Jogos Culturais do Concelho de Ferreira do

Alentejo –

Temática : Ambiente –proteger, preservar, partilhar.

Prosa – Poesia – Artes Plásticas – Música – Fotografia

Entrega de trabalhos até 30 de Novembro de 2005.






Alvito - 29 - 30 -31 de Outubro e 01 de Novembro

A última feira do Baixo Alentejo. Acontecimento

centenário.

Festejam-se 710 anos de tradição.

Preenche todo o Rossio e diversas ruas

desta Vila.

Nela se encontram os mais diversos produtos,

marcando presença significativa a fruta e os

frutos secos. Aqui se pode encher a dispensa

para o Natal.

quinta-feira, outubro 13, 2005

Saudades do Alentejo




Sou filho da terra quente,
das searas, do montado …
Trago das canções dolentes,
o passo cadenciado.


Saudoso das leiras trigo,
vivendo em terra emprestada,
nas longas noites sem sono,
perdido neste abandono,
vou desfiando comigo,
contos perdidos na estrada …


Tenho na pele marcados
os traços de mil suões,
e os olhos tristes, magoados,
que eu herdei dos ganhões.


Guardo raízes profundas
dum campo velho, cansado,
onde mesmo em tempo agreste,
nascia uma flor silvestre,
naquelas terras fecundas,
de Alentejo ignorado.


Eu nasci p’ra lá do Tejo,
guardo da terra a lembrança …
Eu pertenço ao Alentejo,
que me conheceu criança!


Voltarei um destes dias,
com um bando de pardais …
hei-de voar pelos montes,
beber as águas das fontes,
cantar velhas melodias,
e embebedar-me em trigais.


Orlando Fernandes in Fronteiras do Sonho

“O poeta é natural do país-do-Sonho. Entre o país-Comum e o país-do-Sonho existe uma fronteira a que chamamos condição-humana. Só é possível passar tal fronteira com um cavalo-alado. Para o país-do-Sonho não é preciso levar bagagem material. No país-do-Sonho as grandes cidades são construídas com Amor, Liberdade, Infinito e Eternidade.
Que num qualquer mágico dia-físico nos possamos lá encontrar!”

Ângelo Rodrigues


O “BEJA” tem o grato prazer de editar estes trabalhos de Orlando Fernandes e, em breve, de novo voltaremos às Fronteiras do Sonho.
Bem haja !




VOLTAVA A GOSTAR DE TI




Sonhos perdidos na bruma,
Quimeras feitas de espuma
São rendas que a vida tece;
Dá-se às vezes por cegueira
Uma vida toda inteira
A quem depois nos esquece.


Olho as linhas desenhadas
Em rotas desencontradas
Que as pombas traçam no ar;
Lembram-me os caminhos meus
Que por destino dos céus
Percorri p’ra te encontrar.


Hoje estou de alma serena,
Pois sei que valeu a pena
Cada hora que vivi;
E se por destino ou fado
Voltasse atrás ao passado…
Voltava a gostar de ti!



Orlando Fernandes in Fronteiras do Sonho










SOLIDÃO



Quero mergulhar no fundo dos teus olhos,
Este amor gritar perdidamente;
Esquecer que a minha vida é mar de escolhos,
Barco solto levado p’la corrente.


Sentisse uma só vez o teu carinho,
Um gesto de ternura ou de afeição,
E não me quedaria tão sozinho
Na minha louca e triste solidão.


Dou vida em cada dia à falsa imagem
Dum sonho renovado, uma miragem
Que se esfuma para lá do horizonte.


Falho de amor, de esperança e de coragem,
Caminheiro perdido na viagem,
Morto de sede … à beira de uma fonte!



Orlando Fernandes-in Fronteiras do Sonho

PORQUE VOLTO

  PORQUE VOLTO . Volto, porque há dias antigos que ainda nos agarram com o cheiro da terra lavrada, onde em cada ano, enterrávamos os pés e ...