ÁGUAS PASSADAS
Sobre uns conceitos íntimos da vida
Interroguei as águas caudalosas:
As que me dão na sua voz sentida
Uma impressão de coisas tenebrosas.
Interroguei as águas que distante
Do que deixaram passam a cantar
E cuja vida é caminhar avante
Desde a nascença até fundir-se em mar.
Águas que amaram os cristais e as flores
Pelas vertentes frias das montanhas,
Cantando-nos seus límpidos amores
Em germinais de convulsões estranhas.
Águas que ouviram íntimos segredos
À rocha nua, aos lábios do granito,
Azul do céu, estrelas e arvoredos...
— Que as águas são espelhos do infinito.
E recordando-lhe os cristais e as rosas
Interroguei as águas caudalosas
Sobre o que seja esta ânsia de viver:
E ouvi então à sua voz sentida
Num tom convulso dum adeus dizer:
— Viver? É a vida sempre em despedida.
AFONSO DUARTE - Joaquim Afonso Fernandes Duarte (Ereira, 1 de Janeiro de 1884 — Coimbra, 5 de Março de 1958) .
Foto de Boris Bekelman
Sobre uns conceitos íntimos da vida
Interroguei as águas caudalosas:
As que me dão na sua voz sentida
Uma impressão de coisas tenebrosas.
Interroguei as águas que distante
Do que deixaram passam a cantar
E cuja vida é caminhar avante
Desde a nascença até fundir-se em mar.
Águas que amaram os cristais e as flores
Pelas vertentes frias das montanhas,
Cantando-nos seus límpidos amores
Em germinais de convulsões estranhas.
Águas que ouviram íntimos segredos
À rocha nua, aos lábios do granito,
Azul do céu, estrelas e arvoredos...
— Que as águas são espelhos do infinito.
E recordando-lhe os cristais e as rosas
Interroguei as águas caudalosas
Sobre o que seja esta ânsia de viver:
E ouvi então à sua voz sentida
Num tom convulso dum adeus dizer:
— Viver? É a vida sempre em despedida.
AFONSO DUARTE - Joaquim Afonso Fernandes Duarte (Ereira, 1 de Janeiro de 1884 — Coimbra, 5 de Março de 1958) .
Foto de Boris Bekelman