terça-feira, julho 26, 2011

ESVELTA SURGE !





Esvelta surge! Vem das águas, nua,
Timonando uma concha alvinitente!
Os rins flexíveis e o seio fremente...
Morre-me a boca por beijar a tua.

Sem vil pudor! Do que há que ter vergonha?
Eis-me formoso, moço e casto, forte.
Tão branco o peito! — para o expor à Morte...
Mas que ora — a infame! — não se te anteponha.

A hidra torpe!... Que a estrangulo... Esmago-a
De encontro à rocha onde a cabeça te há-de,
Com os cabelos escorrendo água,

Ir inclinar-se, desmaiar de amor,
Sob o fervor da minha virgindade
E o meu pulso de jovem gladiador.

CAMILO PESSANHA (1867 - 1926)

(John William Waterhouse)

terça-feira, julho 12, 2011

ROSAS VERMELHAS







Gemem as pombas cor de linho uma saudade infinda, dentro da noite.

No céu distante e curvo, choram as estrelas o pranto da
madrugada, e a lua, cor de neve, canta em surdina no leque das palmeiras...

— Por que partiste?

Vem, doce amiga, vem coroar-te de rosas, rosas vermelhas, purpurinas,
rosas cor de carne de coração

Vem, que minha tenda enflora-te a vida com rosas de Shiraz,
trazidas, só para ti, de longe, muito longe...

Vês?

Dormem na distância, sob a luz verde dos astros, os rebanhos de EI Rei...

Esta é a hora em que os pastores descobrem as morenas perfumadas...

- Vem!

Sentiremos, febris, na púrpura dos lábios, a maciez das rosas
e o perfume da noite...
Empunha tua taça de ametista e ouro
e desfolha as pétalas de tua flor,
docemente,
num êxtase sublime...

Virgem morena de Ofir,
há perfumes e licores
e um leito de rosas
para teu corpo de tâmara dourada...
Vem abrir a Fonte do Sonho
de águas cristalinas
ao beduino que morre de amor,
sozinho,
nos caminhos apagados do deserto,
onde só medram cardos e espinhos.


M. DE MONTE MAGGIORE



Fotos da net







sexta-feira, julho 08, 2011

SONETO DE DESPEDIDA





Uma lua no céu apareceu
Cheia e branca; foi quando, emocionada
A mulher a meu lado estremeceu
E se entregou sem que eu dissesse nada.


Larguei-as pela jovem madrugada
Ambas cheias e brancas e sem véu
Perdida uma, a outra abandonada
Uma nua na terra, outra no céu.


Mas não partira delas; a mais louca
Apaixonou-me o pensamento; dei-o
Feliz - eu de amor pouco e vida pouca


Mas que tinha deixado em meu enleio
Um sorriso de carne em sua boca
Uma gota de leite no seu seio.

VINICIUS DE MORAES

INÚTIL PAISAGEM de ANTONIO CARLOS JOBIM

  Mas pra quê? Pra que tanto céu? Pra que tanto mar? Pra quê? De que serve esta onda que quebra? E o vento da tarde? De que serve a tarde? I...