quarta-feira, janeiro 30, 2013

C O R P O


CORPO

 Corpo serenamente construído 
Para uma vida que depois se perde 
Em fúria e em desencontro vivido 
Contra a pureza inteira dos teus ombros. 


 Pudesse eu reter-te no espelho 
Ausente e mudo a todo outro convívio 
Reter o claro nó dos teus joelhos 
Que vão rasgando o vidro dos espelhos. 


 Pudesse eu reter-te nessas tardes 
Que desenhavam a linha dos teus flancos 
Rodeados pelo ar agradecido. 


 Corpo brilhante de nudez intensa 
Por sucessivas ondas construído 
Em colunas assente como um templo. 



 Sophia de Mello Breyner Andresen 


Foto de Andrey Voytsehkov

INÚTIL PAISAGEM de ANTONIO CARLOS JOBIM

  Mas pra quê? Pra que tanto céu? Pra que tanto mar? Pra quê? De que serve esta onda que quebra? E o vento da tarde? De que serve a tarde? I...