sexta-feira, junho 08, 2018

TEUS OLHOS NEGROS, TUA TEZ MORENA


Fascina-me a brancura da açucena - as flores alvas são as mais bonitas - mas me atraem com forças
infinitas teus olhos negros, tua tez morena.
Como as flores, também, casta e serena, aos desejos de amar, por certo, incitas, porém só vejo, em ânsias vãs, aflitas, teus olhos negros, tua tez morena
e se adorar-te fosse a minha pena,

arrastaria tudo, humildemente
(a alma, livre da angústia que a condena),
para ter-te afinal sempre presente,

amaria em silêncio, eternamente,
teus olhos negros ... tua tez morena.

CARLOS MANUEL ARITA

(Honduras 1912 - 1989)

Foto de Roman Popov




segunda-feira, junho 04, 2018

AMOR









Aproximei-me de ti; e tu, pegando-me na mão,
puxaste-me para os teus olhos
transparentes como o fundo do mar para os afogados. Depois, na rua,
ainda apanhámos o crepúsculo.
As luzes acendiam-se nos autocarros; um ar
diferente inundava a cidade. Sentei-me
nos degraus do cais, em silêncio.
Lembro-me do som dos teus passos,
uma respiração apressada, ou um princípio de lágrimas,
e a tua figura luminosa atravessando a praça
até desaparecer. Ainda ali fiquei algum tempo, isto é,
o tempo suficiente para me aperceber de que, sem estares ali,
continuavas ao meu lado. E ainda hoje me acompanha
essa doente sensação que
me deixaste como amada
recordação.
Nuno Júdice, in “A Partilha dos Mitos”

INÚTIL PAISAGEM de ANTONIO CARLOS JOBIM

  Mas pra quê? Pra que tanto céu? Pra que tanto mar? Pra quê? De que serve esta onda que quebra? E o vento da tarde? De que serve a tarde? I...