Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se enlaçou mas não voou...
Momentos de alma que, desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
(Mário de Sá-Carneiro)
(Fotos de Paulo Cesar e Leonel Santos Lopes- Olhares)
13 comentários:
kerido Lumife
Fotos maravilhosas
acompanhando palavras lindas.
beijux grandes da létinha.
obrigada
por aquele
poema brasileiro,
que focava
de forma tão expressiva,
o tema
"do Sol e da Lua".
... mas és, Poeta: com todas as contradições que Ser, encerra. Para o além das palavras-versos - és, Poeta!
Bela postagem, amigo. Um grande abraço.
Belíssimo este poema e divinas a escolha das fotos:) beijos
Oi Lumife...
Bom dia
Não conhecia este poema, e adorei lê-lo... imagens fantásticas as que escolhestes.
Bjs
Sonhos Sonhados :
Satisfeito por te agradar.
Bjs.
Batista Filho :
Quanta amabilidade. Ob.pelas palavras que aquecem o coração.
Um abraço.
Wind :
Fico feliz quando os trabalhos são de teu agrado.
Bjs.
Isabel Filipe :
Tanta obra boa de nossos poetas que ainda desconhecemos.
Ob pelas tuas palavras.
Bjs.
Rain - Maker :
É sinal de que vivemos cada palavra do poeta, que os olhos não estão virados para o nosso umbigo, que os sentidos acompanham sempre, preocupados, o nosso semelhante .
Bjs.
é sempre bom dar um passeio por este blog
1abraço.
assim se fica a penssar e a sonhar durane eternos momentos.
Este poema de Mário de Sá Carneiro lido ao som da voz de Manuel Freire, tem realmente outro sentido...
Adorei este momento...
Um abraço ;)
Nas aulas de Literatura Portuguesa foi, ao lado de Fernando Pessoa, Sophia de Mello Breyner e Agostina Bessa Luís, leitura obrigatória!
Agora deverá continuar a sê-lo, mas com outro sentir.
O sentir e a emoção que o Lumife acrescentou às palavras fez-nos bem!
"Bêjos" alvitenses.
E teve a Adriana Calcanhoto a cara de pau de gozar com este grandioso poeta...pérolas a porcos é o que é.
As fotos são belissímas
António Caeiro :
És sempre bem vindo. Tb gosto muito do "Monsaraz"
O Micróbio :
Vou sempre ver as tuas dicas.
Carlos Barros :
Espero-te mais vezes.
Menina Marota :
Feliz pelas tuas palavras.
Ludinais :
Podem crer que me estragam com tantos mimos ...
Mocho Falante :
Desconheço as declarações da Calcanhoto.
Tudo de bom para ti.
Com imenso orgulho que faço uma visita por este site que mostra o que nós somos....Alentejanos de
almae coração na alma!
Ai Alentejo, Alentejo meu....terra que me viste nascer, berço da minha infância, faculdade do meu saber.........Como te poderei esquecer!!
Parabens lumife...passarei a visitar regularmente este lindo blog.....pois assim...estarei mais perto desta bendita terra.
...............MariaValadas
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