sábado, novembro 18, 2006

foto de Brigitte Carnochan




na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu, depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva, cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho, mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.


(José Luís Peixoto – A Criança em Ruínas)

23 comentários:

António disse...

Belo texto!
Belo texto, meu amigo!
(não conheço o autor)
Obrigado pela visita e comentário.

Abraço

Anónimo disse...

dentro de nós estarão sempre e em qualquer momento os que sentimos em nossas almas.
a vida é feita de ausências , presenças e sentimentos de falta que não consideramos ausências.

Paulo disse...

Parece que esquecemos que o amor se regenera na presença e na proximidade, e no enorme gosto de ser útil, dar prazer e permanecer por perto, sejam quais forem as circunstâncias. As pessoas desaparecidas não são só as que se declaram na polícia.Há pessoas que nunca desaparecem, que estão sempre à mesa conosco independentemente da forma ou estado em que se encontram...a verdade é que a mesa há-de estar sempre posta também para elas que estão retratadas no luto que trazemos por si e por nós...
Abraço
Paulo

della-porther disse...

lu

obrigada pela visita. também andei ausente, muito trabalho. agora retorno. adoro vir aqui. sempre leio algo que me faz pensar melhor...hoje também recordo os que não estão aqui, mas só não estão fisicamente. nas minhas memórias os que amei permanecerão. para sempre. esses e todos os meus amores não acabam. tens razão. sou uma janela aberta...

beijos com carinho

della

mfc disse...

Vivemos de recordações. São elas que ainda definem um rumo para a nossa vida.
Apreciei imenso este teu sentir.
Um grande... grande abraço. Muito sentido.

Anónimo disse...

Amigo
Este belo texto é tão triste mas é tão belo. Para mim a solidão é pior que qualquer doença e é nos momentos de solidão que se escreve que somos cinco. Este poema que me faz pesar o tempo que me resta na balança da vida, diz-me que tenho precisamente 57 anos e uma companheira que me vai acompanhar até ao final da minha vida a que se dá por nome de Parkinson.
Dou-me por feliz ter ao lado a Bejense Elisabete Sombreireiro Palma que não é de ferro mas parece.
Volto ao início – penso tanto nisto! Porém, a vida, é e sempre foi assim. Nada mudou!
Talvez por isso dou mais valor a cada dia que passa – um de cada vez! Talvez por isto eu escreva poesia triste - mas com esperança.
Ainda não perdi a esperança que uma simples pílula qualquer renove a vontade e a alegria de viver.
Até lá vou desejando a todos os que se sintam cercados por quatro paredes e que ainda se possam mexer, que lá fora faz sol ou que a noite é de estrelas.
Muito obrigado pelo poema. Quanto à mensagem que o amigo deixou no meu livro de poesia e como perdi o seu contacto agradecia que me mandasse um e-mail para o e-mail que está no meu blog.
Um abraço com o meu braço direito, porque o esquerdo e apesar de eu ser de esquerda está doente.
Rogério Martins Simões

Barão da Tróia II disse...

Excelente amigo, excelente, boa semana.

sónia disse...

Maravilhoso! A vida é mesmo assim!

O Chaparro disse...

passei pra desejar uma boa semana, compadre

Peter disse...

"enquanto um de nós estiver vivo, seremos sempre cinco"

É bom ler isso, um sentimento de união familiar que perdura para além da morte e que tantos de nós não usufruem em vida, com cada um a puxar para o seu lado.

P.S.- Obrigado pela visita ao "Peter's", aquilo não é um blog, é uma espécie de arquivo de poemas, ou de recordações de pessoas, que me dizem algo.

Isabel Filipe disse...

Maravilhoso este texto.

Bjs

Lisa disse...

Olá Luís...

Agradecida pela visitinha no mundinho...

PS:"cada um deles é um lugar vazio nesta mesa onde como sozinho"...(agora falta vc casar para ter a companhia...)rsrs =P

Linda semana com ternura pra ti e para a linda Carolzinha...

Beijosss...

Nilson Barcelli disse...

Gostei da visão do escritor.
É uma das formas de não nos sentirmos sozinhos quando não temos ninguém chegado ainda vivo.
Um abraço.

segurademim disse...

... apenas cinco em memória, sem o calor, as vozes, os olhares, as cumplicidades

sempre cinco mesmo assim

beijo . bom dia :)

Páginas Soltas disse...

Nas minhas memórias...eramos quatro
á mesa!
Ainda continuamos a ser os quatro
no meu imaginário saudoso!

Um belo texto...que me fez emocionar!

Beijos á Carolina ...e para ti Lumife...um grande abraço de amizade.
Maria

Thiago Forrest Gump disse...

Emocioante. A família como o bem maior. :)



Abraços

Anónimo disse...

Outro dia chegou-me às mãos um trecho do romance Nenhum Olhar, desse consagrado autor português, José Luís Peixoto, com a recomendação da leitura.

Acredito que já o tenhas lido, amigo, mas mesmo assim deixo aqui registrado:

"O mundo acabou. E nao ficou nada. Nem as certezas. Nem as sombras. Nem as cinzas. Nem os gestos. Nem as palavras. Nem o amor. Nem o lume. Nem o ceu. Nem os caminhos. Nem o passado. Nem as ideias. Nem o fumo. O mundo acabou. E nao ficou nada. Nenhum sorriso. Nenhum pensamento. Nenhuma esperanca. Nenhum consolo. Nenhum olhar."

Há uma certa tristeza permeando sua fala, uma desesperança, mas dizem ser um dos grandes poetas/romancistas conterrâneo teu. O poema postado por ti nos dá uma bela mostra do seu estilo. Gosto de autores que vão ao cerne dos sentimentos, que os dissecam até encontrar a essência que os compõe.

Amigo, que foto apetitosa com que nos presenteaste! Um belo cacho de uvas que desperta nossa vontade em saboreá-lo.

Deixo-te sorrisos enluarados, flores tecidas de estrelas, e um abraço afetuoso, com votos de paz e alegria junto aos teus queridos.

Anónimo disse...

éramos sete
a testar a paciência de dois.
nove, éramos
não fora cada um trazer
tantos outros mais.

e haja risos, festas, lágrimas, velórios...!
e haja nascimentos, batizados, (des)casórios!

éramos sete
a testar a paciência de dois.
hoje, de fazer conta
nem sou mais capaz.

e a saudade só aumenta
dos que à mesa são mais que lembranças
na hora de partilhar o pão, a água, o arroz
... e tudo porque éramos sete
a testar a paciência de dois.

(batista filho, só um, dentre tantos, que ainda se sentam ao redor da mesa.)

Anónimo disse...

...cada pessoa transporta consigo, uma série de pessoas vivas...nem que seja só no seu coração...
FORÇ'AÍ!
js de http://politicatsf.blogs.sapo.pt

Teresa David disse...

Tem graça ter vindo ver o teu post, pois há pouco tempo, ainda está até visivel na 1^ª página publiquei um texto exactamente sobre o mesmo tema, o vazio á mesa. Coincidências, felizmente que as nossas escritas são diferentes senão ainda seria acusada de plágio.
Bjs
TD

Anónimo disse...

Daqui onde estou numa remota localidade do Alto Minho oara passar uma temporada de descanso, a minha vista é breve pois estou com acesso limitado à Internet, e por isso desejo somente bom fim-de-semana.

Peter disse...

Obrigado pelos "clips". No "Peter's" tem lá outro poema.

De 30NV-03DEZ, em Extremoz, a "XIV cozinha dos ganhões". Não faltem.

Maria Carvalho disse...

Maravilha de palavras!

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