sábado, maio 12, 2007

S. Leonardo de Galafura




"Aquele poema de Torga não lhe saía da cabeça. O autor dos Contos da Montanha nasceu ali ao lado e a sua visão telúrica sempre o impressionara. Algo terá este lugar para tanto ter fascinado o poeta."(palavras e foto de A Desenhar a quem dedico este "post" desejando rápida e franca recuperação)









À proa dum navio de penedos,
A navegar num doce mar de mosto,
Capitão no seu posto
De comando,
S. Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em direcção ao cais divino.


Lá não terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
Doiros desaguados
Serão charcos de luz
Envelhecida;
Rasos, todos os montes
Deixarão prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.


Por isso, é devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e rosmaninho!

Miguel Torga – Ordonho, 2 de Outubro de 1961 (Antologia Poética)




4 comentários:

Peter disse...

A foto é fabulosa e então para nós, habituados a estas longas planuras ...

aDesenhar disse...

obrigado amigo lumife.
sinto-me honrado com o teu post,
e não fora este desencontro, teria sido guia na visita a S. Leonardo.
:-)
a perna vai boa, já tirei o gesso como podes ver lá no meu sidebar no 1º You Tube.

abraço

jorge vicente disse...

não creio que seja a força de s. leonardo de galafura, lumife. mas a força da terra das gentes. de quem nasceu ao pé. alvito também é força e tem um grito telúrico para quem nasceu lá.

jorge

Anónimo disse...

é chegado o momento do Encontros da Terra Brasilis

beijos

fuser

INÚTIL PAISAGEM de ANTONIO CARLOS JOBIM

  Mas pra quê? Pra que tanto céu? Pra que tanto mar? Pra quê? De que serve esta onda que quebra? E o vento da tarde? De que serve a tarde? I...