domingo, julho 08, 2007

NOITE






Noites africanas langorosas,
esbatidas em luares...,
perdidas em mistérios...
Há cantos de tungurúluas pelos ares!...


Noites africanas endoidadas,
onde o barulhento frenesi das batucadas,
põe tremores nas folhas dos cajueiros...

Noites africanas tenebrosas...,
povoadas de fantasmas e de medos,
povoadas das histórias de feiticeiros
que as amas-secas pretas,
contavam aos meninos brancos...

E os meninos brancos cresceram,
e esqueceram
as histórias...

Por isso as noites são tristes...
Endoidadas, tenebrosas, langorosas,
mas tristes... como o rosto gretado,
e sulcado de rugas, das velhas pretas...
como o olhar cansado dos colonos,
como a solidão das terras enormes
mas desabitadas...

É que os meninos brancos...,
esqueceram as histórias,
com que as amas-secas pretas
os adormeciam,
nas longas noites africanas...

Os meninos-brancos... esqueceram!...


1948-Outubro (Poemas1966)




Poema de:

ALDA LARA

(Benguela, Angola, 9.6.1930 - Cambambe, Angola, 30.1.1962. Frequentou as Faculdades de Medicina de Lisboa e Coimbra, licenciando-se por esta última. Em Lisboa esteve ligada a algumas das actividades da Casa dos Estudantes do Império. Declamadora, chamou a atenção para os poetas africanos. Depois da sua morte, a Câmara Municipal de Sá da Bandeira instituiu o Prémio Alda Lara para poesia.




Óleo sobre tela - Perturbação na Floresta - Pintura de

MALANGATANA

Nasceu em Matalana, em 1936. Estudou na Escola da Missão Suiça de Matalana e na Escola da Missão Católica de Ntsindya, em Bulaze. Depois de obter o diploma da 3ª classe rudimentar, vai para Lourenço Marques (Maputo). Em 1958 frequentou o Núcleo de Arte onde conhece o pintor Zé Júlio, que o apoia. Em 1961 efectuou a sua primeira exposição individual. Em 1971 foi bolseiro da Gulbekian em gravura e cerâmica. Recebe a Medalha Nachingwea pela contribuição dada à cultura Moçambicana. Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.
Está representado em museus, galerias e colecções particulares em todo o Mundo. As suas obras estão presentes no M'Bari de Oshogbo, Nigéria, no Museu de Arte Contemporânea de Lisboa, no Museu Nacional de Luanda, na National Gallery of Comtamporany Art de Nova Deli, na National Art Gallery de Harare, Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, na colecção do Partido Comunista Português, no Museu Nacional de Arte de Moçambique e em inúmeros países, de Cabo Verde à Nigéria, da Bulgária à Suíça, dos Estados Unidos ao Uruguai, Na Índia e no Paquistão.

7 comentários:

António Melenas disse...

Belo e forte poema, em casament perfeito com a a cor forte e o conteúdo da pintura dois grandes artistas dos Palop.
Obrigado pelas visitas
Um abraço

Anónimo disse...

A arte e a cultura africana, de forte conteúdo. Boa semana.

Pata Negra disse...

Por hábito, princípio ou mania, não comento poesia!
Gosto! Fora do lugar comum de se dizer: "gosto de toda a música", tenho por premissa nunca vir a enunciar uma barbaridade dessas!
Por incrível que pareça parece que todos os poemas se me encaixam um pouco! Este merece este lugar!
Também gosto de Beja e tenho para aí um velho amigo!
Tb vou estar a atento!
Um abraço!

MARIA disse...

Caro Lumife,
Rendida, mais uma vez.
É só entrar no seu blog e penetrar num mundo onde a sensibilidade e a beleza se aliam de tal modo, que se esquece, ainda que por momentos, a dureza do mundo não virtual. BEM HAJA.

Páginas Soltas disse...

Lumife,

Sempre incansável na partilha de outros poetas...

Louvável este teu gesto!

Inicio de boa semana.

Beijo da

Maria

Alexandre disse...

Excelente homenagem às coisas boas que nos chegam e nos chegaram de África!

Um abraço!!!

Isabel Filipe disse...

Uma maravilha este poema ... não me lembro se já o tinha lido ...

quanto a Malangatana ... palavras para quê???



beijinhos

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