quinta-feira, novembro 20, 2008

ALDA GUERREIRO


Foto de JOÃO ESPINHO



ALDA GUERREIRO

Nasceu em Santiago do Cacém, a 6 de Janeiro de 1878.

Educada num ambiente de intensa sensibilidade artística, desde muito cedo se interessou pela poesia, e também, talvez por influência familiar, dado que, foi cunhada de António Manuel Freire de Andrade, um dos fundadores da comissão concelhia do Partido Republicano Português, por problemas sociais e pelas ideias republicanas..

Em 1909 escreveu:
"Fundemos escolas com todas as condições modernamente empregadas, onde as creanças se desenvolvam, se instruam, se eduquem".

Em 1 de Janeiro de 1910, fundou a Associação Liberal de Santiago do Cacém, que manteve, pelo menos até 1914, a Escola Liberal, instituição, onde esta poetisa-professora, desempenhou um papel notável, sobretudo na organização de actividades, que hoje chamaríamos de complemento curricular, como "festas da árvore", "visitas de estudo" e "sessões comemorativas do aniversário da escola".

A partir de 1909, dinamizou ainda uma outra escola particular, em sua casa, até praticamente ao final da sua vida: a "Escola Livre de S. Thiago do Cacém", por onde passaram gerações de jovens, algum dos quais ainda vivos.

Ainda em sua casa, criou uma outra "escola" de ensino artístico de bordados, aberta às jovens de Santiago .

Na década de 30 colaborou na revista "Portugal Feminino" .

Apoiou e colaborou um pequeno jornal de Sines, dedicado aos jovens "A Juventude".

Idealizou, fabricou e distribuiu um interessante jornal manuscrito, intitulado "O Jornal das Creanças".

Para Alda Guerreiro, a imprensa desempenhava um importante papel na educação popular, com vista à formação de uma consciência liberal e democrática.

Mais conhecida pela poesia, que viu publicada e dispersa por inúmeros jornais e revistas, foi incluída em duas importantes antologias, uma sobre Poetisas Portuguesas, em 1917, e outra sobre os Poetas Alentejanos do Século XX, em 1984.

As suas ideias e acção foram um marco no seu tempo. Militou pelo ensino popular, sob a bandeira republicana e bateu-se pela ideia generosa de formação integral dos jovens.O seu exemplo e a sua obra ignorada, marcaram a vida social e cultural do Alentejo Litoral.

Faleceu em 1943 (?)

Fonte: Centro Actividades Pedagógicas-Alda Guerreiro





Sementeira

Na encosta de uma serra havia um carrascal
Onde nascia o tojo, a esteva, um matagal.
Um dia entrou com êle a foice roçadoura;
Meteram a charrua e fez-se a lavoura.
Foi revolvida a terra e feita a sementeira.
Algum tempo depois, já parecia um mar
O vento sobre o trigo ao longe a ardear!
Foi crescendo, crescendo; a espiga bem dourada
Com o calor do estio em pouco foi ceifada.
E produziu bom pão o terreno maninho,
Onde apenas vencia a urze e o rosmaninho!


Agora quando eu olho essa encosta da serra,
Vejo que é uma lição que nos ensina a terra!


A sociedade é o monte. A escola é o arado.
Quando abrindo o sulco, olhai vá bem guiado...
Depois é semear. Será bela a colheita
Se a semente fôr bôa, e a lama fôr bem feita.


Também hão de dar pão essas searas novas
E darão muita luz à humanidade inteira...


Abri a terra, abri, fazei a sementeira...



Foto de JOÃO ESPINHO




A minha terra

No inverno a vida apraz-nos meditar.

Quando ao entardecer, aqui na Minha Terra
Se vê sumir o sol no longe azul do mar,
O pensamento vôa e vai de serra em serra
No campo do passado às vezes a sonhar.

O oceano lembra os feitos arrojados
Do velho Portugal!
Aquem, alvos casais, em fundo verdejante
De grande pinheiral,
Fala-nos de trabalho e vida, actividade,
Saúde e alegria, e sol, e liberdade...

No antigo castelo abrigo de tristezas
Muralhas, que ouviriam a mouros e princezas
Trocar frases de amor,
Unidas num abraço, agora enegrecidas
Rodeiam condoidas
Um circulo de dôr!

É como que em contraste ao campo sorridente
Que atesta mocidade,
À sombra do castelo erguido ao Oriente
Aqueles que eu perdi descançam docemente
Envoltos em saudade.

Horas de entardecer agrada meditar.
O pensamento vôa e vai de serra em serra...
O sol mergulha além na fita azul do mar
No dôce pôr do sol da minha linda Terra!



Foto de JOÂO ESPINHO






O ALENTEJO É LÁ


É lá onde o Sol desce a violar

a terra provocante de nudez,

que emprenha uma e outra e outra vez,

de Sonhos, que já cansa de abortar...



É lá onde a lonjura por lavrar

nem sombras a dividem lés-a-lés...

Só a noite a parcela e faz mercês

erguendo muros brancos de luar.



É lá onde se chora de cantiga

no embalar dolente a dor antiga

que desperta, se agita e faz ruim...

Onde há suor em bagas pela eira,

e esp'ranças crepitando na lareira,


- O ALENTEJO é lá ... e é EM MIM.

REPONDO A VERDADE: Até hoje supunha, por lapso, que o poema anterior e o seguinte eram de autoria de ALDA GUERREIRO mas acabo de receber a informação de que são de ADA TAVARES. Apresentei desculpas à verdadeira Autora através de sua Filha Elsa Vieira e aqui venho também dar o seu a seu dono.
10 de Março de 2010



Foto de MARIA MADALENA PERCHEIRO-OLHARES





HOJE HÁ PÃO ALENTEJANO?



Esta frase tão ouvida

neste tom interrogado

não é sentença perdida

nem um pregão inventado,

nem dito voando à toa ...

Oh senhores, mas quem diria

que eu ia ouvir isto um dia

aos balcões de Padaria

desta moderna Lisboa?!


"Hoje há pão alentejano?!"



E se o empregado diz:

-"Olhe, acabou de chegar."

ri a freguesa feliz

e estende o saco apressada

pois não vá ele acabar ...

e pede firme, sem graças,

que não pode haver engano:

"Ponha-me aí dez carcaças

e um pão alentejano".


Ai é vê-lo meus amigos,

este pão que era só nosso,

o nosso Bem de raiz,

sem pretensões, sem ganância,

como ganhou importância,

como ganhou um País.

Todos o querem agora,

por inteiro ... uma fatia ...

umas migalhas ... um naco

...Pão nosso de toda a hora

que é farinha doutro saco.


Venham vê-lo na Taberna

ou no fundo duma Adega

como alegra o camponês:

-ensopa o copo de três

-abafa raios e coriscos

-faz de cama prós petiscos

...e aconchegada a barriga

logo a voz se faz cantiga,

põe-se o Sol, vai-se a fadiga

que a noite mal começou,

e..."às quatro da madrugada

um passarinho cantou..."



Ó pão do meu Alentejo

que bela lição tu deste

na tua nobre humildade,

e como tu aprendeste

a usar fraternidade.?

E sem briga, e sem guerra,

sem essa confusão louca,

deste nome à nossa terra,

levaste-a de boca em boca...

Pois também vai a banquetes

e a solenes beberetes

nas salas bem afamadas,

posto assim em pedacinhos,

feito "tapas" e "entradas",

regado com os melhores vinhos.

É o mais requisitado, pedido

por encomenda,

e vai em naperons de renda

até à mão de ministros.

E deu no goto a estrangeiros

e a certos senhores bem vistos

que o acham uma riqueza

e o querem na sua mesa ...

Não se recusa a ninguém,dá-se a ricos,

pobrezinhos,a crianças e a velhinhos

e aos doentes também.


Pão de Paz ! Pão de Alegria !


Pão de Amor! Pão de Verdade!


É como nós neste dia,

uma mistura sadia

de renovo e de saudade.

12 comentários:

Branca disse...

Olá Lumife,

Gostei imenso de conhecer esta poetisa, a sua vida e a sua obra. Estes poemas que nos trazes dizem bem da sua sensibilidade, espírito social e do seu talento.
Obrigada pela partilha.
Nunca mais me vou esquecer de Alda Guerreiro.
Beijos

Lúcia Laborda disse...

Oie lindinho! Bela biografia! Um post perfeito, com belas poesias e fotos maravilhosas!
Um fim de semana de paz e realizações!
Beijos

Leonor C.. disse...

Que mais posso acrescenter ao que já foi dito?... Gostei de conhecer Alda Guerreiro.

Bom fim de semana!

Anónimo disse...

Alentejo, terra de poetas de grandes homens e grandes mulheres....
AMO ESTA TERRA
Bom fds e um forte abraço alentejano

mfc disse...

Os teus olhares sobre a vida são magníficos.

Anónimo disse...

Gostei imenso deste perfil da poetisa e também do seu real valor, com poesia lindíssima e de grande intensidade poética. Uma justa e merecida homenagem. Boa semana com tudo de bom.

Adriana disse...

Maravilhosa postagem!!

Alda Guerreiro entrou para meu universo!

bjs

Anónimo disse...

Lumife, meu querido, vim despedir-me de ti, pois estou encerrando um ciclo na minha vida e deixando a última carta postada. Tenho um longo e árduo caminho pela frente, e preciso de concentrar as forças neste objetivo.

Quero agradecer o carinho e a atenção de tuas mensagens, a que nem sempre pude responder, mas que apreciava muito pela deferência. Continue este teu trabalho tão precioso de divulgação e saiba que estou sempre torcendo por ti.

Que teus caminhos sejam sempre iluminados com as bênçãos do nosso Pai, e que teus projetos de vida te tragam a alegria das realizações.

Fica meu apreço num ramalhete de violetas azuis e meu beijo de carinho no teu coração.

Lúcia Laborda disse...

Bela história de vida, meu amigo lindo! Belas fotos e belas poesias! Espero que a semente que plantou, tenha deixado belos frutos e assim a semente tenha se espalhado pelo mundo.
Beijos

Anónimo disse...

Meu querido e inesquecível amigo Lumife:

Até que enfim que encontrei o teu link... no mundo blogueiro.

Que saudades de ler o que partilhas connosco.

Alda Guerreiro, uma poetisa a ler com mais atêncão...

Nota: Estou de regresso, depois de nove meses de cativeiro moral, fisico e psicológico.

Num acesso de pavor,apaguei todos os meus poemas... e todos os meus contactos.
Lutei contra " o inimigo"... e parece que o derrotei ( mais uma vez).

Um bom fim de semana e beijos para ti e toda a familia.

mfc disse...

Terra linda a destes poemas.

Anónimo disse...

fui guerreiro e fui machado
e também eu já fui Afonso
A Alda não tinha encontrado
em meus versos serei sonso?:
-
janeiro 27, 2009

Amor de Pais

Ao maior Juiz e advogado eu envio a minha prece:
AMOR DE PAIS
Com quatro letras apenas
se escreve a palavra amor
e é das palavras pequenas
aquela que tem mais valor!
-
O amor de Pai, é nobreza
que nasce dentro de peito
e é sempre por natureza
aquele amor mais perfeito!
-
o amor de Mãe há só um
e como ele não há igual
até não há mais nenhum
no Mundo e em Portugal!
-
o amor por uma mulher
que seja nossa namorada
não é um amor qualquer
pode ser de nossa amada!
-
da moça que dá os filhos
por ser essa sua natureza
ela é Mãe e tem cadilhos
quantas vezes a pobreza!
-
mas essa pobreza, porém
a leva o dia a trabalhar
para sustentar quem tem
e ter harmonia em seu lar!
-
conheci uma e com oito
moía o milho, a farinha
dava para fazer biscoito
prós filhos que ela tinha!
-
e não paravam suas mós
ai para desfazer seu grão
e deixava seus filhos sós
para ir ganhar o seu pão!
-
e o marido que ela tinha
levava o dia a trabalhar
e podava toda uma vinha
ceifava o trigo até cansar!
-
e os dois à noite a jantar
com os filhos a seu redor
comiam papas, o manjar
que dava o Nosso Senhor!
-
e uma Mãe na nossa era
fresca e parece uma flor
uma flor de Primavera
também tem o seu valor!
-
quantas vezes ela cá cai
por o emprego lhe faltar
mas caindo ela inda vai
todos os filhos alimentar!
-
ajuda-as Meu Pai do Céu
estas Mães com pobreza
Dá-lhes Tu ó Deus Meu
do Céu a maior riqueza!
-
Dá-lhes Teu amor e vida
Tu que morreste por nós
dai-lhes meu Pai guarida
p'ra nunca ter filhos sós!
-
José Maria dos Santos Silva
Sou descendente de Manuel Guerreiro e Constantino da Silva Machado, quem sabe se temos algo em comum, já que os meus Machados são de Santa Clara a Velha-Odemira.

PORQUE VOLTO

  PORQUE VOLTO . Volto, porque há dias antigos que ainda nos agarram com o cheiro da terra lavrada, onde em cada ano, enterrávamos os pés e ...