Foto de Bruno Abreu - Olhares
NESTES DIAS DE TRANSPARÊNCIAS
Nestes dias de transparências violentadas
sonho a ardência duma árvore estóica
testemunhando os ludíbrios da paisagem,
um rio que simplesmente prossegue
e insiste em devaneios de águas claras,
no rigor dos invernos que conhece.
Subo do meu frio por escadas verticais,
um perfil amargurado de vozes interiores
que me trazem às margens da realidade,
ao alicerce da superfície das coisas
onde apenas vislumbro os excessos da luz
as cinzas, ou o fogo de vulcões extintos.
Contemplo, nas fronteiras do alvoroço,
os murmúrios de antigos violoncelos
sussurando o desígnio das águas leves
fustigando o granito das profundas fendas
da terra, num exercício demolidor.
Não sou comerciante de barros antigos
apenas reconheço o ar circundante
que prossegue dando frescura às vigílias,
na lassitude serena de entender a bruma
a descer sobre a superfície das origens.
Por isso, atento me atenho às evidências
do pólen esvoaçando ao sabor do vento,
a pura sedução das vertentes da luz
no mecanismo rigoroso dum grão de trigo.
Vieira Calado
O autor tem variada colaboração em jornais e revistas, páginas literárias, prefácios e antologias. Coordena uma página de Poesia e outra de Astronomia no "Jornal de Lagos"
3 comentários:
Lumife:
Quer apresentar os meu parabéns pela publicação deste poeta neste espaço de cultura e poesia:
O Vieira calado é um poeta que sigo fielmente através do blog do autor e por ele sou normalmente visitado..É um privilégio.
Abraço
Pj
Olà Lumife,
Vou passando por aqui sempre que posso e fico muito contente por ver neste espaço a poesia do nosso amigo Vieira Calado.
Deixo beijos para os dois.
Branca
Adoro a poesia do Vieira Calado. Merece estar aqui. Muitos beijos.
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