sexta-feira, setembro 18, 2009

O AMOR E O TEMPO






Pela montanha alcantilada
Todos quatro em alegre companhia,
O Amor, o Tempo, a minha Amada
E eu subíamos um dia.

Da minha Amada no gentil semblante
Já se viam indícios de cansaço;
O Amor passava-nos adiante
E o Tempo acelerava o passo.

— «Amor! Amor! mais devagar!
Não corras tanto assim, que tão ligeira
Não pode com certeza caminhar
A minha doce companheira!»

— Súbito, o Amor e o Tempo, combinados,
Abrem as asas trémulas ao vento...
— «Por que voais assim tão apressados?
Onde vos dirigis?» — Nesse momento.

Volta-se o Amor e diz com azedume:
— «Tende paciência, amigos meus!
Eu sempre tive este costume
De fugir com o Tempo... Adeus! Adeus!»


António Feijó (1859-1917)


2 comentários:

MARIA disse...

Olá Lumife, este é um poema com muito ritmo, com uma certa luminosidade e mistério.
Gostei de lê-lo. Contudo não concordo com os seus pressupostos de raciocínio : o amor não foge com o tempo.
O amor não foge.
O amor permanece.
Permanece além do nosso tempo.
É o que o torna tão maior que nós...
Já notaste como o amor transforma as pessoas, como as torna mais bonitas, mais generosas, mais...
Quando foge ... é porque é qualquer outra coisa habilitada à fuga, mas não é AMOR ...

Beijinhos

Maria

Paula Raposo disse...

Verdade. O tempo foge quando se ama e se é amado!! Sem dúvida. Beijos e bom fim de semana, Lumife.

INÚTIL PAISAGEM de ANTONIO CARLOS JOBIM

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