segunda-feira, setembro 24, 2012

QUANDO TE VI



A manhã era clara, refulgente. 

 Uma manhã dourada. Tu passaste. 

 Abriu mais uma flor em cada haste. 

Teve mais brilho o sol, fez-se mais quente. 


 E eu inundei-me dessa luz ardente. 

 Depois não sei mais nada. Olhei ... Olhaste ... 

 E nunca mais te vi ... - Raro contraste - 

 A madrugada transformou-se em poente. 


 Luz que nasceu e apenas cintilou ! 

 Deixou-me triste assim que se apagou, 

às vezes fecho os olhos; vejo-a ainda ... 


 E há tanto sol dourando esses trigais ! 

Olhaste, olhei, fugiste ... Ai nunca mais, 

 nunca mais tive outra manhã tão linda ! 


 VIRGÍNIA VITORINO


(n. Alcobaça, em 13 de Agosto de 1895 - 1967) Poetisa e dramaturga .


domingo, setembro 16, 2012

A CASA FICOU POR CONSTRUIR ...




A casa ficou por construir 

Cheguei tarde 

E o ardor mútuo não impede 

Que os nossos caminhos 

 Sejam diferentes 


 A casa ficou por construir 

As várias salas 

Os longos corredores 

O quarto mais tranquilo 

Com seu leito 


 A janela rasgada 

Donde te veria surgir 

Todos os dias 

A lareira que nos protegeria 

Do que a vida tem de enregelado 


 O suceder das estações acompanhando 

O acumular dos anos e a confiança 

Que um amor profundo dissemina 


 Vivo num cacifo solitário 

No outro lado do oceano 

Longe tão longe donde tu nasceste 


Mas a casa

Nossa 

Ficou por construir 


 Pássaro ferido 

Sou um hóspede 

No teu coração 



 Alberto de Lacerda

INÚTIL PAISAGEM de ANTONIO CARLOS JOBIM

  Mas pra quê? Pra que tanto céu? Pra que tanto mar? Pra quê? De que serve esta onda que quebra? E o vento da tarde? De que serve a tarde? I...