terça-feira, maio 29, 2018

SONETO


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"Que soubeste fazer da tua vida
depois de tantos anos à procura
do que chamavas terra prometida
no meio da floresta mais escura?
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Por que deste consolo a essa ferida
que ainda continua a arder sem cura
se do teu coração não há saída
e o tempo te devora em lenta usura?
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O que te ensina hoje cada dia
se já pouco te dói como doía
e tudo se transforma em quase nada?
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Apenas o amor, que será só
memória de quem és, do pó ao pó
- cinza talvez, mas cinza apaixonada"
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FERNANDO PINTO DO AMARAL
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in A Luz da Madrugada.

quarta-feira, maio 23, 2018

AMO-TE TANTO ...






Amo-te tanto, tanto, que se um dia
Viesses a faltar-me, meu Amor, 
Desamparada e triste, qual flor, 
A minha vida breve emurchecia!

Sinto dentro de mim que não podia
Dispensar dos teus braços o calor,
Do beijo dos teus lábios o sabor
Nem dos teus olhos lindos a magia

Tu és toda a razão do meu viver,
Da minha vida a estrela matutina!
E tanto, que nem sei a qual mais querer,

Tão grande é a paixão que domina:
Se ao teu esbelto corpo de mulher
Se ao teu cândido rosto de menina

ANTÓNIO MELENAS

Foto de Oleg Obukhov

terça-feira, maio 22, 2018

AUSÊNCIA


AUSÊNCIA 
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Meu amor, como eu sofro este tormento 
da tua ausência!... Ando magoada 
como a folha arrancada pelo vento 
ao carinhoso anseio da ramada...
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Procuro desviar o pensamento...
mas oiço ao longe a tua voz molhada
em lágrimas, vibrando o sofrimento
da nossa vida assim, tão separada!
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Os meus beijos escutam os teus beijos
exigentes — perdidos de saudade...
crispando amargamente os meus desejos!
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E dia a dia essa canção de dor,
ritornelo sombrio de ansiedade,
exalta ainda mais o meu amor!
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JUDITH TEIXEIRA , in 'Antologia Poética' -25 Jan 1880 // 17 Mai 1959
Escritora e Poeta
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quarta-feira, maio 16, 2018

O ÚLTIMO POEMA



O último poema

Assim eu quereria o meu último poema.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

MANOEL BANDEIRA



INÚTIL PAISAGEM de ANTONIO CARLOS JOBIM

  Mas pra quê? Pra que tanto céu? Pra que tanto mar? Pra quê? De que serve esta onda que quebra? E o vento da tarde? De que serve a tarde? I...