segunda-feira, dezembro 09, 2024

DISCURSO DE CECÍLIA MEIRELES

 

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E aqui estou, cantando.

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Um poeta é sempre irmão do vento e da água:

deixa seu ritmo por onde passa.

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Venho de longe e vou para longe:

mas procurei pelo chão os sinais do meu caminho

e não vi nada, porque as ervas cresceram e as serpentes

andaram.

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Também procurei no céu a indicação de uma trajetória,

mas houve sempre muitas nuvens.

E suicidaram-se os operários de Babel.

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Pois aqui estou, cantando.

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Se eu nem sei onde estou,

como posso esperar que algum ouvido me escute?

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Ah! Se eu nem sei quem sou,

como posso esperar que venha alguém gostar de mim?

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CECÍLIA MEIRELES

Cecília Benevides de Carvalho Meireles foi uma poetisa, pintora, professora e jornalista brasileira. É considerada uma das vozes líricas mais importantes das literaturas de língua portuguesa.

Nasceu a 07 Novembro 1901 (Rio de Janeiro, Brasil)
Morreu em 09 Novembro 1964 (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil)

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pintura de Carruço, Angel, 2003 

1 comentário:

Leonor C.. disse...

Gosto muito desta poetisa

INÚTIL PAISAGEM de ANTONIO CARLOS JOBIM

  Mas pra quê? Pra que tanto céu? Pra que tanto mar? Pra quê? De que serve esta onda que quebra? E o vento da tarde? De que serve a tarde? I...