quinta-feira, outubro 20, 2005

Que fizeram dos nossos sonhos, Manuel ?





Que fizeram dos nossos sonhos, Manuel?





Estou no meu cantinho a escrever as minhas coisas, longe da ribalta. Mas agora tem que ser.

Meu nome é António Mesquita Brehm, tenho 78 anos, e escrevo este depoimento como simples cidadão português e não como Vitório Káli, escritor.



As traições não são apenas de agora e transformam sempre o destino dos homens.



Em 1962 encontrei-me, pela primeira vez, com Manuel Alegre em Luanda. Sacámos o santo e a senha da algibeira para nos identificarmos e, a partir daquele breve instante, metemo-nos numa das maiores aventuras das nossas vidas. Combinámos formar um único grupo com armas na mão e derrubar o regime de Salazar.



A guerra colonial havia começado tempo antes, centenas de colonos portugueses tinham sido cruelmente abatidos nas matas do norte de Angola e alguns milhares de negros sofriam agora perseguições e morte nos musseques de Luanda. A vergastada emocional paralisou os nervos da população. Mas toda a gente lúcida sabia que se tornara imperioso estancar aquele martírio inútil dos nossos povos.

Se tomássemos o poder em Luanda e controlássemos Angola, faríamos um ultimato a Salazar e encetaríamos negociações com os movimentos de libertação para discutirmos as condições da independência do território protegendo não só os direitos naturais dos angolanos como ainda de todos os portugueses que ali viviam.



Foi então, às vésperas do golpe militar, que um oficial nosso compatriota nos traiu (ele e alguns mais) e nos denunciou à PIDE acusando-nos de estarmos a vender Angola às forças de Satanás. Toda a cabeça do grupo revolucionário foi presa e encurralada na Prisão de São Paulo de Luanda. Nas celas pegadas às do Luandino Vieira, do António Jacinto e do António Cardoso, cujos nomes ficaram bem gravados na literatura angolana.



Hoje, na proximidade de grandes decisões para o nosso país, afinal também o mesmo acontece. A traição tem sempre um preço.



Estes factos foram determinantes para a evolução da guerra de Angola. E ela continuou por mais onze anos provocando milhares de mortos e estropiados ao exército português e genocídios aterradores de populações angolanas, a fuga em massa dos nossos colonos que lá deixaram os seus haveres, tudo aquilo que era afinal o resultado de muitos anos de trabalho e esperanças. E a destruição de toda uma economia regional que deveria sustentar o futuro de um dos países africanos mais poderosos, e possibilitando o assalto das elites angolanas e dos oportunistas desta lusa terra ao domínio dos grandes negócios e dos empregos milionários enquanto o povo humilhado sofria a fome, a doença, o estropiamento e o abandono.



Pois isto aconteceu muitos anos antes da revolução do 25 de Abril. E teria certamente apontado novo caminho ao futuro de Portugal e de todas as nossas antigas colónias africanas. Os poderes oficiais, e aquela cáfila que deles se aproveita, fizeram uma lavagem da História. Nunca falaram sobre o golpe militar de 1963 em Luanda. Mas o nosso processo policial está fechado a sete chaves, desde há muito, nos Arquivos da PIDE e um dia será detalhadamente revelado para espanto de muita gente. Também eu publicarei mais tarde meu livro de memórias sobre este período da nossa vida colectiva.



Neste momento da candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República, é meu dever recordar a nossa saga de Angola, a figura lendária do Silva Araújo com o seu esquadrão de 500 guerreiros africanos, o major José Ervedosa que, no comando dos aviões de bombardeamento das bases da Ota e do Montijo da Força Aérea Portuguesa lançou as bombas de napalm nos sítios desertos da região de Malange para desrespeitar as ordens de massacrar os milhares de trabalhadores em greve da Baixa do Cassange, o Felisberto Lemos, gerente da Livraria Lello de Luanda, onde se organizaram também muitos encontros clandestinos, o comandante Jeremias Tschiluango dos guerrilheiros do Norte que logo se dispôs a levantar esquemas logísticos para nos ajudar a ocupar Luanda, o chefe Matifoge que roubou armas e munições nos quartéis portugueses.

E aqueles homens como o Vítor Barros, deputado da nossa Assembleia Nacional, que no Huambo nos abriu as portas dos gabinetes dos chefes militares das tropas da cidade, e o engenheiro Fernando Falcão que no Lobito havia preparado o levantamento da sua população contra o regime de Salazar.

E tantos outros oficiais e praças do nosso exército colonial e incógnitos civis que, desde a primeira hora, se integraram no movimento para a defesa da Liberdade.



E também muitos poetas e intelectuais (que palavra horrível) como o Alexandre Dáskalos, o Cochat Osório, o Adolfo Maria, o Henrique Abranches, o Mário António, o Aires de Almeida Santos, o Neves e Sousa, e os nossos camaradas do 1º Encontro de Escritores de Angola realizado no Lubango em Janeiro de 1963. Porque as revoluções também se preparam com poetas, escritores e artistas.



Mas a hora chegara.

E o nosso Manuel Alegre, o nosso grande poeta da gesta portuguesa e da nossa Resistência, foi também então um dos grandes líderes desta revolta armada. E muito deverá contar aos portugueses sobre aquelas horas transcendentes.



Por fim desejo contar dois episódios acerca dele nesse período que nunca esqueci. O primeiro aconteceu no pátio da nossa prisão na hora do recreio quando, de repente, recebemos a visita de São José Lopes, Director Geral da PIDE, que vinha "inspeccionar" o nosso comportamento. Perguntou diversas futilidades sobre a prisão, estacou diante do meu companheiro e disparou: – "Diga lá, senhor Alferes, se esta situação estivesse invertida e você me tivesse preso, o que faria?". Manuel Alegre não vacilou um segundo e respondeu-lhe com firmeza: – "Olhe, senhor Director, mandava-o prender sem hesitações para ser julgado e depois condenado, sem dúvida". São José Lopes, o senhor todo-poderoso da polícia secreta em Angola, ficou perplexo. Não esperava por tal desafio, esteve algum tempo calado e depois sentenciou: – "O senhor Alferes é um homem de coragem". Qual seria o preso, naquelas condições, que o enfrentaria com tal dignidade?



O segundo passou-se em minha casa quando fomos libertados, muitos angolanos nos vieram saudar. Recordo que nessa noite de alegria os funcionários negros da Texaco (a estação de serviço ao lado) nos bateram à porta para nos entregar duas galinhas vivas e era essa a singela homenagem de agradecimento pela luta que sempre travámos junto deles. Foi um bonito ritual de que só, muitos anos depois, entendi no seu verdadeiro significado. Madalena, minha fiel lavadeira da Vila Alice, a pequena Lídia que se esgueirava pelos becos com nossas mensagens, Simão, o carpinteiro do Rangel, que dirigia o grupo dos batedores do bairro e alguns outros, lá estavam presentes à nossa espera, as bocas rasgadas no melhor sorriso que vi até hoje. Manuel Alegre ficou com as lágrimas a brilhar de emoção quando eles o abraçaram. – "Somos todos irmãos", lhes disse. "Um dia os nossos povos caminharão sempre juntos".



Então, senhores historiadores, que é feito dos vossos conhecimentos e da vossa memória?

A juventude portuguesa terá que saber da verdade histórica que, nos subterrâneos do tempo, fundamentou o nascimento das nações africanas que falam a nossa língua e nos deu então a liberdade. A liberdade que ainda temos.



Que fizeram dos nossos sonhos, Manuel?



Decorridos tantos anos, o que vemos?

A nossa revolta de 63 foi enterrada, o 25 de Abril morreu há muito, os velhos conceitos políticos transfiguraram-se do dia para a noite (não apenas simbolicamente), já não existem esquerda e direita mas uma nova linha ética que marca plenamente dois territórios, o mundo dos homens que defendem o povo, os humildes e os pobres, o imperativo categórico da verdade, a igualdade de oportunidades e, do outro lado, aqueles que se defendem a si próprios, as suas fortunas, os seus privilégios, as suas leis ultrapassadas na justiça, na educação, na saúde, na administração, provocando a miséria do pão-nosso de cada dia, a insegurança nas ruas, a destruição das nossas florestas e os incêndios programados, a corrupção nos serviços, os compadrios dos partidos políticos (em que todos se ajeitam), as incompetências dos serviços públicos, os discursos vazios de dirigentes partidários, o negocismo que manda construir estádios megalómanos em detrimento da construção de novos hospitais, o absurdo despesismo com os nossos soldados no estrangeiro, a aquisição de material de guerra que ninguém sabe contra quem, enfim, o crescente divórcio entre o povo e o Estado.

A lista não tem fim.



Compete ao futuro Presidente da República corrigir estes desmandos e vigiar o comportamento ético do Estado. Sim, Ético. E estamos em cima do fio da navalha:

Se o povo português não compreender que estas eleições são as mais importantes em Portugal depois do 25 de Abril e não souber votar com a consciência de que é o futuro da nossa juventude (o futuro do país) que está em causa, então jogará a pátria nos braços e nas garras de soberanias alheias.

Basta.

Que não se fale tanto em democracia a torto e a direito mas que a pratiquem de coração aberto.

Não são os partidos que elegem o Presidente.

O povo é que deve dar a sua Voz.



Esta é a mensagem que te deixo nesta hora dramática da vida dos portugueses. A nação procura um homem sério, corajoso, leal, abnegado, generoso e honrado. Com a dignidade das íntimas convicções.

Avança, Manuel.



Publicado em:

www.manuelalegre.com

quarta-feira, outubro 19, 2005

Agenda de Outubro - II

ALJUSTREL







FEIRA NOVA DE OUTUBRO





Os frutos secos da época voltam a ser reis e senhores na edição 2005 da Feira Nova em Aljustrel. Trata-se de uma tradição que se repete, entre os dias 21 e 24 deste mês de Outubro, no recinto exterior do Parque de Exposições e Feiras da Vila Mineira.

Este ano a Câmara Municipal de Aljustrel, a entidade promotora, volta a apostar neste certame que, a cada ano que passa, cresce em número de visitantes e de feirantes. Um crescimento positivo que não é de estranhar já que a autarquia tem apostado no entretenimento e na cultura.

No que toca ao certame principal as tradicionais barraquinhas dos feirantes vão, mais uma vez, marcar forte presença nesta feira de Outubro onde se podem adquirir os mais variados produtos desde roupa, sapatos, enchidos, queijos, produtos artesanais entre muitos outros artigos.

Os frutos da época são um dos principais atractivos desta feira que “convidam” todos os anos centenas de pessoas a visitar o certame. Tanto as nozes, como os figos secos, as amêndoas, os pinhões e as castanhas assadas quentinhas, anunciadas pelo cheiro e pelo pregão característico dos vendedores, fazem as delícias de todos.







IV FEIRA DO LIVRO E MULTIMÉDIA




Mais de meia centena de editoras marcam presença em Aljustrel



À semelhança do que tem sucedido nos últimos anos a Câmara Municipal de Aljustrel promove, em simultâneo com a Feira Nova de Outubro, a Feira do Livro e Multimédia. Uma mostra a visitar no Pavilhão do Parque de Exposições e Feiras de Aljustrel de 21 a 26 de Outubro.

Trata-se de uma iniciativa da Biblioteca Municipal de Aljustrel que reúne mais de meia centena de editoras que apresentam nesta mostra cerca de 5 mil livros. Neste universo imenso de géneros literários pode encontrar-se obras para todos os gostos dos mais variados autores portugueses e estrangeiros. Uma mostra com livros infantis, policiais, culinária, livros técnicos, jardinagem, filosofia, decoração, romance, poesia, prosa entre muitos outros.

Marcam também presença nesta feira editoras discográficas que trazem até à vila mineira as últimas novidades em CD, vídeos e DVD`S. Tudo a preços convidativos.

Para animar ainda mais este certame, do ponto de vista do entretenimento, actuam, sexta-feira à noite, o grupo de música tradicional “Serões do Alentejo” e grupos corais e etnográficos do concelho de Aljustrel.

Integrado na programação da Feira do Livro e Multimédia vai ainda estar patente ao público uma exposição de pintura do NAVA, Núcleo de Artes Visuais de Aljustrel.




ALVITO-FEIRA DOS SANTOS




BEJA





PAX JULIA - Teatro Municipal


Visite o site PAX JULIA que lhe dá todas
as informações sobre cinema, teatro, música, dança, multidisciplinares, exposições.

Insensatez




Ah, insensatez que você fez
Coração mais sem cuidado
Fez chorar de dor o seu amor
Um amor tão delicado
Ah, por que você foi tão fraco assim
Assim tão desalmado
Ah, meu coração, quem nunca amou
Não merece ser amado

Vai, meu coração, ouve a razão
Usa só sinceridade
Quem semeia vento, diz a razão
Colhe sempre tempestade
Vai, meu coração, pede perdão
Perdão apaixonado
Vai, porque quem não pede perdão
Não é nunca perdoado.



Vinícius de Moraes

terça-feira, outubro 18, 2005

Arrojos





Se a minha amada um longo olhar me desse
Dos seus olhos que ferem como espadas,
Eu domaria o mar que se enfurece
E escalaria as nuvens rendilhadas.



Se ela deixasse, extático e suspenso
Tomar-lhe as mãos "mignonnes" e aquecê-las,
Eu com um sopro enorme, um sopro imenso
Apagaria o lume das estrelas.



Se aquela que amo mais que a luz do dia,
Me aniquilasse os males taciturnos,
O brilho dos meus olhos venceria
O clarão dos relâmpagos nocturnos.



Se ela quisesse amar, no azul do espaço,
Casando as suas penas com as minhas,
Eu desfaria o Sol como desfaço
As bolas de sabão das criancinhas.



Se a Laura dos meus loucos desvarios
Fosse menos soberba e menos fria,
Eu pararia o curso aos grandes rios
E a terra sob os pés abalaria.



Se aquela por quem já não tenho risos
Me concedesse apenas dois abraços,
Eu subiria aos róseos paraísos
E a Lua afogaria nos meus braços.



Se ela ouvisse os meus cantos moribundos
E os lamentos das cítaras estranhas,
Eu ergueria os vales mais profundos
E abateria as sólidas montanhas.



E se aquela visão da fantasia
Me estreitasse ao peito alvo como arminho,
Eu nunca, nunca mais me sentaria
Às mesas espelhentas do Martinho



Cesário Verde

segunda-feira, outubro 17, 2005

Se minhas mãos pudessem desfolhar





Pronuncio teu nome
nas noites escuras,
quando vêm os astros
a beber na lua
e dormem as ramagens
dos arvoredos ocultos.
E sinto-me vazio
de paixão e música.
Louco relógio que canta
antigas horas mortas.

Pronuncio teu nome,
nesta noite escura,
e teu nome me soa
mais distante do que todas as estrelas
e mais dolente do que a mansa chuva.

Tornarei a te querer como então
alguma vez? Que culpa
tem meu coração?

Se a névoa se dissipa,
que outra paixão me espera?
Será tranqüila e pura?
Se meus dedos pudessem
desfolhar a lua!!



*


Para A Dizzie e Romero


*


Si mis manos pudieron deshojar


Yo pronuncio tu nombre
en las noches oscuras,
cuando vienen los astros
a beber en la luna
y duermen los ramajes
de las frondas ocultas.
Y yo me siento hueco
de pasión y de música.
Loco reloj que canta
muertas horas antiguas.

Yo pronuncio tu nombre,
en esta noche oscura,
y tu nombre me suena
más lejano que nunca.
Más lejano que todas las estrellas
y más doliente que la mansa lluvia.

Te querré como entonces
alguna vez? Que culpa
tiene mí corazón?

Si la niebla se esfuma,
qué otra pasión me espera?
Será tranquila y pura?
Si mis dedos pudieron
deshojar a la luna!!



Federico García Lorca

sexta-feira, outubro 14, 2005

Agenda de Outubro




Castro Verde





14 – 15 e 16 de Outubro – Feira de Castro


O ritual repete-se todos os anos. É a azáfama ensurdecedora, que num ambiente outonal, confere às ruas um colorido único. Um cheiro já característico invade as ruas. De um lado, o polvo assado, do outro o algodão doce e o torrão de alicante. Há ainda o vendedor de castanhas e os algarvios com os frutos secos.

No âmbito deste evento secular, em parceria com associações e colectividades do concelho, a Câmara Municipal de Castro Verde, preparou um conjunto de iniciativas culturais que procurarão enaltecer o valor deste momento histórico.







Ferreira do Alentejo





Até 16 de Outubro – “O CORPO” – Exposição de Pintura

e Escultura de Nazareth Moreira.


De 20 de Outubro a 20 de Novembro – Exposição de

trabalhos do Centro de Convívio de Aldeia

de Rouquenho


29 de Outubro – 21h30 – No Auditório da Biblioteca

Municipal – Espectáculo do Grupo de Teatro Arte

Pública:

“CAMÕES é um poeta RAP”


VII Jogos Culturais do Concelho de Ferreira do

Alentejo –

Temática : Ambiente –proteger, preservar, partilhar.

Prosa – Poesia – Artes Plásticas – Música – Fotografia

Entrega de trabalhos até 30 de Novembro de 2005.






Alvito - 29 - 30 -31 de Outubro e 01 de Novembro

A última feira do Baixo Alentejo. Acontecimento

centenário.

Festejam-se 710 anos de tradição.

Preenche todo o Rossio e diversas ruas

desta Vila.

Nela se encontram os mais diversos produtos,

marcando presença significativa a fruta e os

frutos secos. Aqui se pode encher a dispensa

para o Natal.

quinta-feira, outubro 13, 2005

Saudades do Alentejo




Sou filho da terra quente,
das searas, do montado …
Trago das canções dolentes,
o passo cadenciado.


Saudoso das leiras trigo,
vivendo em terra emprestada,
nas longas noites sem sono,
perdido neste abandono,
vou desfiando comigo,
contos perdidos na estrada …


Tenho na pele marcados
os traços de mil suões,
e os olhos tristes, magoados,
que eu herdei dos ganhões.


Guardo raízes profundas
dum campo velho, cansado,
onde mesmo em tempo agreste,
nascia uma flor silvestre,
naquelas terras fecundas,
de Alentejo ignorado.


Eu nasci p’ra lá do Tejo,
guardo da terra a lembrança …
Eu pertenço ao Alentejo,
que me conheceu criança!


Voltarei um destes dias,
com um bando de pardais …
hei-de voar pelos montes,
beber as águas das fontes,
cantar velhas melodias,
e embebedar-me em trigais.


Orlando Fernandes in Fronteiras do Sonho

“O poeta é natural do país-do-Sonho. Entre o país-Comum e o país-do-Sonho existe uma fronteira a que chamamos condição-humana. Só é possível passar tal fronteira com um cavalo-alado. Para o país-do-Sonho não é preciso levar bagagem material. No país-do-Sonho as grandes cidades são construídas com Amor, Liberdade, Infinito e Eternidade.
Que num qualquer mágico dia-físico nos possamos lá encontrar!”

Ângelo Rodrigues


O “BEJA” tem o grato prazer de editar estes trabalhos de Orlando Fernandes e, em breve, de novo voltaremos às Fronteiras do Sonho.
Bem haja !




VOLTAVA A GOSTAR DE TI




Sonhos perdidos na bruma,
Quimeras feitas de espuma
São rendas que a vida tece;
Dá-se às vezes por cegueira
Uma vida toda inteira
A quem depois nos esquece.


Olho as linhas desenhadas
Em rotas desencontradas
Que as pombas traçam no ar;
Lembram-me os caminhos meus
Que por destino dos céus
Percorri p’ra te encontrar.


Hoje estou de alma serena,
Pois sei que valeu a pena
Cada hora que vivi;
E se por destino ou fado
Voltasse atrás ao passado…
Voltava a gostar de ti!



Orlando Fernandes in Fronteiras do Sonho










SOLIDÃO



Quero mergulhar no fundo dos teus olhos,
Este amor gritar perdidamente;
Esquecer que a minha vida é mar de escolhos,
Barco solto levado p’la corrente.


Sentisse uma só vez o teu carinho,
Um gesto de ternura ou de afeição,
E não me quedaria tão sozinho
Na minha louca e triste solidão.


Dou vida em cada dia à falsa imagem
Dum sonho renovado, uma miragem
Que se esfuma para lá do horizonte.


Falho de amor, de esperança e de coragem,
Caminheiro perdido na viagem,
Morto de sede … à beira de uma fonte!



Orlando Fernandes-in Fronteiras do Sonho

quarta-feira, outubro 12, 2005

Compreensão




Deixaste que o meu olhar
te escorregasse pelos cabelos longos!
Consentiste que a minha voz
te envolvesse docemente os sentidos!
Não lutaste quando os meus braços
cingiram teu corpo delicado!


Porque me esperavas havia muitos anos …
E sabias que eu viria!


Não choraste quando te murmurei
que teria que te deixar!
Não tentaste prender-me
quando parei de acariciar a tua pele macia!
Sorriste, numa compreensão amargurada
quando te acenei na despedida!


Porque me conhecias havia muitos anos …
E sabias que eu partiria!





Orlando Fernandes - Natural de Ferreira do Alentejo -

terça-feira, outubro 11, 2005

ALVITO-Um fim de semana prolongado II



O prometido é devido. Faltava contar alguns eventos que decorreram em Alvito mas as
eleições autárquicas cortaram um pouco a
resenha. No entanto aqui fica um resumo.


I Encontro de Turismo de Alvito

“Baixo Alentejo: Que Turismo?”

Em parceria com a Região de Turismo
Planície Dourada a Câmara Municipal de Alvito
promoveu o I Encontro de Turismo de Alvito.

Esteve presente a Arquitecta Fernanda Vara
Adjunta do Secretário de Estado do Turismo.

Participaram de manhã:

Catarina Vilaça de Sousa – Coordenadora do Projecto Rota do Fresco-

Rafael Alfenim – IPPAR

José Manuel Simões – Coordenador Plano de Desenvolvimento Turístico Alentejo-Universidade Lx/CEDRU

Francisco Ramos – Presidente Dep. Sociologia da Universidade de Évora

Foi moderador Pedro Cravo – Coordenador Curso Estrat. Gestão Turísticas- ESTIG

De tarde participaram :

Luís Castanheira Lopes – representante do Grupo Pestana Pousadas

Jaime Serra – Docente do Curso de Estratégia e Gestão Turísticas-ESTIG

Manuel Maria Barroso – Gab. Relações Internacionais – Ministério da Educação

Foi moderador José Manuel Nunes – Presidente da Assoc. Desenv. Terras do Regadio





Este Encontro pretendeu reunir vários especialistas em matéria de turismo num programa que visou igualmente a divulgação do património e do turismo do concelho de Alvito e dos outros concelhos da Região de Turismo Planície Dourada.

Procuraram-se respostas para perguntas que se prendem com o turismo actualmente desenvolvido na região e o turismo que se gostaria de incrementar.

Foi um programa bem conseguido com algumas excelentes exposições perante uma assistência interessada. Um único senão foi a estranha ausência
de elementos responsáveis das autarquias na parte da tarde.




No Espaço Multiusos do Centro Cultural de Alvito foi inaugurada a Exposição de Fotografia “Retrospectivas” de João Espinho.

Foi com imensa alegria que aí nos deslocámos para ver e sentir a excelente mostra de alguns trabalhos do nosso amigo Nikonman .

Foi um momento especial pois tive finalmente oportunidade de conhecer pessoalmente o João Espinho, a Mad e uma sua Filha.

Aproveito a ocasião para de novo recomendar a visita ao seu site onde podem avaliar os seus trabalhos. Daqui retirei mais estes belìssimos retratos para vos aguçar o apetite.








Ainda houve oportunidade, a partir da Igreja Matriz de Alvito, de percorrer a Rota do Fresco ao Luar, brilhantemente apresentada pela Doutora Catarina Vilaça de Sousa ( Coordenadora do Projecto Rota do Fresco).Terminou na Ermida de S. Sebastião esta Rota.

Fazemos votos para que não se concretizem as notícias do afastamento desta estudiosa do Projecto que iniciou e a que se dedicou de alma e coração.






Terminaram estes eventos com a apresentação, na Praça da República, de três Grupos Corais de Alvito,
perante uma boa assistência.


segunda-feira, outubro 10, 2005

V-I-T-Ó-R-I-A





O MOVIMENTO INDEPENDENTE - M.I.- ganhou as

eleições autárquicas em Alvito.


Eis os resultados:

M I -----------------------549 votos--33,76%-Mandatos-2

P S---------------------------354votos------21,77------1

PCP-PEV-------------------339votos------20,85-------1

PPD/PSD.CDS/PP.PPM—330votos----20,30------------1


O Presidente da Câmara é João P. A. Lança Trindade.
.




Alvito acreditou no Movimento Independente.Aceitou

o programa de candidatura. Facultou a possibilidade

de levar a bom termo as suas propostas.

O Movimento Independente vai ter uma tarefa muito

difícil dadas todas as contingências actuais mas como

acreditou no projecto que defendeu com muita luta e

sacrifício também agora será capaz de levar

por diante e cumprir as promessas que fez

ao Povo de Vila Nova da Baronia e Alvito.



Confiança plena nos elementos desta Equipa.

Esperança que se consigam concretizar as linhas

prioritárias do seu Programa.


O “Beja” envia felicitações ao M I e votos dos maiores

sucessos na caminhada que ora se inicia.

sábado, outubro 01, 2005

MOVIMENTO INDEPENDENTE - ALVITO e VILA NOVA DA BARONIA


Trabalho - Rigor - Seriedade - Isenção - Humildade



Uma equipa para trabalhar com todos e para todos!!!

A sua (única) alternativa de mudança !












"A todas as pessoas do Concelho de Alvito; jovens e anciãos, mulheres e homens, com ou sem partido e ou de todos os partidos, de todas as religiões ou sem religião, ricos ou pobres, a todos...SEM EXCEPÇÃO ALGUMA, dirigimos este esclarecimento.

Nós: o ( pedro, a maria, o antonio o manel ) somos aqueles que vocês encontram desde há muito pelas ruas de Vila Nova e Alvito, conhecem as nossas famílias e as nossas historias de vida, têm ideia das nossas qualidades e defeitos, sabem que somos diferentes uns dos outros, que temos opiniões diversas sobre muitas coisas, sabem que entre nós, mesmo no campo político partidário, as simpatias são muito diferenciadas.

Sabem tudo isto e, por isso, é normal que se perguntem o que é que nos une, ao ponto de vos propor que confiem nesta equipe para, com a vossa participação e empenho, transformar o Município de Alvito, numa terra onde muita gente gostaria de viver.

O que nos une...é a vontade firme de ficar... ficar e lutar para que os nossos filhos e os filhos dos nossos filhos tenham condições para continuar a povoar estas terras que são a referência da nossa identidade.

Ficar...para que a diminuição constante e progressiva do número de habitantes não leve ao desaparecimento do Município.

Ficar...para tentar ser exemplo de não resignação, de não aceitação do fatalismo de ter de partir para poder governar a vida.

O que nos UNE....é a vontade de nos unirmos para travar a batalha da sobrevivência deste Município."


"....
A maneira de governar um Concelho desta dimensão, pode, por si só, ser a âncora chave do seu desenvolvimento, basta ousar inovar e investir inteligência, persistência e determinação nesse objectivo.

Viver numa terra onde “ a governação é um apelo pedagógico à participação dos cidadãos no quotidiano das decisões formais e informais da comunidade” pode ser motivo suficiente para atrair a esse espaço as pessoas que tanta falta fazem à sustentação do seu desenvolvimento.

Ser capaz de conceber e desenvolver um tal processo, é bem mais importante que elaborar linhas programáticas baseadas em listas de obras a fazer, cada qual a ver quem mais obras promete, quer haja ou não recursos materiais e financeiros para as executar !."

"....
Embora estejamos conscientes da necessidade, (dados os condicionalismos da tradição), de também proceder a uma listagem de intenções de realização de iniciativas e obras, queremos deixar bem claro que, para as pessoas de Alvito e Vila Nova da Baronia, o mais importante não devia ser dizer que obras ou iniciativas nos propomos fazer, mas sim, COMO VAMOS FAZER ESSAS COISAS...com as pessoas ou sem elas.

INOVAR....romper com a velha maneira de “Governar como se o poder dado pelo voto fosse um poder que pode dispensar a participação cívica de todos os cidadãos e o diálogo democrático com a as entidades da Sociedade Civil organizada”... é possível. POSSÍVEL e necessário, até para a salvaguarda da Democracia e da LIBERDADE.

Governar para as pessoas, sem que elas participem dos processos de discussão e decisão, é governar contra elas. À escala Local...este é o grande desafio do nosso tempo...têm futuro os territórios que o compreenderem e assumirem !

Bem sabemos que -“palavras leva – as o vento”- e que, palavras de candidatos, raramente significam actos.

Nós já não somos apenas candidatos, para lá dos resultados eleitorais, assumimos a nossa condição de militantes activistas para que Alvito seja “ Terra onde muita gente gostará de viver”.

OLHOS NOS OLHOS, MÂOS NAS MÂOS...PELA NOSSA TERRA."




(Excertos de um texto de um apoiante do Movimento Independente)

.





- ALVITO - Um fim de semana prolongado


Passei uns dias em Alvito onde tanta coisa acontece.

Posso dizer que aproveitei bem cada momento ali passado. Assisti aos mais diversos eventos que tentarei resumir para deles vos dar conhecimento.

Antes, porém, devo ressaltar o “matar as saudades” dos muitos amigos e conhecidos que encontrei passados tantos anos. E como, por vezes, se tornou difícil identificar aqueles rostos… Muitos só lá fomos ouvindo os nomes de família ou as alcunhas que quase todos tínhamos na altura.
Também o conhecer pessoalmente quem só através dos blogs contactava , foi uma nova experiência. Foi uma sensação muito agradável.

Em todos os casos encontrei a maior simpatia, amizade e o melhor acolhimento.

Merece neste ponto incluir duas quadras da amiga Olinda:

A amizade é beleza,
É viver com alegria,
Reparte-se a gentileza
Vive-se bem dia a dia.


Ter amigos é viver,
Sentir o tempo passar,
Sem amigos é morrer
Sentindo a vida parar.


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Tive a oportunidade de assistir a um debate entre os 4 candidatos às Autárquicas, cabeças das listas dos partidos políticos CDU, PS, PSD e do MOVIMENTO INDEPENDENTE.

O salão estava repleto e sei que através da Rádio Planície (promotora do encontro) muitos foram os habitantes do Concelho que seguiram o desenrolar da sessão.

Bom sinal de cidadania.

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Participei num almoço dos naturais desta terra que estiveram no Ultramar.

Ponto de encontro onde se reviveram momentos já passados mas ainda tão vivos e que nos trouxeram
todo o género de lembranças.

Foi bom recordar e rever alguns amigos de então.


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(Foto retirada do Alvitrando)




Foi-me impossível estar presente na entrega de prémios de Poesia Raul de Carvalho e dos vencedores da IV edição dos Jogos Florais na Biblioteca Municipal de Alvito. Conto, no entanto, com a amiga Dina para vos dar essas notícias.

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Seguiu-se em Vila Nova da Baronia, na Igreja Matriz, o Concerto “A Música (en)canta o Património” com o St. Dominic’s Gospel Choir.

Novidade musical para estes lados foi aceite com entusiasmo pela assistência.

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Outra iniciativa, esta do Clube Natureza de Alvito – Competição de Orientação Pedestre - integrada na Taça de Portugal FPO, congregou à sua volta, segundo me informaram, cerca de 600 presenças (entre atletas e técnicos) e decorreu nos dias 24 e 25 nas ruas de Alvito tendo as metas de controle na Praça da República.


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No Domingo, correspondendo ao amável convite dos Ludinais, (maravilhosas pessoas de trato e simpatia) jantámos na Vidigueira, no restaurante Vila Velha que recomendo vivamente.
Saboreei uma açorda alentejana com bacalhau como já há muito não o fazia. O vinho da Herdade dos Pinheiros acompanhou soberbamente este manjar.
Voltarei certamente a visitar esta casa em próxima oportunidade.

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Ficamos por aqui, por hoje. Mas muito mais vos tenho para contar :

-I Encontro de Turismo de Alvito.

-Exposição de Fotografia "Retrospectivas" de JOÃO ESPINHO.

-Rota do Fresco ao Luar.

-Alvito em Concerto.

quinta-feira, setembro 29, 2005

P E R D Ã O




Regresso à minha terra; andei perdido...

Chamem-me réprobo, ignaro, o que quiserem...

Sou como o pássaro que, depois de ferido,

Que Deus lhe dê a campa que lhe derem...



Não olho altares, não rezo, não ajoelho,

Mas em minha alma a comoção dorida

De quem volta de longe, de bem longe...,

E encontra à sua espera toda a sua vida...



Ouço as primeiras falas que empreguei,

Vejo as primeiras luzes que enxerguei,

Amo as primeiras coisas que dei

O amor que Deus pôs em quanto amei...



E trago tudo junto, aqui, no peito

Neste albergue de vozes, gentes, passos,

Lúgubre às vezes, soalhento às vezes,

E tanto, tanto meu, que lhe criei o gosto



Verdadeiro de quem ama e já não chora

Porque o chorar passou... a despedida

Melhor que um poeta pode dar à Vida

É despedir-se dela num sorriso:



Talvez num beijo... Talvez numa criança

Que o mundo, ao largo mundo vem mandada

Por seus pais que a criaram, sua terra que a viu

Quando ela foi por Deus nada e criada...



Agora temos tempo de fartura

(Quer faça sol ou vento, ou entristeça

A minha mente, e a minha voz se esqueça...)

De ir cantando de novo, à aventura...



À aventura dos limos e das seivas,

Das secas e dos montes, dos moinhos,

Dos pais que não se fartam de sentir

A dor sublime de ver crescer os filhos...



Terra de alqueives, ou monda, ou de pousio,

Terra de largos trigueirais ao sol,

— Quem vos mandou contaminar-me,

E para sempre, do vosso resplendor?...



Poalha luminosa, mas agreste;

Folha de zinco em brasa; imensidão;

A toda a volta — Tanto em vós como em mim —

Implantou Deus a solidão.



Solidão! de hastes curvas no silêncio

Que dá a volta inteira à terra inteira,

Solidão que eu invoco como se

Vos conhecesse pela primeira vez!...



Subo os degraus a medo; páro e ouço...

O que ouço eu? a voz dos sinos? minha mãe?

É com palavras simples e em segredo

Que eu beijo a terra onde nasci também,



Bernardim, Florbela, meu louco e bom Fialho,

Meus irmãos de pobreza, e solidão, e amor preso,

Aqui vos trago o que hoje tenho: Um coração

Sofredor como o vosso, e como o vosso ileso!



Ó planície de alma! ó vento sem ser vento!

Ó ásperas vertentes ao nascente;

Ó fontes que estais secas, ó passeios

Da minha mágoa adolescente...



Como eu vos quero ainda! como eu sinto

Que tudo o mais é tédio e é traição...

Pode-se amar tudo na Vida, mas

Nunca se pode trair o coração.



Dele nos vem, mais tarde a confiança.

Do coração nos sobe, um certo dia,

Uma satisfação que já não pode

Sequer chamar-se-lhe alegria.



E todavia tanta... A de sabermos

Que ainda em nós se ergue e não distrai

A casa da esquina onde nascemos...

A torre que dá horas e não cai...



II



Peço perdão a Deus de ter voltado

Mais pobre e mais feliz: mais perdoado!



III



Voltei à minha terra; aqui faz sol!


.












Raúl de Carvalho / Poeta nascido em Alvito

domingo, setembro 18, 2005

ELA





À beleza tão pura do semblante,
à luz sublime que há nos olhos dela,
- pergunto-me a mim mesmo a todo instante,
como tão simples pode ser tão bela...

Diferente das outras, diferente
dos moldes tão comuns de uma mulher,
- ela me faz pensar num mundo ausente
deste que a gente sem querer já quer...

Bem que a quis esquecer - e noutro amor
procurei me enganar, acreditando
ser do meu pobre coração, senhor...

Em vão tentei... Em vão... Vendo-a naquela
doce e pura expressão - fico pensando
que é impossível não pensar mais nela!...




(JG de Araújo Jorge)


(Foto de Katia Franke)

sábado, setembro 17, 2005

Pensando em ti ...





AS LINHAS DO TEU SORRISO


Percorro de memória
as linhas do teu sorriso
de um traço sonhador
e um leve travo a saudade.
São como um convite
esses lábios que enfeitiçam
murmuram desejos
insinuam promessas
e incendeiam a vontade!
Percorro de memória
esses caminhos que foram meus
e que sei de cor ainda.
E por momentos fico assim,
perdida na lembrança
do delinear de um beijo...




(autora:MARIA JOSÉ CARVALHO)
(foto de Laurentiu Vasilescus - photosig)

sexta-feira, setembro 16, 2005

Negra era a noite ...



Negra era a noite, e a praia solitária,
E pesados os ares,
E tremendo o tufão, que Deus mandara
Varrer os largos mares

Nem astro, nem farol, nem luz, nem facho!
Nada. Rochas escuras,
A praia solitária, o mar imenso...
E Deus lá nas alturas!

Lívido o raio, atravessando as nuvens,
Veloz fendia o ar,
E com fita de fogo imensurável
Ao céu prendia o mar;

E a chama fugacíssima, rompendo
As trevas carregadas,
Mostrava as rochas nuas, quais se fossem
Gigantescas ossadas.

Enxofrados clarões, correndo ao largo,
Os campos inundavam;
E mil estranhas formas, despertando,
Incertas vacilavam.

Ruge, ruge, tormenta desvairada,
Ó filha do Deserto!
Na selva ruge, ruge nos rochedos,
Ao longe ruge, e ao perto!

Pálida e triste, a flor, medrada a custo
Na fenda de um rochedo,
Pendido o cálice, trémula vertia
Como um pranto, em segredo!

Do vendaval cortada, foi seu fado
Nascer, sorrir, findar!...
Teve por salva o estrondo da tormenta,
E por sepulcro o mar!

Na densa mata o secular carvalho,
Da força imagem fera,
Possante, contrastava até na morte
A flor da Primavera!

Não vergou, nem cedeu, curvando a fronte
Ao braço impetuoso
Do bulcão furibundo; o tronco duro
Lhe opôs, de si vaidoso!

Não vergou, mas, quebrado nas raízes,
Revolto, e destroncado,
Foi ludíbrio do vento, e do combate
Despojo malfadado!

E o rijo turbilhão corria ao largo,
Sem fim, sem rumo certo!...
Ruge, ruge, tormenta desvairada,
Ó filha do Deserto!




(José da Silva Mendes Leal)



(Foto de André Viegas - Olhares)

quinta-feira, setembro 15, 2005

Outono





Caravaggio - Rapaz com cesto de fruta - 1593/94




Antecipando a chegada do Outono ...


.



Num pálido desmaio a luz do dia afrouxa

E põe, na face triste, um véu de seda roxa...

Nuvens, a escorrer sangue, esvoaçam, no poente.

E num ermo, que o outono adora eternamente,

Vê-se velhinha casa, em ruínas de tristeza,

Onde o espectro do vento, às horas mortas, reza

E o luar se condensa em vultos de segredo...

Almas da solidão, sombras que fazem medo,

Vidas que o sol antigo, um outro sol, doirou,

Fumo ainda a subir dum lar que se apagou.




(Teixeira de Pascoaes)



terça-feira, setembro 13, 2005

Alentejo ai Alentejo ...




.............Foto e título de Lobo da Ponte.........


(Clique sobre a foto para ver esta maravilha em todo o seu pleno)

Gosto, Não Gosto ...Em Alvito

Ermida de S. Sebastião - Rossio in "Ensaio Fotográfico -Alvito Dourado"

Foto de Izhar Perlman

"Gosto de ter chegado a Alvito atrás de um sonho. Não gosto de sentir que, por vezes, a realidade é afinal distante. Gosto de pensar que ainda posso viver o tal sonho. Gosto de gostar de Alvito. Não gosto de, às vezes, ser obrigada a não gostar. Não gosto de não poder dizer o que penso. Gosto de lutar por aquilo em que acredito. Não gosto de não poder acreditar em certas pessoas. Gosto do céu muito azul das manhãs de primavera em Alvito. Gosto das cores das flores na primavera de Alvito. Gosto dos vizinhos da minha rua e também de outros de outras ruas que não a minha. Gosto de ver o Castelo da minha janela. Gosto de viver numa vila com Castelo. Não gosto de pensar que os Alvitenses vivem à sombra do Castelo. Gosto muito da lua cheia e intensa a espreitar no céu negro do meu quintal. Gosto das luzes da Matriz e de S. Sebastião. Não gosto da falta de luz de Sta. Luzia e Sto. António. Gosto de descer em passo de corrida a Rua do Salvador e atravessar o Rossio e as Alcaçarias ao ondular da brisa das manhãs. Gosto dos nomes das Ruas em Alvito. Não gosto de ver paredes com falta da cal branquinha. Gosto dos portais e janelas manuelinas. Gosto dos frescos das nossas igrejas e capelas. Não gosto que as pessoas não percebam a importância e o valor que eles têm. Não gosto de gente cheia de certezas. Gosto de gente que vê mais longe. Gosto da História de Alvito e de pessoas que fazem com que as memórias do concelho sejam revisitadas. Gosto dos velhinhos que se sentam ao pé da fonte. Não gosto quando alguém não responde aos meus bons dias. Gosto de ouvir pardais e rouxinóis a cantar e esvoaçar por cima da amoreira. Não gosto que tapem o Largo das Alcaçarias. Gosto de perceber que mesmo com o largo tapado, as pessoas nos descobrem. Gosto quando os viajantes saem de Alvito com o desejo de voltar. Não gosto das "vistas curtas" e da inércia de algumas pessoas. Gosto de muitas pessoas de cá. Não gosto que muitas se desliguem das coisas da sua terra. Gosto quando alguém me diz que se interessa. Gosto de "Água de Peixes". Não gosto de ter de dizer que a entrada é proibida. Gosto de me entusiasmar quando alguém percebe o meu gosto... por Alvito. Não gosto que não gostem de Alvito. Gosto de acreditar que Alvito vai seguir em frente. Gosto de ser uma forasteira que veio com os seus dois amores atrás do sonho... para Alvito.





Escrito em Agosto, 2002.
Revisto em Junho, 2003. (Curiosamente, quase um ano depois continuo a gostar e a não gostar das mesmas coisas... mas como se percebe pelos “gostos” o balanço é francamente positivo)!





Transformado em “Post” em Setembro, 2005. Quando tudo permanece na mesma…"


NOTA DO "BEJA":

Transcrevi este belo texto, com sua permissão, do blog GASTR'EAT

Só quem sente a realidade pode viver estas palavras. Como se fossem ditadas por mim elas surgiram muito melhor escritas por Ludinais que além dos amores que já transportavam para Alvito aqui criaram nova paixão por esta terra. Que Alvito os saiba acolher com a sua característica hospitalidade. Por certo encontrarão alguns escolhos mas passai ao largo. Há-os em todo o lado e só existem para perturbar a harmonia e o amor. Amor que nunca sentiram e nem sabem o que é.
Pela minha parte e como Alvitense de coração recebo-os de braços abertos num amplexo de amizade e reconhecimento.



segunda-feira, setembro 12, 2005

Dois Caminhos



Medir em tudo, do chão que se alarga,
o bosque e o muro, o quintal sem alarde,
a lembrança na boca, e tão amarga,
tão terrível, que dela o sol não guarde
rastro ou notícia. O negrume, a ária
de privações e ausências que me invade.
A paixão maior, e mais ordinária,
que arma em mim tamanha brutalidade.
Medir em tudo o verão que me enfada:
seus celeiros, seus moinhos, seus bois.
Uma história vivida e não contada.
Há dois caminhos, tão-somente dois.
Agora urge amar a vida, e mais nada.
Tudo o que desconheço vem depois.





(Iacyr Anderson de Freitas)


(Foto de Sónia.Fernandes.Fragoso - Olhares)

sábado, setembro 10, 2005

LUTA GLOBAL CONTRA A POBREZA

fome mais do que
fome
é
terror é
terrorismo
fome mais do que
nome
é
atentado é
crime
contra a
h u m a n i d a d e



(Moacy Cirne)






DIA DA FAIXA BRANCA


White Band Day -10 TH



Dia 10 DE Setembro, milhões de pessoas, em todo o mundo, tomarão parte em acontecimentos que marquem o DIA DA FAIXA BRANCA.


A FAIXA BRANCA é o símbolo para a luta global contra a pobreza. Podes confeccioná-la com qualquer tira de tecido ou fita branca e usá-la no vestuário ou no corpo.
Por muito que, cada vez mais, duvidemos da bondade das políticas e dos políticos, bem como da eficácia dos nossos apelos temos que os fazer até que eles os submerjam e não possam mais ser ignorados.


Junta-te a nós. Usa a tua FAIXA BRANCA e subscreve uma petição aqui:



www.whiteband.org/Actions/un/eng/takeaction

A Meia Hora de Sol




A Meia hora de sol

Eram casados, mas na verdade como se o não fossem, pois quatro anos volvidos sobre o registo legal, continuavam "amantes" quer na paixão com que se entredevoravam quer na disponibilidade que entendiam dever preservar. Escolhiam-se dia a dia um ao outro. Não tinham horário para o amor. E, como a vida de Mateus estava sempre ameaçada, muitos dos instantes em que se uniam tinham para eles um gosto atormentado e exaltante de primeira vez e de nunca mais. Mas eram alegres. Iam jantar fora com frequência e até passavam fins de semana muito íntimos, quase clandestinos, em pequenos hotéis retirados, de atmosfera civilizada e sorridente, governados por estrangeiros.

Na manhã em que o vieram buscar - dois homens à porta e outros dois na rua - ele cerrou os dentes com força, recusando-se à emoção em altura tal, e só lhe disse:
- Espera por mim, Júlia!

Mas beijou-a, primeiro na boca e depois nas mãos, com devoção, como a desfazer-se em água de alma, que nem ele jamais se apercebera de que lhe queria também assim.
No isolamento da cela reinventava-a, rememorava dia a dia, minuto a minuto, os quatro anos percorridos lado a lado; lamentava o tempo que não lhe dava por esta ou por aquela razão; tinha-a, com toda a gama dos seus olhares, queixumes, suspiros, gritos e êxtases, em todos os alaridos raivosos da sua continência forçada. De noite, ele que briosamente velava, em face dos estranhos e de si próprio, pela sequidão dos seus olhos e pela nudez dos seus lábios, acordava debulhado em lágrimas, assistindo à agonia de ausência que ela, sozinha em casa, conheceria.
Depois foram as visitas - de cada vez meia hora de sol, mesmo que o sol exterior não luzisse no firmamento. Um vidro a separá-los, as palmas das mãos esposando-se, uma de cada lado dessa delgada, mas intransponível fronteira que os dividia. E quase nada conseguiam dizer. Falavam sobretudo pelos olhos, pelo tremer da boca, pelo pasmo atroz do final na ocasião de se separarem. A tarde que se seguia era de todas a mais dolorosa, mas ainda quente do calor de vida que ela trouxera. E sucedia-se o deserto de uma nova, longa, tórrida semana, contando os dias que faltavam para a luz breve de outra visita. Durante meses, e na perspectiva de anos iguais. (...)

As visitas tornavam-se, por vezes, amargas, extenuantes. Júlia adivinhava-lhe nas sombras e nos vincos do rosto a escureza da suspeita e, ao mesmo tempo, uma adoração descabelada (porque tudo ele ia, com efeito, obsessivamente concentrando nela) adoração, de resto, também odienta, a raiar por essa mesma forma de amor possessivo e dependente que dantes ele considerava - com o seu sorriso mais racional - uma forma de alienação. (...)

- É melhor que nunca mais voltes. Não, não venhas. Só nos ferimos um ao outro. Saio daqui, por dentro, a escorrer sangue. E tu vais-te embora ainda em pior estado.

Mas, Mateus, meu querido...

E ele voltou-lhe as costas (só, aliás, para que ela não o visse chorar). O guarda veio, abriu a porta, do lado dela, com um pesado ruído de chaves ferrugentas. Mateus soube, pelo som leve, mas lento, dos passos, que Júlia partira.

E nunca mais, em manhãs de sol, a sombra dos varões da janela se tornou em flores na parte caiada da cela, no dia que fora o da visita.




(Urbano Tavares Rodrigues)


Contos da Solidão (1970)


(Foto de JNunes -Ziggy- Gritos -Olhares)

quinta-feira, setembro 08, 2005

Mariana


Mariana, minha sobrinha-neta, 17 de Agosto - 21H45 - 3,565 - 51 cms



Que as asas providentes
De anjo tutelar
Te abriguem sempre à sua sombra pura!
A mim basta-me só esta ventura
De ver que me consentes
Olhar de longe... olhar!

João de Deus

Meus Oito Anos



Oh! que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!





Como são belos os dias

Do despontar da existência!

— Respira a alma inocência

Como perfumes a flor;

O mar é — lago sereno,

O céu — um manto azulado,

O mundo — um sonho dourado,

A vida — um hino d'amor!





Que aurora, que sol, que vida,

Que noites de melodia

Naquela doce alegria,

Naquele ingênuo folgar!

O céu bordado d'estrelas,

A terra de aromas cheia

As ondas beijando a areia

E a lua beijando o mar!





Oh! dias da minha infância!

Oh! meu céu de primavera!

Que doce a vida não era

Nessa risonha manhã!

Em vez das mágoas de agora,

Eu tinha nessas delícias

De minha mãe as carícias

E beijos de minhã irmã!





Livre filho das montanhas,

Eu ia bem satisfeito,

Da camisa aberta o peito,

— Pés descalços, braços nus —

Correndo pelas campinas

A roda das cachoeiras,

Atrás das asas ligeiras

Das borboletas azuis!





Naqueles tempos ditosos

Ia colher as pitangas,

Trepava a tirar as mangas,

Brincava à beira do mar;

Rezava às Ave-Marias,

Achava o céu sempre lindo.

Adormecia sorrindo

E despertava a cantar!





................................





Oh! que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

— Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

A sombra das bananeiras

Debaixo dos laranjais!



Com toda a amizade dedico este poema de Casimiro de Abreu ao Batista Filho (Ilha dos Mutuns)


(Pintura de J.Lopes)

terça-feira, setembro 06, 2005

À Beleza








Não tens corpo, nem pátria, nem familia,

Não te curvas ao jugo dos tiranos.

Não tens preço na terra dos humanos,

Nem o tempo te rói.

És a essência dos anos,

O que vem e o que foi.



És a carne dos deuses,

O sorriso das pedras,

E a candura do instinto.

És aquele alimento

De quem, farto de pão, anda faminto.



És a graça da vida em toda a parte,

Ou em arte,

Ou em simples verdade.

És o cravo vermelho,

Ou a moça no espelho,

Que depois de te ver se persuade.



És um verso perfeito

Que traz consigo a força do que diz.

És o jeito

Que tem, antes de mestre, o aprendiz.



És a beleza, enfim. És o teu nome.

Um milagre, uma luz, uma harmonia,

Uma linha sem traço...

Mas sem corpo, sem pátria e sem família,

Tudo repousa em paz no teu regaço.



À Isabel Filipe que me ofereceu a imagem que abre o post de hoje retribuo com todo o carinho ofertando este poema de Miguel Torga.



segunda-feira, setembro 05, 2005

Quase




Um pouco mais de sol - eu era brasa,

Um pouco mais de azul - eu era além.

Para atingir, faltou-me um golpe de asa...

Se ao menos eu permanecesse aquém...



Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído

Num grande mar enganador de espuma;

E o grande sonho despertado em bruma,

O grande sonho - ó dor! - quase vivido...



Quase o amor, quase o triunfo e a chama,

Quase o princípio e o fim - quase a expansão...

Mas na minh'alma tudo se derrama...

Entanto nada foi só ilusão!



De tudo houve um começo ... e tudo errou...

- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...

Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,

Asa que se enlaçou mas não voou...



Momentos de alma que, desbaratei...

Templos aonde nunca pus um altar...

Rios que perdi sem os levar ao mar...

Ânsias que foram mas que não fixei...



Se me vagueio, encontro só indícios...

Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;

E mãos de herói, sem fé, acobardadas,

Puseram grades sobre os precipícios...



Num ímpeto difuso de quebranto,

Tudo encetei e nada possuí...

Hoje, de mim, só resta o desencanto

Das coisas que beijei mas não vivi...



Um pouco mais de sol - e fora brasa,

Um pouco mais de azul - e fora além.

Para atingir faltou-me um golpe de asa...

Se ao menos eu permanecesse aquém...







(Mário de Sá-Carneiro)


(Fotos de Paulo Cesar e Leonel Santos Lopes- Olhares)

domingo, setembro 04, 2005

Não Vou Por Aí...




“Vem por aqui – dizem-me alguns com olhos doces,


estendendo-me os braços, e seguros


De que seria bom que eu os ouvisse


Quando me dizem: “vem por aqui”!


Eu olho-os com olhos lassos,


(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)


E cruzo os braços,


E nunca vou por ali...


“Não, não vou por aí!


Só vou por onde


Me levam meus próprios passos...”



(José Régio)




(Foto de Fernando Correia-Movimentos-Fotografia na Net)

INÚTIL PAISAGEM de ANTONIO CARLOS JOBIM

  Mas pra quê? Pra que tanto céu? Pra que tanto mar? Pra quê? De que serve esta onda que quebra? E o vento da tarde? De que serve a tarde? I...