quarta-feira, setembro 27, 2006





Sobre os cadernos da escola
Sobre a carteira e as árvores
Sobre a areia sobre a neve
Escrevo o teu nome

Sobre as páginas já lidas
Sobre as páginas em branco
Pedra papel sangue ou cinza
Escrevo o teu nome

Sobre as imagens douradas
Sobre as armas dos guerreiros
Sobre a coroa dos reis
Escrevo o teu nome

Sobre a floresta e o deserto
Sobre os ninhos e as giestas
Sobre o meu eco da infância
Escrevo o teu nome

Sobre os encantos das noites
Sobre o pão branco dos dias
Sobre as estações mescladas
Escrevo o teu nome

Sobre os meus trapos de azul
Sobre o tanque sol melado
Sobre o lago lua viva
Escrevo o teu nome

Sobre os campos e o horizonte
E sobre as asas dos pássaros
Sobre o moinho das sombras
Escrevo o teu nome

Sobre a sopro duma aurora
Sobre o mar e sobre os barcos
Sobre a montanha demente
Escrevo o teu nome

Sobre as espumas de nuvens
Sobre o suor da tormenta
Sobre a chuva espessa e vã
Escrevo o teu nome

Sobre as formas cintilantes
E sobre os sinos das cores
Sobre a verdade palpável
Escrevo o teu nome

Sobre as veredas traçadas
Sobre as estradas desertas
Sobre as praças trasbordantes
Escrevo o teu nome

Sobre a lâmpada que acende
Sobre a lâmpada apagada
Sobre as minhas casas juntas
Escrevo o teu nome

Sobre o fruto dividido
Entre o meu espelho e o meu quarto
Na concha aberta do leito
Escrevo o teu nome

Sobre o cão terno e guloso
Nas suas orelhas tensas
Na sua pata sem tino
Escrevo o teu nome

Sobre o meu degrau da porta
Sobre os objectos da casa
Sobre as labaredas vivas
Escrevo o teu nome

Sobre a carne concedida
Sobre a fronte dos amigos
Sobre cada mão estendida
Escrevo o teu nome

Sobre o vitral das surpresas
Sobre os lábios expectantes
Muito acima do silêncio
Escrevo o teu nome

Sobre os meus refúgios gastos
E os faróis desmoronados
Nas paredes que me enfadam
Escrevo o teu nome

Sobre a ausência sem desejo
Sobre a solidão despida
E sobre os degraus da morte
Escrevo o teu nome

Sobre a saúde que volta
E o perigo que já passou
Sobre a esperança esquecida
Escrevo o teu nome

Com o poder duma palavra
Eis que recomeço a vida
Eu nasci para te aprender
Para te invocar

Liberdade


* * *
(Tradução feita por Carlos Domingos na Cadeia
do Forte de Peniche, em
Setembro de 1973)





Eugéne Grindel ( PAUL ELUARD) nasceu em 1895 em Saint Denis (França). Em 1952 morre em Paris.
Quando se dá a Segunda Guerra Mundial uniu-se à Resistência com as armas que tinha, a poesia sendo por isso perseguido pela gestapo.

LIBERTÉ foi escrito em 1942 durante a ocupação da França pelos nazis.

12 comentários:

wind disse...

Espectacular!
beijos

Anónimo disse...

não sei comentar.
sei que gostei,que todos gostamos de liberdade.
mas nunca deveremos deixar de pensar que embora bela, saudavél,reconfortante, tem limites.
limites que muitos esquecem e assim deturpam a linda palavra.LIBBERDADE

Lisa disse...

Olá Lu...

Um lindo post...

E vc como está? Saudades...

Beijo super especial na Carolzinha e outro a ti...

Barão da Tróia II disse...

Grande escolha, grande mesmo. Bom fim de semana

O Chaparro disse...

desejo um bom fim d semana. Abraço

Monteiro disse...

Olá querido amigo!

Este poema é muito bem cantado por Cristina Branco no seu "Ulisses".
Apetece ouvir!

Beijinhos nossos para vós todos (incluindo Carolina, claro!)

Páginas Soltas disse...

Mais uma vez fico impávida e serena
com o que acabei de ler!!

Obrigada Lumife!

Um bom fim de semana...e beijinhos para a bébé mais linda
que já vi!

Bjs com todo o respeito.......

Maria

gato_escaldado disse...

Excelente, amigo. É sempre bom o pretexto para cantar a Liberdade...

E reler Paul Eluard! Abraços

Anónimo disse...

Passei para apreciar esta página agradável, que me atrai pela sua qualidade e desejar bom fim-de-semana. Até breve.

Anónimo disse...

Um dia a Pide passou lá por casa para uma visita longa.

Tinha esse poema num gravador de fita dito em francês.

Difícil de esquecer...

:)

BOm Domingo

Teresa David disse...

Que bom alguém recordar aqui Eluard, poema grande da resistência e tb companheiro dos grandes do movimento surrealista francês.
Bjs
TD

trugia disse...

Obrigado por me apresentares este poema. Belissimo

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