domingo, outubro 05, 2008

ATÉ SEMPRE PROFESSOR FERNANDO PEIXOTO




FERNANDO PEIXOTO Professor de História do Teatro na ESAP - Escola Superior Artística do Porto. Na Universidade do Porto investigador de História Contemporânea na área da Política Institucional .
Estava doente há poucos meses, mas era grave e não conseguiu ganhar esta batalha.





TEATRO

Para o Marcelo Romano, com a admiração do autor


Fazer teatro, não é
deixar a vida correr,
cruzar os braços, viver,
deixar correr o marfim;
e se às vezes se diz sim,
muitas vezes se diz não.
Embora custe ao actor
manter o direito ao pão,
não hesita em dizer NÃO
quando um NÃO é a verdade,
e mantém a liberdade
de dizer que não, que sim,
por questão de dignidade,
porque o Teatro é assim.
Porque o Teatro é a vida
e a verdade é o seu norte,
o actor desafia a sorte
e a mentira é vencida.

Mas na luta desigual
entre a verdade e a mentira,
se nuns despoleta a ira,
noutros reforça o Amor,
e nesta dicotomia
que é o Teatro, afinal,
vence o Bem, que é a Verdade,
cai a Mentira, que é o Mal.
E a máscara da ilusão
com que o homem se disfarça
fica prostrada no chão
ante o humor de uma farsa.

Sempre assim foi e será
(é essa a nossa certeza)
porque o Teatro é a manhã
que dá vida à natureza,
porque o Teatro é a alegria
de saber que vale a pena
transferir o dia-a-dia
para o âmago da Cena.
E repleto de esperança,
sereno, firme e seguro,
o actor é uma criança
que acredita no futuro.

E faz da crença um Amor
tão largo, grande e profundo,
que mesmo pobre, o Actor,
é o mais rico do mundo!


FERNANDO PEIXOTO

Portugal

5 comentários:

Branca disse...

Que bela homenagem aqui deixas a este nosso amigo.
Percorri desde ontem de manhã vários sítios com os seus poemas, com a sua biografia, mas este é o primeiro poema de Fernando Peixoto que leio sobre teatro. Estou a ler a "Linguagem do silêncio" que tive o previlégio de ter há poucos meses generosamente oferecido pelo próprio e onde se vê bem o génio do autor, também as marcas de uma guerra colonial que deixou cicatrizes. Mal soube do triste aconteceimento em cima da hora das cerimónias fúnebres, encontrei em http://chavedapoesia.blogspot.com/ o seu último poema, que passei para o meu sítio, e que é impressionante pela forma como marca uma despedida antecipada em poucos dias, de uma sensibilidade e gentileza tremendas, como só o Fernando sabia. Deixo-to aqui.
Bem hajas.
Beijinhos.

« RE-PARTINDO... »

Sei que contigo vão partir
memórias de um tempo partilhado,
dias breves que hoje são passado
e podiam no entanto ser porvir.

Sei que levas na bagagem a lembrança
dos olhos nimbados de tristeza
mas também o brilho da bonança
que alimenta a tua natureza.

Mas se partes, apenas uma parte
vai contigo rasgando o mar e o vento:
que outra parte de ti já se reparte
na minha memória e pensamento.

24 de Agosto de 2008
FERNANDO PEIXOTO


* 25 de Julho de 1947
+03 de Outubro de 2008
Vila Nova de Gaia - Portugal

Anónimo disse...

Agora será sem duvida uma estrela que ilunirá do céu todos os palcos...
lembro-me de ter declamado esse poema numa aula e de como fiquei emocionada...
Era GRANDE este SENHOR! sinto que ainda tinha tanto para me ensinar...



Vera Barbosa

Lúcia Laborda disse...

Oie lindinho! Como sempre um belo cantico poético! Uma homenagem a pessoas que realmente, merecem!
Beijos

Isamar disse...

Obrigada, amigo! Recordaste um amigo inesquecível. Lá, onde ele vive agora, que a paz o acompanhe. Aqui,continuará nos nossos blogs, no nosso pensamento, nos nossos corações.
Bem hajas!

Beijinhos

Anónimo disse...

Obrigada por tudo!
Abraço
Paulo Pato

PORQUE VOLTO

  PORQUE VOLTO . Volto, porque há dias antigos que ainda nos agarram com o cheiro da terra lavrada, onde em cada ano, enterrávamos os pés e ...