sexta-feira, janeiro 16, 2009

APAGOU-SE...





Apagou-se, por fim, o incerto lume,
que, em volta do meu ser, ainda ardia,
e o velho alfange, de inquietante gume,
cortou o voo que meu sonho erguia.

Apagou-se, por fim, o lume incerto…
e fiquei-me entre as urzes, hesitante,
no local que pr’a o além era o mais perto
e pr’a voltar a mim o mais distante.

Abandonada, então, essa charneca,
vestida de silêncio, árida e seca,
rodeou-me a minha alma sonhadora.

Afastei-me. Acabei por me perder:
sem poder atingir o que quis ser
e sem poder voltar ao que já fora.


Alfredo Guisado




Alfredo Pedro de Meneses Guisado nasceu a 30 de Outubro de 1891 em Lisboa, onde faleceu a 2 de Dezembro de 1975. De ascendência galega, completou o curso de Direito, em 1921, na sua cidade natal, mas nunca exerceu a advocacia, dedicando-se antes ao jornalismo e à intervenção cívica: deputado do Partido Republicano Português, chegou a ser governador civil substituto e director-adjunto do diário «República».

Foto de Pedro Silveira-Olhares


4 comentários:

FERNANDINHA & POEMAS disse...

QUERIDO LUMIFE, BELÍSSIMO SONETO... SIMPLESMENTE SUBLIME... GOSTEI DE CONHECER ESTE POETA... UM ABRAÇO DE CARINHO,
FERNANDINHA

Paula Raposo disse...

Gostei. Não conhecia. Obrigada pela partilha. Beijos.

De Amor e de Terra disse...

Obrigada Amigo Lumife. Não conhecia este autor e, que me lembre, nunca tinha lido nada dele; Gostei muito, muito mesmo!
Obrigada por mo (no-lo) dares a cionhecer.
Bj

Maria Mamede

Lmatta disse...

o teu conjunta está lindo
beijos

INÚTIL PAISAGEM de ANTONIO CARLOS JOBIM

  Mas pra quê? Pra que tanto céu? Pra que tanto mar? Pra quê? De que serve esta onda que quebra? E o vento da tarde? De que serve a tarde? I...