terça-feira, setembro 15, 2009

SONETO






Lábios
que encontram outros lábios
num meio de caminho, como peregrinos
interrompendo a devoção, nem pobres
nem sábios numa embriaguez sem vinho:

que silêncio os entontece quando
de súbito se tocam e, cegos ainda,
procuram a saída que o olhar esquece
num murmúrio de vagos segredos?

É de tarde, na melancolia turva
dos poentes, ouvindo um tocar de sinos
escorrer sob o azul dos céus quentes,
que essa imagem desce de agosto, ou
setembro, e se enrola sem desgosto
no chão obscuro desse amor que lembro.

NUNO JÚDICE


1 comentário:

MARIA disse...

Lumife, que poema tão bonito.
Evocando imagens que se transportam na via dolorosa da saudade, rumo ao apeadeiro da vida tal qual sentida, momento a momento.
Imagens inesquecíveis, momentos, pessoas, nada melhor para enfeitar as palavras do poeta que foi feliz e eficaz na criação deste poema.
Que bom que te lembraste de partilhá-lo.
A ti, também te lembramos sempre.


Beijinhos amigo


Maria

INÚTIL PAISAGEM de ANTONIO CARLOS JOBIM

  Mas pra quê? Pra que tanto céu? Pra que tanto mar? Pra quê? De que serve esta onda que quebra? E o vento da tarde? De que serve a tarde? I...